terça-feira, março 30, 2010

Vídeo de Erykah Badu nua onde Kennedy foi assassinado causa polêmica

Cantora americana Erykah Badu no Festival de Jazz de Monteux (04/07/08)

AFP

A cantora americana Erykah Badu, uma respeitada intérprete de rythm and blues, causou polêmica nos Estados Unidos ao lançar o vídeo de sua nova música "Window Seat", onde, em uma só tomada, ela tira a roupa até chegar ao local onde assassinaram o presidente John F. Kennedy, em Dallas.

O vídeo de "Window Seat", de 5 minutos e 35 segundos de duração, começa com Badu saindo de um carro para depois caminhar pela rua em plena luz do dia, sob olhares de trabalhadores e famílias inteiras, que assistem à cantora tirar a roupa até chegar completamente nua ao local onde em 1963 Kennedy foi assassinato, na cidade de Dallas, no Texas.

Erykah Badu nasceu nessa cidade, em fevereiro de 1971.

A canção "Window Seat", uma das mais escutadas nos últimos dias segundo as listas de rythm and blues, é o single promocional do disco "New Amerykah Part Two: Return of the Ankh", lançado no mercado em 17 de março e que está sendo promovido em seu site http://www.erykahbadu.com/, no YouTube e em sua página no Twitter.

Badu explicou pelo Twitter que seu vídeo é uma declaração contra o "pensamento de grupo" e as "regras não escritas", ao se referir a uma teoria da psicologia social.

Ainda que na filmagem realizada em uma só tomada, sem cortes, podemos ver Badu bastante tranquila tirando a roupa na rua, a cantora explicou que estava tão preocupada com a possibilidade de os policiais aparecerem que a vergonha passou para segundo plano.

"Estava concentrada durante a filmagem desse vídeo, e fazê-lo me permitiu vencer os temores e lentamente domá-los. Estava muito preocupada com os policiais para ter vergonha da minha nudez."

"De certa forma, sempre estive nua em minhas palavras e atos. Essa é a verdadeira vulnerabilidade", disse no Twitter.

A artista vencedora dos Grammy em 1997 graças à música "On & On" também contou que as pessoas nas ruas gritavam: "este é um lugar público. Deveria se envergonhar" ou "coloque a roupa!".

O jornal Dallas Morning News informou que os funcionários da cidade afirmaram que a cantora violou a lei porque não tinha permissão para a filmagem, mas a polícia descartou acusar Badu por atentado ao pudor, segundo a imprensa local.

segunda-feira, março 29, 2010

Historiadores buscam verdade sobre prostituição nos templos da antiguidade

Manifestação de integrantes da Associação feminista da Ucrânia, em Kiev, em defesa dos direitos humanos para prostitutas e contra o aumento da prostituição


DER SPIEGEL
Matthias Schulz

“Prostitutas sagradas” em Jerusalém, sexo no templo a serviço de Afrodite? Muitos autores antigos descrevem a prostituição sagrada em termos drásticos. Seriam essas histórias apenas lendas? Os historiadores estão à procura da verdade por trás dos relatos.

O “costume mais horrendo” na Babilônia, escreveu o historiador Heródoto (que acredita-se que tenha vivido entre aproximadamente 490 a 425 a.C.), era a prática disseminada da prostituição no Templo de Ishtar. Uma vez durante suas vidas, todas as mulheres do país eram obrigadas a sentar-se no templo e “entregar-se a um estranho” por dinheiro.

As mulheres “ricas e esnobes”, criticou o historiador da Grécia antiga, chegavam em “carruagens cobertas”.

Os persas no Mar Negro aparentemente estavam envolvidos em atividades igualmente nefastas. Segundo o geógrafo grego Strabo, “as filhas virgens”, que mal tinham 12 anos, eram dedicadas ao culto da prostituição. “Elas tratam seus amantes com tamanha cordialidade que até mesmo os entretêm.”

Há muitos relatos semelhantes na antiguidade clássica. Acredita-se que tribos da Sicília até Tebas supostamente praticavam hábitos religiosos perversos.

Os judeus também estiveram envolvidos nessas práticas. Há cerca de uma dúzia de passagens no Velho Testamento envolvendo os “qadeshes”, uma palavra para os praticantes da prostituição sagrada, tanto do sexo masculino quanto feminino. No Deuteronômio, os prostitutos e prostitutas são proibidos de levar “à Casa do Senhor” o pagamento que receberam.

Os pesquisadores do século 20 adotaram de modo resoluto as referências, que frequentemente são misteriosas. Logo foi considerado um fato que os sacerdotes do Mundo Oriental praticavam a defloração forçada. Foi dito que havia “prostituição por donativos” e “copulação sexual no local de culto”.

Segundo a “Encyclopedia of Theology and the Church”, a prostituição sagrada era “uma mancha de praga moral e higiênica no corpo do povo”. Mas será verdade? Mais e mais acadêmicos agora estão questionando as fábulas eróticas dos antigos.

As histórias eróticas foram exageradas?
Tábuas cuneiformes recém-descobertas pintam uma imagem mais neutra e está ficando cada vez mais claro que os acadêmicos de décadas passadas exageraram o assunto. Por exemplo, não há nenhuma evidência comprovando que existiu o ritual de defloramento forçado.

Algumas pesquisadoras do sexo feminino adotam uma posição ainda mais radical. Elas contestam totalmente a prostituição sagrada, chamando a coisa toda de mentira.

Segundo um novo livro sobre o assunto, tudo começou quando alguns poucos escritores gregos elaboraram hábitos sujos e difamatórios sobre os povos estrangeiros, como evidência de sua inferioridade moral. Nos tempos modernos, escreve a autora, essa imundície se desenvolveu em um “mito de pesquisa”.

Julia Assante, uma acadêmica americana especializada no Oriente antigo e líder do movimento, está convencida de que as prostitutas sagradas são produto da “fantasia masculina”.

Mas, para acadêmicos moderados, esta interpretação vai longe demais. Apesar de também questionarem algumas opiniões acadêmicas exageradas do passado, eles insistem que o fenômeno existiu. Eles acreditam que existiram:

-Templos que operavam bordéis ao lado;
-Templos nos quais garotas ocupavam as mais altas posições do sacerdócio, mesmo antes de sua primeira menstruação;
-Prostitutas profissionais que doavam seu dinheiro aos templos, como o dedicado à deusa Afrodite.

Um debate amargo está se desenrolando, com assiriólogos de inclinação feminista brigando com professores da velha guarda. Enquanto os primeiros condenam consistentemente as teorias de prostituição sagrada como apenas mentiras, os últimos, citando a gramática sumeriana, defendem seu suposto “ponto de vista patriarcal”.

Prostituição de rua nos tempos antigos
Há, entretanto, um acordo em relação à prostituição comum de rua nos tempos antigos. Usando maquiagem espalhafatosa e xales amarelos, as prostitutas de Atenas anunciavam seus encantos aos pés da Acrópole. “Garotas de flauta” especiais ofereciam tocar o aulos para seus clientes antes de prestar seu serviço.

As prostitutas de rua de Roma cobravam quatro ases (o equivalente a cerca de10 euros ou US$ 14). Messalina, uma famosa cortesã, se tornou imperatriz quando se casou com o imperador Cláudio.

A terra das pirâmides também oferecia prazeres pecaminosos. Suas prostitutas esfregavam bálsamo nos corpos de seus clientes. “Seu falo está nas mulheres Chenemet”, diz o texto de um papiro antigo. “Um homem pode copular melhor que um burro. É apenas sua bolsa que o impede.”

A Mesopotâmia era particularmente conhecida por sua falta de valores morais. Uma prostituta chamada Shamhat (“A Voluptuosa”), que aparece no épico “Gilgamesh”, seduziu o selvagem Enkidu: “Ela desnudou seus seios, expôs seu sexo e ele se deleitou em sua voluptuosidade”.

Havia poucas objeções à profissão no Vale do Eufrates. Uma tábua de argila conta a história de uma mulher jovem que recebe seus clientes na casa de seus pais. Ela era paga com a carne de um leitão.

A Prostituta da Babilônia
Mas o que acontecia nos locais sagrados? O que acontecia por trás dos muros do Templo de Ishtar? Isso é fonte de disputa entre os acadêmicos.

O Oriente dedicou prédios enormes à sua deusa do sexo e amor. Hinos a louvavam como “Senhora das mulheres” com “encantos sedutores”. “Nos lábios ela é doce; a vida está em sua boca” – Prostituta da Babilônia.

O culto de Ishtar logo se espalhou para o norte, primeiro para Chipre, onde colonos gregos entraram em contato com a deusa e a rebatizaram de Afrodite. Segundo o mito grego, a bela Afrodite se ergueu de uma mancha de sangue no mar, onde a água estava tingida de vermelho e cheia de esperma. Foi o ponto onde Cronos, o senhor dos Titãs, atirou a genitália cortada de seu pai no mar.

A deusa, “nascida da espuma do mar”, nunca foi inocente, mas cheia de desejo e de uma orgia dos sentidos. Em Uruk, um festival orgiástico semelhante ao Carnaval era celebrado em sua homenagem há 5 mil anos. Listas antigas mostram que dançarinas e atrizes trabalhavam no Templo de Ishtar.

Sem sinais de atos sexuais no altar
Todavia, não há sinais de que atos sexuais e rituais de fertilidade ocorriam diretamente no altar, como os acadêmicos antes alegavam. “Não há nenhuma evidência dessas práticas mágicas”, explica Gernot Wilhelm, um orientalista da Universidade Julis Maximilian, em Würzburg, Alemanha.

Heródoto inventou sua história de sexo forçado entre as mulheres da Babilônia?

Pesquisadores de gênero acham que sim.

Todavia, provavelmente há mais por trás da história do que parece. O templo da deusa do sexo também incluía um grupo especial de culto, as “harimtu”, ou “prostitutas”.

Algum tempo atrás, Wilhelm descobriu um documento legal fascinante. Ele tem cerca de 3.300 anos e reconta como um homem entregou sua própria filha ao Templo de Ishtar, para servir como harimtu. Segundo o documento, o homem queria um empréstimo dos sacerdotes e estava oferecendo sua filha como garantia.

Mas o que exatamente a filha penhorada fez para seus novos empregadores? Wilhelm especula que a jovem trabalhava como prostituta, “mas fora do templo”.

Como evidência, o professor cita o “Livro de Baruc” no Velho Testamento. Ele descreve as prostitutas “à beira do caminho” entra as casas da Babilônia. Elas também estavam de alguma forma associadas à organização sagrada.

Uma disputa acadêmica
Os céticos não aceitam nada disso. Harimtu não significa prostituta, diz Julia Assante, a acadêmica de estudos de gênero. Ela alega que os assiriólogos simplesmente traduziram a palavra incorretamente há 150 anos.

Em vez disso, diz Assante, a palavra se refere a “mulher solteira”, que servia como representante do culto e não fazia parte de um lar masculino. Os adversários de Assante fazem careta diante de sua interpretação, acusando-a de transferir seu próprio status social à era pré-cristã.

Sua reinterpretação da palavra harimtu não faz sentido semântico, diz o historiador econômico Morris Silver. Ele insiste que as harimtu eram claramente “prostitutas profissionais com conexões cultistas”, que ofereciam um “serviço sexual” em prol do templo. Os sacerdotes atuavam como cafetões e coletavam parte dos lucros.

Esses bordéis sagrados provavelmente também existiam na Grécia, especificamente no Templo de Afrodite, em Corinto, como acreditam os acadêmicos. Ele ficava empoleirado em uma escarpa rochosa a 575 metros acima do nível do mar.

Profissionais do sexo, vestidos tênues, maquiagem chamativa
É incontestável que a cidade em si era um lugar ruidoso. Corinto era um centro de comércio marítimo, com centenas de navios ancorados em suas docas. Profissionais do sexo, usando vestidos tênues e maquiagem chamativa, ficavam espalhadas pelo cais oferecendo seus encantos.

Mas o templo da deusa do amor, no alto do penhasco, também parece ter sido um centro de atividade sexual. “O Templo de Afrodite era tão rico que possuía mais de mil escravos e cortesãs”, escreve Strabo.

Hordas de marinheiros e capitães do mar, “famintos por sexo”, escalavam até o templo no penhasco, diz o acadêmico britânico Nigel Spivey.

Tanja Scheer, uma professora de história antiga da Universidade de Oldenburg, no norte da Alemanha, agora propõe uma solução melhor: “Os relatos de um bordel sagrado em Corinto são todos baseados em uma ode de Pindar”, ela explica. Pindar escreve que um rico campeão olímpico dedicou o templo cem prostitutas em 464 a.C.

Mas, como Scheer aponta, é improvável que as prostitutas se deitassem diretamente no altar. Em vez disso, ela diz, o rico atleta provavelmente ofereceu assistência financeira ao templo, na forma de escravas. “A receita da venda de seus corpos poderia servir como fonte regular e constante de renda para o templo.”

A teoria de Scheer é apoiada pelo fato de que o estadista ateniense Sólon, que estabeleceu casas de prazer do governo em Atenas por volta de 590 a.C., cobrava impostos das prostitutas. A cidade usou a receita para construir um templo à deusa do amor.

Como revela um fragmento de uma velha comédia, garotas muito jovens aparentemente viviam no bordel. O texto descreve as “crias” de Afrodite em pé, nuas, em uma fila, e nota: “Delas, de forma constante e segura, é possível comprar prazer por uma pequena moeda”. Também é possível que as coisas fossem muito pior para as crianças prostitutas no mundo antigo. Alguns acadêmicos especulam que pode ter ocorrido muito sexo sagrado entre crianças.

Novamente, a trilha leva à Babilônia e sua torre em forma de pirâmide, com 91 metros, uma das maravilhas do mundo antigo. Segundo algumas fontes, havia um templo no topo da torre que continha uma cama, onde uma garota escolhida dormia à noite, preparada constantemente para um “casamento sagrado” –um ato sexual simbólico com o deus Marduk. Abuso de crianças no Nilo?

Distante dali, no principal templo em Tebas, na terra dos faraós, havia uma “consorte divina de Amon”.

Este sacerdócio era ocupado por “uma dama da maior beleza e da mais ilustre família”, escreve Strabo, “e ela se prostituía, coabitando com quaisquer homens que desejasse até que a limpeza natural de seu corpo ocorresse” (menstruação).

Há muitas pistas históricas que levam à especulação entre os acadêmicos, particularmente agora que um novo documento tem alimentado ainda mais o debate.

É um fragmento puído de um pergaminho egípcio, que também trata do assunto das jovens sacerdotisas.

Segundo o texto, as garotas eram autorizadas a trabalhar no templo até sua primeira menstruação. Depois disso, entretanto, “elas são afastadas de seus deveres”.

Tradução: George El Khouri Andolfato

quinta-feira, março 25, 2010

EUA, Brasil e o guarda-chuva nuclear iraniano

Governo Obama, na ótica do PT, abre vácuo de poder para que
o partido coloque em prática sua verdadeira política externa,
refratária à ordem internacional estabelecida

NELSON ASCHER
ESPECIAL PARA A FOLHA

No último dia 16, Otavio Frias Filho publicou artigo criticando a política externa brasileira, sobretudo sua ativa reorientação no Oriente Médio e seu intrigante apoio ao programa nuclear do Irã. As ressalvas que fez são tão justas quanto oportunas, mas, argumentando que a intenção do Itamaraty seria só se opor aos EUA, ele resumiu de maneira não menos intrigante as razões que levariam estes a se envolverem naquele canto do mundo: "Os EUA estão atolados até o pescoço na região porque sua economia é dependente do petróleo local (...) e sua comunidade judaica exerce peso desproporcional nas eleições americanas".

Pouco menos da metade do petróleo consumido pelos EUA é extraída no próprio país. A Arábia Saudita, seu quarto maior fornecedor (após Canadá, México e Nigéria) responde, em conjunto com a Argélia, o Iraque e o Kuait, por cerca de 10% do total. Os países mais dependentes do petróleo são os exportadores, que nada mais têm a vender. Se a dependência que os EUA têm do petróleo médio-oriental é menor do que se supõe, então o peso "desproporcional" do voto judaico seria não só a causa praticamente única da guerra do Iraque e da intervenção no Afeganistão (parte do assim chamado Grande Oriente Médio), como viria também determinando há décadas a política americana na região.

Proporcionalidade aqui é um conceito difícil de entender e medir. Os judeus são 2% da população dos EUA, e o jornalista provavelmente se referia ao apego da maioria deles a Israel.

O que equivaleria, no entanto, a 2% da política externa de uma democracia cuja sociedade civil se organiza de acordo com critérios e grupos os mais diversos (econômicos, ideológicos, étnicos, regionais, profissionais e religiosos nem sempre exclusivos ou isolados uns dos outros e manifestando-se por meio de ONGs, lobbies legais, instituições variadas, dos meios de comunicação etc.)?

Como traçar linhas diretas e singulares entre causas e efeitos?

A verdade é que, se há algo que, desde a era Roosevelt, determina o grosso do voto judaico, trata-se de sua fidelidade canina ao Partido Democrata, algo ilustrado pelos quase 80% desse voto obtidos por Barack Obama, o presidente americano mais hostil a Israel desde Jimmy Carter. O grupo mais favorável a Israel no país é o dos sionistas cristãos, em geral republicanos, bem mais numerosos e influentes do que os judeus. Ademais, quase dois terços dos americanos simpatizam com o Estado judeu independentemente de quem esteja na Casa Branca. Os EUA começaram a se envolver no Grande Oriente Médio na época da Primeira Guerra da Berbéria (1801-1804), nunca mais deixaram de fazê-lo e se posicionaram amiúde contra os interesses israelenses.

Acontece que há no mundo 57 países islâmicos, dos quais 22 são árabes, e a descoberta em alguns destes de imensas jazidas petrolíferas, elevando-os a agentes indispensáveis do sistema internacional, levou-os a serem disputados por ambos os blocos rivais da Guerra Fria.

Sua relevância cresceu ainda mais no ano-chave de 1979, quando os soviéticos invadiram o Afeganistão, o xá do Irã foi deposto e, fato não muito conhecido, mas central, a grande mesquita de Meca foi tomada por fundamentalistas que pretendiam derrubar a monarquia saudita. Foi então que, além de petróleo e investimentos, o Oriente Médio passou também a exportar seus problemas.

Não obstante o alto grau de violência interna desses países e entre eles, o que os caracteriza é uma férrea estabilidade (visível num país como o Egito, que vive sob o mesmo regime fundado em 1956 por Nasser).

A região mantém-se espantosamente imutável exportando instabilidade sob a forma de migrantes (em especial norte-africanos) e extremistas que, como os oriundos da Península Arábica ou do golfo Pérsico, são instigados a promover sua jihad "longe de casa" (por exemplo, a partir de 1979, no Afeganistão e, desde 2003, no Iraque).

Regime revolucionário que é, o Irã teocrático vem há muito difundindo sua ideologia no exterior. Como, corruptos e incompetentes, os aiatolás lhe arruinaram a economia, gerando uma instabilidade interna que os ameaça, eles buscam livrar-se dela exportando-a também, antes de mais nada, aos vizinhos, os quais precisam, portanto, de uma superpotência que os proteja. E é, na melhor das hipóteses, para impedir uma intervenção estrangeira não contra o país ou seu povo, mas, sim, contra seus detestados dirigentes, que o Irã deseja um "guarda-chuva nuclear".

Caso os teocratas não tenham metas apocalípticas, a bomba lhes permitirá perpetuar-se no poder e "vender proteção" aos vizinhos, enquanto os dirigentes desses buscarão, por seu turno, preservar-se exportando para outros lugares parcelas ainda maiores de seu terror doméstico e de seu superavit de fervor religioso.

E o Brasil com isso? Os interesses da nação e os do regime lulista não coincidem necessariamente. O PT vê a atual ordem mundial como obstáculo tanto a seu anseio de continuar governando quanto ao de capitanear uma ordem alternativa.

Apesar de não terem mostrado mais cedo suas cartas, agora que há um presidente americano do qual não se sabe se é fraco ou se deseja abolir o papel hegemônico de seu país na manutenção do sistema internacional em vigor, os petistas entenderam que o vácuo de poder assim criado, abrindo um leque de oportunidades, permite-lhes enfim pôr em ação sua verdadeira política externa.

NELSON ASCHER é poeta, ensaísta e tradutor. É autor, entre outras obras, de "Parte Alguma" (2005, Cia das Letras).

terça-feira, março 23, 2010

A Conjectura de Poincaré

Pedro Luiz Queiroz Pergher

Recentemente o norte-americano Landon Clay, um milionário apaixonado pelo universo dos números, ofereceu sete prêmios de 1 milhão de dólares cada para quem resolver aquilo que ele chama de os "sete enigmas do milênio". Esses problemas matemáticos, selecionados por uma comissão de quatro renomados cientistas (um dos quais foi o inglês Andrew Wiles, que em 1995 demonstrou o Último Teorema de Fermat), estão entre os mais conhecidos e intrigantes do mundo da ciência. A premiação do Instituto Clay de Matemática - a fundação de pesquisas mantida pelo ricaço americano - repete o desafio lançado há exatamente 100 anos atrás pelo alemão David Hilbert, um dos mais importantes matemáticos da história. Em agosto de 1900, durante um congresso internacional em Paris, Hilbert submeteu 23 hipóteses à sagacidade de cientistas contemporâneos. Muitas permanecem sem comprovação formal até hoje.

A conjectura de Poincaré é relacionada com o problema da classificação das variedades fechadas n-dimensionais. Uma variedade n-dimensional é um espaço topológico tal que cada um de seus pontos possui ou uma vizinhança homeomorfa ao disco aberto do espaço euclidiano Rn (pontos interiores) ou uma vizinhança homeomorfa ao disco semi-aberto de Rn (pontos de bordo). A variedade é dita ser "fechada" se for compacta e não possuir pontos de bordo. Para visualizarmos como devem ser tais objetos, observamos que o próprio disco n-dimensional fechado é uma variedade compacta, mas não fechada por possuir pontos de bordo, enquanto que o n-disco aberto é uma variedade sem pontos de bordo que não é fechada, por não ser compacta. A esfera e o toro bidimensional, que são variedades fechadas 2-dimensionais, ilustram bem o aspecto de tais objetos.

Resolver o problema da classificação das variedades fechadas n-dimensionais seria obter um catálogo completo de tais objetos, a menos de homeomorfismo (estamos sempre supondo variedades conexas). Para n = 1 esse problema está resolvido, pois sabe-se que a única variedade fechada 1-dimensional é a circunferência S1 (uma demonstração deste fato pode ser encontrada em [2]). As variedades fechadas 2-dimensionais também já estão classificadas, e a quantidade das mesmas é infinita e enumerável (para maiores detalhes a respeito da classificação das variedades fechadas bidimensionais vide por exemplo [6]). Por outro lado, através de um argumento baseado na impossibilidade de se resolver o famoso "problema das palavras", sabe-se que é impossível classificar as variedades fechadas 4-dimensionais (vide [3], [4] e [5]). Desta forma, a classificação das variedades fechadas tridimensionais persiste ainda como um grande enigma, pois além de não ser conhecida não se sabe ao menos se a mesma é possível.

A classificação das variedades bidimensionais atrás mencionada tem conexão íntima com um invariante algébrico muito importante, chamado "grupo fundamental". O grupo fundamental de um espaço topológico X é o grupo constituído pelas classes de homotopia de laços em X com ponto base fixado (sendo que dentro de uma classe de homotopia um laço pode ser continuamente deformado em outro laço de tal sorte que durante a deformação o ponto base se mantém fixo), e a operação entre dois tais objetos é dada pela justaposição de laços. A conexão acima referida é o fato de que duas variedades fechadas bidimensionais são homeomorfas se, e somente se, seus grupos fundamentais forem isomorfos.

Desta forma, a classe de homeomorfismo de uma variedade bidimensional fechada é completamente determinada pela classe de isomorfismo de seu grupo fundamental. A esfera bidimensional S2 é uma das variedades fechadas bidimensionais, e como todo laço em S2 pode se contrair homotopicamente no ponto base, com este último permanecendo fixado durante o processo de deformação, existe uma única classe de homotopia de laços com ponto base em S2, o que significa dizer que o grupo fundamental de S2 é o grupo nulo; em matemática, tal fenômeno é tecnicamente expresso pela frase "a esfera S2 é simplesmente conexa".

Em outras palavras, a única variedade fechada bidimensional simplesmente conexa é, a menos de homeomorfismo, a esfera S2. A conjectura de Poincaré é exatamente o análogo deste fenômeno para n = 3: a esfera tridimensional S3 é uma variedade fechada simplesmente conexa, e a questão por trás da famosa conjectura é saber se S3 é ou não, a menos de homeomorfismo, a única variedade fechada tridimensional com tal propriedade. Traduzindo de outra forma, acreditar na validade da conjectura de Poincaré é ter a esperança de que, à semelhança do que ocorre no mundo bidimensional com todas as variedades fechadas, o grupo fundamental determine completamente a classe de homeomorfismo no mundo tridimensional pelo menos no caso particular da esfera S3.

Olhando por esse prisma, outras conjecturas na mesma direção poderiam ser formuladas; por exemplo, o produto cartesiano S2×S1 é uma variedade fechada tridimensional cujo grupo fundamental é o grupo dos inteiros Z, e na mesma linha questiona-se se S2×S1 é ou não a única variedade fechada tridimensional com grupo fundamental isomorfo a Z.

Os invariantes algébricos conhecidos (como por exemplo homologia e cohomologia) não são suficientemente poderosos para dar qualquer informação sobre a conjectura de Poincaré, uma vez que, para variedades fechadas tridimensionais, o grupo fundamental determina completamente tais invariantes.

Desta forma, na direção de se tentar provar que a conjectura é falsa, uma alternativa seria criar um novo invariante algébrico que primeiramente e para as variedades fechadas tridimensionais não fosse determinado pelo grupo fundamental, e a partir daí localizar dentro da classe especial de homeomorfismo das variedades fechadas tridimensionais que contêm as variedades simplesmente conexas dois elementos tais que o invariante novo acima referido associado aos mesmos produzisse dois objetos algébricos não isomorfos; mas isto constitui-se em tarefa extremamente difícil e a qual certamente já foi fartamente tentada, razão pela qual ela vale um milhão de dólares.

Cumpre observar que, para n_> 4, diferentemente do que ocorre para n = 3 e n = 2, o grupo fundamental não determina a homologia e a cohomologia da variedade. Em outras palavras, para cada n 4 é possível encontrar variedades fechadas n-dimensionais simplesmente conexas mas com homologias (ou cohomologias) não isomorfas, o que significa dizer que as variedades em questão não são homeomorfas; desta forma, a conjectura de Poincaré na forma em que é formulada para n = 3 não é verdadeira para n 4.

Uma formulação adequada da conjectura de Poincaré para n 4 deveria contemplar, portanto, a imposição de que as homologias e cohomologias da variedade em questão fossem iguais às da esfera, fato esse que é automático para n = 3 ou 2. Por outro lado, em função das especificidades da homologia da esfera, é verdadeiro o fato de que se uma variedade fechada n-dimensional possuir homologia idêntica à da esfera, então ela possui também cohomologia idêntica à da esfera. Desta forma, a formulação adequada para a conjectura de Poincaré para n 4 é a seguinte:

"Se uma variedade fechada n-dimensional com n 4 for simplesmente conexa e possuir os mesmos grupos de Z-homologia da esfera Sn, então ela é homeomorfa a Sn."

A conjectura acima foi provada ser verdadeira por S. Smale para n 5 e por M. Freedman para n = 4, e tais matemáticos foram premiados com a Medalha Fields pela obtenção de tais resultados. Para maiores detalhes vide [7] e [1].

Referências.

1] Freedman, M., The topology of four-dimensional manifolds. Journal of Differential Geometry, vol 17, 1982, pg 357-454.

[2] Lima, E. L., Classificação de Variedades Uni-dimensionais; uma demonstração educada. Matemática Universitária, número 3, junho de 1986, pg 29-34.

[3] Markov, A., Insolubility of the problem of homeomorphy. Proc. Intern. Congr. Math., 1958, pg 300-306.

[4] Markov, A., The insolubility of the problem of homeomorphy. Dokl. Akad. Nauk SSSR, vol 121, 1958, pg 218-220.

[5] Markov, A., Unsolvability of certain problems in topology. Dokl. Akad. Nauk SSSR, vol 123, 1958, pg 978-980.

[6] Massey, W. S., Algebraic Topology: An Introduction. New York, Harcourt, 1967.

[7] Smale, S., Generalized Poincaré's conjecture in dimensions greater than four. Annals of Mathematics, vol 74, 1961, pg 391-406.

Pedro Luiz Queiroz Pergher é professor do DM-UFSCar.

Gênio russo esnoba prêmio de US$ 1 milhão após solucionar problema clássico

Do UOL Notícias
*Em São Paulo

Atualizada às 18h29

O matemático russo Grigory Perelman, 44, considerado um dos maiores gênios vivos do mundo, declarou ontem que não tem interesse em receber o prêmio de US$ 1 milhão a que tem direito por ter resolvido a chamada Conjectura de Poincaré.

Em seu apartamento infestado de baratas em São Petersburgo, Perelman afirmou, sem abrir a porta: “Tenho tudo o que quero”, segundo informou o jornal britânico Daily Mail.

Na última semana, uma instituição dos Estados Unidos reconheceu que o estudioso russo demonstrou a Conjectura de Poincaré, que desafiava os matemáticos há mais de um século.

O matemático francês Jules Henri Poincaré (1854-1912) estimou que, de forma simplificada, qualquer espaço tridimensional sem furos seria equivalente a uma esfera esticada.

Poincaré e os matemáticos que vieram depois dele acreditavam que a proposta estaria correta, mas não conseguiram uma prova algébrica sólida para elevar a conjectura à categoria de teorema.

A complexidade do assunto levou o Instituto de Matemática de Clay a incluir o problema entre os “sete desafios do milênio”. Para cada desafio que fosse solucionado, o instituto prometeu pagar um prêmio de US$ 1 milhão (cerca de R$ 1,78 milhão).

Na semana passada, James Carlson, diretor do instituto, reconheceu a façanha de Perelman e anunciou que a Conjuntura de Poincaré é o primeiro dos sete desafios a ter solução.
Morando com as baratas.

A vizinha Vera Petrovna afirmou ao jornal britânico que já esteve no flat do matemático. “Ele tem apenas uma mesa, um banquinho e uma cama com um lençol sujo que foi deixado ali pelos antigos donos – uns bêbados que venderam o apartamento para ele”.

“Estamos tentando acabar com as baratas nesse quarteirão, mas elas se escondem na casa dele”, acrescentou.

Esse não é o primeiro prêmio esnobado por Perelman. Há quatro anos, ele não apareceu para receber a medalha Fields da União Internacional de Matemática.

*Com informações do Daily Mail

segunda-feira, março 22, 2010

BECO SEM SAÍDA

A crônica esportiva ludovicense tem encasquetado com a questão da presença de público no Estádio Nhozinho Santos.

Em um primeiro momento, comemorou efusivamente o comparecimento de 16 mil e tantos no jogo Sampaio Corrêa e Atlético Paranaense, pela segunda fase da Copa do Brasil. Depois, apareceu o outro lado da moeda: mil e poucos cristãos, sem mais o que fazer, abalaram-se de suas residências – mesmo sob mau tempo - para assistir a Moto x Sampaio no domingo (21/3).

Neste último caso, a chuva foi apontada como a vilã da história. Por causa dela, afirmou a crônica, multidões não se afobaram em direção ao Centro, a fim de lotar o Nhozinho.
Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Tenho sérias dúvidas se, em condições normais de temperatura e pressão, o “Superclássico” local contaria com um público excelente. Pelo que sei do futebol maranhense, a partida teria, no máximo, uma platéia de oito mil pagantes. Isso para um ensolarado domingo. Menos gente haveria na segunda-feira à noite, caso fosse levada a sério a idéia estapafúrdia de adiar o confronto apenas porque apareceram, no Gigante da Vila Passos, meia dúzia de três ou quatro gatos pingados.

Caso a Federação e os clubes tivessem condições de bancar promoções ou algum evento antes ou no intervalo do duelo (qualquer alternativa para compensar a ausência do Viva Nota), o torcedor ignoraria a pior das tempestades e sem dúvida alguma deixaria o simpático estádio sem lugar para mais ninguém. Infelizmente, é pedir demais esse tipo de iniciativa para os mandatários esportivos locais, que parecem viver eternamente de pires na mão.

Só para efeitos de comparação: 1) Remo 0 x 4 Santos (Copa do Brasil): Público: 19.445 pagantes. Renda: R$ 549.945,00; 2) Paysandu 1 x 2 Palmeiras: Público pagante: 27.073. Renda: R$ 556.060. Dois jogos importantes, realizados no Mangueirão. Forçoso e triste reconhecer que a ressurreição do Castelão não bastaria para atrair o torcedor maranhense, uma vez que, se em Belém temos clássicos interessantes como Remo x Paysandu ou Paysandu x São Raimundo, aqui na Ilha temos como filho único o Sampaio x Moto. Sim, estou desconsiderando o Maranhão x Moto e o Sampaio x Maranhão porque o MAC há tempos está a um passo de tomar o mesmo rumo de equipes como o Tupã: o futebol amador. Não passa de mero figurante em competições nas quais o padrão técnico está – e muito – nivelado por baixo.

Faço parte do time dos que acreditam piamente que o futebol maranhense tem totais condições de sair do beco sem saída em que foi parar depois que Sampaio e Moto caíram para a Terceira Divisão e mais tarde para a Quarta Divisão do Campeonato Brasileiro. Mas isso não vai acontecer enquanto imperar o amadorismo. Futebol é um negócio. E dos mais caros. Vemos, principalmente pela Europa, jogadores recebendo salários altíssimos, atuando em estádios lotados e em perfeitas condições, realizando um trabalho de nível excelente.

Esse esforço é devidamente recompensado no fim do ano, quando um Manchester, um Barcelona ou um Milan da vida conquista o Mundial Interclubes.

Profissionalismo é isso: estabelecer metas e promover os investimentos adequados para atingi-las. Sem precisar “pagar do próprio bolso”, como tem acontecido faz tempo aqui no Maranhão, onde o futebol ainda precisa do mecenato e do auxílio do Governo do Estado. Importantes, sem dúvida, mas não deveriam ser a única solução para os problemas do futebol maranhense.

Fique à vontade, Dunga

JUCA KFOURI

O que foi imaginado para ser escrito aqui
não é muito diferente do texto final;
no entanto, a ênfase é outra

CONFESSO QUE me preparei para escrever uma coluna cujo título seria uma conclamação: "Juízo, Dunga".

Supunha que veria Ronaldinho Gaúcho conduzindo o Milan à liderança do Italiano, numa arrancada que teve muito a ver com o progresso dele e que permitiu aos milanistas reduzir uma diferença que era de dez pontos seis rodadas atrás. Era ganhar em casa do Napoli e pronto: o Milan assumiria o primeiro lugar, um ponto adiante da irregular Inter.

Mas não aconteceu.

O empate (1 a 1) deixou o time rossonero um ponto atrás do rival.

E Ronaldinho, o aniversariante do dia, agora trintão, como foi?

Não foi mal, tanto que foi dele o cruzamento para o gol milanista. E, ao contrário do que se diz, ele não se limitou a participar três ou quatro vezes do jogo. Tive a pachorra de contar 44 lances com seu toque na bola. Marcadíssimo, é verdade, sempre por dois, às vezes por três, porque estava claro que quem criava no time era ele, razão pela qual o sucesso ao neutralizá-lo equivalia a parar o Milan. E foi exatamente o que o time napolitano fez.

Na bola, o desarmaram nove vezes nas minhas contas. E, com faltas, outras seis. Jogando sempre ali naquela faixa pela esquerda, deu muitos (dez) passes curtos e errou dois passes fáceis, em contra-ataques que poderiam resultar em gols. Com exceção de um lance mais agudo criado por Seedorf, os outros três, além do gol, saíram de seus pés, o que não é pouco.

Mas não dá para dizer que Ronaldinho teve uma atuação de gala, decisiva, dessas que obrigam o técnico da seleção a rever conceitos. Pode-se até dizer que não há mais de três jogadores no time de Dunga capazes de fazer o que ele fez ontem em Milão, e não será mentira.

Mas, também, deve-se entender por que esses três bastem para o confiante treinador.

Em tempo 1 Para quem critica tanto o nível do futebol brasileiro jogado no país, admitamos que o jogado na Itália também deixa muito a desejar, tanto que o sofrível time do Milan é o vice-líder do campeonato. Não terá sido por outro motivo que, numa partida em que os donos da casa tinham a chance de assumir uma liderança que parecia impossível, o San Siro apresentasse tantos claros, mais vazio do que cheio.

Em tempo 2 Dos nascidos em março, quem você escolheria para o seu time no auge da forma: Zico ou Ronaldinho? No auge, o colunista escolheria Ronaldinho. Mas, no cômputo geral, por enquanto, ficaria com Zico.

Delícia O Ituano, como o Palmeiras, não é o Naviraiense. E apenas três pontos separam o Robin Hood do Parque Antarctica do Ituano de Roque Júnior e Juninho Paulista. Mas nem por isso, ainda que sem Neymar e sem Robinho, a meninada santista deixou de enfiar-lhe uma fileira de gols, sempre benfeitos, sempre divertidos: 9 a 1. Neste modorrento Paulistinha, é o que há: o Santos.

Além do Ramalhão, porque o São Paulo empurra com a barriga e o Corinthians não se define.

blogdojuca@uol.com.br

domingo, março 21, 2010

Cartas inéditas de J.D. Salinger são descobertas em Nova York

DER SPIEGEL

Marc Pitzke
Em Nova York (EUA)

Ele era considerado um solitário e misantropo, mas J.D. Salinger, que morreu recentemente, também tinha um lado caloroso e afetuoso. Cartas anteriormente desconhecidas que ele escreveu a um velho amigo do exército, que foram examinadas por “Spiegel Online”, proporcionam imagens fascinantes da vida privada do solitário autor norte-americano.

A carta é curta e lacônica. Seis parágrafos, cuidadosamente datilografados e assinados à mão. O remetente escreve que sente saudade do destinatário, e relata as coisas que ocorreram durante a sua ausência: dois colegas soldados foram feridos, um terceiro soldado deixou o serviço militar e um outro – descrito como um “cara legal” - está em Cuba. O tom do redator da carta oscila entre o sarcasmo e a auto-comiseração. Ele parece deprimido, mas menciona também a possibilidade de em breve tomar um drinque com o destinatário.

Esta é uma carta endereçada a um amigo, mas ela é também muito mais do que isso. O documento, datado de 25 de abril de 1945, é um pedaço da história contemporânea e literária.

Não apenas por ter sido escrito por um jovem soldado que serviu no front alemão, pouco antes do final da Segunda Guerra Mundial. Ou porque o “cara legal”, conforme o escritor diz no decorrer da carta, é o gigante literário Ernest Hemingway.

Na verdade, a importância da carta deve-se à identidade do seu autor: Jerome D. Salinger, o notoriamente solitário escritor norte-americano que morreu em janeiro passado, aos 91 anos de idade. O seu primeiro e único livro, “The Catcher in the Rye” (em português, “O Apanhador no Campo de Centeio”), lançado em 1951, modificou as atitudes de gerações, mas Salinger adotou uma vida isolada pouco depois do lançamento da obra, e não publicou mais nada depois de 1965. Desde a sua morte, pesquisadores estavam debruçados sobre praticamente toda palavra que pudesse ter saído da sua pena.

E foi então que esta carta apareceu. Ela estava guardada e esquecida em um arquivo de um gabinete de trabalho de uma pequena casa no bairro de Queens, em Nova York. Ela é uma das nove cartas particulares escritas por Salinger que sobreviveram durante todas estas décadas aqui, nos arredores da cidade de Nova York. O destinatário das cartas é Werner Kleeman, um ex-colega de exército de Salinger. Os dois lutaram lado a lado na campanha dos Estados Unidos contra a Alemanha de Hitler, desembarcando na Normandia, atravessando as Ardenas, até a Batalha de Hürtgenwald, nas Montanhas Eifel, no oeste da Alemanha, uma das batalhas mais cruentas da guerra.

“Emotivo e caloroso”
“Nós nos tornamos adultos juntos. Tivemos que nos tornar”, disse Kleeman a “Spiegel Online”, falando sobre o período que passou com Salinger. “Eu conhecia Jerry como pouca gente”.

Mas as biografias de pós-guerra dos dois homens são bem diferentes. Um acabou fazendo tratamento psicológico e mais tarde galgou, com os seus escritos, o panteão da literatura. O outro desapareceu no anonimato da Nova York metropolitana, onde abriu um pequeno negócio de decoração de casas. Mas a amizade continuou. Kleeman, que apesar dos seus 91 anos de idade ainda sente-se “bastante em forma” e mora sozinho, é um dos últimos amigos vivos de Salinger, embora só tenha conhecido o verdadeiro significado desse fato depois que o escritor morreu. Foi quando Kleeman, que é viúvo, lembrou-se das cartas e as retirou dos seus arquivos.

Até então, pouquíssima gente sabia da existência dessas cartas, que “Spiegel Online” teve a oportunidade de ler e analisar minuciosamente. Elas proporcionam uma rara visão do mundo isolado de Salinger, preenchem lacunas na história da sua vida, expõem o lado privado dos mitos em torno do seu personagem – e revelam a maneira surpreendentemente calorosa como ele manteve uma antiga amizade da época da guerra, mesmo muito tempo após ter desaparecido da vida pública.

Isso, por si só, é uma surpresa, em se tratando de um homem que sempre foi visto como um difícil misantropo. “Ele era um grande solitário”, escreveu o crítico britânico Ian Hamilton na sua famosa monografia, “In Search of J.D. Salinger” (“Em Busca de J.D. Salinger”), citando um ex-aluno do escritor. “Não creio que ele tenha se dado aos outros, e ele também não achava que os outros tinham muito valor a lhe oferecer”. O trabalho de Hamilton, lançado em 1988, atualmente com as edições esgotadas e, não obstante, uma obra fundamental nos dias de hoje, ajudou a modelar a imagem de Salinger como sendo um desajustado. Um outro contemporâneo citado por Hamilton descreve Salinger da seguinte forma: “De maneira geral, ele não tinha amigos nem companheiros”.

As cartas de Kleeman contradizem essa impressão. Nelas, Salinger soa melancólico, e quase gentil. Ele fala ao amigo a respeito do seu novo cão filhote, um husky. Em 1961, ele escreve que ficou “entristecido” devido ao suicídio de Hemingway. Ele reclama do fato de os filhos crescerem e descreve-se como um “saco de tristeza perene”. “Ele era muito humilde”, diz Kleeman sobre Salinger. “Ele era emotivo e caloroso”.

Valor estimado de US$ 60 mil
As cartas, redigidas com uma máquina de datilografar e assinadas com um “Jerry”, “Seu, Jerry” ou “Tudo de melhor, Jerry”, abrangem um período que vai de 1945 a 1969. Na primeira carta, escrita durante a guerra, Salinger identifica o endereço do remetente simplesmente como “Alemanha”. O endereço do remetente na maioria das outras cartas é “Windson, Vermont”, onde ficava a agência de correio do vilarejo vizinho de Cornish, no Estado de New Hampshire, onde Salinger morou a partir de 1953.

Declan Kiely, o diretor da Biblioteca Morgan, um museu em Nova York que exibirá algumas das cartas de Salinger a partir desta semana, elogiou as cartas de Kleeman e está convencido de que elas são genuínas. Ele calcula que elas valham pelo menos US$ 60 mil (R$ 108 mil). “Nós adoraríamos ter estas cartas”, diz Kiely. Kleeman, que vive com uma pensão de ex-combatente, por ora trancou o seu tesouro em um cofre de banco.

O legado escrito de Salinger é relativamente pequeno – e cuidadosamente protegido. Todas as cartas que eram conhecidas até agora são mantidas nos arquivos da Biblioteca do Congresso, bem como em algumas universidades dos Estados Unidos, incluindo Harvard e Princeton. Salinger considerava a sua vida privada tão importante que ele registrou os direitos autorais dos conteúdos das suas cartas, um registro que tem validade mesmo após a sua morte. Por esse motivo, as cartas não podem ser totalmente transcritas, embora qualquer pessoa possa lê-las. “Através delas, Salinger volta à vida”, afirma Kiely.

O lado oculto de Salinger
O estilo de Salinger é imediatamente reconhecido: a sua sagacidade seca, a sintaxe elegante e o ritmo claro. Ao contrário de outras cartas que emergiram no passado, em sua maioria dirigidas a artistas, editores e amantes, as cartas endereçadas a Kleeman revelam um lado em grande parte oculto de Salinger – o de ex-combatente. Isso é algo que só um colega ex-combatente é capaz de entender. “Nós dois passamos pelo inferno”, afirma Kleeman. “Isso une as pessoas”.

Salinger escreve sobre as cicatrizes emocionais deixadas pelo front, mas fala também de amigos que perdeu. Nomes do seu antigo regimento aparecem com frequência. E Salinger menciona repetidamente a perspectiva de sair para beber com o velho camarada de guerra, ou pelo menos de os dois comerem juntos “um grande e gorduroso almoço” para falarem sobre os velhos tempos. Na última carta, no entanto, datada de 23 de fevereiro de 1969, ele anuncia o seu isolamento auto-imposto, e diz ao amigo que não deseja mais “voltar para lugar algum em carne e osso”.

“Ele era meio desajustado”
Para Kleeman, as cartas também ressuscitaram o seu próprio passado de aventuras. Mesmo sem a amizade com Salinger, o passado dele proporcionaria material suficiente para um livro. Após crescer em uma família judia alemã em Gaukönigshofen, uma aldeia próxima à cidade bávara de Würzburg, Kleeman (cujo nome ainda era escrito “Kleemann” na época) presenciou a ascensão dos nazistas ao poder. Ele foi levado para o campo de concentração de Dachau e mais tarde libertado, fugiu para Nova York, ingressou no exército e tornou-se cidadão dos Estados Unidos. Ele participou da invasão da Normandia, o Dia D, em 1944.

Salinger e Kleeman conheceram-se em março de 1944, em Devonshire, no sul de Londres, onde os aliados estavam se preparando para a invasão. Os dois serviram na mesma unidade, o 12º Regimento da 4º Divisão de Infantaria. Kleeman era intérprete, e Salinger atuava na inteligência militar dos Estados Unidos. “Eu percebi imediatamente que ele era meio desajustado”, conta Kleeman. “Ele recusava-se a amarrar os cordéis do seu capacete. Ele só fazia o que queria”.

Salinger, na época com 25 anos de idade, estava no início da sua carreira literária. Ele já havia publicado os seus primeiros contos. Ele ingressou no exército dos Estados Unidos em 1942. Havia até agora pouca informação disponível sobre o período passado por Salinger no exército, e especialmente sobre os últimos anos da guerra. “As poucas cartas que temos de 1944 e 1945 são bastante enigmáticas”, escreveu o biógrafo Ian Hamilton após meses de pesquisas frustrantes. Ele afirmou que Salinger continuava sendo “uma silhueta”.

“Todos estavam com medo”
Kleeman pode agora conferir um caráter de carne e osso a essa silhueta. Na época, ele mantinha um contato próximo com Salinger. O futuro escritor era discreto, recorda Kleeman. Ninguém usava etiquetas com nomes, e por isso a primeira pergunta que ele fez a Salinger foi: “Como você se chama?”. Eles logo tornaram-se amigos – o que contradiz os relatos de que Salinger era muitas vezes condescendente e distante para com os seus camaradas de guerra. Ao contrário, diz Kleeman, Salinger estava simplesmente preocupado com os seus escritos. “O Apanhador no Campo de Centeio” estava tomando forma naqueles meses.

Salinger passou duas semanas inteiras cuidadosamente tornando o seu jipe a prova d'água, antes dos desembarques do Dia D, enquanto um Kleeman boquiaberto observava. “Ele fez um trabalho perfeito, assim como as suas histórias”, diz Kleeman. Em outras ocasiões, os dois tiveram longas conversas sobre os seus medos da invasão. “Havia uma pressão enorme”, conta Kleeman. “Todos estavam com medo”. Os horrores da guerra mais tarde tornar-se-iam um tema recorrente em várias das histórias de Salinger.

Os dois soldados atravessaram juntos o Canal da Mancha. Foi uma travessia tenebrosa rumo ao desconhecido, diz Kleeman. Ele não gosta de falar a respeito do desembarque na Praia Utah, na Normandia. Salinger também omite essa experiência extrema nas suas cartas.

Um encontro memorável com Hemingway
Em vez disso, em uma carta que ele escreveu a Kleeman duas décadas mais tarde, Salinger menciona o “negócio de Hurtgenwald”, com uma mistura de pavor e indiferença. Ele está se referindo à Batalha de Hürtgenwald, um famoso massacre sangrento que custou a vida de pelo menos 22 mil soldados norte-americanos. Salinger mais tarde incorporaria os horrores de Hürtgenwald a contos sombrios. Kleeman revela mais um detalhe: o oficial comandante de Salinger era um “grande alcoólatra” que atormentava os seus soldados. “Ele bebia uma garrafa atrás da outra”, afirma Kleeman.

Certa vez, conta Kleeman, o oficial ordenou que Salinger passasse a noite em uma trincheira gelada e coberta de neve. Kleeman diz que deu ao amigo um par de meias que a sua mãe tricotou, bem como um cobertor que pegou no Hotel Atlantique, em Cherbourg.

Kleeman e Salinger também encontraram Ernest Hemingway, que estava viajando como correspondente de guerra, e que eles haviam conhecido antes na França. Os três tiveram um encontro memorável em Hürtgenwald, conforme Kleeman recorda. Eles descobriram Hemingway deitado em um sofá em uma casa que tinha eletricidade produzida por um gerador. Os dois amigos passaram três horas bebendo champanhe em copos de plástico e ouvindo as histórias de aventuras de “Papa”. Kleeman diz que Salinger idolatrava o escritor mais velho.

Salinger também recordar-se-ia daquela cena cinematográfica anos depois. Em uma carta enviada a Kleeman pouco depois que Hemingway suicidou-se em 1961, ele escreve, “Você se lembra?” - em uma referência nostálgica àquela noite em Hürtgenwald.

“Frio com as mulheres”
Depois da guerra, os caminhos dos dois ficaram separados durante anos. A carta de Salinger de 1945, com o carimbo “Serviço Postal do Exército, 29 de abril de 1945”, demorou um ano para chegar até Kleeman, que vinha sendo transferido de um hospital a outro. Quando a guerra terminou, Salinger permaneceu na Alemanha por alguns meses, quando casou-se com uma francesa, Sylvia Welter. Kleeman tem a sua própria hipótese a respeito do casamento, que durou apenas oito meses e que permaneceu cercado de segredos: “As pessoas dizem que ela era nazista. Salinger acabou livrando-se dela. Certa manhã, durante o café, ele disse a ela que caísse fora”.

O seu amigo era “frio com as mulheres”, diz Kleeman. “Ele provavelmente não era o mais romântico dos caras”. Ele foi similarmente frio durante o seu divórcio da sua segunda mulher, Claire, conta Kleeman, e Salinger chegou até a reclamar do fato de a sua filha Margaret ter se casado com “um sujeito negro”.

Mas a amizade de Salinger com Kleeman permaneceu, mesmo depois que as cartas foram deixando lentamente de chegar. Em 1978, após ter adotado uma vida reclusa, Salinger viajou a Nova York disfarçado para participar de uma cerimônia de aposentadoria do ex-camarada soldado. “Ele estava impecavelmente vestido e mostrava-se bastante tímido”, diz Kleeman. Após a cerimônia, Kleeman levou Salinger de carro até um hotel em Manhattan, “muito discretamente, é claro”.

Kleeman também visitou Salinger em New Hampshire em duas ocasiões, em 1958 e em 1983. “Nós passamos horas na varanda conversando”, diz ele. Kleeman recorda-se do “campo muito vasto” em frente à casa de Salinger, da garagem e da escada coberta. “Ele tinha cachorros. Os cachorros latiram e ele veio até a varanda e acenou. Vamos lá, suba”, disse ele.

Apesar de rumores que indicavam o contrário, Salinger parecia “muito feliz”, segundo o seu amigo Kleeman, que confirma um boato antigo: “Ele me mostrou o quarto no qual guardava todos os seus manuscritos”. Após a morte de Salinger, houve especulações de que o autor teria deixado até 15 livros não publicados – um segredo que os herdeiros de Salinger ainda não revelaram.

Uma foto em preto e branco da casa de Salinger em Cornish e as cartas são tudo o que resta da amizade de Kleeman com o famoso escritor. “Isto é a minha vida”, afirma ele com orgulho, segurando uma cópia da carta de 1945.

Ele examina a assinatura, sorri brandamente, e diz: “Um de nós tinha que partir primeiro”.

sábado, março 20, 2010

"Superclásico" pode marcar recorde de Palermo e despedida de Riquelme

Do UOL Esporte
Em São Paulo


Neste domingo, a Argentina voltará suas atenções para La Bombonera. O estádio será o palco de mais um Superclásico entre Boca Juniors e River Plate, com início às 15h (horário de Brasília). A partida, que pode se tornar especial para Martín Palermo e Juan Román Riquelme, tem um significado um pouco diferente desta vez para as torcidas das duas equipes.

O clima para este encontro está marcado pelo momento ruim vivido pelos dois times. Tanto para Boca Juniors como para River Plate, uma vitória sobre o maior rival servirá como consolo para apagar um desempenho de pouco destaque no torneio Clausura.

Antes do início da 10ª rodada, o River Plate ocupa um modesto 11º lugar, com apenas 12 pontos ganhos – oito a menos do que o líder Independiente. O Boca Juniors está em situação ainda pior: o clube aparece na 17ª colocação com oito pontos, somente três acima do lanterna Atlético Tucumán.

As duas equipes, que nem estão na Libertadores deste ano por conta de seu desempenho ruim nos últimos campeonatos nacionais, entram em campo pressionadas. Após a derrota para o Tigre por 3 a 0, na rodada passada, torcedores do Boca Juniors intimidaram os jogadores da equipe. O River Plate busca uma vitória na casa do adversário para tentar embalar e motivar uma possível reação.

Levando-se em consideração todos os Superclásicos realizados (incluindo amistosos e jogos na época do amadorismo), o Boca Juniors leva vantagem sobre o rival. Os xeneizes ganharam 119 partidas; o River Plate comemorou 104 triunfos e houve 102 empates. Apesar da fase ruim, Leonardo Astrada, treinador do River, discorda de quem acha o clássico desvalorizado. "Vive-se este jogo com uma grande intensidade", analisou.

A torcida do Boca Juniors pode ver Riquelme disputar seu último duelo contra o River Plate. O meia, de 31 anos, não definiu se continuará na equipe quando terminar seu contrato, em 30 de junho. “O clássico de domingo pode ser o meu último com a camisa do Boca. Veremos o que acontecerá depois. Só sei que ainda tenho muitos anos no futebol”, afirmou.

Para outro jogador do Boca Juniors, o clássico também pode ser marcante. Se for às redes, o atacante Martín Palermo se tornará o maior artilheiro da história do clube. Hoje, o jogador, de 36 anos, tem 218 gols marcados com a camisa xeneize, ao lado de Roberto Cherro.

A possibilidade de levar o “gol do recorde” preocupa Daniel Veja, goleiro do River Plate. “Não quero entrar para a história dele. Tomara que não marque. Se Palermo fizer, gostaria que marcássemos dois. Se vencermos e ele marcar, ninguém se lembrará”, disse, em entrevista ao diário esportivo Olé.

Os torcedores do River Plate também demonstram grande expectativa para o clássico. Em apenas 1min45, as quatro mil entradas disponíveis para os visitantes e colocadas à venda pela internet se esgotaram. Esta é a certeza de que, seja qual for a fase vivida pelos dois times, nunca um Superclásico deixará de mexer com os ânimos das torcidas dos dois maiores clubes da Argentina.

sexta-feira, março 19, 2010

Os "Cahiers du Cinéma" trouxeram na edição de janeiro os dez mais dos anos 00.

BLOG DO INÁCIO ARAÚJO

Os "Cahiers du Cinéma" trouxeram na edição de janeiro os dez mais dos anos 00.

São os seguintes:

1. Cidade dos Sonhos - David Lynch
2. Elefante - Gus Van Sant
3. Mal dos Trópicos - Apichatpong Weerasethakul
4. O Hospedeiro - Bong Joon-ho
5. Marcas da Violência - David Cronenberg
6. O Segredo do Grão - Abdellatif Kechiche
7. Além dos Trilhos - Wang Bing
8. A Guerra dos Mundos - Steven Spielberg
9 O Novo Mundo - Terrence Malick
10. Ten - Abbas Kiarostami

É claro que toda eleição envolvendo várias cabeças fica com um jeito meio de Frankenstein, isso é normal.

Mas a eleição deste ano me parece mais interessante por vários motivos.

O primeiro deles é a progressiva perda de influência dos Cahiers.

Que, antes de ser perda de influência dos Cahiers, significa perda de influência da crítica.

Voltaremos a falar disso, claro.

Mas existe uma situação particular: os Cahiers foram comprados pelo Le Monde há alguns anos e parece que desde então o objetivo era promover uma aproximação com um público maior.

De concreto, fizeram um projeto gráfico horrível, parecido com Première, e deram a direção ao Jean-Michel Frodon. Com ele, o Cahiers virou uma revista quase pessoal. Há números em que ele escrevia metade dos textos. Mas não propunham nenhuma aproximação com um público mais amplo, a não ser quando traziam alguns autores clássicos da revista para escrever, tipo Douchet ou Luc Moullet.

A revista acabou vendida e passou a ter Stephane Délorme como novo diretor de redação.

Essa mudança trouxe, me parece, certa instabilidade. De repente você tromba com Judd Apatow e, ao lado, Apichatpong W., Kiarostami e Spielberg.

Não que vários desses, em diversos momentos, não possam estar próximos ou lado a lado. Mas neste momento preciso tenho a impressão de que há uma espécie de ecletismo dominando a equipe, como se não soubesse para que lado ir, como se duas ou três correntes se engalfinhassem ali.

Não sei, seria preciso ver em detalhe os votos para concluir alguma coisa.

Mas a minha impressão inicial é de que o cinema, hoje, é que tem várias direções a seguir.

Elas podem variar do blockbuster, portanto cinema para massa (Spielberg) à negação disso (David Lynch). Pode invadir territórios antes desconhecidos (a Ásia) ou retornar à França dos Lumière.

Só uma coisa certa: a utopia que norteou os grandes anos dos Cahiers, ali os 1950 e 1960, ruiu.

A idéia de uma arte ao mesmo tempo industrial e de vanguarda, sintética, aberta ao entendimento coletivo desmontou-se.

Como se viu na Bienal (não na última, mas na penúltima, da Lisette Lagnado), uma parte do cinema tende às artes plásticas (e vide-versa).

Parece o caminho do Kiarostami (sobretudo em "Five").

Outra parte vai cada vez mais se empenhar no caminho do espetáculo caro, para grandes massas, impulsionado por forte movimento de marketing.

Há outros, inclusive os dinossauros tipo Resnais ou Clint Eastwood.

Ou os refratários, tipo Lynch ou Cronenberg.

De todo modo, me chamou a atenção que, asiáticos à parte, são veteranos que dominam a lista.
É como se o cinema estivesse esquizofrênico. Não é a arte popular dos anos 40 ou 50, não é a vanguarda, dos 50, 60 ou 70.

Ou o repique dela, a seguir, no De Palma, ou a exploração particular de caminhos já abertos etc.
Ao mesmo tempo, existe uma invasão tecnológica não inteiramente dominada. No som, na imagem, no 3D, na computação gráfica, na montagem digital: vem de todas as partes.

O cinema tem hoje várias cabeças. Me parece que os Cahiers atuais não estão fora de sintonia. Eles refletem este momento.

Sobretudo, pensando um pouco mais no "Ilha do Medo", me parece um filme em que essas questões são arguidas com paixão (e, talvez, algum desconsolo).

Mas isso está ficando grande. Se achar que faz sentido essa última observação, tentarei desenvolver algo em breve.

quinta-feira, março 18, 2010

O valor da educação

País precisa pagar mais e atrair talentos
para o ensino público, mas seis Estados
descumprem piso salarial do professor

A EDUCAÇÃO básica já ocupa lugar de destaque na agenda nacional. Embora tardia, a prioridade que vem sendo conferida à formação e à qualificação dos 48 milhões de brasileiros em idade escolar se reflete no aumento paulatino da parcela do PIB investida no setor. De 3,9% em 2000, alcançou-se a marca de 4,7% em 2008, ou R$ 140 bilhões, já perto de cumprir a meta simbólica de 5% neste ano.

Não basta, contudo, aumentar as verbas da educação para aplicar-lhe essa espécie de choque de compromisso com a qualidade que se faz necessário. É crucial trabalhar com metas mensuráveis, como as cinco lançadas pelo Movimento Todos pela Educação, com prazo para 2022, e endossadas por esta Folha em 2007: todas as crianças e jovens de 4 a 17 anos na escola; toda criança plenamente alfabetizada até os 8 anos; todo aluno com aprendizado adequado à sua série; todo jovem com o ensino médio concluído até os 19 anos; e investimento em educação ampliado e bem gerido.

Por ora, melhorou mais a qualidade das estatísticas do que os indicadores que delas derivam. O país possui hoje 91% de crianças e jovens na escola, uma taxa razoável. Menos de um terço, porém, demonstra ter aprendido o conteúdo esperado na série em que se encontra.

A situação alcança o limiar da emergência no caso da matemática ao final do ensino médio: só 9,8% dos estudantes sabem o que deveriam saber. A formação secundária, mínimo esperado para as necessidades técnicas do desenvolvimento nacional, só é completada por 45% dos jovens de 19 anos (idade correta para concluir o ensino médio). E não se criou, até o presente, instrumento confiável para aferir a alfabetização efetiva até 8 anos.

Além disso, a intenção de dotar todos os professores de diploma universitário está longe de realizar-se. Os percentuais se aproximam do satisfatório apenas no ensino médio (95%) e fundamental 2 (85%). No fundamental 1, há meros 58%.

Países que deram um salto na educação, como Coreia do Sul, assumiram a prioridade de recrutar docentes entre os melhores profissionais formados pelas universidades. Pode-se reformar de tudo no ensino, mas ele jamais será de qualidade sem bons professores. E estes não serão atraídos por salários medíocres.

Lei sancionada em 2008 fixou um piso salarial nacional para docentes, hoje no valor de R$ 1.024,67 (inferior até à renda média do Brasil, R$ 1.117,95). No entanto, seis Estados (GO, TO, RO, CE, PE e RS) ainda pagam salários aquém disso. Sobre as escolas municipais não há dados, mas se presume que a situação seja ainda mais grave.

A educação brasileira não sairá do buraco em que se encontra enquanto a sociedade e os governantes por ela eleitos não se convencerem de que ser professor não é sacerdócio, mas profissão absolutamente estratégica para o desenvolvimento do país.

quarta-feira, março 17, 2010

Em SP, Rubem Fonseca vira menino para promover livro de escritora-pupila

FABIO VICTOR
DA REPORTAGEM LOCAL

"Chora não, meu bem, chora não". Rubem Fonseca, o escritor recluso, o autor da violência urbana desmedida, faz biquinho e se contorce em frente ao vidro de um quadrado branco montado dentro da Livraria da Vila.

Lá dentro, simulando choro, está a escritora performática Paula Parisot, que, para lançar seu romance "Gonzos e Parafusos" (ed. Leya), vive há seis dias no cubo, uma clínica de repouso descrita no livro. Fonseca é padrinho literário de Paula e foi ontem ao local alimentá-la -parte do roteiro da performance.

Ao ver um fotógrafo, o escritor se irritou: "Porra! Puta Merda! Estragou o meu dia". Minutos depois, embevecido pela pupila, se acalmou.

"Tem que comer, entendeu", disse. Ela brinca com uma fatia de pão. "Tá bom?", ele pergunta. Ela não fala.

"Tá muito magrinha", balbucia Fonseca, 84 anos. Faz uma careta para Paula, simula lutar boxe com ela e depois diz. "Desculpa, vamos fazer as pazes." Apresenta-se como "José" a uma espectadora. Recusa gentilmente o pedido de entrevista. Só diz que acha Paula uma escritora com "um futuro brilhante".

sexta-feira, março 12, 2010

Internet e as flores

JOSÉ SARNEY

NESTA SEMANA, participei de um seminário sobre "As Novas Mídias e a Crise do Modelo Político". A curiosidade geral era sobre como a internet está modificando nossa sociedade.

Refleti sobre as mudanças durante os anos da minha vida. Sou da geração que viu dois séculos, a maior guerra mundial e as transformações que nos levaram até a sociedade de informação, na qual não pensamos mais individualmente, mas nos tornamos um ser coletivo.

Comecei no lápis, na pena bico de pato, com direito a tinteiro, a caneta-tinteiro, com uma bolsa de borracha acionada para acumular tinta, a revolução da esferográfica, até todas as formas de hoje, da ponta porosa até o bico de balão.

A máquina de escrever batendo teclas manuais, depois elétrica, até abandonar-se tudo e ficar escravo do computador. Um retângulo que cabe na palma da minha mão me permite falar com quem quiser em qualquer lugar do mundo. Com um e-mail mando mensagens, converso, opino.

Aí, mergulhando na pesquisa, vou encontrar um mundo de informações tão vasto que me faz perder a verdade, porque são tantas verdades que nos oferecem que é difícil saber qual é a verdade. Talvez daí por que Dom Miguel de Unamuno, há cem anos, tenha dito no seu livro "Do Sentimento Trágico da Vida" que a pergunta mais profunda do "Novo Testamento" é a de Pilatos: "O que é a verdade?".

Nasci numa pequena vila perdida no interior da Amazônia onde só havia a comunicação do fio que atravessava os campos e dava ao telegrafista condições de, duas vezes por dia, código Morse, receber mensagens. Depois, aos sete anos, ouvi fascinado o rádio, um único na cidade a atrair toda a população para saber notícias da Guerra da Espanha e, quando a estática fazia aquele zumbido enorme, o farmacêutico José Alvim explicava: "É tiro do lado republicano".

Tudo se transformou, e vivemos um mundo em transformação e transformado, com TV e vídeos.

Hoje estou conectado com o Twitter e o YouTube, recusando a ficar para trás, corro a vista em alguns blogs. A mídia da internet, que era alternativa, hoje disputa o papel de principal. A notícia em tempo real faz os jornais ficarem velhos no mesmo dia do nascimento.

Mas o que mais me admirou nos últimos dias foi o que li num boletim econômico do BB: a cotação das flores. Elas eram inspiração dos poetas e hoje são objeto de mercado. Ali está escrito: "Que tipos de flores estão em alta neste verão?".

Resposta: "Eu destacaria as alpínias, as bromélias e a cúrcuma". É a Bolsa das Flores.

Tudo mudou. E recordo que minha mãe conversava com elas, e Hipócrates, o sábio da medicina, cinco séculos antes de Cristo, aconselhava falar com as flores -hoje, até pela internet.

quinta-feira, março 11, 2010

MEC desiste do Enem do meio do ano

Universidades que usariam resultados do exame como vestibular
terão de recorrer às notas de 2009 ou preparar outra seleção

Governo diz que suspendeu a prova porque não haverá tempo para criar uma estratégia de segurança que evite novo vazamento

FÁBIO TAKAHASHI
PATRÍCIA GOMES
RICARDO GALLO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Ministério da Educação não irá mais realizar o Enem no meio deste ano, ao contrário do que estava previsto desde que o exame passou a ser usado para substituir os vestibulares em universidades federais.

O Ministério da Educação não irá mais realizar o Enem no meio deste ano, ao contrário do que estava previsto desde que o exame passou a ser usado para substituir os vestibulares em universidades federais.

Para as instituições que utilizariam a prova para selecionar turmas para o segundo semestre, o ministro sugeriu que sejam chamados alunos que fizeram o Enem do final de 2009. Na prática, serão convocados estudantes que foram reprovados neste primeiro semestre.

As federais do Tocantins, do Maranhão, Rural do Semi-Árido (RN) e Tecnológica do Paraná disseram à Folha que seguirão a recomendação do ministro. As federais de Ouro Preto e Uberlândia decidiram voltar ao modelo do vestibular (essa última ainda pode usar nota do Enem 2009 como primeira fase). A federal de Alfenas também deve fazer vestibular.

Ao mudar o Enem, o governo Lula queria acabar com o vestibular -considerado um problema para o ensino médio, por exigir conhecimentos específicos das disciplinas, com pouca contextualização. As questões do Enem buscam integrar os conhecimentos das matérias.

Para quem fará vestibular próprio, o prazo para realização da prova é menor que o habitual. Segundo a federal de Ouro Preto, o processo deveria ter começado em janeiro.

Na avaliação do MEC, a não aplicação do Enem no meio do ano não terá grande impacto, pois o número de vagas oferecido não é elevado (quantidade ainda não definida). Além disso, o ProUni (bolsas em universidades particulares) já usava um Enem para duas seleções.

quarta-feira, março 10, 2010

Pelo 6º ano seguido, Real Madrid cai nas oitavas da Liga dos Campeões

A surpresa tomou conta do estádio Santiago Bernabéu nesta quarta-feira. Pelo sexto ano seguido, o Real Madrid foi eliminado nas oitavas de final da Liga dos Campeões ao empatar por 1 a 1 com o Lyon em casa. A equipe espanhola dominou o primeiro tempo e abriu o placar com Cristiano Ronaldo, dando a impressão de que venceria com tranquilidade. No entanto, o time francês voltou melhor para a segunda etapa, igualou com Pjanic e avançou para a fase seguinte da competição. Para Kaká, o jogo trouxe sensações ainda piores.

O meio-campista, que recebeu críticas por suas atuações de pouco destaque em partidas recentes do Real Madrid, teve um desempenho discreto na partida. Após o gol de empate do Lyon, Kaká foi substituído por Raúl e foi vaiado pela torcida enquanto deixava o campo, fazendo sinal negativo com a cabeça.

A eliminação deixa um gosto amargo para os Merengues. A equipe não economizou na hora de contratar reforços para esta temporada. Com o investimento de aproximadamente 260 milhões de euros, o time contratou Kaká, Cristiano Ronaldo, Karim Benzema e Xabi Alonso, entre outros nomes. A “segunda geração galáctica” tinha como principal missão levar o time à conquista da Liga dos Campeões. Fracassou.

Assim que a partida começou, o Real Madrid deixou clara sua postura: pressionar o Lyon desde o início. Afinal, no jogo de ida, o time espanhol havia perdido por 1 a 0 na França. A estratégia deu certo logo aos seis minutos. Guti lançou do campo de defesa, Cristiano Ronaldo ganhou de Cris na corrida e chutou cruzado; a bola passou por entre as pernas do goleiro Lloris e parou nas redes.

Kaká quase ampliou aos nove. O meia recebeu pela esquerda, livrou-se de dois marcadores e bateu; Lloris defendeu. Após cobrança de escanteio, Cristiano Ronaldo cabeceou para fora aos 12. Sufocado, o Lyon mal conseguia sair de sua defesa. Aos 13, Higuaín recebeu bom passe de Cristiano Ronaldo, mas mandou para fora.

A equipe francesa enfim teve uma folga aos 18, em chute perigoso de Toulalan de fora da área. No entanto, logo os donos da casa retomaram o domínio do jogo. Aos 26, Higuaín driblou Lloris e chutou; a bola acertou a trave. O atacante argentino teve outra boa chance aos 28 e exigiu defesa complicada de Lloris.

O Lyon voltou a assustar os donos da casa aos 35: Govou cruzou da direita, mas Makoun errou a finalização. Os jogadores do Real Madrid reclamaram de um pênalti em Higuaín aos 38, mas não houve falta. Cinco minutos depois, o atacante cabeceou para fora, rente à trave.

Lyon volta melhor

Para o segundo tempo, Claude Puel, técnico do Lyon, tentou deixar o time um pouco mais ofensivo, com as entradas de Källström e Gonalons nos lugares de Boumsong e Makoun, respectivamente. Em seu primeiro lance, Gonalons cabeceou para fora aos dois minutos.

Com um melhor posicionamento em campo, o Lyon se manteve no ataque. Aos sete, Källström cruzou da esquerda, mas Govou pegou mal e mandou para longe. Casillas salvou o Real Madrid aos nove, ao defender uma conclusão de Lisandro López. Os Merengues reagiram aos dez. Após contra-ataque puxado por Cristiano Ronaldo, Kaká bateu para fora.

Sem repetir a mesma boa atuação da primeira etapa, o Real Madrid encontrava dificuldades na ligação entre o meio-campo e o ataque. O técnico Manuel Pellegrini tentou corrigir o problema com a entrada de Van der Vaart no lugar de Granero, aos 16. Contudo, o time se mostrou muito dependente das arrancadas de Cristiano Ronaldo. Kaká, discreto, teve poucas chances.

A torcida do Real Madrid se desesperou aos 31. Lisandro López recebeu dentro da área e ajeitou para Pjanic empatar. Três minutos depois, Kaká foi substituído por Raúl. Sob vaias, o brasileiro deixou o campo fazendo sinal de negativo com a cabeça.

Abalado, o Real Madrid não teve forças para buscar os gols necessários para a classificação. Lisandro López e Delgado ainda perderam duas chances incríveis de fazer o gol da virada 44. Seria demais para a torcida merengue.

REAL MADRID 1 x 1 LYON

Real Madrid
Iker Casillas; Sergio Ramos, Raúl Albiol, Ezequiel Garay, Álvaro Arbeloa (Diarra); Esteban Granero (Van der Vaart), Lassana Diarra, Kaká (Raúl), Guti; Cristiano Ronaldo, Gonzalo Higuaín
Técnico: Manuel Pellegrini

Lyon
Hugo Lloris; Anthony Réveillère, Cris, Jean-Alain Boumsong (Källström), Aly Cissokho; Sidney Govou, Jérémy Toulalan, Jean II Makoun (Gonalons), Miralem Pjanic (Källström), César Delgado; Lisandro López
Técnico: Claude Puel

Data: 10/03/2010 (quarta-feira)
Local: Estádio Santiago Bernabéu
Árbitro: Nicola Rizzoli (ITA)
Assistentes: Cristiano Copelli (ITA) e Luca Maggiani (ITA)
Cartões amarelos: Granero, Van der Vaart (Real Madrid), Cris, Delgado (Lyon)
Gols: Cristiano Ronaldo, aos 6min do primeiro tempo; Pjanic, aos 30min do segundo tempo

terça-feira, março 09, 2010

Meu Deus! Valdir Bigode, ele mesmo, será técnico de time carioca

Rio de Janeiro, RJ, 09 (AFI) – O ex-atacante Valdir Bigode pendurou as chuteiras, mas nem por isso se distanciou do mundo do futebol. Em entrevista ao programa Balanço Esportivo Rio, da Rede CNT, ele confirmou que será técnico de um time carioca.

Segundo o ex-jogador, ele vai assumir o comando do Campo Grande, que atualmente disputa a Terceira Divisão do Campeonato Carioca e tem como objetivo voltar a disputar a elite, o que não consegue há muitos anos.

Valdir Bigode ficou famoso por seu faro de gol e sempre foi artilheiro pelos clubes que passou. Mas onde se destacou, de verdade, foi vestindo a camisa do Vasco, onde conquistou quatro Campeonatos Cariocas, sendo artilheiro em 93 e 2003.

Além do Vasco, o ex-atacante defendeu outros grandes clubes do futebol brasileiro, como São Paulo, Atlético Mineiro, Botafogo e Santos. Valdir Bigode também defendeu dois clubes do exterior: o Benfica, de Portugal e o Al-Nasr, dos Emirados Árabes.

domingo, março 07, 2010

Inimigos de Darwin nos EUA agora atacam também o aquecimento global

Projeto quer discussão de ‘desvantagens de teorias científicas’.
Crítico diz que ceticismo sobre clima é desdobramento do criacionismo.

Leslie Kaufman
Do ‘New York Times’

Críticos do ensino da evolução nas salas de aulas americanas estão ganhando terreno em alguns estados ao associar o tema ao aquecimento global, argumentando que visões divergentes sobre ambos os assuntos científicos deveriam ser ensinadas em escolas públicas.

Em Kentucky, um projeto de lei recentemente apresentado ao legislativo motivaria os professores a discutir “as vantagens e desvantagens de teorias científicas”, incluindo a “evolução, origem da vida, aquecimento global e clonagem de seres humanos”.

O projeto de lei, que ainda deve ser votado, baseia-se em esforços ainda mais agressivos em outros estados para fundir esses temas. Em Louisiana, uma lei aprovada em 2008 declara que os órgãos estaduais de educação podem ajudar professores na promoção do “pensamento crítico” em todos esses assuntos.

No ano passado, a Secretaria de Educação do Texas passou a exigir que os professores apresentem todos os lados das evidências da evolução e do aquecimento global.

Oklahoma apresentou um projeto de lei com objetivos similares em 2009, mas ele não entrou em vigor.

A relação entre evolução e aquecimento global é uma estratégia em parte jurídica: tribunais descobriram que singularizar a evolução como alvo de críticas em escolas públicas é uma violação da separação entre Igreja e Estado. Ao insistir que o aquecimento global também seja discutido, as pessoas que negam a evolução podem argumentar que simplesmente estão buscando uma ampla liberdade acadêmica.

Mesmo assim, essas pessoas também estão tirando proveito do aumento da resistência pública em determinados setores em aceitar a ciência do aquecimento global, particularmente entre políticos conservadores que se opõem a esforços para frear as emissões de gases causadores do efeito estufa.

Em Dakota do Sul, uma resolução pedindo o “ensino ponderado sobre o aquecimento global em escolas públicas” foi aprovada na assembleia esta semana. “O dióxido de carbono não é um poluente”, diz a resolução, “mas um ingrediente altamente benéfico para toda a vida vegetal.”

A medida não mencionou a evolução, mas opositores dos esforços para diluir o ensino desse conceito observaram que a linguagem era similar à de projetos de lei em outros estados que incluíam ambas as questões. Republicanos votaram a favor e democratas, contra.

Para cientistas renomados, não há nenhum desafio de credibilidade à teoria da evolução. Eles se opõem ao ensino de visões alternativas, como o do design inteligente, uma proposição que afirma que a vida é tão complexa que deve ser criação de um ser inteligente. Há forte consenso entre cientistas de que o aquecimento global está ocorrendo e que as atividades humanas provavelmente estão causando esse efeito. Mesmo assim, muitos cristãos evangélicos conservadores afirmam que ambos são exemplos em que os cientistas ultrapassam seus limites.

John West, membro do Discovery Institute, em Seattle, um grupo que defende a teoria do design inteligente e lidera uma campanha para o ensino de críticas à evolução nas escolas, afirmou que o instituto não estava promovendo especificamente a oposição à ciência aceita da mudança climática. Entretanto, West diz ser simpático à causa. “Há muito dogmatismo nesse assunto, e os cientistas estão sendo perseguidos por descobertas que não estão em conformidade com a ortodoxia. Acreditamos que analisar e avaliar a evidência científica é bom, seja sobre aquecimento global ou evolução.”

Lawrence Krauss, físico e diretor da Origins Initiative, da Universidade Estadual do Arizona, já se pronunciou contra os esforços para suavizar o ensino da evolução em órgãos educacionais em Texas e Ohio. Ele descreveu o movimento em direção ao ceticismo envolvendo a mudança climática como um desdobramento previsível do criacionismo.

“Onde houver uma batalha sobre a evolução hoje”, diz ele, “há uma batalha secundária para suavizar outros assuntos quentes, como o Big Bang, e, cada vez mais, a mudança climática. Trata-se de lançar dúvidas sobre a veracidade da ciência – dizer que essa é apenas mais uma visão do mundo, mais uma história, nem melhor nem mais válida que o fundamentalismo.”

É claro, nem todos os cristãos evangélicos rejeitam a ideia da mudança climática. Existe um movimento crescente no país motivado em parte pela crença de que os humanos são obrigados a cuidar da Terra, já que Deus a criou.

Mesmo assim, há poucas dúvidas de que o ceticismo em relação ao aquecimento global ecoe de forma mais forte entre conservadores, cristãos conservadores em particular. Uma pesquisa publicada em outubro pelo Pew Research Center for the People and the Press descobriu que protestantes evangélicos brancos estão entre os que têm menos probabilidade de crer na existência de “sólidas evidências” de que a Terra está se aquecendo devido à atividade humana. Apenas 23% dos entrevistados aceitaram essa ideia, contra 36% dos americanos em geral.

O reverendo Jim Ball, diretor sênior de programas de clima da Evangelical Environmental Network, um grupo que aceita a ciência do aquecimento global, disse que muitas pessoas que negam o assunto sentem que “é arrogante achar que os seres humanos poderiam perturbar algo criado por Deus”.

O deputado estadual Tim Moore, republicado que apresentou o projeto de lei na assembleia legislativa de Kentucky, disse não estar motivado por religião, mas pelo que ele considera distorção do conhecimento científico. “Nossos filhos estão sendo apresentados a teorias como se elas fossem fatos”, afirmou. "Especialmente no caso do aquecimento global, tem havido um ponto de vista politicamente correto na elite educacional que é muito diferente da ciência sólida”.

O currículo da evolução se desenvolveu muito mais do que a instrução sobre a mudança climática. Ele é quase universalmente exigido em aulas de biologia, enquanto a ciência do aquecimento global, um tópico mais recente, é ensinada esporadicamente, dependendo do interesse dos professores e dos coordenadores pedagógicos da escola.

Entretanto, tem crescido o interesse em tornar a mudança climática um item padrão no currículo escolar. No governo do presidente Obama, por exemplo, o Climate Education Interagency Working Group, que representa mais de dez agências federais, está pressionando uma “alfabetização climática” de professores e alunos.

O deputado Don Kopp, republicano e principal apoiador da resolução de Dakota do Sul, afirmou ter agido em parte porque o filme “Uma verdade inconveniente” (documentário sobre o aquecimento global, apresentado por Al Gore), estava sendo exibido em algumas escolas públicas sem um contrapeso.

O incentivo legal para emparelhar o aquecimento global com a evolução nas batalhas sobre o currículo deriva em parte de uma decisão, em 2005, de um juiz da corte regional de Atlanta. A decisão afirmava que a Secretaria de Educação de Cobb County, que havia colado adesivos em alguns livros didáticos incentivando estudantes a considerar a evolução apenas como uma teoria, tinha violado termos da primeira emenda americana sobre a separação entre Igreja e Estado.

Embora o adesivo não tenha sido declaradamente religioso, disse o juiz, seu uso foi inconstitucional, pois apenas a evolução era o alvo, o que indicava se tratar de uma questão religiosa.

Depois disso, afirmou Joshua Rosenau, diretor de projetos do Centro Nacional para Educação sobre a Ciência, ele começou a notar que ataques à ciência da mudança climática estavam repletos de críticas à evolução em iniciativas curriculares. Ele teme que mesmo algumas vitórias na esfera estadual possam ter um efeito sobre o que é ensinado em todo o país.

James Marston, diretor do escritório regional do Texas do Fundo de Defesa Ambiental, afirmou temer que, por causa do tamanho e do processo de aprovação centralizado do estado, sua decisão sobre o caso dos livros didáticos possa ter uma influência exagerada sobre como as editoras preparam conteúdo de ciência para o mercado nacional.

Tradução de Gabriela d’Ávila

sábado, março 06, 2010

BEBA COM MODERAÇÃO

Você já esteve em um convescote? Ou não faz a menor idéia do que seja isso? Para o seu governo, trata-se de um passeio, com refeição, ao ar livre. Mais conhecido como “piquenique”. Palavra originária do inglês picnic.

O assunto destas considerações é mais velho do que andar para a frente: o estrangeirismo. Este opúsculo foi motivado por uma questão abordada pela editora interina do caderno Alternativo deste jornal, a insofismável Carla Melo, tendo como pano de fundo a tragédia no Chile.

Carla perguntou: “Por que aqui no Brasil fala-se tanto ‘tsunami’ em vez de ‘maremoto’?”. E depois de informar que soube por terceiros, quartos e quintos que a pronúncia certa é algo semelhante a “tchunâmi”, em vez do nosso prosaico “tissunami”, ela intimou-me a escrever para este espaço algo que debatesse a presença do estrangeirismo na Língua Portuguesa.

Como se sabe, o estrangeirismo é o processo que introduz palavras vindas de outros idiomas na língua portuguesa. De acordo com o idioma de origem, as palavras recebem nomes específicos, tais como o anglicismo (do inglês), o galicismo (do francês) e o maluquismo (do javanês).

Também é de domínio público a lei nº 1676/99, de autoria do deputado federal Aldo Rebelo, que sugere o uso do português obrigatório em determinadas situações do cotidiano, sendo que qualquer “uso de palavra ou expressão em língua estrangeira, ressalvados os casos excepcionados” na lei “e na sua regulamentação, será considerado lesivo ao patrimônio cultural brasileiro, punível na forma da lei”.

Um tanto exagerado, não? Afinal de contas, o estrangeirismo (gramaticalmente considerado “vício de linguagem” pelos defensores do idioma falado em Pindorama) nada mais é que um recurso de enriquecimento de vocabulário. Mais específico: é uma forma que a linguagem encontra de enriquecer o processo comunicativo. Ou então ninguém se preocuparia tanto em recorrer aos cursos de inglês, francês, espanhol e outros congêneres.

O que preocupa mesmo os puristas da Flor do Lácio é um possível “abuso” da presença, em nosso idioma, de palavras e expressões como beauty hair, saloon, coffee break, shopping, outdoor, selfservice, play, off, delivery, free e personal stylist. Ou seja, as que não encontram correspondente em português. Refiro-me neste momento apenas ao que captamos do inglês, posto que é atualmente nosso segundo idioma (de onde acham que surgiu o nosso “futebol”?

Em tempos idos, o idioma mais importante por aqui era o francês, pois a França era então o país em torno do qual o resto do mundo transitava. Apenas voltando ao universo futebolístico, querem uma palavra que aposto como muitos de vocês pensavam como galicismo? “Placar”, do francês “placard”. Da mesma forma, assimilamos os italianismos (pizza), os espanholismos (guitarra), os germanismos (chope), os eslavismos (gravata) e os arabismos (gravata). Portanto, há um número avassalador de palavras por assim dizer herdadas de línguas com as quais temos um razoável contato, nestes tempos de globalização, nos quais a internet, por exemplo, é uma das ferramentas indispensáveis de interação entre as nações.

Certo, o modismo envolvido na apropriação de “tsunami” no lugar de “maremoto” poderia ser evitado. No entanto, todavia, contudo e não obstante, não vejo esse aspecto como o fim do mundo.

Conclusão: posso considerar tranqüilamente o estrangeirismo até certo ponto necessário para a Língua Portuguesa.

Deve ser bebido com moderação.

Alain Badiou discute o papel político e social do amor

Crítica / "Éloge de L'Amour"

Em novo livro, o filósofo analisa o viés inconformista do sentimento amoroso

VLADIMIR SAFATLE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Alain Badiou é conhecido atualmente por suas intervenções políticas de larga escala na reconstrução do pensamento intelectual de esquerda, assim como por uma obra filosófica fundamental para a compreensão do pensamento francês contemporâneo pós maio de 1968. Diante de tal obra e da virulência de suas intervenções políticas, um pequeno livro como este, que saiu há alguns meses na França com o título de "Eloge de L'Amour" (elogio do amor), pode parecer estranho.

Resultado de uma entrevista com Nicolas Truong, o livro aparentemente visa recuperar este topos clássico da filosofia, ao menos desde Platão, referente ao elogio do amor como modo de relação à alteridade e modelo reconstrutivo de relação social. Algo já presente em seu "São Paulo: A Fundação do Universalismo", lançado no Brasil em 2009 (ed. Boitempo).

No entanto, esse pequeno livro é surpreendente em mais de um aspecto. Sensível às mutações sociais das relações intersubjetivas em uma era marcada pela elevação do medo a afeto social central e da demanda de segurança a motor de justificação das ações políticas, Badiou lembra como a sociabilidade contemporânea parece fascinada pelo "amor seguro contra todos os riscos".

Dos sites de relacionamento que prometem encontros sob medida à implementação terapêutica da lógica mercantil que mede relações a partir de custos e benefícios, encontraríamos sempre o mesmo "amor securitário" cada vez mais hegemônico em nossas sociedades liberais. Algo como "um arranjo prévio que evita todo acaso, todo encontro e finalmente toda poesia existencial, isto em nome da ausência de risco".

Pois um sujeito que age politicamente a partir do medo e do desejo de segurança tende a reconfigurar até suas relações sociais mais privadas a partir dos mesmos afetos. Ele tende a ver, nas relações amorosas, uma forma de contrato que visa "otimizar" os sistemas de interesses de duas pessoas privadas.

Pode parecer, com isto, que estaríamos a um passo da defesa do entusiasmo liberador da ruptura, ou seja, daquilo que o próprio Badiou chama de "concepção romântica e fusional" caracterizada pelo "êxtase do encontro". Mas poderíamos dizer que essas duas posições são complementares em uma recusa fundamental. A recusa em compreender o amor como uma "construção de verdade".

Tal expressão é feliz por inicialmente afirmar que há um regime de verdade que se revela no interior de relações amorosas: "verdade a respeito de um ponto bastante peculiar, a saber, o que é o mundo quando ele é experimentado a partir do dois, e não do um? O que é o mundo examinado, praticado e vivido a partir da diferença, e não a partir da identidade?".

Nessa recuperação filosófica do amor, ele retorna como modelo de uma vivência da diferença capaz de construir mundos a partir de pontos de vista descentrados.

Tal descentramento significa que, nas relações amorosas, os sujeitos não procuram apenas a conformação do outro a um conjunto de expectativas e imagens fantasmáticas prévias. Eles procuram, mesmo sem saber, esse ponto onde o outro resiste a sua submissão pelo pensamento identitário do Eu.

Ponto no qual o outro é capaz de dizer: "Você não vai me dobrar", não como alguém que impõe uma recusa, mas como alguém que instaura um amor capaz de nos levar a uma região rara onde encontramos coisas desprovidas de gramática, onde precisamos apreender a amar coisas desprovidas de gramática.

Saber construir e durar diante de coisas que parecem desestruturar a gramática de nossos desejos: eis uma idéia de Badiou que, como tudo o que ele escreve, não deixa de ter claras consequências políticas em uma era de culto às fronteiras.

VLADIMIR SAFATLE é professor do departamento de Filosofia da USP

ELOGE DE L'AMOUR

Autor: Alain Badiou
Editora: Flammarion
Quanto: 12 ou R$ 42,84 (90 págs.)
Avaliação:ótimo

quarta-feira, março 03, 2010

País só cumpre 33% de metas de educação

Relatório mostra que ainda há alta repetência,
a taxa de universitários é baixa e o acesso
à educação infantil está longe do proposto

Estudo de pesquisadores de universidades federais
abrange o período de 2001 a 2008, incluindo dois anos
de governo FHC e seis de Lula


ANGELA PINHO
LARISSA GUIMARÃES

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Enquanto petistas e tucanos fazem alarde dos seus feitos na educação, um dos levantamentos mais abrangentes já realizados sobre a última década revela que os avanços na área foram insuficientes. Apenas 33% das 294 metas do Plano Nacional de Educação, criado por lei em 2001, foram cumpridas.

Relatório obtido pela Folha, feito sob encomenda para o Ministério da Educação, aponta alta repetência, baixa taxa de universitários -apesar dos programas criados nos últimos anos- e acesso à educação infantil longe do proposto.

O estudo, que abrange o período de 2001 a 2008, foi feito por pesquisadores de universidades federais, com apoio do Inep (instituto de pesquisa ligado ao MEC).

O plano foi criado com o objetivo de implantar uma política de Estado para a educação que sobrevivesse às mudanças de governo. As metas presentes nele são de responsabilidade dos três entes federados, mas municípios têm mais atribuição pela educação infantil e fundamental; Estados, pelo ensino médio; e a União, pela articulação de políticas.

O estudo traz indicadores relativos ao período de 2001 a 2008 -dois anos de governo FHC e seis de Lula. Para muitas metas, não há nem sequer indicador que permita o acompanhamento da execução.

Em outros casos, em que há indicadores claros, há um longo caminho pela frente. A educação infantil é um exemplo.

O plano previa que 50% das crianças de 0 a 3 anos estivessem matriculadas em creches até 2010. É o que a faxineira Adriana França dos Reis, 32, desejava para sua filha, que chegou aos quatro anos sem conseguir vaga. "Quanto mais cedo ela entrar na escola, sei que mais longe ela vai chegar", diz. Segundo o IBGE, só 18,1% das crianças de até três anos estavam em creches em 2008.

Já o ensino fundamental foi quase universalizado e aumentou de oito para nove anos.

No ensino médio, o obstáculo é já no atendimento. Na faixa etária considerada adequada para a etapa (15 a 17 anos), 16% estão fora da escola. Na educação superior, o plano estabelecia uma meta de 30% dos jovens na universidade. Em 2008, o índice estava em 13,7%.

O objetivo número um na educação de jovens e adultos, a erradicação do analfabetismo, está longe de ser alcançado. O Brasil ainda tem 14 milhões de pessoas de 15 anos ou mais que não sabem escrever.

Para João Oliveira, professor da UFG (Universidade Federal de Goiás) e um dos responsáveis pela pesquisa, uma das principais causas dos problemas na execução do PNE foi o veto à meta que previa um aumento expressivo nos recursos destinados à educação: 7% do PIB em educação até 2010.

Prevista na proposta aprovada no Congresso, foi vetada por FHC, que terminou seu mandato com um investimento de 4,8%. A decisão do tucano foi duramente criticada por petistas, que, em 2007 (dado mais recente disponível), já no poder, tinham aumentado o percentual apenas para 5,1%.

Sem financiamento, diz Oliveira, o plano acabou perdendo força, pois impôs deveres aos governos sem viabilizar recursos para o cumprimento deles.

Serra joga parado, mas quer preferência

ELIO GASPARI

O PSDB quer o pós-Lula,
mas como não o explica,
pode estar criando o pré-Dilma

JOSÉ SERRA e o PSDB precisam se lembrar das palavras do técnico de futebol Gentil Cardoso: "Quem se desloca recebe, quem pede tem preferência". O governador de São Paulo e o tucanato não se deslocam e não pedem, mas querem a preferência da patuleia. O resultado está aí: seis meses antes do início do horário gratuito de televisão, Dilma Rousseff, o poste de Lula, encostou no grão-tucano.

O PSDB está preso numa armadilha que construiu com nervos de aço e cérebros de Bombril. Tem um candidato que não diz que é candidato, mas também não se animou a disputar prévias contra Aécio Neves que, por sua vez, também não insistiu muito no assunto.

Habitualmente, os candidatos negam suas pretensões para esconder o jogo. Esse não parece ser o caso de Serra. É provável que ele esteja em dúvida e o precedente histórico leva água para essa hipótese. Em 2006, ficou a impressão de que ele se afastou da disputa porque a candidatura de Geraldo Alckmin dividia o partido, mas o principal motivo de seu recuo foi o medo de trocar uma provável eleição para o governo de São Paulo por uma segunda derrota na disputa pelo Planalto.

Em dezembro de 2008, Serra tinha entre 41% e 47% das preferências no Datafolha e Dilma, no máximo, 11%.

Contrariando as melhores expectativas do tucanato, a candidata de Nosso Guia chegou a 28% e Serra caiu para 32%. A ascensão do poste deve-se exclusivamente ao patrocínio de Lula e ao julgamento favorável que a opinião pública faz de seu governo. Quem acha que essa afirmação é exagerada pode enumerar três ideias próprias da candidata. Conseguindo, ganha uma viagem a Cuba. Durante a campanha, seus adversários enumerarão as leviandades e malfeitorias encontradas nos projetos do trem-bala (antes de ser entregue ao BNDES) e da banda larga para a internet, mas essa discussão mal começou.

A pergunta de R$ 1 milhão continua no ar: admitindo-se que Serra queira ser presidente, o que é que ele pretende fazer? Ou ainda, o que é que o tucanato tem a oferecer? Alguém lembra o que Alckmin propunha? Detestar Nosso Guia ou ter horror ao PT e aos seus mensaleiros pode ser um desabafo, mas não é uma solução. Se o PSDB acha que pode disputar uma eleição presidencial denunciando o contubérnio nuclear de Lula com o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, problema dele.

Como ensinava Ulysses Guimarães: "O Itamaraty só dá (ou tira) voto no Burundi".

A voz mais articulada e insistente do oposicionismo tucano é a do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Sua corte reúne sábios de agenda vencida, como os marqueses do Império que se reuniam em Paris para falar mal do marechal Floriano Peixoto.

Sete anos depois de ter saído do Planalto, falta ao PSDB uma crítica propositiva do mandarinato petista. Agenda negativa, o tucanato teve, mas enferrujou. O mensalão rendeu, até o momento em que arranhou as contas da campanha do senador Eduardo Azeredo, que à época presidia o partido. Passaram-se cinco anos e o encosto reapareceu na administração de seu aliado José Roberto Arruda. Aécio Neves chegou a criar a expressão "pós-Lula", mas ninguém sabe o que isso significa em termos de salários, saúde, segurança e educação. Desse jeito, quando o PSDB acordar, descobrirá que criou o pré-Dilma.