quinta-feira, dezembro 27, 2007

A fronteira entre poesia e ensaio

Caio Meira Poeta

Por vezes nos esquecemos de que poesia é da ordem do inesgotável. Basta, porém, reler um livro ou poema já tantas vezes lido para lembrar o quanto as obras poéticas verdadeiras se mantêm copiosas de sentidos. Os poetas continuarão a peregrinar por todo o mundo, e jamais serão expulsos de qualquer cidade. Se, por exemplo, uma biblioteca inteira já foi escrita sobre e a partir da obra de Borges, outras bibliotecas, talvez infinitas, serão escritas pelos caminhos borgianos que sempre se bifurcarão. Ou ainda: a razão de Rimbaud ter abandonado a poesia se manterá como enigma permanente, graal inencontrável de poetas, leitores e pesquisadores de literatura - no silêncio rimbaudiano, um dos legados mais singulares e retornantes jamais deixado por algum poeta.

E o silêncio de Alberto Pucheu? Com A fronteira desguarnecida: poesia reunida 1993-2007, Pucheu afirma ter chegado ao fim de sua produção em poesia. O livro - que inclui os dois inéditos Escritos para o lado de dentro das lentes dos óculos e Performance para um corpo concentrado em sua voz - chega às livrarias simultaneamente a Pelo colorido, para além do cinzento, que reúne ensaios situados na indiscernível fronteira entre teoria, poema, drama, filosofia e prosa, como Roberto Corrêa dos Santos observa com agudeza no prefácio ao livro. O duplo lançamento pretende sinalizar a passagem definitiva do poeta ao ensaísta. O que não significa que um tenha de morrer para o outro poder nascer. Quem já travou contato com algum dos livros do seu percurso poético propriamente dito já poderia adivinhar ali os primórdios e seguir os fios do progressivo desdobramento de um ensaísmo, assim como quando lermos seus ensaios - estes e os vindouros - não conseguiremos afastar de qualquer deles a presença efetiva do poeta.

Terceira margem

Indiscernibilidade é mais do que um leitmotiv tanto da poética quanto da ensaística pucheana: sua escrita, que aos poucos foi se tornando híbrida, é agora concebida, formal e intimamente, a partir de seu aspecto indiscernível. Ao intitular o seu livro anterior de Escritos da indiscernibilidade (Azougue, 2003), Pucheu já demarcava uma escrita em direção ao espaço da fronteira desguarnecida, não mais para escolher um dos lados da fronteira, mas para habitá-la, ou habitar essa terceira margem. Indiscernível deve ser lido no sentido mais forte do termo, o de coisas ou objetos cuja indiscernibilidade não deriva do fato de serem intrínsecos, isto é, que só possam se dar de forma conjunta - quando um não pode ser concebido sem o outro. O poeta não faz sentido sem o ensaísta e vice-versa. Trata-se de incorporar e manter o texto em caráter aporético: se, como aponta Jacques Roubaud, a tarefa primeira do poeta (ou a do ensaísta-poeta) é a de devolver a poesia a sua origem, esse principiar sempre será por definição indiscernível: mítico, poético, filosófico, histórico, contemplativo, teórico, ficcional.

Se a pessoa física lida cotidianamente com sua inelutável mortalidade, o poeta é imortal, e basta ler qualquer conto machadiano para sentir sua presença na nossa cultura e na nossa vida. Mesmo que o Alberto Pucheu portador da carteira de identidade número tal nunca mais publique um livro de poesia ou mesmo um poema, o poeta Alberto Pucheu estará virtualmente presente em qualquer ensaio, crítica ou resenha que o primeiro vier a publicar. Não há, portanto, a interrupção de um percurso, mas o transe entre poeta e ensaísta; ambos estarão presentes, tanto indiscerníveis quanto intrínsecos.

Quando um poeta silencia, suas palavras se encorpam e se relançam de forma mais vigorosa a partir desse silêncio. E já que foi mencionado o silêncio de Rimbaud, deve-se marcar aqui uma diferença importante: ao contrário do poeta francês (que disse acerca da própria poesia: "Não penso mais nisso") ou de outro desistente notório, Raduan Nassar (que só aceita dar entrevistas se não for abordado qualquer tema literário), Pucheu deixa de ser poeta para poder, a partir dos determinantes singulares e atuais, mergulhar com mais intensidade nos vetores de força de sua escrita, à qual só chamamos de ensaística se dermos ao termo a devida dimensão criadora.

Máscara da ignorância

E este ensaísta não terá nenhum problema em confirmar a vertente poética de seus textos teóricos. Tome-se, por exemplo, o primeiro texto de Pelo colorido, para além do cinzento, no qual Pucheu reivindica e toma para o pensamento crítico e teórico o colorido poético (leia-se criador) tão recusado pela imensa maioria cinzenta de nossos críticos de literatura. Diagnosticando nestes últimos que o pudor e o recato são muitas vezes sintomas encobridores da arrogância ocultada sob a máscara de uma suposta neutralidade ou mesmo a manifestação da ignorância do enraizamento desejante de toda e qualquer enunciação, ele convida a todos os que pensam literatura a darem o último passo em direção ao lado criador da crítica, preenchendo de iluminuras coloridas o espaço de pegada - o agon - entre a obra literária e seu leitor/crítico/contemplador. Está aí o mesmo desgarnecimento de fronteiras da obra poética: do mesmo modo que o poeta não recusou a face pensante de sua poesia, não será o ensaísta quem irá afastar o lado criador do seu pensamento.

quarta-feira, dezembro 26, 2007

Lá Fora




Na coluna "LÁ FORA", o Omelete lê e comenta todos os grandes lançamentos em quadrinhos nos Estados Unidos. Esta, porém, é uma edição especial, dedicada a apenas UM lançamento.


THE LEAGUE OF EXTRAORDINARY GENTLEMEN: THE BLACK DOSSIER

Demorou, e demorou muito, para sair o terceiro volume de aventuras da Liga Extraordinária. Anunciado lá fora em 2005, previsto para lançamento em 2006, chegou há pouco mais de um mês às comic shops da América do Norte – e só lá, porque problemas de direitos autorais emperraram sua publicação na Inglaterra por mais alguns meses.
Segundo Alan Moore, o roteiro está pronto há anos. Kevin O'Neill foi quem precisou de um tempo a mais nas páginas. Depois de pronta, a graphic novel ainda ficou mofando alguns meses nas mesas da DC/Wildstorm, que queria lançá-la perto do Natal.
Nesse meio tempo, houve toda a briga entre Moore e a DC quanto a V de Vingança – o que transformou The Black Dossier no último volume da Liga a sair pela editora. Os próximos (já existe um previsto para 2009) sairão pela Top Shelf, mesma casa de Lost Girls.
A demora também fez algumas promessas se perderem pelo caminho. O que mais faz falta é o vinil 45 rotações de que Moore tanto falou, em que ele reuniu amigos para tocar como uma banda dos anos 50. O pop-up (aquelas ilustrações com dobraduras que saltam das páginas em livros infantis) do submarino Nautilus também não veio. Ficaram apenas a seção em 3D (com óculos de brinde), a tijuana bible (uma HQ pornô inserida no meio da história) e algumas variações de papel dentro do volume. Correm rumores de que o vinil e o pop-up, entre outras coisas legais, deve vir na edição Absolute da obra – bem mais luxuosa e bem mais cara, prevista para junho.
Moore trata Black Dossier como um volume intermediário no meio das aventuras da Liga. O dossiê do título conta a história de todas as equipes de heróis fantásticos através dos séculos. A história se passa em 1958, quando Mina Murray e Allan Quartermain – rejuvenescidos (para entender, leia atentamente os textos extras do volume 2) – conseguem recuperar o livro da inteligência britânica, o que leva a uma perseguição por toda a Inglaterra. Em intervalos da história podemos ler todas as páginas do dossiê: há um "roteiro inacabado e perdido" de Shakespeare, romances ilustrados, postais, trechos de livros que não existem, uma aventura dos pulps...
A questão é que, se você não é um inglês de uns 50 anos que conhece todo o cânone literário ocidental e toda a literatura européia do século XIX para cá – como Moore – só lhe resta entender uns 20% da história. Enquanto nos primeiros volumes era possível pegar a maioria das referências aos heróis fantásticos, neste último é bom você ter lido Virginia Woolf (Orlando), George Orwell (1984), Thomas Pynchon (O Leilão do Lote 49), Ian Fleming (as histórias de 007), John Cleland (Fanny Hill), Evelyn Waugh (Furo!), Jack Kerouac, J.G. Ballard e a obra completa de William Shakespeare, entre outros. Ah, também ajuda ter um bom conhecimento de cinema, teatro, programas de rádio e literatura infantil inglesa da primeira metade do século XX.
A absurda quantidade de referências pode ser analisada pelo tamanho do guia que o fã Jess Nevins criou, junto a alguns colaboradores. Outros resenhistas já apontaram que é impossível ler a obra sem ter o guia do lado.
Os 20% que eu mencionei, porém, valem a pena. É Alan Moore: cada quadro tem o ângulo certo, cada personagem tem caracterização inabalável, cada mudança de ritmo na narrativa parece ser meticulosamente calculada. O escritor tem o domínio total da técnica dos quadrinhos, e ainda se mete a brincar com diversos estilos literários nas páginas de texto. O homem pode tudo.
Provavelmente seja intenção dele criar uma edição que seja quase incompreensível sem um guia. E, portanto, que mereça mais umas duas ou três leituras. São poucos os criadores – seja de quadrinhos, livros, filmes etc. – que se preocupam em criar uma experiência como esta para os fãs, e de uma forma tão empolgante como é A Liga Extraordinária. É por isso que a gente sempre tem que repetir: Alan Moore é um gênio.
P.S.: Impossível não pensar, enquanto você lê a obra, quem e como vai traduzir tudo isso para o lançamento nacional? Se entender já é um trabalho de fôlego, traduzir é algo que talvez nem o Millôr Fernandes (tradutor de Shakespeare) encararia. Além disso: Black Dossier não vai sair pela Pixel, que tem os direitos sobre todo o material DC/Wildstorm. Ainda estamos aguardando informações da Devir – que publicou os dois primeiros volumes da Liga – quanto a seu interesse e, quem sabe, até já com uma data de lançamento.

quinta-feira, dezembro 20, 2007

Prefiro nordestinos a bispo em jejum, diz Lula

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou na manhã desta quinta-feira que o Estado não cederá na transposição do rio São Francisco, independente de manifestos ou da greve de fome do bispo d. Luiz Flávio Cappio. "É o projeto mais humanitário do meu governo. Entre a greve de fome e os 12 milhões de nordestinos que serão beneficiados pelo projeto, eu fico com os 12 milhões que serão beneficiados", disse durante café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto.

Segundo Lula, só quem sofreu as dificuldades da seca sabe o que como é importante a transposição das águas do rio São Francisco e que o governo cumpriu todos os acordos feitos previamente para a obra. "Só quem carregou lata d'água na cabeça e viu sua cabrinha morrer sabe o que é o problema da seca. Tem que acabar com a indústria do caminhão pipa", comentou ao ser questionado sobre o tema. O presidente falou ainda que o Estado não pode ficar a mercê desse tipo de pressão, como a greve de fome do bispo.

sexta-feira, dezembro 14, 2007

Coelhinha da 'Playboy' é atração em première


A coelhinha da Playboy Sondra Nilsson chamou a atenção na première de A Lenda do Tesouro Perdido: O Livro dos Segredos. A modelo foi convidada para o coquetel e a exibição do filme.
Promovido pela Disney, o evento contou com a presença de grande parte do elenco, entre eles Diane Kruger e Nicolas Cage. A pequena Abigail Breslin, de Pequena Miss Sunshine, compareceu apenas para assistir a produção.

Em O Livro dos Segredos, Ben Gates (Nicolas Cage) busca saber como o presidente Lincoln foi morto.
Para descobrir toda a verdade, ele precisa encontrar algumas pistas essenciais, que podem levá-lo diretamente ao diário secreto do presidente, desaparecido na ocasião de sua morte.
A seqüência do sucesso A Lenda do Tesouro Perdido, dos estúdios Disney, chega aos cinemas brasileiros no dia 25 de janeiro.

quinta-feira, dezembro 13, 2007

Um grito agudo pela democracia

Rodrigo de Almeida*

Numa realidade de inquietudes, desejos inalcançados, necessidades desassistidas e insatisfações não atendidas, reclamar não é sinal de descrença. É virtude. Mais ainda: dever. Eis que só um regime político - a democracia - permite isso, e parece, nessa permissão, produzir a própria confrontação. Daí o passo inevitável para o questionamento permanente da legitimidade democrática, ou de suas limitações, ou mesmo de suas supostas promessas não cumpridas. E a virtude se transforma em abalo, o dever vira descrédito, as conquistas ganham ares de indiferença. Há presente, portanto, o inevitável sentimento de um fazer incompleto. São as anomalias mal interpretadas da democracia.

Não fossem analistas argutos, certos mitos, equívocos e teses alternativas soariam como verdades inquestionáveis. E é contra isto que se volta em seu mais novo livro o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos. O paradoxo de Rousseau: uma interpretação democrática da vontade geral é uma reflexão profunda sobre a democracia, tema que o consagrou na ciência política quando, ao lançar Quem dará o golpe no Brasil, na década de 60, anteviu as nuances do golpe que se avizinhava.

Os tempos são outros, mas há riscos igualmente ameaçadores. Em tempos de pleno avanço democrático, o professor põe o dedo em riste frente ao que chama de "idéia sedutora e generosa" - a democracia direta. Plebiscitos e referendos exibem a virtude de tentar promover o encontro entre mandantes e mandatários, entre o público e as maiorias parlamentares. São instrumentos de ação política supostamente destinados a restaurar a participação popular, perdida em algum lugar dos corredores da democracia representativa.

Supostamente. No fim das contas, diz Wanderley Guilherme, "os profetas da participação integral são hoje os potenciais seqüestradores da liberdade amanhã". Pode talvez ser uma injustiça contra certos homens e mulheres de boa vontade que têm pregado a democracia direta como solução para os rombos exibidos na conta das instituições democráticas. Imagino, por exemplo, alguns nomes do já não mais tão noviço PSOL, ou mesmo alguns juristas respeitados, defensores da combinação entre democracia direta e representativa para dar vigor e legitimidade à vida política. São seqüestradores potenciais? Não creio.

Por outro lado, há de serem lembrados os fantasmas ditatoriais alimentados por um personagem como Hugo Chávez, que se imagina detentor de mandatos indefinidos por obra e graça dos mesmos plebiscitos e referendos. Para não dizer de aventureiros irresponsáveis que, sendo mais realeza do que o rei, sonham com um terceiro mandato do presidente Lula. Há de tudo, pois.

Wanderley Guilherme, no entanto, parece preocupado menos com os nomes - nem os cita, é bom sublinhar - e mais com os conceitos e seus resultados. O cientista político reconhece a existência de um déficit democrático, mas refuta a "terapia" proposta: a democracia direta. Radicalizar a democracia, lembra, pressupõe a preliminar desmoralização das instituições representativas ditas "100% traidoras" da vontade popular ou "irremediavelmente pervertidas". Seus mecanismos comprometeriam, segundo ele, a "operação falível, porquanto humana, das instituições democráticas". Melhor a falibilidade, portanto, do que a ameaça autocrática.

O livro dialoga com Rousseau para dizer que a democracia direta implica a falácia da vontade geral, que escapa ao necessário contraditório das discussões parlamentares. A vontade geral pode estar sempre certa, posto que busca o bem público, mas nem por isso o povo está impossibilitado de se enganar em relação ao objeto de sua vontade. O paradoxo de Rousseau explica: o que cada cidadão deseja como governo (redistribuição de renda, por exemplo) repudia como súdito (rejeita pagar mais impostos para prover melhores bens públicos ou desaprova ver sua renda diminuída em benefício de quem quer que seja). Ou seja, há especial tensão entre o "paradoxo de Rousseau" e o requisito da participação universal.

Num dos momentos mais densos do livro, Wanderley Guilherme formula o que denomina de "péssimo de Rousseau": nenhum integrante de uma sociedade pode melhorar de posição sem, simultaneamente, promover o interesse de terceiros. Com tal premissa, o interesse de todos pode ser atendido mesmo na ausência de participação universal. Está aí a recusa da unanimidade rousseauniana como critério exclusivo de decisões legítimas. Nem a unanimidade, nem o outro método de Rousseau, a soma algébrica de interesses, eliminam a primazia dos interesses particularistas. (Poderia soar, e talvez soe, como um alento para as reflexões clássicas, pré-partidárias, e mais ainda para nós, democratas contemporâneos, insatisfeitos com os resultados de uma democracia de aparência às vezes sólida, às vezes frágil).

Não faltam teses polêmicas. Como a recusa, para a democracia, do papel de promotora de igualdade econômica. Não lhe caberia, segundo Wanderley Guilherme, erradicar as desigualdades econômicas. Muitos pensaram que a restauração da democracia, já se vão mais de 20 anos, traria a amenização dos mais dolorosos traços de desigualdade de renda, educação, gênero, racial e regional - anomalias que, no Brasil, têm resistido a qualquer composição da elite. De Sarney a Lula. Imaginar a democracia assim, ele defende, significa conceder uma interpretação facciosa às instituições democráticas.

A questão fundamental, para Wanderley Guilherme, não é a ausência de participação popular, mas a elevada desconstitucionalização do país - evidenciada justamente pela crescente participação, que "põe a nu seqüestro de partes do território antes civilizado por pactos constitucionais". Universalizar a democratização constitucional, afirma, deve ser a demanda prioritária dos atuais democratas, uma vez que atingimos o grau de universalização eleitoral. A "longa marcha" democrática brasileira, diz o autor, com avanços e recuos, tem sido bem-sucedida. É na desconstitucionalização que estariam as razões para as insatisfações e, mais do que isso, os novos patamares a serem alcançados.

São dois pontos polêmicos porque constitucionalização e bom funcionamento das instituições democráticas andam em par. Ou melhor, devem andar em par porque de ambos depende o sucesso dos governos, de partidos políticos, dos Legislativos, das decisões enfim que conduzem a uma melhor oferta de bens públicos, do mesmo modo que o cumprimento pleno dos direitos constitucionais. Nesse sentido, chega-se a um ponto em que se poderia unir Wanderley Guilherme e os defensores da democracia direta: a constatação que o todo, ou partes desse todo, não vai bem.

Sejam nas "cartas democráticas sobre a vontade geral", seja na "teoria experimental da história" que elabora a partir do péssimo de Rousseau (estes dois eixos intercalados por espécies de ensaios mais livres, menos compromissados), Wanderley Guilherme exibe o habitual refinamento estilístico e teórico - o que significa leitura densa e inspiradora para nossas reflexões democráticas. Talvez exceda no ataque à democracia direta, deixando pouca margem para o que ela pode ser: algo conjugado à democracia representativa, inegavelmente, no caso brasileiro, abalada por práticas pouco republicanas. Em contrapartida, exibe o cientista político de formação filosófica, especialmente consciente das imperfeições do mundo ordinário.

* Jornalista e organizador do livro 'O Brasil tem jeito?'

quarta-feira, dezembro 12, 2007

LARANJA MECÂNICA

Rubens Ewald Filho

SINOPSE
No futuro próximo, na Inglaterra, uma gangue de jovens ataca, estupra e mata. Um deles é capturado pelo governo e passa por uma lavagem cerebral que lhe traz repulsa à violência.

COMENTÁRIOS
Embora nunca tenha sido oficialmente proibido pela censura brasileira (que aconselhava a produtora Warner apenas a não apresentar oficialmente o filme para sua avaliação), "Laranja Mecânica" só estreou no Brasil em setembro de 1978, assim mesmo com uma cópia que havia sido feita para o Japão, com bolinhas negras para cobrir os pelos pubianos e outros lugares estratégicos. Mas representantes de Kubrick checaram a cópia e aprovaram as legendas.

O jovem Malcolm McDowell havia sido revelado pouco antes em "If" e foi idéia dele usar "Cantando na Chuva" numa cena-chave da fita. Quem prestar atenção verá uma citação de outro filme de Kubrick, "2001" (a capa do disco numa loja). Foi indicado ao Oscar de melhor filme, roteiro e direção.

A dificuldade começa pelo título, que nunca é explicado. Parece que o autor do livro original, Anthony Burgess, se inspirou numa velha expressão "cockney" (inglês popular de Londres), que dizia "fulano é doido como uma laranja de corda". Mais tarde, uma viagem pela Malásia, onde "orang" quer dizer "humano", lhe deu a idéia de fazer anagramas ("orang" - "organ" - "organizar"), chegando a uma conclusão lingüística: o ser humano, quando organizado pelo poder dominante, vira uma laranja mecânica. Por isso, também o livro e o filme utilizam vocabulário próprio. Segundo Kubrick, o filme poderia ser interpretado de três maneiras:

a) como uma sátira social sobre o emprego de condicionamento psicológico; b) como um conto de fadas sobre a Justiça e o Castigo; c) como um mito psicológico, "uma história construída em torno da verdade fundamental da natureza humana".

A sátira sobre o condicionamento parece clara no filme, mostrando que a sociedade se baseia no poder e nas mentiras, tanto da direita, quanto da esquerda. Em conseqüência, um homem condicionado a ser bom em todas as circunstâncias seria completamente vulnerável. Diz Kubrick: "Temos uma civilização altamente complexa, que requer uma autoridade política e uma estrutura social igualmente complexas. A idéia de destruir a autoridade para surgir a bondade natural do homem é um critério utópico e 'falacioso'. Todos os nossos esforços vão parar em mãos de desonestos, já que a culpa reside na natureza imperfeita do homem mesmo."

Assim, "Laranja" é basicamente uma parábola sobre a manipulação do homem pelo Estado. Conta a história de Alex (Malcolm McDowell), um jovem revoltado, precursor da moda punk, interessado na chamada "ultraviolência", sexo e Beethoven, que é escolhido para uma experiência de condicionamento, uma verdadeira lavagem cerebral que o torna refratário à violência, fazendo-o vomitar cada vez que se defronta com um ato violento.

O tratamento é um sucesso, embora por engano Alex fique também condicionado contra Beethoven, cuja música servia de fundo para um dos documentários usados em sua cura. E logo o herói se torna vítima da manipulação política dos Partidos. Completamente indefeso, é levado ao suicídio pela Oposição e depois utilizado pela Situação novamente.

O que o filme quer mostrar é que, no fundo, todos nós somos laranjas mecânicas, somos submetidos a lavagens cerebrais contínuas que nos condicionam e governam; às vezes de forma subliminar, a ponto de não tomarmos conhecimento delas, às vezes de maneiras mais óbvias, por meio das solicitações da sociedade de consumo.

O filme é um brado de alerta e conscientização contra isso, mas talvez tenha errado numa questão de dose, ao pedir que nos identifiquemos com um herói como Alex, desordeiro e irresponsável. A tendência do espectador é ficar a favor do governo, achando que eles fazem muito bem em transformá-lo num "bom cidadão", sem perceber a terrível violação dos direitos humanos, a violência cometida contra a individualidade, que acontece todos os dias sem que nos demos conta.

Assim, todo comportamento anti-social - de artistas, de gênios, de todos aqueles que fogem da chamada "normalidade" - seria também condicionado da mesma maneira. Esse perigo existe porque Alex é um vilão simpático e não é fácil concordar com um diretor frio como Kubrick, que o apresenta como "o homem natural, no estado que veio ao mundo, sem freios ou repressões. Quando recebe o tratamento de Ludovico, pode-se afirmar que este simboliza a neurose, criada pelos conflitos entre as restrições impostas por nossa sociedade e nossa natureza primitiva. Por essa razão, ficamos felizes quando Alex se cura".

Será mesmo que todos se alegram? Alguns nem chegam a entender direito a dimensão da cura de Alex. Essa ambigüidade é um dos problemas do filme, que provocou as opiniões mais desencontradas em toda a parte. Certas pessoas se horrorizam com sua violência, mas na verdade ela é estilizada, mostrada quase como um balé, ou pop art, nunca de forma literal. Aliás, a trilha musical é extraordinária, com obras de Elgar, Purcell, Puccini e, naturalmente, Beethoven, que dão ao filme muito de sua atmosfera. Tecnicamente, o filme abusa um pouco de grandes angulares, lentes deformantes. Mas tem um extraordinário poder hipnótico.

Na enigmática cena vitoriana final, há a busca de uma qualidade ideal, procurada por Kubrick. Diz ele: " 'Laranja' se comunica num nível subconsciente, e o público reage diante da configuração básica da história, como se fosse um sonho. E discutem o sentido da cena final. Como os outros sonhos mostravam assassinato, dor e morte, a erótica cena final sugere que ,de alguma maneira, a mente de Alex se transformou e se apaziguou". Enquanto o livro de Burgess é uma amarga sátira aos paradoxos do livre-arbítrio, o filme continua a provocar discussões. Afinal, temos que defender os que não gostam dele, se não corremos o risco de todos nós acabarmos virando "laranjas mecânicas".

segunda-feira, dezembro 10, 2007

Angelina Jolie Beauty



- Angelina Jolie Voight

Born - June 4, 1975 (1975-06-04)

Los Angeles, California, United States

Occupation Film actor, producer, director

Years active 1982, 1993–present

Spouse(s) - Jonny Lee Miller (1996-1999)

Billy Bob Thornton (2000-2003)

Partner(s) - Brad Pitt (2005-)

Parents Jon Voight, Marcheline Bertrand

sexta-feira, dezembro 07, 2007

Lula nega querer emplacar Sarney

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou ontem que o Palácio do Planalto tente influenciar a eleição para a presidência do Senado. A disputa foi deflagrada após Renan Calheiros (PMDB-AL) renunciar ao cargo.
O PMDB tem cinco candidatos oficiais à presidência do Senado: Garibaldi Alves (RN), Valter Pereira (MS) e Neuto de Conto (SC), Leomar Quintanilha (TO) e Pedro Simon (RS. Os peemedebistas dizem que o Planalto, nos bastidores, tenta emplacar José Sarney (AP) na presidência do Senado. Lula negou esse rumor.
"Não, eu não vou tentar convencer o Sarney a se candidatar, por duas coisas básicas: ele já disse para mim, há muito tempo, que não quer ser presidente do Senado. Segundo, porque eu tenho juízo e sei que o Senado tem autonomia. E, terceiro, porque o candidato, todo mundo sabe, se tiver eleição na próxima quarta-feira, o candidato será do PMDB", disse Lula ontem em Belém (PA), após encerramento do encontro de governadores da Frente Norte do Mercosul.
Lula afirmou que vai apoiar o candidato que o PMDB escolher. "Veja, o candidato que o PMDB indicar é o meu candidato."
O presidente negou saber quem será esse candidato. "Não sei quem vai ser. Não sei porque eu não sou senador. E eu aprendi na política que é prudente a gente não dar palpite."

quinta-feira, dezembro 06, 2007

Herzog recupera herói alemão

Em seu primeiro filme em Hollywood, o veterano alemão Werner Herzog resgata um conceito de heroísmo militar que a guerra do Iraque vem desgastando no imaginário norte-americano ao romancear a história real do piloto alemão Dieter Dengler (1938-2001).
"O Sobrevivente" estréia na sexta-feira em São Paulo, Brasília, Porto Alegre e Campinas, entrando em cartaz no Rio de Janeiro na próxima semana.
Ultimamente, o consagrado diretor de "Aguirre, a Cólera dos Deuses" (1972), "O Enigma de Kaspar Hauser" (1974) e "Fitzcarraldo" (1982) teve mais êxito nos documentários. Um exemplo está em "Meu Melhor Inimigo" (1999), onde traça um retrato implacável tanto de si mesmo como do amigo e ator-fetiche Klaus Kinski, que morreu em 1991.
Outra aposta bem-sucedida foi "O Homem-Urso" (2005), mergulho na personalidade polêmica de Timothy Treadwell, defensor dos ursos cinzentos que acabou morto por um deles, em 2003.
A própria história de "O Sobrevivente" havia sido explorada em 1997 por Herzog em outro documentário, "Little Dieter Needs to Fly", que contava com a participação do próprio piloto Dieter Dengler na reconstituição de sua incrível história de sobrevivência. Nascido na Alemanha, Dieter emigrou para os EUA depois da II Guerra Mundial, ganhando a cidadania norte-americana para realizar o sonho de tornar-se piloto militar.
Dieter foi abatido com seu caça logo em seu primeiro vôo, quando realizava bombardeios secretos sobre o Laos, uma operação ligada à guerra do Vietnã. Capturado por guerrilheiros locais, o piloto sofre torturas, fome, sede e é enviado para um campo de prisioneiros cercado pela selva mais inóspita. Deste campo, ele escapa, meses depois, e é um dos poucos a sobreviver a um período perdido na mata, até ser resgatado por aviões norte-americanos. Posteriormente, foi condecorado por bravura.
Interpretado por Christian Bale, o novo intérprete de Batman no cinema, Dieter tem um defensor de indiscutível talento. A entrega de Bale aos seus papéis é conhecida.
Os momentos mais interessantes pertencem a algumas seqüências no campo, onde a força de vontade de Dieter é um estímulo para que os colegas Duane (Steve Zahn) e Gene (Jeremy Davies) participem de um complicado plano de fuga.
O calvário físico dos prisioneiros, submetidos à fome, em todo caso, parece ter sido bem real para os atores. Bale, Zahn e, especialmente, Davies, estão impressionantemente magros no filme.
(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)

quarta-feira, dezembro 05, 2007

Nova imagem de Homem de Ferro


Uma nova imagem de Iron Man acaba de ser divulgada. A foto dá destaque ao herói que será interpretado por Robert Downey Jr.
O filme é uma adaptação dos quadrinhos Marvel. No elenco estão Robert Downey Jr., Terrence Howard, Bill Smitrovich, Gwyneth Paltrow, Jeff Bridges, Shaun Toub e Leslie Bibb. O filme chega no dia 2 de maio de 2008.

terça-feira, dezembro 04, 2007

O CAVALEIRO DAS TREVAS



The Dark Knight: imagem do Coringa
A divulgação do filme The Dark Knight, próxima aventura do Batman nos cinemas, tem novidades. Depois de chegar à capa da revista britânica Empire (veja aqui), o Coringa tomou conta da capa de outra publicação – dessa vez, a norte-americana Wizard
Em The Dark Knight, Batman (Christian Bale) se aprofunda em sua luta contra o crime. Com a ajuda do tenente Jim Gordon (Gary Oldman) e do promotor público Harvey Dent (Aaron Eckhart), ele tenta desmantelar o crime organizado que domina a cidade. A aliança entre os três homens se mostra um sucesso, mas logo eles se encontram em apuros graças ao caos causado pela ascensão do genial criminoso conhecido como Coringa (Heath Ledger), que aterroriza os cidadãos da cidade.

segunda-feira, dezembro 03, 2007

PELA PAZ

Hoje, fiquei sabendo que Israel libertou 429 prisioneiros palestinos. Embora me encontre a anos-luz de distãncia da realidade do Oriente Médio, sei muito bem - pelo que sempre chegou até nós pelos noticiários - que a paz nessa região nunca deixou de ser possível. O que a impossiblitava era o crônico estado de de beligerãncia demonstrado por ambos os povos.
Certa vez, ouvi de um evangélico da Assembléia de Deus que todos esses conflitos jamais chegariam ao fim porque têm não apenas um pano de fundo histórico, como também é justificado pelas Sagradas Escrituras. Concordo quando dizem que política, futebol, religião e mulheres não podem ser discutidos: cada um tem seu gosto e acredita no que quiser - desde que não tente impor sua crença. Mas não posso admitir que a Palavra (ou o Verbo, como no princípio do mundo) seja deturpada a fim de que sirva para permitir assassinatos em massa ou genocídio.
Em "A soma de todos os medos", de Tom Clancy, os palestinos haviam encontrado um meio de "destruir" Israel - através de um protesto passivo. Um grupo de manifestantes atraiu uma das forças policiais israelenses e, na frente de equipes de televisão locais, começou a vociferar palavras de ordem. Quando os policiais chegaram, os manifestantes simplesmente nada fizeram. Apenas esperaram que os israelenses tomassem alguma atitude. O que aconteceu da maneira mais trágica. O comandante da força estourou com um tiro a cabeça do líder rebelde. Foi o ponto de partida para que atiradores de elite começassem a eliminar os palestinos. Esse acontecimento passou a imagem de que os israelenses eram carniceiros. Conseqüentemente, houve a necessidade de se desafazer essa impressão, e iso levou a que todos os países envolvidos no conflito manifestassem o interesse de acenar com a bandeira branca.
Hoje, o evento da libertação de prisioneiros palestinos pode ter esse mesmo significado, na "vida real". Chega de guerra. Neste novo século, o mundo clama por paz.

domingo, dezembro 02, 2007

Corinthians empata e é rebaixado

2 de dezembro de 2007: o dia mais vergonhoso da história do Corinthians. Com o empate em 1 a 1 com o Grêmio, neste domingo, no Olímpico, e a vitória de 2 a 1 do Goiás sobre o Internacional, no Serra Dourada, o Timão foi rebaixado para Série B do Brasileiro - pela primeira vez em seus 97 anos de existência.

O Alvinegro até voltou a marcar no estádio, o que não acontecia há seis anos, mas não foi o suficiente. Os goianos chegaram aos 45 pontos e os paulistas estacionaram nos 44. Os gaúchos, que tentavam a vaga na Libertadores-2008, acabaram em sexto (58 pontos) na despedida do técnico Mano Menezes.

A tentativa do Corinthians de esfriar o Grêmio, atrasando o começo da partida em quase 20 minutos, foi por água abaixo logo no primeiro minuto. Após cruzamento da esquerda, Jonas fez de cabeça. Placar que, com o empate do Goiás com o Internacional, naquele momento, rebaixava o Timão.

Os paulistas, porém, voltaram a respirar perto dos 15 minutos, quando Orozco marcou para o Colorado. O Esmeraldino até reagiu aos 31 minutos, empatando com Elson, mas, segundos depois, Clodoaldo também igualou no Olímpico.

O gol desanimou os gremistas, que com a vitória do Cruzeiro sobre o América-RN no Mineirão iam ficando com a última vaga para a Libertadores. Mas o gol do rebaixamento saiu no Centro-Oeste, com Elson fazendo 2 a 1 para o Goiás.

O Corinthians só voltará a campo no ano que vem, já pelo Paulistão. Sua primeira partida será dia 16 de janeiro, em casa, contra o Guarani. O Grêmio também só atuará em 2008 pelo Estadual, mais precisamente em 20 de janeiro, em seu estádio, contra o 15 de Novembro.

FICHA TÉCNICA:
GRÊMIO 1 X 1 CORINTHIANS

Estádio: Olímpico, Porto Alegre (RS)
Data/hora: 02/11/2007 - 16h (de Brasília)
Árbitro: Alício Pena Júnior/MG (Fifa)
Auxiliares: Aristeu Leonardo Tavares/RJ (Fifa) e Alessandro Rocha/BA (Fifa)
Cartões amarelos: Jonas (GRE); Clodoaldo (COR)
Cartões vermelhos: -
GOLS: Jonas, 1'/1ºT (1-0); Clodoaldo, 29'/1ºT (1-1)

GRÊMIO: Marcelo Grohe; Patrício, Léo, William e Bustos (Anderson, intervalo); William Magrão, Tcheco (Tuta, 31'/2ºT), Diego Souza e Ramon (Sandro Goiano, intervalo); Jonas e Marcel. Técnico: Mano Menezes.

CORINTHIANS: Felipe; Betão, Zelão e Fábio Ferreira; Carlos Alberto, Bruno Octávio (Arce, 12'/2ºT), Vampeta (Éverton, 20'/2ºT), Moradei e Éverton Ribeiro (Ailton, 12'/2ºT); Lulinha e Clodoaldo. Técnico: Nelsinho Batista.

sábado, dezembro 01, 2007

Vou-me embora pra Pasárgada

Manuel Bandeira

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que eu nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

sexta-feira, novembro 30, 2007

EUA: suicídio inspira lei

NY Times

Christopher Maag

Megan Meier morreu acreditando que, em algum lugar do mundo, existia um menino chamado Josh Evans que a odiava. Evans tinha 16 anos, uma cobra de estimação, e ela o considerava como o namorado mais bonito que já teve.

Josh contatou Megan por meio de sua página no site de redes sociais MySpace, segundo Tina Meier, a mãe da menina. Eles flertaram durante semanas, mas apenas online - Josh disse que sua família não tinha telefone. Em 15 de outubro de 2006, o rapaz subitamente se tornou malvado. Começou a insultar Megan; mais tarde, os dois passaram uma hora trocando xingamentos.
No dia seguinte, em sua mensagem final, diz Ron Meier, o pai de Megan, Josh escreveu que "o mundo seria melhor se você não existisse".
Soluçando, Megan correu para o closet de seu quarto. Foi lá que a mãe a encontrou. Ela havia se suicidado, usando um cinto para se enforcar. Megan tinha 13 anos.
Seis semanas depois da morte de Megan, os pais dela descobriram que Josh Evans jamais havia existido. Tratava-se de um personagem criado para a Internet por Lori Drew, 47, que vive a quatro casas de distância da família, a cerca de 55 quilômetros a noroeste do Missouri.
O fato de um adulto ter pregado uma peça tão cruel contra uma menina de 13 anos atraiu telefonemas, mensagens de e-mail e posts indignados em blogs de todo o mundo. Muita gente expressou ira porque as autoridades do condado de St. Charles decidiram não apresentar uma acusação criminal contra Drew.
Um porta-voz do departamento de polícia do condado, tenente Craig McGuire, afirmou que aquilo que Drew fez "pode ter sido rude, e pode ter sido imaturo. Mas não foi ilegal".

quinta-feira, novembro 29, 2007

Estrela mais jovem já encontrada


O telescópio espacial Spitzer, da Nasa, agência espacial americana, captou imagens da estrela mais jovem encontrada até agora, informou a agência AFP nesta quinta-feira. A UX Tau, parecida com o Sol, tem apenas um milhão de anos e está há cerca de 450 anos-luz da Terra.
Os cientistas encontraram uma brecha circular no disco de gás e poeira cósmica, que gira em torno dessa estrela, o que pode indicar a formação de um ou mais planetas. A falha foi detectada a partir de um mecanismo do telescópio Spitzer capaz de medir os níveis de radiação presentes nas camadas de gás e poeira.
Geralmente, os sistemas estelares apresentam um disco de poeira, sem qualquer abertura, ao redor da estrela, onde os planetas nascem. Como na UX Tau existem espaços livres de poeira, os pesquisadores acreditam que ali estariam seus primeiros planetas.

quarta-feira, novembro 28, 2007

"Tropa de Elite" tenta Oscar em 2009


Da Folha de S.Paulo


Preterido pelo comitê que definiu o representante do país na corrida ao Oscar 2008, "Tropa de Elite" tentará concorrer a estatuetas --nas categorias principais-- em 2009.
O longa estreará nos EUA no ano que vem. Assim, terá cumprido o requisito para disputar o Oscar com os demais filmes exibidos em território norte-americano. Foi o que ocorreu com "Cidade de Deus", que obteve quatro indicações nas categorias principais em 2004.
O diretor José Padilha diz que a data de estréia de seu longa nos EUA ainda não está definida. "Primeiro, vamos decidir em que festival vamos abrir [a carreira internacional do filme]."
Já a estréia comercial nos EUA de "O Ano em que meus Pais Saíram de Férias", que tenta uma vaga na disputa do Oscar de melhor filme estrangeiro em 2008, está prevista para o próximo mês de janeiro, em 25 cidades.

terça-feira, novembro 27, 2007

ALVOS FÁCEIS

Uma rápida consulta à internet informa que a cidade de São Paulo, hoje, tem quase 40 milhões de habitantes. Um trabalho da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), de 2003, apontava a impressionante existência de 10.700 moradores de rua na capital do mais importante estado brasileiro.
Esse dado, repito, foi divulgado em 2003. Portanto, há quatro anos. Quantos moradores deve haver atualmente, na Paulicéia? 12.000? 13.000? São pessoas que vêm de bairros distantes da periferia ou, na maioria dos casos, de outros municípios do próprio estado ou de regiões menos favorecidas economicamente, como os do Norte e (principalmente) do Nordeste. Em alguns casos, tais indivíduos não passam de sonhadores, que desejam muito um bom emprego, a casa própria e bastante dinheiro no banco para que não tenham justamente que pensar em dinheiro, pelo resto da vida.
Mas acabam não conseguindo realizar esses sonhos. E acabam perdendo o rumo do próprio destino, e como resultado tornam-se moradores de rua, e passam a viver da triste prática da mendicância. Assim, transformam-se automaticamente em alvos fáceis, como aconteceu hoje de manhã. Uma dessas pessoas, para as quais (infelizmente) ninguém na verdade dá a mínima importância até que acontece algo de muito ruim com elas, teve o corpo incendiado. Também infelizmente, esse acontecimento vai causar um tanto de indignação e revolta... mas vai ficar por isso mesmo. É triste reconhecer isso, mas é a mais pura verdade. E mesmo que consigam encontrar os responsáveis (criminosos desse naipe nunca agem sozinhos), duvido que sejam mantidos por muito tempo na cadeia. Muito provavelmente, não há mais provas do que fizeram além do corpo carbonizado do coitado que escolheram, por um acaso muito macabro. E nenhuma outra testemunha além dos próprios predadores.
Fiz trinta anos ontem e começo a me desiludir com certos aspectos da vida. A cada dia, aprendo que uma parte do mundo é podre. Não há justiça e por isso mesmo não faz o menor sentido. Espero sinceramente que isso mude, qualquer dia desses. As próximas gerações (meus filhos ou os dos meus amigos) não podem crescer em um mundo sem esperança.

segunda-feira, novembro 26, 2007

Testamento

Manuel Bandeira
O que não tenho e desejo
É que melhor me enriquece.
Tive uns dinheiros — perdi-os...
Tive amores — esqueci-os.
Mas no maior desespero
Rezei: ganhei essa prece.
Vi terras da minha terra.
Por outras terras andei.
Mas o que ficou marcado
No meu olhar fatigado,
Foram terras que inventei.
Gosto muito de crianças:
Não tive um filho de meu.
Um filho!... Não foi de jeito...
Mas trago dentro do peito
Meu filho que não nasceu.
Criou-me, desde eu menino
Para arquiteto meu pai.
Foi-se-me um dia a saúde...
Fiz-me arquiteto? Não pude!
Sou poeta menor, perdoai!
Não faço versos de guerra.
Não faço porque não sei.
Mas num torpedo-suicida
Darei de bom grado a vida
Na luta em que não lutei!
(29 de janeiro de 1943)

sexta-feira, novembro 23, 2007

PAI

Pai
Aquele amigo único
Aquele que está sempre presente
Aquele que sei que posso confiar
Aquele que me ama e sempre vai me amar,
Eu fazendo burradas ou não
Pai...
Aquele que me ama do jeito que sou
Aquele que vê a perfeição na pessoa imperfeita Aquele brincalhão
Aquele que, com um único sorriso,
te deixa feliz
Aquele que nunca sairá do meu coração

de Yzadora Gonzalez Alves




quarta-feira, novembro 21, 2007

Luís Fabiano e Júlio César salvam a Seleção



EM COMPENSAÇÃO, ESSE RAPAZ QUE BRIGA PELA POSSE DA BOLA ENTRE UM ADVERSÁRIO E O ÁRBITRO HECTOR BALDASSI MOSTROU QUE UMA EXCELENTE MARCAÇÃO PODE ANULAR QUALQUER JOGADOR, MESMO QUE ESTE SEJA, RECONHECIDA E MERECIDAMENTE, ACIMA DA MÉDIA.

terça-feira, novembro 20, 2007

Benedita: Brasil precisa de igualdade ética e racial

Angélica Paulo, Agência JB

RIO - Em 1933, o escritor e sociólogo Gilberto Freyre já confirmava, em seu livro “Casa Grande e Senzala”, que o Brasil é um país miscigenado por natureza e atribuía ao escravo uma importância ímpar e decisiva na formação do ser mais íntimo brasileiro.
Mais de 70 anos depois, infelizmente o país ainda continua segregando o negro, colocando-o, em grande parte, à margem da sociedade. Apesar de se auto-intitular um país sem preconceitos de credo ou cor, ainda é muito difícil ver negros em posição de chefia ou destaque, seja nas artes ou na política.
Aos sessenta e cinco anos, a secretária de Ação Social e Direitos Humanos do Estado do Rio de Janeiro, Benedita da Silva, é uma prova de que os negros podem e devem ter os mesmos direitos e deveres que as demais pessoas. Nasceu analfabeta, no Morro Chapéu Mangueira, no Leme, Zona Sul do Rio, vendeu limão e amendoim, foi operária fabril e entregava a roupa lavada e passada por sua mãe. Mais tarde, já alfabetizada, foi professora da escola comunitária da favela Chapéu Mangueira, adotando o método Paulo Freire de alfabetização de crianças e adultos.
Eleita senadora em 1994, foi a primeira mulher negra a conquistar o cargo no país. É autora do projeto que inscreveu Zumbi dos Palmares no panteão dos heróis nacionais; responsável pela criação de delegacias especiais para apurar crimes raciais; pela obrigatoriedade do quesito cor em documento; lei contra assédio e direito trabalhista extensivos às empregadas domésticas.
No dia em que se comemora o Dia da Consciência Negra em 267 municípios e 12 Estados em todo o país (projeto de sua autoria), Bené, como é mais conhecida no Rio, falou com exclusividade ao JB Online sobre racismo, conquistas e, principalmente, sobre a situação dos negros no Brasil, 109 anos após a princesa Isabel usar sua pena de ouro para assinar a Lei Áurea, que concedeu a liberdade a todos os escravos brasileiros.

JB Online: Para a senhora, qual é a importância de se ter um “Dia Nacional da Consciência Negra”?
Benedita: Essa data é importante para todos os brasileiros. É um resgate histórico da figura de Zumbi dos Palmares e poucos sabem que ele está inscrito no Panteão dos Heróis Nacionais, junto com nomes como Tiradentes. Zumbi é o herói da pátria e deve ser reverenciado. Além disso, esse dia significa um resgate da africanidade do brasileiro. É errado dizer que somos descendentes de escravos. Somos, sim, descendentes, mas de africanos.
A educação das crianças no Brasil deve levar em conta o ensino da África, de nossas raízes, de nossa história. Precisamos, concretamente, de políticas sociais que promovam a igualdade entre todos os brasileiros.
JB Online: A senhora acha que, ainda hoje, 109 anos após a assinatura da Lei Áurea, o Brasil ainda é um país racista?
Benedita: Infelizmente, ainda temos preconceito no Brasil, tanto racial quanto social. Apesar de serem maioria, os negros não têm as mesmas oportunidades na sociedade. Não somos negros porque somos pobres, somos pobres porque somos negros, infelizmente. O Brasil precisa, com urgência, de igualdade ética e racial.
JB Online: A senhora é conhecida pelas muitas conquistas em sua vida pública e particular. O fato de ser mulher e negra dificultou em alguma coisa?
Benedita: Costumo dizer que sou uma exceção que confirma uma regra. Sou uma das poucas mulheres negras, que, num curto período da história em que negros passaram a ter direitos, conseguiu conquistar algo. Por isso, posso me considerar uma mulher vitoriosa.

Infelizmente, no Brasil, quanto mais destaque o negro alcança, mais o racismo aumenta, e isso é incontestável. Por outro lado, as pessoas estão tendo mais informação sobre as leis, sabendo ouvir mais, tendo mais conhecimento dos direitos conquistados pelos negros. Há algum tempo atrás, manifestações sobre cotas em universidades para estudantes negros seriam impensáveis. Precisamos de medidas eqüitativas para que o negro possa ser inserido na sociedade, além de mais espaço para denunciar o racismo existente.

segunda-feira, novembro 19, 2007

Homem-Aranha terá identidade secreta de volta?


(Do site Omelete)
Marvel saca a retcon em The Initiative, meses depois de tirar a máscara do herói em Civil War

Que Peter Parker tirou sua máscara na frente das câmeras e revelou ao mundo ser o Homem-Aranha no segundo número da saga Guerra Civil, todo mundo já sabe. Que a Marvel logo tentaria reverter isso de uma maneira ou outra também já era esperado - o que pode acontecer na série Avengers: The Initiative.
O gibi acompanha a Iniciativa, plano de Tony Stark para criar cinqüenta times de heróis sob o comando do governo dos EUA. A sétima edição, que chegou recentemente às comic shops dos EUA, mostra uma reviravolta interessante na vida de Parker, que pode ou não trazer boas conseqüências para a vida do Cabeça de Teia.
Em Avengers: The Initiative #7, um bando de Abutres - versões mais modernas do clássico inimigo do Aranha, vilões que apareceram há décadas no gibi solo do herói (no Brasil, em O Homem-Aranha #80, da Abril) - rouba planos do governo envolvendo a tecnologia para criação de armas gama. Isso faz com que um trio vestido com trajes similares à armadura vermelha e dourada desenvolvida por Tony Stark para Peter Parker parta atrás dos Abutres, com o intuito de recuperar os planos.
Como não poderia deixar de ser, eles acabam passando perto do hospital onde a Tia May está internada. Ao ver o trio de Aranhas, Peter, puto da vida, se envolve no conflito contra as suas "cópias" (que em The Initiative são chamadas de "Aranhas-Escarlates", o que deve despertar nos fãs urticárias da época da saga do clone...). No confronto, um dos Aranhas tecnológicos acaba colocado fora de combate; os dois restantes necessitam da ajuda de Peter para resolver a situação com os Abutres. Em troca, usam seus trajes avançados para emular tanto o uniforme clássico quanto o negro do herói na perseguição.
Situação resolvida, os falsos Aranhas decidem dar uma mãozinha a Parker: usam seus trajes para emular não só as roupas como as feições de Peter e dizem na frente das câmeras de TV que havia um quarto Aranha - Peter - e que ele havia sido afastado por problemas internos. Dizem ainda que os trajes podem emular tanto as roupas quanto os poderes do Homem-Aranha original e que durante todo aquele tempo Peter estava usando um deles. Isso faz com que a opinião pública passe a duvidar da revelação de que Peter Parker e o Homem-Aranha verdadeiro eram a mesma pessoa...
Complicado, é verdade, mas nada nunca é simples nas retcons da Marvel. A edição ainda reserva mais uma surpresa, mas essa eu não vou estragar. Avengers: The Initiative, um dos novos gibis da Marvel criados pós-Guerra Civil, deve ser publicado no Brasil no ano que vem.

domingo, novembro 18, 2007

O que fazer para o almoço?

Vivian Rangel

Ela detestava entrevistas embora adorasse interpelar escritores. Entristecia-se quando queriam conhecer a autora, e não a mulher. Teimava em construir vida própria, quiçá independente, "fazer um bloco separado da literatura". Temia expor-se demais nas crônicas mas, era inevitável, traía-se. Com tanta reserva em relação à vida pessoal, Clarice Lispector deixou poucas opções aos interessados em desvendar a persona Clarice por detrás de cada narrador. Restava resignar-se com as entrelinhas dos romances, as crônicas que volta e meia ostentavam trechos coincidentes com suas ficções - e as cartas. Como as que trocou com Fernando Sabino em Cartas perto do coração ou com o marido e a amiga Bluma Wainer, entre outros, reunidas nas Correspondências.

Mas é nas mensagens que enviou às irmãs Elisa e Tania, durante os anos em que morou no exterior, que Clarice Lispector - a mulher - está mais presente. Não que a escritora saia de cena, mas cede lugar a uma irmã carinhosa, uma esposa dedicada, uma leitora ávida. E - alegrem-se seguidores claricianos! - uma Clarice sem pudores narrativos, numa primeira pessoa que não se imaginava lida por ninguém mais que as próprias irmãs. Essa mulher recém-casada, recém-publicada e recém-moradora da Europa está em 120 cartas inéditas reunidas pela pesquisadora Teresa Montero em Minhas queridas, com lançamento marcado para o próximo sábado.

A primeira das cartas, abrindo a década de 40, mostra a escritora ainda solteira, morando no Rio e sobrevivendo de traduções. Logo depois o leitor chega a Belém, em pleno carnaval de 1944, quando Clarice tomou o primeiro pileque de sua vida, resultado de uma animada festa na casa do então cônsul americano. A ressaca nauseou a já senhora Gurgel Valente e autora estreante de Perto do coração selvagem. E apenas um pouco antes de atravessar o oceano Atlântico e chegar a Roma ainda em clima de Segunda Guerra. É quando ela se assume mais que nunca solitária, oprimida entre jantares, almoços e sorrisos no papel de primeira-dama diplomática. Dividida entre um isolamento tão desejado quanto sofrido em cidades como Roma, Florença, Torquay e, por último, Washington.

- O livro abrange um período muito extenso da vida de Clarice, de 1940 a 1956. São documentos únicos sobre a vida da escritora morando no estrangeiro - explica Teresa Montero, responsável por organizar as cartas. - Nas cartas, ela conta que livros estava lendo, que lugares a impressionaram, a que filmes e peças assistiu. É possível resgatar o que a inspirava.

Influências que mais tarde se revelariam fundamentais, como a descoberta do existencialismo, cujo sucesso explosivo ela credita ao pós-guerra. Explica a Elisa: "Todo mundo está doido para crer em alguma coisa depois dessa guerra, mesmo que essa crença seja uma descrença". Ou a música clássica que evoca carta a carta, da ópera de Wagner Lohengrin a O pássaro de fogo, de Stravinsky, passando por A sonata patética, de Beethoven. E livros: o erótico O amante de Lady Chaterlay. de H. D. Lawrence, o clássico O morro dos ventos uivantes, de Emily Brontë, ou o polêmico ensaio de Tolstoi O que é a arte , no qual o russo fala mal de Wagner e Beethoven e garante não entender Baudelaire.

Nos 16 anos de troca de correspondência, Clarice sofreria para começar, terminar e revisar contos que fariam parte de Laços de família e os romances O lustre, A cidade sitiada e A maça no escuro - que poderia ter sido batizado com o medonho título de A veia no pulso não fossem as críticas da irmã Tania e de Fernando Sabino.

A atividade literária estava entremeada com problemas cotidianos prosaicos: que fazenda comprar para o vestido apropriado a uma recepção na embaixada? Que fazer para o almoço? Como fazer render o açúcar racionado no pós-guerra?

- No fundo tudo está muito misturado. A Clarice escritora é também mãe e esposa de diplomata e nunca quis para si a condição de autora isolada numa torre de marfim. Chegava a escrever com a máquina no colo para ficar mais perto dos filhos - conta Teresa.

Nádia Gotlib, biógrafa de Clarice, acredita que essas cartas são um marco para os estudos sobre a escritora. Trazem, pela primeira vez, uma Clarice inserida no dia-a-dia de uma vida no exterior. Revelam ainda uma relação afetiva intensa e, ao mesmo tempo, uma ligação densa e cotidiana com a arte da ficção. Para Nádia - que acaba de enviar ao prelo uma fotobiografia da autora com 800 imagens e lançamento previsto para dezembro - as cartas de Clarice para as irmãs podem ser lidas como "crônicas da ausência".

- Clarice mantém o tom de conversa amigável e confidencial, mas sem perder a elegância, tanto na confissão de angústias quanto na manifestação bem-humorada de alguns momentos - analisa Nadia. - As cartas têm um caráter diversificado, ora parecem literatura de viagem, ora história da diplomacia. Há também observações sobre a crítica brasileira, que começava a comentar os livros dela.

Espalhadas entre autodefinições pessimistas - "tenho a pior espécie de snobismo (sic), que é o de não ter prazer no mundo" - existem de fato pérolas do humor clariciano, irônico e salpicado de um falso pudor subversivo. Um exemplo é o relato do encontro com soldados brasileiros que criaram uma musiquinha sobre o biscoito nabisco, ração americana de guerra, que era muito duro mas ficava mole embebido no leite. Ou confissões: "Entrei num curso por correspondência sobre ioga, um negócio indú (sic) ... Não conte a ninguém, senão me ridicularizam. (...) Vamos ver se viro super-homem, sem mudar de sexo". Difícil é imaginar Clarice no equilíbrio da posição de Lótus.

sábado, novembro 17, 2007

TV

DO BLOG DE LEANDRO MAZZINI (JB ON LINE)

Por Hector García López - escritor

Abro a janela, ela sai de toalha. Ouço blues, ela fuma cigarrilha. Coço o saco, ela pinta a unha. Limpo o nariz, ela penteia os cabelos. Calço o tênis, ela passa o batom. Tiro a roupa, ela vê tv. Digo seu nome, ela esquece o perfume. Toco gaita, ela canta Norah Jones. Tiro uma foto, ela ri para o espelho. Toco meu coração, ela apalpa os seios. Chuto o cinzeiro, ela deita na cama, abre as pernas, toca o sexo levemente e me chama com o olhar insaciável de quem não quer só o gozo, mas o toque, o aperto dos dedos na virilha, a língua quente nos pêlos, a mordida na altura do umbigo, o cuspe certo no canal do prazer, e subo em beijos a pele macia e branca, depois desço em mordidas até os joelhos tortos e aperto-lhe as duas coxas por trás para sentir seu suspiro, e aperto sua nuca e mordo seu pescoço e a chamo para meu colo e a penetro por meia hora, uma hora, duas, três, quatro gozos até que o vento lhe traz a sensação de um ar polar nos cabelos e no rosto suado de cansaço, mas desinibido, até cair no colchão, sozinha, aberta, com os braços jogados às extremidades da cabeceira e olhar fixo no teto, seu céu nu e refletor da sua solidão.

Eu fecho a janela, e ela vê tv, espera seu gozo. A TV é como o amor. Nos ilude. E nos encanta. E tudo parece um filme quando acaba. Mais uma história para contar. Uma ficção que engana. Uma realidade que se disfarça. Há o sexo, há o amor, na tv e fora dela. Desligamos a tv. Partimos para lados opostos. Mais um filme nosso em preto e branco, até nos reencontrarmos e fazermos do sexo um script diferente a cada trepada.

sexta-feira, novembro 16, 2007

HOMEM DE FERRO - O FILME



Homem de Ferro teve duas novas fotos divulgadas. Elas mostram o momento em que Tony Stark sai da caverna altamente blindado, e depois o momento em que ele chega motorizado pra balada.
O site oficial do filme também foi atualizado. Por enquanto há por lá apenas o primeiro teaser, fotos e artes de fãs, mas a coisa deve ser incrementada em breve.
A estréia do filme, dirigido por Jon Favreau e estrelado por Robert Downey Jr., Terrence Howard, Gwyneth Paltrow e Jeff Bridges, acontece em 2 de maio de 2008. (Do site Omelete).

quinta-feira, novembro 15, 2007

Não é mais coisa de criança

Marco Antonio Barbosa

Saem de cena os uniformes coloridos, entram roupas comuns. Os superpoderes dão lugar a dramas mais palpáveis, cotidianos. A banca de jornal deixa de ser o palco da ação, cedendo espaço às livrarias. E o público-alvo já não usa calças curtas. O mercado brasileiro de quadrinhos adultos passa por um dos momentos mais interessantes de sua história - uma percepção confirmada pela quantidade de títulos expressivos chegando às lojas e pelo número de editoras de prestígio se lançando na área. Desde meados da década de 1980 as histórias em quadrinhos já não são mais vistas como mero passatempo de criança (com a consagração de graphic novels como Watchmen, V de Vingança e O cavaleiro das trevas). Cerca de duas décadas depois, o mercado de HQ para adultos parece finalmente chegar à maturidade.

- Tenho 35 anos e leio quadrinhos desde criança. E nunca tinha visto tantos títulos à venda. Creio que já existe um público cristalizado e fiel para esse tipo de HQ e que o mercado de lançamentos de luxo, para livrarias, ainda pode crescer muito - confirma Cassius Medauar, editor de quadrinhos da Pixel Media. Em 2007 a editora paulista pôs na rua ao menos um álbum de quadrinhos de luxo por mês. O mais recente foi o norte-americano Zombieworld: o campeão dos vermes, de Mike Mignola (texto), o autor de Hellboy, e Pat McEown (arte).

O boom é contextualizado por Otacílio D'Assunção, o quadrinista Ota - que acompanha os bastidores do mercado de HQ desde a década de 1970.

- Vivemos uma fase próspera para o quadrinho adulto e de luxo, com muita coisa boa inédita saindo e ótimas reedições também. As editoras agora contam com canais de distribuição próprios e estão mirando as livrarias - conta Ota, que cuida da seção de álbuns especiais da editora Record e agora prepara a reedição (com novo tratamento digital de cores) da clássica coleção do personagem Asterix, da dupla francesa Goiscinny & Uderzo.

Muitos e variados títulos, editados com um cuidado que antes só se dispensava à literatura; temáticas adultas e realistas, fugindo dos clichês de mutantes e homens voadores; tiragens relativamente baixas e concentradas nas livrarias e lojas especializadas; preços relativamente altos, em comparação com as revistas de linha, encontráveis em bancas; e um público ávido, capaz de sustentar o grande fluxo de lançamentos. Assim pode ser resumido o mercado atual dos álbuns de HQ de luxo e graphic novels. Títulos badalados, que chegam a reboque de sucessos do cinema, podem sair a preços de gente grande. Exemplos são 300, de Frank Miller & Lynn Varley (Devir, R$ 63) ou Sin City: de volta ao inferno, do mesmo Miller (Opera Graphica, R$ 59).

- Quem lança quadrinhos esperando encontrar o novo O Código da Vinci vai quebrar a cara. Trabalhamos com tiragens entre três e cinco mil exemplares, mas mesmo assim temos visto um aumento assombroso da procura do público. São leitores que pensam os quadrinhos de uma forma diferente, sem associar a arte a super-heróis - diz Amauri Stamboroski Jr., responsável pela edição de HQ da Conrad. A editora paulista é apontada como pioneira na invasão de quadrinhos nas livrarias, no fim da década passada. Encerrando o ano, a companhia lançará em dezembro Fun home, HQ autobiográfica da quadrinista norte-americana Alison Bechdel - laureada pela revista Time como um dos 10 melhores livros de 2006.

Ota concorda com a atitude pé-no-chão demonstrada por Amauri. Segundo o quadrinista, os números atingidos por revistas de super-heróis não se aplicam à realidade dos álbuns de luxo.

- As tiragens baixaram muito. Hoje em dia não é absurdo encontrar edições com mil exemplares. As editoras já perceberam que a lógica de vender em livrarias é diferente da mecânica da venda em banca, que precisa lidar com os encalhes.

Nem só de grandes lançamentos importados vivem os fãs da nona arte. A editora carioca Desiderata aposta no produto nacional, e divulga os álbuns A boa sorte de Solano Dominguez, escrito por Wander Antunes e desenhado por Mozart Couto (cuja arte é o destaque na ilustração desta página) e Caraíba, um dos últimos trabalhos do pioneiro Flávio Colin (1930-2002). Na fila de lançamentos, previsto para vir à luz no fim deste mês, está um álbum de reinterpretações - visando o leitor adulto - das fábulas dos irmãos Grimm assinadas por artistas como Alan Rabelo, Odyr e Rafael Coutinho.

- Serão versões levemente despudoradas de histórias tradicionais como A bela adormecida e Branca de Neve. Apesar de ainda haver um certo estereótipo da HQ como coisa de criança, o público tem dado um retorno rápido a nossos lançamentos - explica S. Lobo, editor de quadrinhos da Desiderata.

O bom momento para álbuns de luxo estimulou também veteranos a voltarem ao mercado. Caso da L&PM, que no longínquo ano de 1980 já arriscava os primeiros passos no campo dos quadrinhos para adultos.

- Somos pioneiros. Publicar HQ é uma vocação histórica da L&PM. Lançamos Hugo Pratt, Milo Manara e Guido Crepax no Brasil antes de todo mundo - relembra Ivan Pinheiro Machado, um dos fundadores da editora gaúcha. - Fizemos uma série de 120 álbuns com grandes nomes do quadrinho europeu. Mas lá pelo começo dos anos 90 a concorrência com a Abril e a Globo inviabilizou o negócio.

Depois de lançar o álbum Tangos & tragédias em quadrinhos, de Edgar Vasques (arte) e Claudio Levitan (texto), Machado prepara agora a volta de sua companhia ao mercado de graphic novels.

- Estamos fechando uma série de 30 títulos, com tiragens de até cinco mil exemplares cada. Serão obras estrangeiras e brasileiras. As outras editoras que se cuidem.

E olha que há muitas editoras por aí. Uma rápida consulta ao informativo Universo HQ, que monitora os lançamentos das principais companhias, dá conta de 12 títulos voltados para o público adulto chegando às livrarias apenas em novembro - do surrealismo de Dave Cooper (Escombros, Zarabatana Books) ao suspense de Greg Rucka (texto) e Steve Lieber (arte), em Whiteout: morte no gelo (Devir). Os fãs comemoram, mas estão alertas em relação ao perigo de uma sobrecarga.

- Já não consigo mais acompanhar tudo o que chega às lojas, por falta de dinheiro. Parei de gastar. O cidadão normal não tem como comprar todos os títulos. Pode haver uma implosão do mercado pelo excesso de oferta - acredita Ota.

terça-feira, novembro 13, 2007

MARTINS, VOCÊ JAMAIS SERÁ ESQUECIDO

Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive. (Vinícius de Moraes)

segunda-feira, novembro 12, 2007

A FORÇA DE UMA CRENÇA


UM HOMEM PODE, SIM, FAZER TODA A DIFERENÇA.

Demagogia com burrice, dá nisso...

Ubiratan Iorio, economista

A demagogia é um mal que costuma afligir os povos na razão inversa de seu nível médio de educação e de forma crescentemente perversa, já que é progressivamente mais fácil iludir o povo quanto menor é esse nível. A América Latina e, naturalmente, o Brasil, sempre esteve para os demagogos como as águas paradas estão para o mosquito da dengue. A história é rica em mostrar, nas plagas "bolivarianas" marcadas pela desatenção ao capital humano e pelo patrimonialismo, a proliferação de líderes populistas e demagogos, com seus séquitos de súcubos e aspones - tão servis quanto imbecis - que bajulam os falsos messias. Pior é que as práticas demagógicas não se restringem ao Executivo e tampouco à União: são pragas que se manifestam em todos os poderes, bem como em Estados e municípios.
Mas, quando à demagogia se acrescenta a asnice, a coisa fica insuportável, e quem paga a conta - já que a parvoíce reinante mantém os demagogos no poder - é a classe média, esta instituição "burguesa" que, malgrado sustente o Estado, de acordo com os bons princípios da estupidez, é a culpada pela pobreza e pela má distribuição da riqueza...
A discussão atual sobre a CPMF apresenta propostas que bem exemplificam o que acabamos de afirmar; algumas visam a isentar do imposto quem ganha menos do que determinados valores, que variam conforme o grau de "demagogite" que acomete cada autor, mas todas são populistas, hipócritas e injustas, não apenas pelos valores - arbitrários em si - mas pelo "dane-se" (para não escrevermos palavra mais feia) à classe média. Definitivamente, ou nossos ilustres representantes não sabem fazer contas ou estão mergulhados de corpo e alma na tarefa de exterminar a nefanda classe, ou - o que parece mais plausível - essas duas hipóteses ocorrem simultaneamente...
Tomemos uma das sugestões, a de isentar do pagamento da CPMF quem ganha até R$ 1.642. Suponhamos, para simplificar, que todos paguem 0,38% de CPMF sobre o salário total. Bem, 0,38% de R$ 1.642 dá R$ 6,24, enquanto 0,38% de, por exemplo, R$ 8.210 dá R$ 31,20. Portanto, quem ganha o quíntuplo, paga cinco vezes mais, o que parece "justo".
Consideremos agora que quem ganha R$ 1.642 paga 0% de imposto de renda sobre os primeiros R$ 1.313,19 recebidos e 15% sobre os R$ 328,31 restantes, totalizando R$ 49,24 de IR mensal; já quem ganha R$ 8.210, paga 0% de IR sobre os primeiros R$ 1.313,19 recebidos, 15% sobre os R$ 1.311,43 ganhos em seguida e 27,5% sobre os R$ 5.584,88 restantes, totalizando R$ 1.732,55 de IR mensal, ou seja, um dispêndio 35,19 vezes maior do que o realizado por quem ganha R$ 1.642. Se considerarmos a declaração simples de IR, quem ganha R$ 1.642 passa a pagar R$ 9,63 e quem recebe R$ 8.210, paga R$ 1.502,36, ou seja, um valor 156,01 vezes maior (!) do que os R$ 9,63 pagos por quem aufere R$ 1.642.
Assim, antes dessa estúpida proposta, quem ganha R$ 1.642 - a quinta parte de R$ 8.210 - paga 156 vezes menos IR e, em média, cinco vezes menos CPMF (percentual que, é claro, pode variar conforme outras movimentações em conta corrente). Isso é "justiça"? É "justo" também retirar a CPMF de quem recebe - como vêm sugerindo os "gênios" governistas - até R$ 4.340, ou até qualquer múltiplo do salário mínimo, ou qualquer outro valor mágico aleatório? Pensam que tornarão a CPMF menos impopular? Ganhar bem é crime?
Aliás, há como essa sujidade de CPMF ser justa? Se não há, pelo menos que não a tornem ainda mais injusta! Por favor, sejam demagogos, mas não sejam burros ou, se não puderem, continuem sendo burros, mas deixem de ser demagogos! Demagogia farisaica com idiotice explícita ninguém agüenta...

Fica com Deus, Martins

Érika Pinheiro Rosa

Ainda impactada e sem entender bem como um procedimento preventivo acabou se revertendo em fatalidade e nos privando para sempre da convivência com um amigo, sinto necessidade de desabafar, pelo menos no papel. Nós, jornalistas, somos bichos estranhos, mesmo. Às vezes, só escrevendo conseguimos aliviar um pouco a cabeça e o coração.
Vou lembrar de Martins no seu cantinho na Redação, coincidentemente onde sentava outro companheiro que também já nos deixou – Benito Neiva. Lá, ele lia seus clássicos - já havia comprado 2.555 mil livros conforme, brincando, constatamos na última contabilidade com seu Ney, revisor.
Lá, no seu cantinho, ele ouvia clássicos no computador, com o seu fone de ouvido de “última geração”, comprado na mão de um camelô no São Francisco.
Lá, no seu cantinho, embaixo da televisão da Redação, ele nos atualizava sobre o filme do dia na Sessão da Tarde e também sobre o horário dos telejornais. “Olha o jornal, Érika Rosa!”, lembrava . Era o momento dele aumentar o volume para que todos pudéssemos ouvir as últimas notícias e não levarmos “furo” nas respectivas editorias.
Lá, no seu cantinho, ele ligava para dona Lurdinha toda noite para saber se Priscila já havia chegado e o que ele teria para a ceia ao chegar em casa. E tinham ainda as “brigas” com Cardoso, os xingamentos contra o “insurrecto” do Mário Reis, as provocações sobre as semelhanças com a calvície do chefe, e por aí ia.
Assim era o dia-a-dia na Redação com o nosso companheiro Raimundo Martins. Profissional competente, organizado, disciplinado e um ser humano doce, amigo, apegado à família e muito brincalhão. Como editor de Capa de O Estado, Martins era rigoroso com os horários e corria contra o tempo na hora do fechamento. Sabia que isso não era bom para a pressão. A ironia do destino é que ele estava de férias e se cuidando. Hipertenso, se submeteu a uma bateria de exames em Fortaleza. Lá, foi convencido a fazer uma cirurgia preventiva para desentupimento da carótida. Complicações pós-cirúrgicas não deixaram nosso amigo voltar para nós. Nos restam agora conformação e oração.
Mas, com certeza, os lanches das sextas-feiras e as noites de fechamento na Redação não serão mais os mesmos... faltará um amigo. Fica com Deus, Martins.
nJornalista

Companheiro
Raimundo Martins
nRibamar Cunha
Raimundo Martins,você não se foi, pois a sua lembrança sempre estará presente entre nós da Redação de O Estado.
A lembrança de grande companheiro, brincalhão, embora parecesse sério, e profissional do mais alto gabarito, nos confortará nesse momento de dor.
Você, Raimundo, nosso capista, que apesar dos atropelos, da luta conta o tempo e das cobranças, levava aos leitores de O Estado as principais manchetes do jornal, com zelo e competência inerentes ao seu profissionalismo.
Tive o privilégio este ano, em curto espaço de tempo (quanto tirei as férias do Cabalau) de trabalhar mais envolvido com a sua atividade. E, sem duvida, foi um grande aprendizado. Me senti honrado em poder ajudá-lo a trabalhar a capa do jornal.
Além de sua dedicação como profissional, o que mais me admirava em você, companheiro, era a sua paixão pela leitura. Tenho certeza, todos os seus colegas o admiravam por isso também.
Por ocasião da Feira do Livro, mês passado, cheguei a comentar com Flora que você, amigo Martins, deveria estar de sorriso largo, tantas eram as publicações à disposição de sua degustação literária.
Só tenho a agradecer pela oportunidade que tive de poder compartilhar grandes momentos ao lado do profissional e amigo Raimundo Martins.

Jornalista

sexta-feira, novembro 09, 2007

A minha volta

JOSÉ CHAGAS

Tenho a satisfação de avisar aos meus distintos e fiéis leitores que estou de volta, para de novo situar-me no dia que aqui o jornal diz que é meu. Dia, por sinal, que o jornal guardou pacientemente à minha espera e sei que, com toda sua equipe, torcia por minha volta, compreendendo o meu silêncio e o meu distanciamento, pois na verdade eu me afastei de tudo e de todos. Mas explico essa minha atitude, aparentemente grosseira.
É que estou voltando de uma dura viagem que fiz em busca de mim mesmo.
Tive de, pela primeira vez, fazer uma coisa absolutamente inusitada em minha vida: passar alguns dias ocupado exclusivamente comigo, procurando em mim o que em mim estava faltando, talvez por causa de muitas outras coisas que eu mantinha em excesso.
Todos nós somos feitos de excessos e de faltas, nem sempre podendo manter o equilíbrio necessário à harmonia de nossa própria condição humana. E nessa viagem, vi que quem se busca no tempo nem sempre se encontra todo, pois percebe quanta coisa foi desperdiçada desnecessariamente. E só com um pouco de paciência, se é capaz de
salvar ainda algum resto que já não se tenha transformado em resíduos inúteis.
Compreendi, de certo modo, a razão de tudo aquilo que se pode ganhar com o tempo, e também a não razão de tudo aquilo que
com o tempo se vai perdendo. Pude contemplar de perto a minha própria natureza em choque comigo, por causa do abuso com que sempre a tratei. E então, assustado, me vi, por dentro, através de uma simples gota de sangue que me tiraram do dedo e puseram numa lâmina de microscópio.
Verdadeiros quadros, de uma impressionante plasticidade, como de pintores surrealistas, me mostravam, numa tela de tevê, os misteriosos monstros que, ao longo dos caminhos sanguíneos, circulavam dentro de mim, sem que deles eu tivesse conhecimento. Esses quadros indicavam o que eu tinha de mais ou de
menos e davam uma idéia nítida do meu desleixo para comigo. Era-me, pois, necessário esse mergulho em mim mesmo, para um contato direto com uma realidade íntima que até então eu tinha como se fosse algo fictício. Eu me sentia, mas não me pensava. Eu só me doía.
Mas, como já disse, para enfrentar tudo isso, foi necessário distanciar-me de todos, de dar uma parada, de ficar de molho, a conselho médico. Por um espaço de tempo maior do que eu calculava, tive de manter-me em silêncio, no jornal, o que causou preocupação para alguns leitores amigos, mas talvez até alívio para alguns outros. E se me calei, se me afastei, se me isolei, se me preocupei tanto comigo, não foi por egoísmo nem para fugir de ninguém, mas, de certa forma, para tentar ficar mais perto dos demais. Isso mesmo. Já eu havia lido algures que “o paradoxo da solidão é que ela nos prepara para a convivência, Estar só é promover a recarga para estar junto.” Essa verdade nos leva a outra que todo mundo percebe, mas nem sempre adota: é que ninguém pode conviver bem com os
outros, se não está bem consigo mesmo.
E eu estava mal comigo, da cabeça aos pés, o que não significa que esteja agora em perfeita saúde, uma vez que continuo um tratamento que tem de ser prolongado, tanto que estou ainda escrevendo muito devagar, visto que a barra pesou demais, pois envelhecer não é coisa com que se possa ficar brincando. Era preciso levar a sério o que o tempo e a vida estavam fazendo comigo, ou o que eu estava fazendo com ambos.
O caso é que fui para São Paulo, levando, na minha bagagem orgânica, digamos assim, uma carga de colite, sinusite, conjuntivite, labirintite, otite, enfim, tanta coisa acabada em ite que já não havia limite para nada nem mesmo palpite que me apontasse uma solução.
Além do mais eu nem sequer podia estabelecer esquemas diante de tudo isso, porque, em vez de esquemas, já me sentia era no mundo das isquemias, que me desequilibraram e me entonteceram, de modo que não me permitiam caminhar em linha reta nem também, em linha reta, ter meus pensamentos, pois na minha cabeça já não havia senão zumbidos ensurdecedores. A cabeça não estava louca,
mas era uma caixa oca, de ressonâncias dissonantes. Nem sei explicar isso.
Senti então em meu ser toda a ruidosa tortuosidade da vida. E vi que a viagem por dentro de mim, em busca de mim mesmo, tinha de ser por estradas curvas e turvas, pois, a essa altura, lutar pela vida é ter de encontrar brechas ou atalhos que facilitem a jornada íntima que cada um percorre ao longo dos anos. E eu literalmente andava tropeçando em mim mesmo. Mandavam-me caminhar. Mas como caminhar?
Enquanto isso o tempo continuava me trabalhando em silêncio, pois ia contando dias e horas para perfazer os meus oitenta e três anos, dando-me a certeza de que, no caminho da existência, um ano a mais é sempre um ano a menos. E assim, na manhã do dia 29, eu festejava minha data aniversária, numa clínica, com uma aplicação na região glútea e depois com soro na veia, acompanhado por um copo de suco de laranja. Era a continuidade do tratamento que eu vinha fazendo e era como se naquele dia a vida estivesse sendo injetada em mim, por mãos habilidosas de competentes enfermeiras.
Desde a véspera, amigos e amigas me telefonavam, desejando-me muitos anos de vida, e alguns até reclamando pelo fato de eu ter ido aniversariar longe. Mas eu não viajei para fazer aniversário fora daqui. Nem sequer pensei nisso, quando saí. Se pensasse, talvez pretendesse aniversariar, não longe no espaço, mas no tempo. Enfim, aniversariar, mesmo quando já se está mais para lá do que para cá, sempre é bom, desde que, pelo menos, faça a alegria dos amigos. E compreende-se também que a vida vale muito pelos bons amigos que temos. Sou grato a todos os que, de um modo ou de outro, me ajudaram na caminhada e continuam me ajudando.

quinta-feira, novembro 08, 2007

O ATO FINAL

O professor Daniel Mendes passou em claro a noite anterior. Cobriu quase todas as folhas de um caderno de 12 matérias com rascunhos a respeito de como poderia cometer o ato final de sua residência na terra. Afinal, depois de fazer com que seu raciocínio desse mil revoluções por minuto, de gastar muita tinta preta (ou afrodescendente) de sua caneta de 50 centavos e de beber todo o café da garrafa térmica de plástico azul, decidiu que o ato final trancorreria em cinco quadros, todos sem limite de tempo, e teriam como único ponto semelhante o amor.
Eram quatro horas da manhã. Um lençol de estrelas cobria a Ilha Grande, que dormia e sonhava com o milagroso retorno de São Sebastião. O professor Daniel Mendes apagou a luz do quarto e tentou dormir também. Mas em razão da quantidade absurda de cafeína maldigerada em seu organismo, seus poucos minutos de sono foram povoados pelo mau sonho recorrente: ele corria por uma alameda arruinada, e então tropeçou, caiu de rosto no chão recheado de pedras, as lentes dos óculos quebraram e alguns pedaços furaram-lhe os olhos, e o que era o mundo tornou-se para todo o sempre eterna escuridão.
"Ensaio sobre a cegueira", ele pensou, ao despertar, num pântano de suor e lágrimas. Achou que ficara mesmo cego, mergulhado nas trevas do quarto, até que o bom senso prevaleceu: lembrou-se da lâmpada apagada.
Sentou-se na cama. O rádio-relógio mostrava-lhe que eram seis horas da manhã. "Duas horas, apenas", murmurou. "Deve ser o novo recorde mundial". O café maldigerido ainda massacrava seu estômago. Conseguiu desfazer um princípio de náusea. Mas sabia que a loucura que cometera na madrugada cobraria-lhe o devido tributo cedo ou tarde. Então, que fosse cedo. Se ocorresse no meio da aula, o vexame seria histórico.
Em seguida, deu início ao ritual de todos os dias. Escovou os dentes, tomou banho, vestiu-se, organizou o material de que precisaria para as aulas do dia, deu uma volta pela casa antes de trancá-la. Às vezes, esquecia uma porta ou janela apenas encostada, e nessas ocasiões contou com uma boa dose de sorte. Lembrou-se do caderno de matéria com qual estivera às turras horas antes. Sorriu um pequeno sorriso maligno e começou a arrancar todas as folhas que havia rabiscado. Não satisfeto, pegou seu isqueiro e queimou-as juntas. À exceção daquela na qual riscara o nome proibido: Vanessa. Os pedaços enegrecidos das demais ficaram espalhados na cozinha. Este foi o primeiro quadro. O fim estava próximo.
No segundo quadro, bateu à porta de uma de suas vizinhas. Cujo nome, Vanessa, mortificava-lhe o coração depois de uma série de aulas marcadas pelo estgma da desilusão. A Vanessa que morava perto de sua casa nada tinha a ver com Ela, a Outra, a Maldita. Tinha 25 anos, estudava Medicina, queria fazer mestrado em Paris. Daniel murmurou "Eu sinto muito" antes de quebrar o pescoço dela. Vanessa também morava sozinha. A polícia demoraria uma vida para encontrar o corpo. Mas o fedor do cadáver poderia denunciar. Ele não tinha certeza. Vomitou o café da madrugada nos sapatos pretos. Então, foi mesmo cedo, graças a Deus.
O terceiro quadro foi especial. Sentado próximo à cobradora, Daniel esperou o ônibus entrar em uma avenida bastante movimentada. Então, tirou de dentro de sua maleta uma pistola Taurus prateada que brilhou cinematograficamente ao sol. A estudante sentada ao seu lado ficou lívida e boquiaberta. Demorou quase dois minutos, mas alguém se deu conta da gravidade da situação e gritou para o motorista: "Pára, que tem gente armada aqui!". O motorista levou muito ao pé da letra a ordem e pisou no freio e na embreagem ao mesmo tempo. Perdeu o controle do ônibus e tentou, em vão, evitar a batida em um carro que vinha no sentido contrário. Coincidência ou não, a motorista do carro, soube-se depois, chamava-se Vanessa. Que foi retirada morta das ferragens.
Na delegacia - o quarto quadro -, Daniel contou aos que se dispuseram a ouvir seu absurdo relato que precisava exorcizar um demônio que todo santo dia massacrava seu coração com promessas de amor que jamais seriam realizadas. O delago perguntou-lhe se esse "demônio' não teria um nome mais terreno. "Claro que tem", respondeu Daniel. "Vanessa. Meu alfa, meu ômega. Estou agora na fase do ômega. É o meu ato final".
A bem da verdade, o quinto quadro jamais ocorrerá. Daniel foi preso, condenado mais tarde a trocentos anos de prisão pelos crimes cometidos em um só dia e hoje está vivendo o tempo que lhe resta na Penitenciária de Pedrinhas. Eu o visito regularmente. Ele ainda pensa em Vanessa. Pergunto-lhe quem diabos é essa criatura, onde vive, o que faz da vida. Pergunto-lhe se não é uma fantasia urdida por sua mente fraturada para poder enfim realizar todas as cenas macabras que um dia idealizou, ao conversar com sua própria imagem refletida no espelho do banheiro.
Daniel Mendes sorri seu pequeno sorriso maligno. "Vanessa é o meu alfa e meu ômega". É a única resposta do louco.

quarta-feira, novembro 07, 2007

JUAN LÓPEZ Y JOHN WARD

DE JORGE LUIS BORGES

Les tocó en suerte una época extraña.

El planeta había sido parcelado en distintos países, cada uno provisto de lealtades, de queridas memorias, de un pasado sin duda heroico, de derechos, de agravios, de una mitología peculiar, de próceres de bronce, de aniversarios, de demagogos y de símbolos. Esa división, cara a los catógrafos, auspiciaba las guerras.

López había nacido en la ciudad junto al río inmóvil; Ward, en las afueras de la ciudad por la que caminó Father Brown. Había estudiado castellano para leer el Quijote.

El otro profesaba el amor de Conrad, que le había sido revelado en una aula de la calle Viamonte.

Hubieran sido amigos, pero se vieron una sola vez cara a cara, en unas islas demasiado famosas, y cada uno de los dos fue Caín, y cada uno, Abel.

Los enterraron juntos. La nieve y la corrupción los conocen.

El hecho que refiero pasó en un tiempo que no podemos entender.


Jorge Luis Borges, 1985

terça-feira, novembro 06, 2007

A vida em mundos virtuais

La Vanguardia

Daniel Huebner, especialista em mundos virtuais, afirma confiar nos mundos tridimensionais, alegando que "no mundo virtual todas as pessoas têm a possibilidade de desenvolver seu pleno potencial". Ele foi encarregado, durante quatro anos, em fazer com que o Second Life funcionasse como uma comunidade homogênea, e esteve recentemente em Barcelona para participar do congresso Art Futura 2007, que debateu a forma que a Internet terá no futuro.

Para Huebner, no futuro a rede inevitavelmente terá recursos comuns aos mundos virtuais tridimensionais. O Second Life tem 10 milhões de usuários registrados, e uma economia ativa que, segundo as estimativas, chega a movimentar US$ 1 milhão em dinheiro real ao dia, ocasionalmente. O mundo virtual e tridimensional abriga curiosos, políticos, empresas, universidades, organizações sem fins lucrativos, artistas e comerciantes; os terrenos e outros artigos são comprados e vendidos por meio de uma moeda virtual conversível em dólares reais, e os usuários criam personagens fictícios (avatares) que interagem com outros visitantes digitais ao serviço.

"O Second Life representa um avanço fascinante na maneira pela qual as pessoas interagem em rede, mas estamos vendo apenas a ponta do iceberg, quanto ao que esses mundos virtuais um dia virão a ser. Muitas das atividades da Internet serão conduzidas neles, já que compras, encontros românticos, encontros com amigos, shows, debates e muitas outras coisas parecem muito mais atraentes no mundo tridimensional, do qual participamos diretamente com nossos avatares, do que no universo bidimensional da Internet corrente", afirma Huebner.

segunda-feira, novembro 05, 2007

Os últimos degraus

Os últimos degraus ainda estão longe de ser alcançados. Mas também é verdade que nós, seres humanos, fazemos o possível para chegar ao fundo do poço.
Vocês, por acaso, sabiam que estamos no ano 47 D.D.? É isso mesmo. Eu também não fazia idéia, até esta noite de outubro, quando acessei a internet à caça de assunto para postar no meu blog. Foi então que fiquei sabendo que dois casais mexicanos se casaram numa tal de “Igreja Maradoniana”, em um clube noturno de Buenos Aires. Informa o sítio que a “religião” foi criada em 1998 por admiradores do ex-craque em hiperatividade Diego Armando Aspirêitor Tabajara Maradona. É muita falta de esculhambação, como diria o caboclo.
Ainda consoante (termo que está tão morto para o jornalismo quanto o futebol maranhense para este vosso escriba) a página da Grande Irmã internet, a criação da Igreja Maradoniana foi ins-pirada pela explicação que Dieguito, o Aspirador, arranjou para aquele escandoloso erro cometido pelo árbitro e o assistente da partida da Argentina contra a Inglaterra, nas oitavas-de-final da Copa de 1986 - o ano em que Deus teve a boa idéia de colocar neste mundo Rafaelle e Ingrid.
Só o juiz e o bandeira não viram Maradona dar uma raquetada na bola com a mão esquerda, na saída do goleiro Shilton. Depois da partida, Diego saiu-se com aquela viagem da “mão de Deus”. Esta foi, por assim dizer, a desculpa divina necessária para que uma meia dúzia de três ou quatro abilolados decidissem fundar a tal igreja. Esses doidisvanas são liderados por dois jornalistas - que deveriam ser pessoas esclarecidas, sensatas, centradas e ponderadas e não fanáticas, no que de pior essa palavra pode ter. Pois os senhores Alejandro Verón e Hernán Amez decidiram, na noite de 30 de outubro de 2002, aniversário de Maradona, consagrar em uma igreja o nada santo nome daquele que, em algum lugar do passado, foi considerado o maior jogador de futebol da Argentina. Um ídolo que, infelizmente, pode ser encontrado apenas em vídeos e fotos da época em que, de fato, era magistral e soberbo. Esse “deus” tão venerado pelos hermanos um dia desceu do seu pedestal, calçou as pesadas botas de chumbo do vício e decaiu tanto que, muito provavelmente, a luz no fim do túnel para ele era tão possível quanto a existência de vida inteligente no pequeno Jornal Pequeno.
A Igreja Maradoniana tem muito da Católica. Tem lá seus mandamentos - um dos quais exige que os filhos daqueles casais mexicanos, por exemplo, batizem seus filhos com o nome de Diego. As meninas, sem dúvida alguma, atenderão por Maradona. O Natal e o Ano Novo deles se baseiam no aniversário do ex-craque. Os anos se dividem em A.D. e D.D. (Antes e Depois de Diego). Alguém aí na platéia pode seguir meu exemplo e considerar essa igreja o que ela não deixa de ser: uma completa falta de absurdo. Todavia, é preciso admitir que todo e qualquer assunto, por mais ignóbil, deve ser encarado dentro de uma perspectiva mais ampla. Acredito que a filosofia tenha começado assim, quando os primeiros pensadores começaram a questionar a composição da realidade que os cercava.
Nesse caso, podemos levar a sério a Igreja Maradoniana caso esteja relacionada ao que se diz e se entende sobre religião: um conjunto de crenças que a humanidade considera como sobrenatural, divino, sagrado e transcendental, bem como o conjunto de rituais e códigos morais que derivam dessas crenças. Trocando em miúdos, não é errado que um grupo de pessoas se reúna para formar uma igreja. Errado será os que dela fizerem parte deturparem seus ensinamentos. Não é o caso das “testemunhas de Diego”, imagino. E é bem melhor para todos e para a felicidade geral da nação (o mundo inteiro, não só a Argentina) que assim continuem. Não precisamos mesmo de “neo-jihadistas”. E, se todas as principais religiões começam com grandes narrativas, depois da vitoriosa odisséia contra a Inglaterra, o principal feito de Maradona terá sido dar um tempo nos tóxicos. O que não deixa de ser um acontecimento bem relevante. Paz do senhor!