domingo, janeiro 31, 2010

Novo livro de Luis Fernando Verissimo, "Os Espiões" tem ironia e debate literário

MARTA BARBOSA
Colaboração para o UOL

Se fosse necessário resumir em um tema "Os Espiões" (Editora Alfaguara), novo livro de Luis Fernando Verissimo, esse poderia ser: a irresistível tentação de viver de romance, ou como a vida seria mais interessante se fosse toda ela literatura. O narrador é um escritor frustrado que trabalha como editor numa empresa pequena e inexpressiva de Porto Alegre, cujo principal título lançado até então foi "Astrologia e Amor", um guia astral de qualidade duvidosa, mas que tem lá suas leitoras.

Seu trabalho consiste basicamente em receber e rechaçar originais que chegam aos montes cada semana. Com um casamento fracassado e uma vida profissional desanimadora, o personagem de Verissimo passa a semana contando as horas até a sexta, quando se interna no bar do Espanhol e, na companhia de outras figuras não menos patéticas, afoga as mágoas bebendo até perder a consciência, e assim se mantém até a segunda-feira.

De ressaca às segundas, aliás, é quando o editor está mais inspirado para escrever as cartas de rejeição de originais. "Recomendo ao autor que não apenas nunca mais nos mande originais como nunca mais escreva uma linha, uma palavra, um recibo. Se 'Guerra e Paz' caísse na minha mesa numa segunda-feira, eu mandaria seu autor plantar cebolas. Cervantes? Desista, hombre. Flaubert? Proust? Não me façam rir." Fácil imaginar a quantidade de desafetos que ele coleciona.

Mas num desses dias (não numa segunda, claro), chega um envelope branco com endereço escrito em letras maiúsculas trêmulas e algo suplicantes que o desperta. Dentro, um maço de folhas entre capas transparentes, presas por uma espiral, e na primeira delas o título: "Ariadne", escrito com caneta esferográfica e com uma florzinha em cima do "i". É o começo de uma nova história.

A tal Ariadne, autora que empresta seu nome para título da obra, descreve em suas linhas uma relação conflituosa com um marido que mais parece gângster. Um bilhete assinado por "uma amiga", enviado junto com o original, explica que se trata da primeira parte de uma autobiografia, ou de um diário, ou, como nosso editor prefere acreditar, de um testamento literário de uma suicida.

O enredo se moldura pela obsessão do pintor surrealista Giorgio De Chirico (1888-1978) pela personagem da mitologia grega Ariadne. O quadro "Solidão" ("Melancolia"), de 1912, que retrata uma estátua feminina no meio de uma praça italiana, com figuras humanas diminutas num segundo plano e a palavra "melancolia" gravada no pedestal, é mais de uma vez citado durante a trama. A Ariadne escritora do interior gaúcho parece sofrer da mesma solidão da personagem mitológica retratada por De Chirico, o que desperta mais que a compaixão do narrador. "... eu vou salvá-la, e me salvar, e até lá tudo é prólogo", diz o editor apaixonado pelo projeto de livro.

A partir daí, o personagem passa a viver em função daqueles originais que chegam em doses. Não só ele como todos os assíduos frequentadores do bar do Espanhol se envolvem com o drama de Ariadne, uma indefesa garota do interior ameaçada pelo marido, um assassino poderoso e cheio de dinheiro.

O que segue é uma deliciosa trama de espionagem, com direito a disfarces engraçadíssimos, hilariantes devaneios e muitas trapalhadas. O editor consegue envolver até o mais distante dos "colegas" de bar na aventura. O objetivo deixa de ser o livro em si, e ganha aspecto de história de herói: todos querem salvar Ariadne, que na mitologia ajuda Teseu a sair do labirinto, só que dessa vez é ela quem precisa ser resgatada da cidade provinciana e sem ação chamada Frondosa.

"Os Espiões" não chega a ser um livro definitivo na carreira de Verissimo. É um romance despretensioso, de leitura fácil e rápida. E talvez aqui esteja o grande mérito do autor: escrever simples, para todos, convertendo todo o gigantismo que por vezes envolve a literatura numa enorme trapalhada.


"OS ESPIÕES"
Autor: Luis Fernando Verissimo
Editora: Alfaguara
Páginas: 142
Preço: R$ 31,90

sábado, janeiro 30, 2010

Time de Marta nos EUA encerra atividades; draft remaneja jogadoras

Mariana Bastos
Da Folhapress

Em São Paulo

A melhor jogadora de futebol está temporariamente sem clube e a maior liga feminina do mundo perdeu uma de suas principais franquias. O Los Angeles Sol, que com Marta chegou ao vice-campeonato em 2009 da liga americana, a WPS, anunciou o encerramento de suas atividades. Proprietários da franquia negociavam sua venda, mas a tentativa foi fracassada.

‘Trabalhamos arduamente no último mês para completar a transação. No fim, ficamos sem tempo hábil para obter fundos suficientes para manter o Sol’’, disse Tonia Antonucci, presidente da liga, acrescentando que tentará dar um novo time a Los Angeles em 2011.

Apesar do baque, a segunda temporada da WPS, que começa em 11 de abril, deve ter Marta em campo. O agente da jogadora, Fabiano Farah, garante que ela não ficará sem time nos EUA. De acordo com ele, o contrato da atacante com a franquia de Los Angeles foi transferido para a WPS e Marta certamente jogará em solo americano por mais duas temporadas.

‘A Marta tinha contrato com o Los Angeles Sol até 2011. Como a WPS assumiu a responsabilidade pelo contrato, ela ficará mais dois anos nos EUA. Estou conversando diretamente com a presidente da liga para definir qual será a nova equipe de Marta’’, disse Fabiano Farah, agente da brasileira, que não quis especificar quais equipes estariam interessadas.

Na próxima quinta, a WPS promoverá um mini-draft, que servirá para distribuir as jogadoras do Los Angeles Sol entre as outras franquias.

O Atlanta Beat, que estreará na liga nesta temporada, tem a preferência na escolha. Mas é possível que a franquia não opte pela atleta brasileira, que foi eleita quatro vezes a melhor do mundo pela Fifa. Marta é a jogadora que tem o maior salário da liga -US$ 500 mil por ano-, e a nova equipe, como estreante, não deve possuir verba suficiente para bancá-la.

sexta-feira, janeiro 29, 2010

A Nina e MJ

JOSÉ SARNEY

O REPÓRTER PABLO Ordaz cobriu os primeiros dias da tragédia do Haiti e como poucos nos revelou em profundidade o aspecto humano que perpassa o mundo invisível de uma catástrofe dessa magnitude. São desgraças individuais que são símbolo e exemplo do que acontece no olho desse furacão sem vento que atingiu o mais pobre entre os mais pobres, o sofrido povo do Haiti.

Em 2008, dois tornados destruíram sua frágil infraestrutura. Agora, a tragédia humana e física não se tem como dimensionar. Não são somente os edifícios que caíram, os mortos, os feridos, os desesperados. São os dramas pessoais que trespassam o destino das pessoas e da nação. Os depoimentos que lemos são uma busca de palavras para dizer o que as palavras não dizem. Um sobrevivente espanhol contou: "Era uma onda, a terra subia e baixava, devorando tudo".

Ainda hoje tem a sensação de que "tudo se move, só existe o pó, não quero ver".

Mas o que se desdobra é a fome, o desespero por água, comida, remédios. Lançam bombas de gás para afastá-los. Como no Afeganistão. Mas lá luta-se contra os que querem acabar a humanidade, aqui levamos uma mão estendida de solidariedade aos que buscam viver. É desse mundo que Ordaz nos traz o testemunho de visita a um hospital improvisado. Ele pergunta: "De que vocês mais precisam?".

"Morfina". Porque ali os sons que se ouvem são os gritos dos dilacerados pela dor. Amputações sem anestesia, e o que mais têm são mutilados pelos desmoronamentos. Num colchão sujo uma menina. Os olhos tristes que não brilham. Um esparadrapo na testa com uma data, 21.1.2010, e duas iniciais, MJ.

Tem apenas um coto envolto em gaze no começo do úmero, perto do ombro. "O que se passou contigo?" Abstrata, repete: "Meu braço ficou lá". Ela foi uma das amputadas sem anestesia, e agora ali aguarda um encontro com qual destino? Os seus estão todos mortos: "Meu braço ficou no colégio".

Assisto em Brasília, na Base Aérea, às cerimônias fúnebres de saudades aos nossos bravos soldados que morreram no Haiti. Também são destinos acabados. Famílias destroçadas. Carreiras mortas. Ouço a corneta tocar silêncio. O soluço contido dos parentes. Uma guarda de honra afasta um caixão. O corpo será sepultado em Brasília. Separa-se de seus companheiros.

Saem para acompanhá-lo sua mulher, de preto, com dignidade, e uma menina com os olhos tristes e sem brilho. Deve ser ter seus cinco anos. Acompanha o corpo do seu pai, o major Adolfo. Seu nome, Nina. Meus olhos pedem para chorar com eles. Ela, como Maria José, é vítima da tragédia.

Vão ao encontro do seu destino. Nina viverá sem o carinho do seu pai, mas credora da solidariedade e carinho de todo o Brasil, filha de herói. E MJ?

quinta-feira, janeiro 28, 2010

Morre aos 91 anos o escritor norte-americano J.D. Salinger

Autor de 'O apanhador no campo de centeio' estava em casa.
Morte foi em decorrência de causas naturais, diz filho.

Do G1, com agências

O escritor J.D. Salinger, autor de "O apanhador no campo de centeio", morreu nesta quarta-feira (27) aos 91 anos, confirmou ao G1 a agência literária do escritor, Harold Ober Associates, em Nova York.

De acordo com um comunicado enviado por e-mail pela agência, "Salinger morreu em paz" e de "causas naturais". "Apesar de ter quebrado sua bacia em maio, sua saúde estava excelente até uma recaída súbita depois do ano novo. Ele não estava com dores nem antes nem na hora de sua morte", segue a nota (leia a íntegra).

Ainda de acordo com a Harold Ober Associates e "preservando seu desejo de toda uma vida para proteger e defender sua privacidade, não haverá velório", e a família pede para si o mesmo "respeito que as pessoas tinham por ele, sua obra e sua privacidade".

No momento de sua morte, o escritor estava em sua casa em New Hampshire, onde vivia em isolamento havia décadas.

O romance "O apanhador no campo de centeio", com seu imortal protagonista - o rebelde Holden Caulfield -, foi lançado em 1951 durante o período da Guerra Fria. A história de alienação juvenil e perda da inocência foi adotada por adolescentes em todo o mundo e ainda vende cerca de 250 mil cópias por ano. No total, já são mais de 60 milhões de exemplares em diversas línguas.

ANÁLISE: Salinger inventou a adolescência da segunda metade do século XX

No Brasil, "O apanhador no campo de centeio", a coleção de contos "Nove histórias" (53) e o livro "Franny & Zooey", que reúne duas novelas de 61, são publicados pela Editora do Autor. Já "Carpinteiros, levantem bem alto a cumeeira & Seymour, uma apresentaçao", compilação de duas histórias do autor de 63, foi editada por aqui pela L&PM, Brasiliense e Companhia das Letras.

Continuação não-autorizada

Em junho do ano passado, Salinger voltou ao noticiário após processar o escritor sueco Fredrik Colting, que escreveu "60 Years Later: Coming through the Rye" ('60 anos depois: saindo dos campos de centeio', em tradução livre), uma continuação não-autorizada dos eventos narrados no original.

Em setembro, o juiz de uma corte de apelação dos EUA classificou o livro de Colting como "um trabalho bastante medíocre", e questionou se o livro prejudicaria o famoso escritor.

Na ocasião, Marcia Paul, advogada de Salinger, disse que seu cliente recusou ofertas do produtor de Hollywood Harvey Weinstein e do diretor Steven Spielberg para escrever uma sequência. "Salinger não deseja autorizar uma sequência ou uma variação", disse ela.

O autor, como de praxe desde a década de 80, não concedeu entrevistas sobre o episódio. "Não há mais nada sobre Holden Caulfield. Leia o livro novamente. Está tudo lá. Holden Caulfield é apenas um momento congelado no tempo", disse Salinger certa vez ao "Boston Globe".

Ele não publicava um trabalho literário com sua assinatura desde o conto "Hapworth 16, 1924" em junho de 1965. E não concedia entrevistas desde 1980.

Trajetória

Nascido em 1º de janeiro de 1919, em Nova York, Jerome David Salinger já tinha 32 anos de idade quando estreou em 1951, com "O apanhador no campo de centeio", uma história de um adolescente rebelde e suas experiências quixotescas em Nova York, que elevou o escritor ao topo da cena literária. O romance causou polêmica pela liberdade com a qual Salinger descrevia a sexualidade e a rebeldia adolescente.

Os primeiros contos de Salinger foram publicados em revistas como "Story", "Saturday Evening Post", "Esquire" e "The New Yorker" na década de 1940, e o primeiro romance "O apanhador no campo de centeio" transformou-se imediatamente em sucesso e lhe consagrou aos olhos da crítica internacional.

A fama, no entanto, provocou sua aversão à vida pública, a rejeição a entrevistas e à invasão de sua vida privada que se manteve até sua morte.

Em relação a outros escritores, Salinger classificou Ernest Hemingway (1899-1961), que conheceu em Paris, e John Steinbeck (1902-1968) como de segunda categoria, mas expressou sua admiração por Herman Melville (1819-1891).

Durante os anos 80, o escritor esteve envolvido em uma prolongada batalha legal com o escritor Ian Hamilton que, para a publicação de uma biografia, usou material epistolar escrito por Salinger.

Uma década depois, a atenção midiática que tanto evitava voltou a pousar sobre o autor, devido à publicação de dois livros de memórias escritas por duas pessoas próximas a ele: sua ex-amante Joyce Maynard e sua filha Margaret Salinger.

Em seus livros, as autoras sugeriam que Salinger ainda escrevia, embora não desse nenhum sinal de pretender publicar uma só linha.

"Há uma paz maravilhosa quando não se publica. É pacífico", afirmou Salinger em 1974, quando quebrou mais de 20 anos de silêncio em uma entrevista dada por telefone ao jornal "The New York Times". "Publicar é uma terrível invasão da minha privacidade. Eu gosto de escrever. Eu amo escrever. Mas eu escrevo apenas para mim e para meu próprio prazer", decretou.

Vida pessoal

Filho de um judeu importador de queijos kosher e de uma escocesa-irlandesa que se converteu ao judaísmo, Salinger cresceu em um apartamento da Park Avenue, em Manhattan, estudou durante três anos na Academia Militar de Valley Forge e em 1939 estudou contos na Universidade de Columbia.

Em 1942, o jovem Salinger foi recrutado pelos Estados Unidos para lutar na Segunda Guerra Mundial. Ele participou da invasão da Normandia no Dia D, e acredita-se que as experiências vividas na época da guerra o marcaram para sempre.

Em 1945, casou-se com uma médica francesa chamada Sylvia, de quem se divorciou e, em 1955, casou-se com Claire Douglas, com quem teve seus filhos, e terminou por divorciar em 1967, período em que sua reclusão se acentuou e aumentou seu interesse pelo budismo zen.

Atualmente, Salinger estava vivendo com sua mulher Colleen, e deixa os filhos Matt e Margaret, além de três netos, Gannon, Max e Avery.

segunda-feira, janeiro 25, 2010

A ÚLTIMA QUE MORDE

Como diria a Magda, “a esperança é a última que morde”.

Acabo de ler o artigo de um homem que, por dever de ofício ou talvez (porque não o conheço) por sua formação, é um otimista incorrigível.

O título da peça em questão é: “O Haiti não está só”. Foi publicado na “Folha de S. Paulo” de quinta-feira – 21/1 – e escrito pelo secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), o senhor Ban Ki-Moon. E assim principia:

“A catástrofe no Haiti demonstrou algo que nós sempre soubemos: mesmo na maior devastação, há esperança. Vi isso com os meus próprios olhos nesta semana, em Porto Príncipe. A ONU sofreu a maior perda de sua história. Nossa sede na capital haitiana era um amontoado de concreto despedaçado e aço retorcido. Como poderia alguém sobreviver?, pensei”.

Quem assistiu às imagens feitas por aquele soldado, mostradas pelo “Fantástico”, dos instantes seguintes ao desabamento da igreja na qual morreu Zilda Arns também deve ter feito a mesma pergunta. E deve ter observado – ao testemunhar a imagem do Cristo crucificado ilesa diante do templo destruído – como os desígnios divinos podem ser interessantes... naturalmente de uma forma totalmente incompreensível para nós, pobres pecadores.

Ban Ki-Moon também acredita no miraculosamente impossível:

“No entanto, logo depois de partir, com o coração pesado, as equipes de salvamento retiraram um sobrevivente dos escombros - vivo, após cinco dias enterrado, sem água nem alimentos. Considero isso um pequeno milagre, um sinal de esperança. Catástrofes como a do Haiti nos lembram a fragilidade da vida, mas também reafirmam nossa força. Vimos imagens horrendas na televisão: edifícios destruídos, cadáveres nas ruas, pessoas precisando de alimentos, água e abrigo. Vi tudo isso e mais ao andar pela cidade em ruínas”.

Bem que poderia ter feito uma escala em São Paulo. A descrição do parágrafo acima cairia feito uma luva na maior e pior cidade do Brasil. Na madrugada da mesma quinta-feira em que li o texto do senhor Ban Ki-Moon e agora escrevo estas bem-traçadas linhas, pelo menos nove pessoas morreram em deslizamentos causados por um violento temporal. De fato, o Haiti não está só. Mas pensando bem São Paulo pode até respirar aliviada. Podia ser pior: o prefeito de lá poderia ser João Castelo.

Maldade gratuita das 23h49 à parte, li no artigo de Ban Ki-Moon o desejo do secretário de ver o Haiti devidamente cicatrizado e restaurado. “Durante minha breve visita”, escreveu, “falei com muitas pessoas comuns. Perto das ruínas do palácio presidencial, um grupo de jovens que deseja ajudar a reconstruir o país”. E adiante:

“Do outro lado da rua, vi uma jovem mãe com seus filhos numa tenda, num parque público, com poucos alimentos. Havia milhares na mesma situação. Ela me disse, assim como outras pessoas, que esperava que a ajuda chegasse. ‘Vim trazer esperança’, disse-lhe: ‘Não desesperem’. E ela pediu que a comunidade internacional ajudasse o Haiti - pelos seus filhos, pelas gerações de amanhã”.

Aí está, senhoras e senhores. Esperança é isso: a capacidade de acreditar que podemos construir um futuro melhor a partir de escombros, sangue e muitas lágrimas.

sexta-feira, janeiro 22, 2010

Americana de 136 quilos mata namorado de 54 quilos ao sentar em cima dele em briga

Do G1, em São Paulo

A norte-americana Mia Landingham, de 136 kg, foi condenada nesta semana por ter matado seu namorado Mikal Middleston-Bey, de 54 kg, após sentar sobre ele durante uma briga.

Segundo a polícia dos EUA, o crime ocorreu em agosto passado.

Durante a briga, Mia sentou em cima de Mikal e acabou matando-o involuntariamente. O casal morava junto e tinha três filhos.

Mia recebeu uma sentença de três anos de liberdade condicional e 100 dias de serviço comunitário. Ela saiu da prisão imediatamente depois do julgamento, na quarta-feira (20).

Seu advogado argumentou que ela havia sido vítima de abuso doméstico durante um bom tempo. Ele pediu clemência à corte e lembrou que a acusada não tinha antecedentes criminais.
Ela disse que não teve intenção de cometer o crime. Mia disse que sentia por ter esmagado o pai de seus filhos.

"Eu só queria dizer que eu sinceramente sinto muito por esta situação", disse à TV local. "Eu queria poder trazê-lo de volta."

quinta-feira, janeiro 21, 2010

O Haiti não está só

BAN KI-MOON

Temos visto a enorme mobilização internacional.
A nossa tarefa é canalizá-la, o que exige
coordenação vigorosa e eficaz

A CATÁSTROFE no Haiti demonstrou algo que nós sempre soubemos: mesmo na maior devastação, há esperança. Vi isso com os meus próprios olhos nesta semana, em Porto Príncipe.
A ONU sofreu a maior perda de sua história. Nossa sede na capital haitiana era um amontoado de concreto despedaçado e aço retorcido. Como poderia alguém sobreviver, pensei?

No entanto, logo depois de partir, com o coração pesado, as equipes de salvamento retiraram um sobrevivente dos escombros -vivo, após cinco dias enterrado, sem água nem alimentos. Considero isso um pequeno milagre, um sinal de esperança. Catástrofes como a do Haiti nos lembram a fragilidade da vida, mas também reafirmam nossa força. Vimos imagens horrendas na televisão: edifícios destruídos, cadáveres nas ruas, pessoas precisando de alimentos, água e abrigo. Vi tudo isso e mais ao andar pela cidade em ruínas.

Mas também vi outra coisa -uma manifestação extraordinária do espírito humano, pessoas que estavam sofrendo duros golpes e demonstrando, mesmo assim, resistência notável.

Durante minha breve visita, falei com muitas pessoas comuns. Perto das ruínas do palácio presidencial, um grupo de jovens me contou que deseja ajudar a reconstruir o Haiti.

Depois da crise imediata, esperam ter empregos e um futuro com dignidade.

Do outro lado da rua, vi uma jovem mãe com seus filhos numa tenda, num parque público, com poucos alimentos. Havia milhares na mesma situação. Ela me disse, assim como outras pessoas, que esperava que a ajuda chegasse. "Vim trazer esperança", disse-lhe. "Não desesperem". E ela pediu que a comunidade internacional ajudasse o Haiti -pelos seus filhos, pelas gerações de amanhã.

Para pessoas que perderam tudo, a ajuda nunca chega cedo demais. E vai chegar, em quantidades cada vez maiores, apesar dos problemas logísticos numa capital em que todos os serviços deixaram de existir e que perdeu toda sua infraestrutura.

Na segunda-feira de manhã, havia mais de 40 equipes internacionais de busca e salvamento com mais de 1.700 pessoas trabalhando. O fornecimento de água está aumentando, estão chegando em grande número tendas e abrigos temporários. Hospitais que ficaram muito danificados recomeçam a funcionar com a ajuda de equipes médicas internacionais.

O Programa Mundial de Alimentos está trabalhando, em conjunto com o exército dos Estados Unidos, para distribuir rações diárias de alimentos a quase 200 mil pessoas. Eles esperam conseguir ajudar 1 milhão de pessoas dentro das próximas semanas, aumentando gradualmente esse número para 2 milhões.

Temos visto a enorme mobilização de ajuda internacional, à altura da catástrofe. Todos os países, todas as organizações internacionais de ajuda humanitária se mobilizaram para ajudar o Haiti. A nossa tarefa consiste em canalizá-la. Temos que assegurar que nosso auxílio chegue o mais depressa possível. Não podemos ter abastecimentos essenciais imobilizados em armazéns. Não temos tempo a perder nem dinheiro a desperdiçar.

Isso exige uma coordenação vigorosa e eficaz -a comunidade internacional trabalhando junta, unida, sob a direção da ONU. Desde o primeiro dia a ONU está trabalhando com os EUA, o Brasil e uma constelação de nações e agências de ajuda internacionais para identificar as necessidades humanitárias mais urgentes e entregar o que faz mais falta. A polícia e os contingentes militares estão fazendo a sua parte para ajudar a manter a ordem em desafiador ambiente pós-terremoto.

Gostaria de agradecer ao povo e ao governo brasileiro pela ativa liderança militar na missão da ONU. Apesar de suas próprias perdas -18 militares, a dra. Zilda Arns, e o nosso colega Luiz Carlos da Costa, o chefe adjunto da missão-, vocês permaneceram fortes e comprometidos com uma vida melhor para o Haiti.

A urgência da situação irá, naturalmente, dominar nossas atividades de planejamento. Mas não é cedo demais para pensar no amanhã, um aspecto que o presidente René Préval salientou quando nos encontramos.

Embora seja um país desesperadamente pobre, o Haiti fazia progressos.

Não será suficiente reconstruir o país da forma como estava e também não há lugar para simples melhorias de fachada. Temos que ajudar o Haiti a construir algo melhor, trabalhando lado a lado com o governo para que o dinheiro e a ajuda produzam benefícios duradouros, criando empregos e libertando o país da dependência da generosidade do mundo.

Nesse sentido, a situação no Haiti nos faz lembrar nossas outras responsabilidades. Há uma década, a comunidade internacional iniciou um novo século concordando em agir para eliminar a pobreza extrema até 2015. Grandes avanços foram feitos em direção a alguns desses Objetivos do Milênio, que atacavam diversas causas fundamentais da pobreza mundial e obstáculos ao desenvolvimento. No entanto, estamos muito longe do cumprimento das nossas promessas de um futuro melhor para os pobres do mundo.

Ao nos apressarmos para prestar ajuda ao Haiti, não devemos perder de vista o panorama geral. Foi essa a mensagem muito clara que recebi das pessoas nas ruas de Porto Príncipe. Pediram empregos, dignidade e um futuro melhor. É essa a esperança de todas as pessoas pobres do mundo, onde quer que vivam. Fazer o que é correto em relação ao Haiti, neste momento de grande necessidade, será também para a sua população uma poderosa mensagem de esperança.

BAN KI-MOON, mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA), é o secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas). Foi ministro das Relações Exteriores e do Comércio da República da Coreia.

terça-feira, janeiro 19, 2010

QUEM VAI SALVAR VOCÊ DO MUNDO?

Mehmet Ali Agca, o desparafusado que baleou o papa João Paulo II em mil, novecentos e antigamente, foi solto. Sem mais o que dizer à imprensa, foi logo afirmando que é o “eterno Messias, ou seja, o mais alto e eterno servente de Deus no Cosmos”.

Ah, ele também anunciou o fim do mundo: “Declaro que o fim do mundo está chegando”, declarou em uma carta. “Todo mundo desaparecerá no final deste século. A Bíblia está cheia de erros. Eu escreverei a Bíblia perfeita”. Tóxico!

Temos aqui um processo de evolução mais interessante do que o do Pokémon: Ali Agca, de terrorista ultradireitista a Profeta do Apocalipse supermaluquete. Coitado. Mal sabe ele que, sob muitos aspectos, o mundo já chegou ao fim faz tempo e que a humanidade, aferrada a um aparentemente inesgotável senso de otimismo, ainda vai demorar bastante até se dar conta disto.

Não consigo lembrar de um outro ano em que o mês de janeiro tenha sido marcado por tragédias de tamanha relevância – na falta de uma palavra melhor.

Angra dos Reis foi um desses casos no qual uma vez só nunca é o bastante. Google pode não ser sinônimo de pesquisa, mas ajuda a aquecer a memória: “Em 9 de dezembro de 2002, ocorreu em Angra dos Reis o maior desastre natural já registrado no município. Choveu 323mm³ em seis horas ininterruptas, o equivalente à quantidade de chuva de três meses. O local mais atingido foi a Grande Japuíba, principalmente o bairro do Areal, onde ocorreu uma tromba d’água, localizada no cume de uma encosta de mata virgem. Este grande volume de água sobre essa região ocasionou uma avalanche com deslocamento de grandes blocos de rocha de mais ou menos 20 toneladas, entre árvores imensas, etc” (informações do site da Defesa Civil de Angra).

Nesse dia, morreram 40 pessoas. Na madrugada do dia 1º deste ano, 53 vidas foram ceifadas em questão de segundos. A força da Natureza. Tamanha que eliminou, sem mais nem menos, 70.000 haitianos na hora do terremoto de 7 graus na escala Richter e mais tarde, quando os sobreviventes ao impacto inicial pereceram debaixo dos escombros.

Tragédia que nos faz recordar o sismo da ilha de Java, na Indonésia, em maio de 2006 (6.000 mortos), o de Wenchuan, na China, em maio de 2008 (90.000) e o de abril do ano passado, na região de L’Aquila, Itália, quando faleceram 299 pessoas.

E também traz à tona a catástrofe do tsunami de 2004, com nada menos que 220.000 mortos, e a devastação causada pelo furacão Katrina em agosto de 2005, na qual mais de mil pessoas pereceram.

Gostaria de poder lhes afirmar que tornados, furacões, tsunamis, incêndios e outros que tais não voltaram nunca mais voltarão a acontecer. Mas não farei isso por duas razões. A primeira: não tenho bola de cristal. A segunda: seria uma deslavada mentira, e não fui criado para sair por aí semeando inverdades. As catástrofes voltarão a acontecer, sim, senhoras e senhores. E ninguém estará a salvo – nem mesmo aqueles maranhenses de raciocínio míope e torto que se dizem aliviados por estarem longe de áreas de instabilidade.

Mas fiquei de explicar por que entendo que o mundo já se acabou. Ora, quando um menino de 4 anos é assassinado em uma praia por um psicopata armado com um Celta é porque isto aqui já não é mais um planeta e sim um hospício. Pode crer.

sexta-feira, janeiro 15, 2010

Relógio do Apocalipse já chegou a marcar 2 para meia-noite

Ontem, os especialistas do Boletim de Cientistas Atômicos atrasaram em um minuto o Relógio do Apocalipse, mecanismo simbólico que indica qual é risco de destruição total da humanidade. Quanto mais próximo o ponteiro dos minutos estiver da meia-noite, mais próximos estamos do fim do mundo. Para ajustar o relógio são utilizados três fatores principais: arsenal nuclear, mudança climática e biosegurança.

Os dois últimos - principalmente em função do aquecimento global - são mais recentes. Portanto, o que vem fazendo a diferença na hora de atrasar ou adiantar o relógio desde 1947, ano em que o mecanismo foi criado, é mesmo o potencial nuclear mundial. Inclusive um dos principais fatores para o ajuste deste ano depois de três anos sem qualquer alteração foram as conversações entre EUA e Rússia para diminuir o número de ogivas.

Ainda assim faltam apenas seis minutos para a meia-noite. Pode parecer "pouco tempo" para o "fim do mundo", mas esta vem sendo mais ou menos a média "da hora" nesses 63 anos. Durante o auge da Guerra Fria já estivemos muito mais próximos da destruição total. Em 1953, quando americanos e soviéticos brigavam para saber quem tinha a bomba de hidrogênio mais poderosa, o ponteiro chegou a apenas dois minutos para meia-noite.

O "melhor momento" da humanidade, segundo os cientistas do Boletim aconteceu em 1991, com o final da União Soviética. Na época, o ponteiro chegou a ficar a 17 minutos para meia-noite diante da euforia da Guerra Fria e a possibilidade de um desarmamento nuclear mundial. No entanto, quatro anos depois, em 1995, as esperanças minguaram e o ponteiro avançou para 14 minutos, e, em 1998, para 9 minutos para a meia-noite.

Apesar de ter ficado que o principal motivo do ajuste de ontem ser as negociações para a redução do arsenal atômico, a decisão foi uma surpresa para alguns. O jornal britânico The Guardian, por exemplo, disse a impressão é que o fracasso da conferência do clima de Copenhague deve ter sido menos desanimador do que o pensado. A questão agora é saber que peso o aquecimento global vai ter nos próximos ajustes do Relógio do Apocalipse.

domingo, janeiro 03, 2010

José Saramago revê o Velho Testamento sob ótica irônica e ferina em "Caim"

MARTA BARBOSA
Colaboração para o UOL

Em "A Viagem do Elefante", lançado em 2008, José Saramago já demonstrou estar em ótima forma literária, após superar uma doença respiratória gravíssima e ser desacreditado por médicos e leitores. Agora, com "Caim" (lançamento da Companhia das Letras), o escritor português prova ser capaz de manter o ritmo. Em que pesem as comparações com "O Evangelho Segundo Jesus Cristo", considerada uma de suas obras primordiais, "Caim" acrescenta muito à biografia do vencedor do Nobel de Literatura de 1998.

Comparar o novo livro de Saramago com "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" é natural. Nos dois trabalhos, o autor português dá sua interpretação da Bíblia. Primeiro, foi o Novo Testamento. Agora, é sobre o Antigo Testamento que Saramago exercita as possibilidades narrativas. Reconta, ao seu modo irônico e com um requintado humor, histórias que vão do jardim do Éden ao episódio do dilúvio.

Começa com a expulsão de Adão e Eva do paraíso. E desde já fica claro que o Deus de Saramago não é nenhum velhinho benevolente a passar a mão carinhosa na cabeça de seus filhos. Ao contrário, o que se vê é um Deus teimoso, cheio de caprichos e disposto a qualquer absurdo como prova de fé e obediência de suas criaturas.

Caim, o primogênito de Adão e Eva que matou o irmão Abel, é o personagem central da trama. O assassinato do irmão é o ponto de partida desse anti-herói que, com boa retórica e uma capacidade de interpretar os fatos que muito se aproxima do próprio Saramago, consegue que o todo-poderoso reconheça sua parcela de responsabilidade no impulso que o levou a matar Abel.

Diante do corpo ensanguentado e coberto de moscas de Abel, Caim e Deus travam uma disputa verbal deliciosa de se testemunhar. E assim segue ao longo de todo livro: criador e criatura em pé de guerra, numa peleja em que o que está em jogo é nada menos que a humanidade.

"Matei abel porque não podia matar-te a ti, pela intenção estás morto", diz Caim, ao que responde Deus: "Compreendo o que queres dizer, mas a morte está vedada aos deuses". Numa espécie de acordo de recompensa e castigo, Caim é marcado na testa e condenado a andar "errante e perdido pelo mundo" até o fim de seus dias - o que não será logo, já que aquela marca é o sinal de que ninguém o poderá matar.

Ali começa a longa jornada de Caim, que passa do presente ao futuro, testemunha fatos que ainda vão acontecer, volta ao passado e garante um tempo literário ágil e moderno. Sua primeira parada (também a mais longa e marcante de sua interminável trajetória) é na terra de nod, uma cidade em construção. Ali, Caim vira pisador de barro, é elevado a porteiro do quarto da dona que governa tudo aquilo e acaba como amante da dona do lugar, Lilith.

Mas, como é seu destino, Lilith fica para trás, e Caim retoma sua interminável viagem como testemunha das obras e do poder sufocante de Deus. Vê a destruição de Sodoma e Gomorra, o assalto a Jericó, conhece Abraão a quem Deus ordena o sacrifício do próprio filho, participa da construção da arca que salvará a humanidade do dilúvio, junto a Noé e sua família.

Dotado de um sombrio pessimismo de quem é condenado a ver o inenarrável, Caim encontra uma maneira de punir a divindade que odeia. Aproveita um descuido de confiança do dono do mundo e se vinga à altura daquele que, só por ser Deus, governa "a vida íntima dos seus crentes, estabelecendo regras, proibições, interditos e outras patranhas do mesmo calibre".

Narrativa
Como já de costume, Saramago surpreende em "Caim" com sua prosa moderna, musical, quase sem pontos finais. Os nomes próprios não têm iniciais maiúsculas, e os diálogos estão separados por vírgulas - o intervalo breve que garante agilidade ao texto.

Mas o que fica mesmo de "Caim", e faz a gente ler economizando as páginas, com vontade que não chegue a número 172, é a incrível capacidade de Saramago de fazer de uma velha uma nova história. De recontar com encanto o que todo mundo já conhece, mas de outro jeito. Sem perder, claro, sua cruel veia irônica, nem seu talento de expressar com humor negro uma realidade.

"CAIM"
Autor: José Saramago
Editora: Companhia das Letras, 172 páginas
Preço sugerido: R$ 36,00