segunda-feira, maio 31, 2010

Afinal, Beethoven pode não ter morrido de envenenamento por chumbo

THE NEW YORK TIMES

James Barron

Os cientistas começaram a especular sobre o que de fato matou Ludwig van Beethoven quase tão rápido quanto ele foi enterrado em 1827. Ele reclamou de uma “existência miserável” com uma longa lista de sintomas: dores abdominais, problemas digestivos, cólica, bronquite crônica, odores corporais e muito mau hálito. E é claro, também havia o problema de audição.

Há treze anos, cientistas, incluindo um que havia investigado se Napoleão morreu por envenenamento de arsênico e se a pintura do Santo Sudário datava da época de Cristo, testou fios de cabelo de Beethoven e descartou a sífilis como causa da morte. Inesperadamente, eles encontraram sinais de uma exposição aguda ao chumbo.

Há cinco anos, testes de diferentes amostras do cabelo de Beethoven e de um pequeno pedaço de seu crânio apontaram novamente para o chumbo. Isso, dizem os estudiosos de Beethoven, pode explicar seu temperamento infame e seus ocasionais lapsos de memória. Alguns acreditam que ele bebeu muito vinho barato que era adoçado – ao costume do século 19 – com chumbo para esconder o gosto amargo.

Mas na semana passada o especialista em envenenamento por chumbo na Escola de Medicina de Mount Sinai em Nova York testou as mesma amostra do crânio de Beethoven que havia sido examinada em 2005, junto com outro fragmento ainda maior. O pesquisador, Andrew C. Todd, disse que no geral, não descobriu mais chumbo do que o que é encontrado na maioria das pessoas.

“Beethoven não teve uma exposição alta e longa ao chumbo”, disse Todd, “então acho que podemos parar de olhar para o chumbo como um fator importante em sua vida.”

As descobertas de Todd no Mount Sinai surpreenderam William R. Meredith, um estudioso de Beethoven que havia carregado os fragmentos do crânio para Nova York desde sua base na Califórnia. Ele disse que esperava que os testes de Todd mostrassem elevados níveis de chumbo, porque os testes anteriores haviam revelado que a quantidade no cabelo de Beethoven era bem acima do normal.

“É uma volta a estaca zero para os cientistas e médicos”, disse Meredith.

Ele falou que os testes de Todd foram valiosos por mostrar o quanto – ou, como foi descoberto, o quão pouco – de chumbo havia nos fragmentos do crânio. Todd prometeu medições precisas, e depois de dois dias de testes no Mount Sinai, ele disse que o fragmento maior do crânio tinha 13 microgramas de chumbo por grama, “nada excepcionalmente acima do que nos poderíamos esperar” num homem com a idade de Beethoven, que morreu aos 56 anos.

O fragmento menor registrou bem mais – 48 microgramas por grama – e ele não soube explicar a diferença. A exposição ao chumbo é cumulativa, disse Todd, então o nível costuma aumentar à medida que a pessoa envelhece, mesmo que ela não se exponha à concentrações grandes de, por exemplo, tinta de chumbo.

Meredith disse que se os testes não mostraram o que matou Beethoven, pelo menos eles indicaram o que pode ser descartado como causa de sua morte.

“As pessoas perguntavam se ele morreu por beber vinho de ameixa, por mastigar seu lápis, por comer peixe envenenado”, diz Meredith, professor da Universidade Estadual de San Jose e diretor do Centro Ira F. Brilliant para Estudos de Beethoven. “Agora sabemos que todas essas perguntas são desnecessárias. Não precisamos mais investigar a exposição tóxica ao chumbo.”

William J. Walsh, um pesquisador foerence de Illinois que coordenou os primeiros testes, notou que Todd havia testado apenas fragmentos de crânio, e não amostras de cabelo. Mas concordou com a ideia de que a exposição de Beethoven ao chumbo foi um problema de curta duração que apareceu já no fim de sua vida.

Como os testes de Walsh, alguns dos quais conduzidos no Laboratório Nacional Argonne em Illinois, a análise do Mount Sinai envolveu várias medições com raio X fluorescente. Todd disse que o material do crânio era similar ao material encontrado nos ossos da perna que ele estuda para determinar se uma pessoa sofreu envenenamento por chumbo. A doença é conhecida por causa irritabilidade, falta de energia, dores de cabeça, e por fazer com que os músculos pareçam fracos: todos sintomas coerentes com os de Beethoven.

Aos 56 anos, Beethoven teve problemas de saúde. Ele passou por várias drenagens abdominais para eliminar fluidos e, na época em que morreu, um dos tratamentos era a base de bebidas de fruta. Seu médico “havia percebido – ou talvez soubesse há muito tempo – que Beethoven gostava de vinhos fortes”, escreveu o biógrafo Edmund Morris em “Beethoven: The Universal Composer” [“Beethoven: O Compositor Universal”] (HarperCollins, 2005). “Como era de se esperar, Beethoven abusou dessa prescrição, e passou a ficar bêbado e sofrer de diarreia.”

Alguns médicos modernos sustentam que há sinais de doença coronária. Outros especulam sobre o lupus.

“Seus últimos anos foram muito miseráveis”, disse Susan Kagan, pianista que é estudiosa de Beethoven e professora emérita do Hunter College em Nova York. “Ele sofreu muito fisicamente. Há um grito de dor atrás do outro em suas cartas. Não sei se ele foi maltratado pelos médicos, mas eles não sabiam muita coisa naquela época, em comparação com o que sabem hoje. Derramaram óleo quente dentro de seus ouvidos. Você imagina como isso deve ter doído?”

O corpo de Beethoven foi exumado em 1863, junto com o corpo de Franz Schubert, que foi enterrado no mesmo cemitério em Vienna. “O principal objetivo era, é claro, recuperar os crânios”, escreveu um amigo de Beethoven, que levou vários pedaços do crânio do compositor para casa e os colocou com orgulho ao lado de sua cama. Entre estes pedaços estavam os dois que Todd testou no Mount Sinai.

“O que descobrimos não elimina a possibilidade de que ele tenha sido intoxicado de forma aguda pelos unguentos que eram colocados na ferida abdominal”, disse Todd. Mas isso não o teria matado, acrescentou.

Tradução: Eloise De Vylder

A VIDA DOS LIVROS - de 31 de Maio a 6 de Junho de 2010

“O Chiado Pitoresco e Elegante” de Mário Costa (2ª edição, 1987) é um repositório de memórias despretensiosas sobre um lugar fundamental para a compreensão da cidade de Lisboa. Aqui foi o limite da cidade quando se fez a muralha fernandina, aqui foi estabelecido o culto aos Mártires de Lisboa desde a reconquista, aqui eram as Portas de Santa Catarina… E nos dois últimos séculos aqui se passou tudo o que de mais relevante teve a história de Lisboa – de Eça de Queiroz a Almada Negreiros, aqui a criatividade e a inovação campearam…

CENTRO DE GRAVIDADE
Lisboa tem como centro de gravidade o Chiado. Não é, porém, apenas uma placa giratória, é uma referência de vários tempos e de diversas gerações. Naturalmente que a Lisboa pombalina é uma marca indelével, contudo, só se compreende a personalidade citadina através do Chiado e da sua História. Gustavo de Matos Sequeira disse, por isso: “o Chiado é um símbolo em Lisboa; é um corpo doutrinário de princípios alfacinhas, é a síntese romântica do século XIX, como foi a síntese do gongorismo político de 1600. É sua excelência – o Chiado”. E Luís de Oliveira Guimarães, que ainda conheci como um intérprete singularíssimo, que se confundia com o próprio Chiado, afirmou: “Pode S. Bento ter-se convertido no símbolo da Política; o Terreiro do Paço no símbolo da Burocracia; a Rua das Capelistas no símbolo da Finança; o Chiado alcançou o privilégio de os superar a todos, porque se converteu no símbolo do Bom-Tom. Passando a pontificar na Literatura e na moda, consequentemente os homens de letras passaram a escrever para o Chiado, os janotas a apurar-se para o Chiado, as Senhoras a vestir-se para o Chiado”. Razão tem José-Augusto França ao dizer que a capital de Lisboa é o Chiado! Assim o Chiado tornou-se, ao longo do tempo uma verdadeira “instituição nacional”. E a quem se deve a designação do Chiado? Talvez a António Ribeiro Chiado, o poeta que por aqui viveu no século XVI ou talvez a Gaspar Dias, o Chiado, possuidor de uma venda de comes e bebes próximo da esquina da Rua do Carmo com a actual Rua Garrett. Mas não importa saber quem foi verdadeiramente o Chiado, o que interessa é dizer com Eça de Queiroz: “o que um pequeno número de jornalistas, de políticos, de banqueiros, de mundanos decidir no Chiado que Portugal seja – e que Portugal é”. Talvez não seja já exactamente assim. Mas a verdade é que, depois do tremendo incêndio de 1988, Lisboa e o País ficaram órfãos do Chiado – e se, num primeiro momento, se suspeitou que a instituição nacional poderia ter sido ferida de morte, a verdade é que a ressurreição foi possível, com inteligência e muito esforço. O Chiado esteve condenado. Deixou de ser o lugar mágico de que não se poderia prescindir.

MALES QUE PODEM VIR POR BEM
Mas há males que vêm por bem, e a reconstituição levou gradualmente (com uma lentidão por vezes exasperante) a que a vida retornasse ao Chiado. Álvaro Siza Vieira reforçou a personalidade antiga. E o novo Chiado não fez esquecer o antigo, antes o recorda e reforça. Mas teve de haver uma âncora inovadora a trazer de volta as pessoas ao Chiado – e que melhor do que a literatura para fazê-lo? Foram os livros, os discos, a informática da FNAC que fizeram a diferença e que atraíram, pela novidade, novos públicos ao Chiado, para fazer reviver a velha glória, que renascia jovem e sofisticada, moderna e atraente. A vida começou a regressar ao Chiado, atraindo aqueles que começam a ficar cansados da sensaboria dos centros comerciais, em que o ar condicionado nunca poderá substituir o contacto directo com os elementos da cidade. Mas o comércio renascido não foi o tradicional, o que conhecíamos antes. Desde o incêndio até ao renascer já tinha passado uma geração. E uma geração nova exige novidade. Obriga a coisas novas, de sabor cosmopolita, com lojas, galerias de arte, música, museus, teatro, tertúlias, clubes, cafés literários – numa palavra, tudo o que pudesse fazer regressar à vida uma instituição nacional. De facto, a História só faz sentido e merece ser recordada se se traduzir nos dias de hoje em algo sentido e vivido. Se o café de agora não tiver qualidade, de nada valerá lembrarmo-nos do cheiro dos cafés antigos se hoje não forem mais do que memórias remotas ou sombrias reminiscências de uma decadência que nos desgosta. A Livraria Bertrand, a antiga, a Brasileira do Chiado, a Casa Pereira da Conceição recuperaram o brilho antigo porque renasceram no ambiente actual, beneficiando de tudo o que era novo, e de todos os que ou morreram ou não puderam regressar ao eterno Chiado. Podemos, assim, fechar os olhos e lembrar-nos do Chiado antigo (do elevador do Ramiro Leão, do José Alexandre, da antiga Ática, do Jerónimo Martins), certos de que o lugar moderno que nos é dado ver quando regressamos ao presente nos é acolhedor, à luz de critérios actuais. Lembramo-nos do velho Gualdino Gomes a pedir ao empregado da Brasileira um bolo fresco com um café, e a insistir na pergunta sobre se estava mesmo fresco. O criado respondeu: “Acabou mesmo de chegar!”. Ao que o crítico disparou irónico: “Ora essa, eu sou muito velho e também acabo de chegar…”. Gualdino tinha razão. Para ser fresco no Chiado não basta acabar de chegar, é fundamental chegar como se fosse a primeira vez, como ensinou Almada Negreiros, primeiro dos heróis do Chiado moderno. “Chegar a cada instante pela primeira vez” – Almada escreveu-o à mão para Maria Germana Tânger, e aprendi de cor esse ensinamento lendo-o e relendo-o na sala do Largo de S. Carlos, em casa da mestra da arte de dizer, no centro do Chiado. Mas afinal os monumentos históricos só fazem sentido se não se arruinarem na decadência e no esquecimento. O antigo Café Marrare do Polimento é ainda lembrado porque o Chiado vive. Pinto de Carvalho (Tinop) chamou-lhe “o mais notável pasmatório do Chiado, o primeiro palratório da velha Olisipo”… Aí se encontravam Passos Manuel, Herculano e José Estêvão. Mas depois veio o Grémio Literário e o seu sucesso, criado em oposição ao Cabralismo. E há quem atribua o fim do Marrare à voga do Grémio. O certo, porém, é que se instalava a moda dos clubes, à inglesa, antecâmara política dos partidos e dos arranjos governamentais. Alexandre Herculano lançou da Ajuda para o Chiado as bases da Regeneração e do rotativismo – como forma de representar o País real, que estivera de armas na mão em guerra civil. Mas havia ainda o Turf e o Tauromáquico, lugares de encontro de gente endinheirada. E no século XX, António Ferro criaria o Círculo Eça de Queiroz, marca de uma outra época mas do espírito do Chiado – retratado por Bernardo Marques, com o traço inconfundível, que misturava pessoas com fantasmas e fantasmas com fantasmas, desde os frequentadores reais do Chiado aos imaginários e inconfundíveis heróis da narrativa queiroziana. Fradique Mendes abanca em qualquer das mesas do Chiado, e faz daí mote e glosa para longas cavaqueiras.

TANTAS RECORDAÇÕES

Lá está a Casa Havaneza, onde se compravam os melhores puros e o tabaco mais requintado de Lisboa. Era o Club des Bavards da Princesa Rattazi ou apenas uma Academia da Má-Língua. Eça imortalizou a Havaneza, lugar de encontro obrigatório de quem se prezasse. “O Chiado, muito claro, estava na sua hora viva, e Artur (em “A Capital!”) direito no assento, ia devorando com os olhos os lugares que amava: a Casa Havaneza, a janela do seu quarto, lá em cima no Universal – que ferro ir-se! – e o Baltresqui, com os ‘lunchs’ às duas horas, e o Godefroy, onde comprava frasquinhos de feno para a Concha!”. E como não lembrar o tímido Cesário – acusando de troca-tintas quem lhe chamou Azul… No abaixo acima do Chiado há, já o dissemos, a Bertrand, onde trabalhou José Fontana, amigo íntimo de Antero. António José Saraiva colocou, aliás, esses dois amigos no centro da magnífica “Tertúlia Ocidental”. E havia o Jerónimo Martins, casa que comercializava os azeites de Herculano, que vinha a Lisboa fazer contas dos livros na Bertrand e dos produtos agrícolas na Mercearia Fina. E, falando da Bertrand, temos um ror de figuras, desde Aquilino, Raul Brandão, Raul Proença, Teixeira de Pascoaes, Anrónio Sérgio, Carlos Malheiro Dias, Afonso Lopes Vieira, Reinaldo dos Santos, Abel Manta, Manuel Mendes, Vitorino Nemésio e tantos, tantos outros. Na Brasileira, onde iam tantos frequentadores da Bertrand, pontificavam os artistas. Aí poderemos lembrar Jorge Barradas, António Soares, Eduardo Viana, José Pacheko, Almada Negreiros, Bernardo Marques, Ofélia Marques e Stuart de Carvalhais. O grupo do Orpheu aqui teve um dos seus pontos de irradiação. Hoje, Lagoa Henriques imortalizou essa geração, sentando a uma das mesas Fernando Pessoa, ele mesmo. Imaginariamente, estão em espírito, sentados com ele Almada, Sá Carneiro, Luís Montalvor, José Pacheko e António Ferro. Se entre o Hotel Braganza e o Tavares Rico se moviam os Vencidos da Vida, entre a Brasileira, o Teatro S. Luís e o Chiado Terrasse estavam os modernistas – escandalizado e abalando os fundamentos frágeis da sociedade lisboeta. É o Chiado eterno que se move, cheio de celebridades antigas. Já quase se perdeu a lembrança da Muralha Fernandina, das Portas de Santa Catarina, do Neptuno e do tritão (que agora foi lá para os lados da Estefânia), das grandes festividades que rodearam a inauguração da estátua de Camões, do escândalo causado pela estátua de Eça de Queiroz – sob o manto diáfano da fantasia, a nudez crua da verdade… Mas recordamos a despedida desesperada de Luísa, à porta da Basílica dos Mártires, com o Conselheiro Acácio incapaz de compreender o embaraço da protagonista de “O Primo Basílio”. O Chiado é um mundo. Continua a ser um mundo. Sophia de Mello Breyner, Francisco Sousa Tavares, Fernando Amado, ainda Almada Negreiros (sempre ele), António Alçada Baptista, Helena Vaz da Silva – ainda pontificam no Centro Nacional de Cultura. As memórias mais antigas misturam-se com as mais modernas. Chiado, crónica de uma queda e de um renascimento. É o que podemos dizer agora, por entre mil recordações…

Guilherme d'Oliveira Martins

domingo, maio 30, 2010

Cientista ataca Big Bang e visão "estreita" dos físicos

Para Mário Novello, muitos viraram apenas "técnicos muito competentes'

Pesquisador critica a preocupação excessiva com carreira e prêmios; para ele, dados poderão provar Universo eterno

DE SÃO PAULO

Para Mário Novello, físico do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, no Rio de Janeiro, a cosmologia virou, com frequência, "uma coisa trivial, simplesmente saber qual porcentagem de matéria dessa categoria ou daquela tem no Universo". ]

Tão preocupante quanto isso, diz, é o esnobismo dos cientistas com a filosofia e a metafísica, que os impede de refletir sobre o que fazem. São apenas "técnicos extremamente competentes".

Novello está lançando o livro "Do Big Bang ao Universo Eterno" (Zahar), que resume sua defesa da ideia de que o Big Bang não foi o começo de tudo. Segundo ele, essa interpretação está conquistando cada vez mais físicos. Confira a entrevista abaixo.

(RICARDO MIOTO)

Folha - A ideia de um universo eterno está conquistando os físicos?
Mário Novello -
Ninguém tem dúvidas de que o Universo esteve muito condensado no passado. O problema foi a identificação daquele momento, em que começa a expansão, como o começo de tudo. Sou contra definir o Big Bang como o marco zero. Isso é contra a atitude científica. Mas o cenário está mudando. Entre os cientistas há uma tendência a aceitar que chegou o momento de ir além do Big Bang como o começo.

Mas, quando jovem, o sr. não era partidário do Big Bang como o começo de tudo?

Eu não era. Era uma questão de princípio. A ciência é a tentativa de explicar racionalmente tudo que existe. Eu sabia muito bem que a ideia de singularidade [a concentração de toda a massa do Universo em um único ponto que teria dado origem a tudo que se conhece] significava abdicar de fazer ciência ao longo de toda a história do Universo, significava dizer que a ciência tinha limite. Eu não podia aceitar isso.

Na minha época, havia uma visão global do que era atividade humana. Havia cadeira de filosofia, de sociologia, tínhamos contato com o mundo. Existe uma falta de fundamentos, hoje, do que é fazer ciência. Você pode ser um técnico extremamente competente, mas fora da área técnica pode ser um ignorante completo, sem saber o que está por trás do que você está fazendo na sua área.

Mas aparentemente a maioria dos físicos ainda discorda do sr. sobre o Big Bang...
Se você entrevista cem físicos, 98 dizem que o Big Bang é verdade e dois malucos dizem que não. É razoável que a mídia fique em dúvida. Primeiro você precisa ver quem são essas pessoas. Eu criei a cosmologia no Brasil, tive mais de 50 alunos de doutorado, você precisa ver que não sou um bobo. Mudanças são lentas. E você sabe que os cientistas são extremamente reacionários.

Ser minoria não incomoda?
Quando você faz ciência, você precisa dialogar com a natureza, e não com os seus colegas. Se o seu objetivo é ganhar uma bolsa, ganhar fama, ganhar prêmio, isso não é ciência. Pode ser no mundo em que a gente vive. Estou pouco me importando com a opinião dos outros. Mas isso não significa isolacionismo, porque publico em revistas científicas.

Mas o senhor já tem uma carreira estabelecida. Um doutorando não deveria se preocupar com os pares?
Não deveria. Se ele começa a se preocupar lá, vai se preocupar a vida toda. Hoje em dia a cosmologia virou uma coisa trivial, ridícula, simplesmente saber qual porcentagem de matéria dessa categoria ou daquela tem no Universo. Isso não tem interesse nenhum. Quando começa a entrar nesse estágio, é o momento de mudar.

É possível fazer com que os cientistas se preocupem menos com os pares?
Ainda não conseguimos controlar a vaidade. É um sistema todo de premiação, bolsa disso, prêmio Nobel, tudo valoriza o indivíduo. E dá impressão de que, se você não valoriza o indivíduo, ele não vai fazer nada. E o prazer em fazer as coisas? O Garrincha dava de dez a zero em qualquer um desses caras aí de hoje em dia. E morreu com dez mil réis no bolso.

Você vai dizer que o exemplo que eu estou dando é de um maluco, uma pessoa totalmente pirada, uma mentalidade que nunca saiu dos 12 anos de idade. Tudo bem, é um exemplo extremo. Mas mostra que algo se perdeu.


Mas a vaidade sempre existiu, não?
Sim, claro, sempre existiu. Nem estou dizendo que o sistema, antigamente, era diferente. O que estou querendo dizer é que a razão pela qual Newton fazia aquilo não tinha nada ver com a razão pela qual um bolsista faz as coisas hoje em dia.

No caso do Big Bang, há expectativa de que alguma observação possa dar mais respostas sobre a sua legitimidade como marco zero?
Sim. Já foi lançado o satélite Planck. Ele, nos próximos anos, poderá ajudar a dizer, observacionalmente, se houve uma fase anterior ao colapso. Existe uma possibilidade de que o Universo esteja se acelerando. Ela surgiu de uns dez anos para cá. Isso não bate com as previsões do Big Bang como singularidade, como começo de tudo. Se o Universo estiver se acelerando, então aquilo que sustentou durante mais de 25 ou 30 anos o Big Bang acabou.

quarta-feira, maio 26, 2010

Rede quer liberação da reprodução "sem finalidade de lucro" de obras; um em cada três livros universitários está esgotado

Da Redação
Em São Paulo


Um grupo de 20 organizações realiza um ato pela revisão da Lei de Direitos Autorais (Lei nº 9.160/98) nesta quarta (26), às 19h, em São Paulo. Nessa ocasião, a “Rede pela Reforma da Lei dos Direitos Autorais" vai pedir abertura de consulta pública da legislação.

“O Brasil possui uma das leis mais rígidas do mundo", diz Guilherme Varella, advogado do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), um dos integrantes da rede. "Precisamos de algo mais flexível, que facilite o acesso às obras por todos, uma lei mais adequada à nova realidade digital. O direito autoral tem o papel de proteger o autor, mas também de garantir os direitos fundamentais à educação e à cultura", completa.

Em sua carta-manifesto, o grupo tem como primeira medida a "permissão da cópia integral privada sem finalidade de lucro". De acordo com a legislação atual -- dependendo da interpretação dada -- tirar cópias de um capítulo de um livro poderia ser considerado "ofensa aos direitos autorais".

Interpretação diferente
No artigo 46, inciso II, a lei é vaga ao determinar o que não é "ofensa aos direitos autoriais". O texto na íntegra é: "a reprodução, em um só exemplar de pequenos trechos, para uso privado do copista, desde que feita por este, sem intuito de lucro". Não se determinam, no entanto, o que seriam esses pequenos trechos ou quem poderia ser o "copista".

Segundo uma publicação do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas para o Acesso à Informação da Universidade de São Paulo, equanto a comunidade universtitária compreende como "pequenos trechos" um capítulo de um livro, boa parte das editoras entendem que a expressão se refere "uma parte não substantiva, tais como uma página, desde que fosse feita pela própria pessoa, sem intuito de lucro, o que impedia a solicitação de cópias a uma empresa".

As editoras também compreendem, segundo a publicação"O Mercado de Livros Técnicos e Científicos no Brasil", que a interdição de lucro (com a reprodução dos livros) se refere às empresas de reprografia, ou seja, os quiosques de xerox comuns nas faculdades e universidades. Na interpretação da comunidade acadêmica, o estudante não deve vender a cópia, mas não precisa que ele seja o indivíduo que vai à máquina copiadora para executar ele mesmo a reprodução.

Livros esgotados
Nessa mesma publicação da USP (Universidade de São Paulo), um levantamento em dez cursos de graduação mostram que, em média, um terço dos livros utilizados como bibliografia obrigatória estão esgotados. O percentual varia de 9,3% (em lazer e turismo) a 51,02% (ciências da atividade física).

Publicado em 2008, o estudo trouxe outra conclusão: "Em todos os cursos, para mais de três quartos dos estudantes, os custos anuais para a compra de livros está muito próximo da totalidade da renda familiar mensal ou mesmo a ultrapassa". O levantamento excluiu aquele um terço da bibliografia esgotada e a renda dos estudantes foi estimada com base em informações da Fuvest, a fundação que seleciona alunos para a USP.

Escritor Vargas Llosa chama política externa de Lula de irresponsável

DA EFE, EM JERUSALÉM

O escritor peruano Mario Vargas Llosa criticou hoje (26) com dureza lideres latino-americanos como o cubano Fidel Castro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o venezuelano, Hugo Chávez, em um discurso na Universidade Hebraica de Jerusalém.

"Há uma contradição entre a política interna e a externa de Lula. Sua política interna é responsável e sua política internacional é irresponsável e demagógica, ao abrir as portas do Brasil e, com elas, as da América Latina, a pessoas como (o presidente iraniano, Mahmoud) Ahmadinejad", disse Llosa.

Vargas Llosa também afirmou que Fidel Castro é "pré-histórico" e que Chávez é um "aprendiz de ditador". O escritor fez os comentários em uma conferência na universidade, como parte de uma reunião internacional sobre as múltiplas perspectivas da América Latina.

Em um discurso de uma hora, Vargas Llosa falou sobre a situação política, social e literária na América Latina. O escritor peruano também foi recebido com sua família esta manhã pelo presidente de Israel, Shimon Peres.

O PRIMEIRO PASSO

“Muitos anos depois, em frente ao pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendía haveria de recordar aquela tarde remota em que o seu pai o levou a conhecer o gelo”.
A primeira frase pode condenar ou imortalizar uma história. Por assim dizer é o cartão de visitas de uma obra. Caso seja bem-sucedida, o leitor passa facilmente dela para a segunda, desta para a terceira e assim sucessivamente – até consumir o livro todo.
O primeiro caso é exemplar. Gabriel García Márquez optou dar início a Cem anos de solidão com o interessante recurso do flashback. Ele procura manter a curiosidade do leitor. Quem é o coronel Aureliano Buendía? O que fez para merecer o pelotão de fuzilamento? Para obter as respostas a essas e outras questões, só “enfrentando” a saga da família Buendía.
Machado de Assis era mestre em primeiras frases. Que tal esta: “Quatro ou cinco cavalheiros debatiam, uma noite, várias questões de alta transcendência, sem que a disparidade dos votos trouxesse a menor alteração aos espíritos” (O espelho)? Ou esta: “A coisa mais árdua do mundo, depois do ofício de governar, seria dizer a idade exata de D. Benedita” (D. Benedita). Exemplos perfeitos sentenças curtas, secas e bem-humoradas que marcaram o Realismo e o Naturalismo.
O maranhense Ferreira Gullar não fica a dever. Em O benefício da dúvida, afirma: “Difícil é lidar com donos da verdade”. Seguiu a tendência das frases de efeito praticada por Leon Tolstoi: “Todas as famílias felizes se assemelham; mas cada família infeliz é infeliz a seu modo” (Ana Karenina). Jane Austen, em Orgulho e preconceito: “É uma verdade universalmente reconhecida que um homem solteiro na posse de uma bela fortuna necessita de uma esposa”. Outros preferiram a evocação heróica: “Chamai-me Ismael” (Herman Melville, Moby Dick).
Em O Ateneu, de Raul Pompéia, há uma primeira frase que tem aroma e sabor de clássico: “Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. Coragem para a luta”. Anoto aqui também uma passagem inicial de que gosto muito: “Os que se dedicam à crítica das ações humanas jamais se sentem tão embaraçados como quando procuram agrupar e harmonizar sob uma mesma luz todos os atos dos homens, pois estes se contradizem comumente e a tal ponto que não parecem provir de um mesmo indivíduo” (Da incoerência de nossas ações, de Michel de Montaigne).
Apenas para mencionar mais um clássico da literatura universal, temos a largada de Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes Saavedra: “Num lugar da Mancha, de cujo nome não quero lembrar-me, vivia, não há muito, um fidalgo, dos de lança em cabido, adarga antiga, rocim fraco, e galgo corredor”.
Já demonstramos, com Ferreira Gullar, que a literatura maranhense também tem bons exemplos. O outro é este: “O que foi se diga, em honra da finada: nesta Ilha do Maranhão e, sobretudo, nos arrabaldes desta cidade de São Luís nunca houve nem jamais haverá mulher a quem um bumba-meu-boi tanto empolgasse como Maria Arcângela, urdideira de profissão, nascida nas primeiras palhoças de invasão, que o povo fez, bem ali na Quinta de Dona Berila e que depois, ele mesmo, o povo, gonjoso inconsciente do dom provinciano de bem falar o português, numa figura de palavra, gramaticalmente codificada, rebatizou com o nome de Belira (Maria Arcângela, de Erasmo Dias).
Fazer uma coletânea de melhores primeiras frases, contando apenas com a memória (minha biblioteca, que facilmente poderia fornecer o material de pesquisa adequado) é um desafio e tanto. Todavia, os apaixonados pelo livro e pela literatura hão de concordar comigo que o começo de A metamorfose, de Franz Kafka, não poderia ficar de fora: “Numa manhã, ao despertar de sonhos inquietantes, Gregório Samsa deu por si na cama transformado num gigantesco inseto”.
A Bíblia, é claro, não poderia ficar de fora dessa lista. Para sempre o best-seller mais vendido e o mais lido conta como primeira frase simplesmente o relato da criação do universo e deste teatro do absurdo: “No princípio criou Deus os céus e a terra”. Um pequeno e importante preâmbulo para tudo o que vem depois, nesse grande livro, em termos de ação, romance, aventura, filosofia, reflexão e o que mais um leitor deseja encontrar em obras desse porte. Tudo em um pacote só.

segunda-feira, maio 24, 2010

Lula negocia para assumir a ONU ou o Banco Mundial

Líderes de França, Espanha e Portugal
apoiam indicação do brasileiro

Tanto o petista como o chanceler Celso Amorim
já tocaram no tema com outros líderes mundiais e diplomatas próximos

KENNEDY ALENCAR
DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciou articulações com outros líderes mundiais para definir seu futuro após deixar o cargo. Gostaria de virar secretário-geral de uma renovada Organização das Nações Unidas ou de presidir o Banco Mundial.

A Folha apurou que Lula já tratou dos dois temas com outros presidentes e primeiros-ministros. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, também fala com diplomatas estrangeiros.A avaliação de Lula, Amorim e alguns líderes mundiais é que o brasileiro conquistou cacife político que o credencia a assumir um posto internacional de relevo.

Não interessaria a Lula virar secretário-geral da ONU no atual formato, muito dependente dos EUA e dos outros vencedores da Segunda Guerra Mundial -Reino Unido, França, Rússia e China.Mas, se for aprovada uma reforma da ONU, a começar pelo Conselho de Segurança, Lula trabalhará para disputar a secretaria-geral.

O Brasil, hoje membro rotativo do CS, quer uma cadeira permanente. O obstáculo é que essa mudança dificultaria o poder deliberativo do órgão, pois seria preciso buscar consenso entre mais países.Lula defende ainda mais poder para a FAO (Organização da ONU para a Agricultura e Alimentação), que considera pouco aparelhada para combater a miséria na África.

Na Europa, três líderes endossam a postulação de Lula para secretário-geral: o presidente de governo da Espanha, José Luis Rodríguez Zapatero, o premiê de Portugal, José Sócrates, e o presidente da França, Nicolas Sarkozy."Lula tem capital político tão importante no mundo que seria um grande desperdício não aproveitá-lo", disse o premiê de Portugal. Das potências emergentes, ele conta com a simpatia do premiê Manmohan Singh (Índia).

Diversos presidentes da América do Sul já sugeriram a Lula seguir esse caminho, de Hugo Chávez (Venezuela) a Cristina Kirchner (Argentina). Chávez disse à Folha que, se Lula quiser ser candidato a secretário-geral, terá o seu "apoio entusiasmado".

Há atritos na relação entre o Brasil e os EUA, mas, na opinião do governo brasileiro, eles poderiam ser superados para o petista ir para a ONU ou o Banco Mundial."Se a ONU continuar assim, vamos ter problemas sérios", disse Lula na quarta sobre a articulação dos EUA para aprovar sanções contra o Irã: "É preciso mudar, mas quem já está sentado na cadeira não quer mudar".

O Itamaraty acha que o presidente Barack Obama teria, no mínimo, disposição de conversar sobre o tema.Existem óbices, no entanto, para que Lula ocupe essas posições. O atual secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon, tem mandato até o final de 2011 e pode ser reconduzido.

Do ponto de vista de Lula, a presidência do Banco Mundial permitiria o financiamento de projetos nos países pobres. Ele já disse que montará um instituto no Brasil, a exemplo de seu antecessor. Empresários brasileiros procuram um prédio na zona sul de São Paulo para ser a sede.

sexta-feira, maio 21, 2010

A liberdade de fazer mal a si mesmo

Renato Janine Ribeiro

Já a pergunta filosófica sobre a liberdade é: será a pessoa realmente livre para escolher? As fábricas foram acusadas de incluir, no tabaco, elementos químicos que induzem à dependência. Nesse caso, é óbvio que o adicto não é um sujeito abstratamente livre, pois terá sido drogado.

No fundo, a questão da liberdade de fazer-se mal coloca frente a frente dois personagens: por um lado, um sujeito humano livre, que escolhe, a despeito das pressões, o que prefere; por outro, um conjunto de pressões – econômicas, sociais e até químicas – que influenciam sua ação, privando-o parcial ou totalmente da liberdade. Toda a questão está no equilíbrio entre um fator e outro.
Se der peso demais à liberdade individual, desprezarei os condicionamentos sociais. Se valorizar muito estes, a liberdade pessoal será um mito. Mas esses são dois extremos. Na prática, temos que ver caso a caso. Vejamos uns exemplos.

EXEMPLOS. O cigarro tem elementos químicos que induzem à dependência. Além disso, a propaganda já o associou à juventude, ao glamour e, espantosamente, até à saúde. Sabemos que é difícil parar de fumar. Daí que seja justo o poder público proibir a propaganda, impedir o acesso dos adolescentes ao fumo, questionar os elementos químicos que incitem à dependência e estudar o custo adicional para as redes de saúde. Mas, se tudo isso for acertado, quem quiser fumar e com isso não causar mal a outrem, que o faça.

Vamos complicar a questão da liberdade. Contarei uma história pessoal. Lecionei numa universidade norteamericana. Havia o mito de que o professor homem deveria evitar ficar sozinho numa sala com uma aluna, porque depois ela poderia acusá-lo de assédio sexual. Mas, quando recebi o manual de procedimentos da universidade, vi que relações românticas entre professores, funcionários e alunos não preocupavam a instituição. O manual dedicava maior espaço a casos em que um rapaz saía com uma moça, talvez disposto a uma aproximação romântica, entretanto transavam depois de se embriagarem. Às vezes, a moça se arrependia e reclamava que não escolheu livremente. As consequências podem ser ruins, para ela, se ficar com uma má lembrança – ou para ele, que eventualmente pode até ser expulso da universidade.

O que há em comum nos dois exemplos? Eu apenas quis mostrar que o formato da questão é igual. Posso dizer que tabagistas tanto quanto jovens fazendo amor escolheram livremente seus atos – ou que foram manipulados pela propaganda, o meio social, a euforia do momento... Ora, se o modelo da questão é análogo, é sinal de que não há resposta pronta para a pergunta. Depende de cada caso. Em certas ocasiões, é preciso proteger as pessoas, que só aparentemente são livres para escolher. Em outras, fazer isso é uma intromissão absurda na liberdade de cada um. Como estabelecer a fronteira?

Ou fast food. Sabe-se que faz mal. Deve ser proibida? Devem ser impedidas suas lojas de aliciar crianças com brindes? Deve-se permitir a atividade, mas retirando o glamour adicional e cativante? Tolerar sua ação incontrolada contra pessoas vulneráveis é insensato. Mas proibir as pessoas de escolher, a pretexto de não saber o que fazem, pode levar a um policiamento intolerável de nossas vidas. Em suma, o que podemos fazer aqui é apresentar argumentos. A escolha entre eles é sempre difícil. Mas quem disse que a Ética é coisa fácil?

A liberdade de fazer mal a si mesmo

Lei antifumo e a Filosofia: onde está e
qual é o limite da liberdade de fazer mal a si mesmo?

Com a lei antifumo, o debate filosófico se instala: qual é o direito das pessoas, sabendo sobre os males do cigarro, de querer fumar mesmo assim? Qual o limite de uma pessoa que não ultrapassa o direito do outro?

Renato Janine Ribeiro

Tem o poder público direito a limitar a liberdade das pessoas de fumar, beber, em suma, de se fazerem mal, mesmo que elas queiram fumar, beber, fazer-se mal? Essa discussão reaparece sempre que uma medida legislativa coíbe o fumo ou a bebida. Vale a pena tentar esclarecer o que está em jogo.

Comecemos com uma distinção básica. Ninguém em sã consciência negará o direito – e mesmo o dever – do poder público a proibir o que faça mal a uma outra pessoa. A questão filosófica é se ele pode impedir que eu faça mal a mim mesmo. Essa distinção é fundamental porque, no debate sobre a lei seca (federal) e a lei antifumo (paulista), os dois assuntos foram constantemente confundidos.

Assim, se a lei proíbe uma pessoa com álcool no sangue de guiar, não a está impedindo de fazer mal a si mesma. Está dificultando que faça mal a outras pessoas. Essa lei, portanto, não entra no caso que estamos discutindo. Ninguém perdeu o direito de beber “até cair”, como dizia a canção de carnaval. O que não vale é guiar bêbado porque, assim, se pode ferir ou matar alguém.

Também a proibição de fumar em lugares públicos não é uma proibição de fazer mal a si mesmo. Ela impede que os não fumantes sejam convertidos, contra a vontade, em fumantes passivos. Continuo podendo escolher fumar, isto é, ser fumante ativo. Mas devo respeitar o direito dos outros a não fumar, ativa ou passivamente. Como a Ciência prova que a saúde piora já por aspirar a fumaça do cigarro alheio, isso está certo: o fumante pode fumar, mas não deve causar doenças em outras pessoas.

O DEBATE FILOSÓFICO. Onde está a proibição de fazer mal a si mesmo? Ela está numa justificativa que apareceu na lei proibindo a propaganda do fumo na televisão. Foi uma iniciativa do então Ministro da Saúde, José Serra, atacada porque impediria as pessoas de, livremente, escolherem se querem fumar – e, se quiserem, por que não poderiam causar mal a si próprias? Aqui, estamos no debate filosófico.

A questão é se eu, ciente de que uma droga (cigarro, bebida ou qualquer outra) me faz mal, posso escolher usá-la e abusá-la, desde que com isso não prejudique ninguém mais? Essa questão exige um comentário e uma pergunta.

O COMENTÁRIO: é difícil distinguir exatamente o que é fazer mal a si e ao outro. Fumantes e alcoólicos costumam ter mais doenças do que não fumantes e abstêmios. Por isso, eles usam a rede pública de saúde ou a de seu convênio mais que os outros. Mas pagam o mesmo que sua faixa etária. Suas despesas são maiores, e parte delas é financiada pelos outros. Esse é um assunto delicado, que talvez leve, no futuro, a calcular seguros de saúde pelo perfil do segurado – como já sucede com os carros, dado que rapazes de 18 anos pagam mais que senhoras de 40 anos, respectivamente a faixa que causa mais acidentes e a que causa menos. Esse é um exemplo da complexidade do assunto.

quinta-feira, maio 20, 2010

Princesas em imagens ''sensuais''

Os fãs das princesas da Disney podem achar as obras do artista norte-americano J. Scott Campbell estranhas. Isso porque Cinderela, Ariel, entre outras, perderam aquele ar angelical, que foi substituído por traços adultos e pra lá de ousados.


Os desenhos fazem parte da coleção "Fairytales Fantasies" e podem ser comprados, autografados, pela loja on-line do artista, que já trabalhou na Marvel Comics. Veja abaixo algumas das protagonistas bem 'saidinhas':























































































































































































terça-feira, maio 18, 2010

Rumual ékissa

Eis que senão quando avizinha-se a Copa do Mundo. É tempo das vendas de tevês de não sei quantas polegadas, do piratation de camisas da Seleção Brasileira e, claro, de cornetar a convocação do Escrete Canarinho. Como também sou filho de Deus - e porque ainda não apareceu nenhuma página do jornal para revisar -, também tecerei meus comentários a respeito dos 23 de Dunga.
Mas antesmente devo concordar com os mais entendidos em Seleção que, de fato, coerência nem sempre a ajudou a ganhar Copa do Mundo. Se não, vejamos.
Em 1982 e 1986, Telê Santana foi coerente levando para a Espanha e ao México equipes com meia dúzia de três ou quatro talentos incontestáveis (Zico, Falcão, Sócrates, Casagrande...). Resultado: fracassos retumbantes.
Em 1994, Parreira fez o que Felipão se recusou a imitar oito anos depois: atendeu ao clamor popular e convocou Romário. Ambos os treinadores foram coerentes com a linha de trabalho que haviam traçado e se deram bem. Dunga tem procurado fazer o mesmo. Se ele está certo ou errado, só vamos saber no derradeiro jogo da Seleção no torneio. Como torcedor e não corneteiro de plantão, espero que seja na grande final.
Coerência houve mesmo de 1958 a 1970. Com três canecos de uma levada só. Não deu em 66 porque Hungria e Portugal não permitiram. Pena que ainda não existia nesse período a mídia ultrahipersuperpoderosa e influente dos dias atuais. Os feitos de Maradona em 1986, graças ao poder das imagens ao vivo e em cores, elevaram-no à estatura de divindade, na Argentina. Com direito a igreja e liturgia em seu nome. Não importa quanto pó tenha nasalmente consumido. O mesmo poderia ter ocorrido com Pelé. Considerado por aqui apenas “rei” e “atleta do século”. Assim gira o mundo da bola, minhas senhores e meus senhores.
A imprensa de uma forma geral não gosta de Dunga. Isso é fato. Chamam-no de ignorante. Criticam-no por “não saber falar” (falam o mesmo a respeito de Lula). Afirmam, como Neto em um dos seus comentários imbecilóides, que ele foi um “jogador medíocre”. De repente, acham melhor “esquecer” que esse mesmo Dunga comandou: a) a conquista da Copa América depois de um baile sobre a Argentina; b) a da Copa das Confederações em uma virada espetacular sobre os Estados Unidos; c) classificação com antecedência nas Eliminatórias.
Outra: não gosta de Dunga porque ele não alivia para ninguém. Na entrevista coletiva logo após a convocação, todas as perguntas e colocações que tinham como objetivo desmoralizá-lo como treinador tiveram as merecidas respostas cheias de grosseria. Afinal, todo mundo sabe que o treinador é delicado como a pedra que o boi chutou.
Por último e não menos importante - e até porque acabaram de pousar na minha mesa as duas páginas de Política: os eleitos, conforme prometi (muitas) linhas acima, e acabei saindo (bastante) dos trilhos. Temos um bom goleiro, Júlio César. Considerado o “melhor do mundo”. Não por mim, uma vez que não existe um arqueiro superior aos demais. Veremos ótimos zagueiros em ação (ainda que Lúcio jamais venha a se livrar da desconfiança com que é observado, malgrado o que já amealhou em termos de prestígio no futebol internacional). Desconsiderar Robinho, Nilmar e Grafite como execelentes atacantes é um erro tão grande quanto a permanência do Nacional de Santa Inês na Copa União.
Portanto, aí está a Seleção Brasileira. Outro portanto: vamos parar com essa história de saber quem estava certo ou errado no jogo do bicho? Está na hora, isto sim, de acreditar que Dunga e seus escolhidos podem trazer a taça. Agora, se não for possível, fica para 2014. Qual o problema? O importante é nunca deixar de acreditar.

O LIVRO E SEU FUTURO

Sou um formador de biblioteca. Como o saudoso José Mindlin, um apaixonado pelo livro. Antes de partir para o andar de cima, Mindlin contabilizava “aproximadamente” 40 mil volumes, incluindo obras de literatura brasileira e portuguesa, relatos de viajantes, manuscritos históricos e literários, periódicos, livros científicos e didáticos, iconografia e livros de artistas. A maior biblioteca particular do gênero neste país. Talvez no mundo.
Mês passado, dediquei quase um dia inteiro a contabilizar os meus livros. Cheguei à marca dos 504 tomos. Devagar se vai ao longe, presumo. Mindlin chegou aos 40 mil com 95 anos. O e-book já era uma realidade muito antes de seu falecimento. Sempre tive a curiosidade de saber o que ele pensava a respeito desse novo modelo assumido pelo livro na alvorada do século XXI.
“Conhecer”. Este era o título do livro que deu origem à inquietação das minhas leituras. Uma enciclopédia que mostrava a estrutura do Sistema Solar, como viviam os homens das cavernas e a radiografia de um automóvel da época. Recordo que era um livro de capa vermelha e grandalhão – perdia apenas em tamanho e número de páginas, claro, à Bíblia de Dona Rosa, minha tia. Recordo que o manuseio e o transporte dessas duas “crianças” não era tarefa das mais fáceis. A mesma encrenca passa por estudantes de Direito e de Medicina. O leitor de hoje não passa pelas mesmas dificuldades com o e-book, até porque, enquanto tecnologia, é um produto totalmente conceitual.
Outra vantagem do e-book, além da portabilidade, é o fato de custar muito mais barato que o livro comum.
No dia em que o grande e ilustre Jurivê Macedo também deixou este mundo triste e feio e dirigiu-se para uma realidade muito melhor, encontrei no site da revista “Época” declarações de um ilustre escritor por mim até então desconhecido, chamado Jean-Claude Carrière, segundo as quais “o e-book vai desaparecer”.
“Mas é também preciso dizer”, destaca o amigo de Umberto Eco na entrevista, “que o e-book já está obsoleto. Já está ultrapassado. Pois teremos no ano que vem uma nova geração de telefones celulares que nos colocarão diretamente em contato com as bibliotecas, ou seja, não teremos mais necessidade de abastecer o nosso e-book. É esse o problema no momento: o mais cansativo é colocar no e-book o que queremos levar na viagem, ou o que queremos consultar a seguir. A partir do momento em que tivermos outra engenhoca que poderá nos conectar com todas as bibliotecas do mundo, o e-book vai desaparecer”.
Acredito que esse é o destino da tecnologia. Penso no primeiro celular do meu pai – um trambolho que mais parecia um rádio-comunicador do Exército. Os seguintes já apareceram com menos da metade do tamanho do primeiro, mas o carregador de bateria era um aparelho à parte. Os de hoje, além de apresentar a praticidade da autonomia e caberem tranqüilamente na palma da mão, ainda oferecerem ao usuário a praticidade de recursos como MP 15, rádio FM e TV.
Outro exemplo: o câmbio automático nos automóveis. O sistema se propõe a manter a rotação do motor quase constante e o câmbio automaticamente faz a troca das marchas. Nos sistemas modernos com câmbio automático, a troca das marchas é praticamente imperceptível ao motorista, em relação ao modelo manual, muito mais comum aqui no Brasil.
No entanto, a tecnologia jamais poderá vencer a tradição. O e-book tem uma desvantagem essencial: é dependente de outros meios de transmissão de dados. Como o próprio Jean-Claude fez questão de ressaltar. Caso o computador e o celular não estiverem em condições – ou se, por alguma razão, algum problema inutilizar o pen-drive –, o usuário não terá como acessá-lo. Bom, nessas horas nada como recorrer à boa e velha biblioteca. Tenho certeza de que Mindlin concordaria.

Saiba qual é a semelhança entre Webber, Mansell e Barrichello

Assim como Barrichello e Mansell, Webber demorou para vencer primeira corrida e agora disputa título mundial Foto: AFP

Claudio Ferreira

Antes de começar a temporada 2010 de Fórmula 1, pelo menos seis pilotos eram apontados como favoritos ao título: Michael Schumacher, Fernando Alonso, Jenson Button, Lewis Hamilton, Felipe Massa e Sebastian Vettel. Porém, muito pouco se falava do australiano Mark Webber, que agora lidera o campeonato com 78 pontos, duas vitórias e duas pole positions.

Curiosamente, o Webber é o piloto que mais tempo demorou - entre os vencedores - a ganhar uma corrida na história da categoria. Somente após 130 Grandes Prêmios e oito temporadas o australiano conquistou uma vitória. O triunfo inicial ocorreu no GP da Alemanha, em Nürburgring, no dia 12 de julho do ano passado.

Webber segue os passos de outros pilotos que também demoraram a ganhar uma corrida, mas acabaram disputando o título mundial da temporada. São os casos de Rubens Barrichello, Jenson Button, Nigel Mansell, Mika Hakkinen e Eddie Irvine.

Até Webber vencer a primeira corrida, Barrichello era o detentor do "jejum de vitórias". O brasileiro conquistou seu triunfo após 124 provas na categoria, no GP da Alemanha, no dia 30 de junho de 2000, na sua oitava temporada, a primeira com a Ferrari.

A vitória de Barrichello ocorreu em uma confusa prova em que largou em 18º, com chuva e até pista invadida por um manifestante.

Depois de ganhar a primeira corrida, Rubinho conquistou mais dez vitórias e dois vice-campeonatos (2002 e 2004), além de ter 14 poles na carreira. O principal momento dele foi em 2009, quando disputou o título até a penúltima etapa. O brasileiro terminou em terceiro na classificação do Mundial de Pilotos.

A temporada do ano passado foi conquistada pelo seu então companheiro de Brawn GP, Jenson Button, outro que também demorou a vencer a primeira corrida. O inglês conquistou uma vitória no GP Hungria, em Hungaroring, em 2006 - na sua sétima temporada, depois de 113 provas. Button já venceu nove vezes, fez sete poles e está em quarto lugar na atual temporada.

O também inglês e considerado um dos mais talentosos pilotos da história do automobilismo, Nigel Mansell, também passou por um tabu de vitórias. Ele só terminou em primeiro lugar uma prova no GP da Europa, em Brands Hatch, depois de 72 corridas na carreira, na oitava temporada. O britânico foi campeão somente em 1992, após três vice-campeonatos.

Mansell encerrou a carreira em 1995, com 31 vitórias, 32 poles, 30 melhores voltas e 59 pódios. Em número, o inglês está entre os dez maiores da história da F1 em todas as estatísticas da categoria.

Entre os pilotos que enfrentaram jejuns de vitórias, quem teve um dos melhores desempenhos foi o finlandês Mika Hakkinen. Em 1997, o nórdico venceu o GP da Europa, em Jerez de La Fronteira, após 96 corridas e sete temporadas. Após o triunfo, o desempenho de Hakkinen foi surpreendente: conquistou os dois títulos mundiais seguintes e foi vice em 2000.

Além disso, o bicampeão faturou 20 vitórias, 26 poles, 25 melhores voltas e 51 pódios, sempre com a McLaren. Mesmo não sendo considerado por muitos especialistas um grande talento do automobilismo, os números do finlandês o colocam sempre entre os 12 maiores da história em todas as estatísticas.

Com uma carreira bem mais modesta, o irlandês Eddie Irvine disputou o título mundial com Hakkinen em 1999, mas foi vice. Naquela temporada, o britânico ficou incumbido de levar a Ferrari à conquista do campeonato após seu companheiro, o então líder Michael Schumacher, sofrer um acidente na oitava etapa, que o tirou de seis provas.

Irvine venceu pela primeira vez naquele ano, no GP da Austrália, em Melbourne, após disputar 81 corridas e sete temporadas. Encerrou a carreira em 2002, com apenas cinco vitórias, 26 pódios, uma melhor volta e nenhuma pole position.

Confira os dez que mais demoraram para vencer um GP na F1:

1. Mark Webber - 130 GPs
2. Rubens Barrichello - 124 GPs
3. Jarno Trulli - 117 GPs
4. Jenson Button - 113 GPs
5. Giancarlo Fisichella - 110 GPs
6. Mika Hakkinen - 96 GPs
7. Thierry Boutsen - 95 GPs
8. Jean Alesi - 91 GPs
9. Eddie Irvine - 81 GPs
10. Nigel Mansell - 72 GPs

Fifa anuncia veto à paradinha em cobranças de pênalti a partir da Copa

Do UOL Esporte
Em São Paulo


Após uma reunião especial do International Board, a Fifa anunciou nesta terça-feira o veto à paradinha em cobranças de pênalti a partir da abertura da Copa do Mundo, no dia 11 de junho, permitindo apenas que os jogadores façam alguma finta durante a corrida e não no momento do chute.

“Simular na corrida para confundir os oponentes na cobrança de um pênalti é permitido, mas simular o chute na bola uma vez que o jogador completou sua corrida agora é considerada uma infração à regra 14 e um ato de comportamento antidesportivo em que o jogador deverá ser advertido”, informou a principal entidade do futebol mundial em comunicado de seu site oficial.

A decisão da Fifa vai contra o que faz, por exemplo, o atacante Neymar, do Santos, que na partida de domingo contra o Ceará, pelo Campeonato Brasileiro, parou sobre a bola na hora de chutar a cobrança de pênalti.

“Temos a certeza que todos os árbitros e também os jogadores serão informados sobre essa decisão”, afirmou o secretário geral da Fifa, Jerome Valcke.

A Fifa também anunciou que utilizará de forma experimental durante o período de dois anos dois árbitros assistentes adicionais, conforme o que foi testado na edição 2009/2010 da Liga Europa, mas a regra será válida apenas ao final da Copa do Mundo da África do Sul.

A entidade ainda afirmou que vai ouvir jogadores, treinadores e árbitros que estarão na Copa do Mundo da África do Sul para discutir a regra 12, sobre faltas e conduta, com as relações de expulsões, ofensas e punições.

segunda-feira, maio 17, 2010

Jean-Claude Carrière: "O e-book vai desaparecer"

Escritor diz que o livro eletrônico será substituído a partir do momento em que outra engenhoca puder conectar os leitores com todas as bibliotecas do mundo


REDAÇÃO ÉPOCA


JEAN-CLAUDE Carrière, autor, com Umberto Eco, de _ não contem com o fim do livro.

Dois escritores, amantes do livro e da leitura, encontram-se para registrar diálogos sobre o que será do objeto de seu afeto quando as novas tecnologias começarem a democratizar os livros eletrônicos. As conversas de Umberto Eco e Jean-Claude Carrière, organizadas por Jean-Philippe de Tonnac, transformam-se no livro _não contem com o fim do livro que está sendo lançado no Brasil pela Editora Record.

Além de escritor, Jean-Claude Carrière é dramaturgo e roteirista. Nasceu em 1931, trabalhou com Luis Buñuel, escreveu mais de 80 roteiros e é autor de mais de 30 livros. De Paris, Jean-Claude Carrière conversou com ÉPOCA sobre os diálogos com Umberto Eco, o livro, o futuro da leitura e a preservação da memória.

ÉPOCA - De quem foi a ideia de fazer o livro e como ele foi realizado?

Jean-Claude Carrière - Conheço Umberto há muito tempo. Temos mais ou menos a mesma idade. Já trabalhamos juntos em outro livro, há alguns anos. A idéia surgiu com o aparecimento do e-book, o livro eletrônico. Foi Jean-Philippe Tonnac, o jornalista que fala conosco no livro, quem teve a ideia. Ele falou com um editor, da Grasset, que imediatamente concordou em fazer o livro. Ele foi feito em vários tempos, quer dizer, primeiramente trabalhamos em Paris, na minha casa. Logo depois fui passar duas semanas na casa de campo de Umberto, na Itália. Nós trabalhamos muito, os dias inteiros, e em seguida revisamos as transcrições dos nossos textos orais. O material é apresentado como conversas, mas na verdade nós reescrevemos e retrabalhamos as falas. E Jean-Philippe de Tonnac organizou o material e dividiu-o em capítulos.

ÉPOCA - No texto, vocês se referem à permanência do livro considerando quase sempre o livro no papel. Em sua opinião, o que faz do livro um livro?

Carrière - Essa é uma pergunta que ninguém nunca se faz. Pois um livro é um objeto que nós lemos. Então, por exemplo, nós chamamos de “livro” um manuscrito da Idade Média, escrito à mão, que não é impresso. Da mesma maneira, nós chamamos de “livro” também o livro eletrônico. Então, um livro não é necessariamente um objeto impresso, cujas páginas a gente vira com o auxílio da mão. É um objeto que é lido e que tomou várias formas ao longo dos tempos. Mas nem foram tantas formas assim, afinal, desde o século XV, quando foi inventado o livro impresso, essa forma se manteve a mesma em todos os lugares do mundo. Ele continua sendo sempre o mesmo tipo de objeto e tudo leva a crer que assim continuará por um bom tempo. Como diz Umberto, é uma forma que foi encontrada, como um martelo, como uma colher, e que atende perfeitamente a demanda que temos para essa forma.

ÉPOCA - Em várias passagens do seu livro, o senhor demonstra uma grande preocupação com a preservação da memória. Que riscos correm o livro e a leitura?

Carrière - Confunde-se muito o livro e a leitura. Não é a mesma coisa. O livro é um objeto, a leitura é uma atividade. Será que a leitura está sendo ameaçada? Por ora, não. Absolutamente. Pois, para usar um computador e todos os objetos eletrônicos que nós utilizamos, é preciso saber ler. Além disso, utilizamos às vezes um certo vocabulário, ainda mais complicado, que é a linguagem do próprio computador. Há signos novos a serem aprendidos. Umberto e eu pensamos - e não somos os únicos - que cada vez que surgem novas técnicas, essas pretendem eliminar todas as outras. Por exemplo, quando o cinema apareceu, pensou-se que era o fim do teatro, da ópera e até mesmo o fim da literatura. De modo algum. O cinema ocupou um lugar entre as várias formas de expressão. Então, é provável que a leitura eletrônica seja extremamente útil para documentos, para cientistas, para juristas, e mesmo para mim às vezes será útil. E é muito provável que ela vá ocupar um espaço entre outras formas de leitura.

ÉPOCA - Se o senhor pudesse resumir, quais seriam as vantagens e as desvantagens dos livros digitais?

Carrière - Quando eu trabalhava com Luis Buñuel, em um filme que se chamava Via Láctea, e que trata das heresias da religião cristã, eu era obrigado a carregar comigo 50 livros sobre a história das heresias. Hoje, eu poderia carregar todos num e-book. Tomaria tempo para fazê-lo, mas seria muito mais cômodo para transportar. E até mesmo para consultar, porque eu poderia ter um sistema de referências que me permitiria ir diretamente ao assunto que gostaria de consultar.

ÉPOCA - E as desvantagens?

Carrière - O uso do livro digital não é igual ao uso do livro. O inconveniente é que lemos todos os livros no mesmo suporte, que não tem diferença de formato e que não tem diferença quanto à qualidade do papel, temos o mesmo objeto para ler coisas extremamente diferentes, ao passo que – pensamos Umberto e eu, como todos os admiradores do livro – há uma relação entre a forma de um livro, seu aspecto exterior, e seu conteúdo. Não é o caso do e-book, evidentemente, que é sempre o mesmo.

ÉPOCA - Há uma funcionalidade no Kindle que permite, ao sinalizar ou fazer anotações em um determinado trecho do livro, que outros leitores, que destacaram o mesmo trecho, possam ter acesso a esses comentários. Como o senhor vê essa possibilidade de compartilhamento, de socialização das observações, sendo a leitura um exercício tão íntimo, ao menos até hoje em dia?

Carrière - Sim, conheço isso, é extremamente útil para todos os trabalhos de pesquisa, de erudição, trabalhos científicos e da área do direito. Pode ser muito útil, pode prestar grandes serviços. Mas é também preciso dizer que o e-book já está obsoleto. Já está ultrapassado. Pois teremos no ano que vem uma nova geração de telefones celulares que nos colocarão diretamente em contato com as bibliotecas, ou seja, não teremos mais necessidade de abastecer o nosso e-book. É esse o problema no momento: o mais cansativo é colocar no e-book o que queremos levar na viagem, ou o que queremos consultar a seguir. A partir do momento em que tivermos outra engenhoca que poderá nos conectar com todas as bibliotecas do mundo, o e-book vai desaparecer.

ÉPOCA - Desde que os diálogos do livro foram gravados, algumas mudanças ocorreram no mercado de livros digitais. Uma delas, o surgimento do iPad, da Apple. Diante disso, o que o senhor acrescentaria ao que está dito no livro? Cabe alguma atualização?

Carrière - Isso não muda nada do que dissemos no livro, absolutamente nada. O verdadeiro problema da técnica contemporânea, que nós seguimos de perto – Umberto e eu somos espíritos totalmente abertos às novas técnicas -, é que elas ficam obsoletas muito rápido. É a rapidez extrema com que se sucedem as invenções. O número de vezes que mudamos nosso suporte para poder olhar filmes é impressionante. E nos custou muito dinheiro. A questão a se colocar é: será que esse desenvolvimento espetacular das novas tecnologias vai chegar a um ponto de parada? Será que em alguns anos se chegará a um objeto que será definitivo? É essa a verdadeira questão que todos ao nosso redor se colocam. Por ora, não se trata, de modo algum, de comprar um e-book, pois você sabe, com certeza, que o conteúdo que se coloca nos e-books não vai durar mais que cinco anos.

ÉPOCA - A propósito, o senhor acredita que com a conectividade e as outras tantas possibilidades dos livros eletrônicos, poderíamos ter uma espécie de livro vivo, um texto literário em constante atualização?

Carrière - De todo modo um texto nunca permanece igual. Ele muda de acordo com o leitor. Se você e eu lermos o mesmo texto, leremos cada um à nossa maneira. Não será o mesmo texto.

sábado, maio 15, 2010

"Foi o Mano quem me demitiu"

Preparador físico Walmir Cruz quebra o silêncio e diz ter sido tirado do Corinthians pelo técnico
Profissional diz ter feito um relatório para superiores que indica Ronaldo como jogador acima da média e dos que mais treinam

EDUARDO ARRUDA
DO PAINEL FC

Walmir Cruz não para de atender o telefone. Conta que é "gente do futebol" solidarizando-se com o preparador físico demitido do Corinthians, junto com dois auxiliares, após a queda na Libertadores. Ele teme carregar nas costas o peso de mais um fracasso corintiano. "É a impressão errada que ficou", disse ele, em entrevista à Folha.

Ao quebrar o silêncio, Cruz rebateu Mano Menezes, afirmou ter sido demitido por ele e entregado relatório mostrando que Ronaldo era um dos atletas com maior volume de treinos e acima da média fisicamente.

FOLHA - Você acredita que acabou como bode expiatório da eliminação do Corinthians na Libertadores?

WALMIR CRUZ - Eu não sei se a ideia, ao me demitirem, foi essa. Mas acabou passando essa impressão errada.

FOLHA - Como foi sua demissão?

CRUZ - Na sexta-feira, dei treino, e o Mário Gobbi e o Mano me chamaram para conversar. O Mano falou: "Pedi demissão, eles não aceitaram, renovaram comigo até o final de 2011, e quero fazer umas mudanças na comissão técnica". Eu disse que não havia entendido.

FOLHA - Então foi o Mano quem falou que você estava fora?

CRUZ - Foi. Eu não concordei. Disse que, se tivéssemos passado pelo Flamengo, nada disso aconteceria. O Mano falou que não foi responsável pelas demissões, e isso não é verdade.

FOLHA - E o Mário Gobbi?

CRUZ - O Mário não faria isso. Ele me adora e sempre teve muito respeito por mim.

FOLHA - Mas como era sua relação com o Mano?

CRUZ - Nosso relacionamento sempre foi muito bom. Ele nunca se expressou de forma agressiva comigo.

FOLHA - Como estava o condicionamento físico do time?

CRUZ - O time sempre esteve bem em termos de condicionamento. O Roberto Carlos, por exemplo, está voando. O que pode ter atrapalhado [para a eliminação da Libertadores] é o aspecto emocional do grupo.

FOLHA - Como assim?

CRUZ - Quando fui demitido, o Mano se queixou de o Elias ter sido substituído contra o Flamengo alegando cansaço. Disse a ele que o problema do Elias não era físico, mas emocional. É só ver que o Elias jogou domingo contra o Atlético-PR e não cansou.

FOLHA - Muito se falou da péssima forma física do Ronaldo. Qual era a condição dele?

CRUZ - Na semana anterior à minha demissão, eu entreguei um relatório ao Mano e ao Mário. É um documento com gráficos mostrando que o problema do Ronaldo não era de falta de treinos. E que ele era um dos que têm maior volume de treinos e que está até acima da média do grupo fisicamente.

FOLHA - Então qual foi o problema com ele?

CRUZ - Eu só posso falar de dentro do campo. Jamais me envolvi nas questões de fora. Mas posso dizer que o Ronaldo, apesar de ser a estrela que é, sempre cumpriu tudo o que a gente combinou.

FOLHA - Sua amizade com o Antônio Carlos [técnico do Palmeiras e desafeto de Mano Menezes] pode ter contribuído para sua demissão?

CRUZ - Não sei até que ponto poderia pesar isso. Faz tempo que não falo com ele.

FOLHA - Qual era a sua situação?

CRUZ - Renovei com o Corinthians até dezembro de 2011 porque a ideia era montar uma comissão técnica fixa. Agora estamos vendo como é que fica.

sexta-feira, maio 14, 2010

UMA CITAÇÃO

“Assim, sob qualquer ângulo que se esteja situado para considerar esta questão, chega-se ao mesmo resultado execrável: o governo da imensa maioria das massas populares se faz por uma minoria privilegiada. Esta minoria, porém, dizem os marxistas, compor-se-á de operários. Sim, com certeza, de antigos operários, mas que, tão logo se tornem governantes ou representantes do povo, cessarão de ser operários e por-se-ão a observar o mundo proletário de cima do Estado; não mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo. Quem duvida disso não conhece a natureza humana.”

Mikhail Bakunin

quinta-feira, maio 13, 2010

ESSE BRASIL QUE DEVE LER

Concluída a leitura da pesquisa Retratos da leitura no Brasil (Instituto Pró-livro, 2008), no qual consta, no segundo parágrafo do 5º capítulo, intitulado “A escola e a formação de leitores” – de autoria de André Lázaro e Jeanete Beauchamp –, a seguinte observação: “A pesquisa evidencia que é a escola quem faz o Brasil ler. O Brasil está estudando e é a partir da escola que os brasileiros entram em contato com o processo de leitura e, por meio dela, acessam os livros, independentemente de sua classe social”.
Pode até parecer, em um primeiro momento, a famosa “descoberta da pólvora”. Mas não é bem assim. Afinal, como se sabe, nosso país não é desigual apenas em termos políticos e econômicos. As disparidades ocorrem no mais importante de todos os pontos nevrálgicos: a educação.
De um lado, temos as escolas do Sudeste – nas quais, até onde sei, algumas aulas já estão sendo ministradas por meio da tal da tecnologia 3-D.
Na outra vertente, a do atraso, muitas crianças do Norte-Nordeste sequer tem uma escola para chamar de sua. “Estudam”, muitas vezes, em espaços cedidos por igrejas ou simplesmente ao ar livre – quando não encontram uma alma caridosa capaz de ajudá-las a ter acesso ao mais básico dos direitos, previsto pela Constituição: a cidadania. Mas como podem encontrá-la se às vezes não recebem nem a obrigatória merenda escolar?
Dez anos atrás, o Ministério da Educação informou apenas 4% das salas de aula das escolas públicas do Norte, Nordeste e Centro-Oeste tinha dicionário, 1 em cada 3 não tinha apagador e em 25% delas não havia quadro-negro em condições de uso.
Uma década depois, a situação mudou muito pouco. Em recente editorial, o site do “Diário de Popular” nos diz que, “como nos demais aspectos sociais, também no que se refere à redução do analfabetismo, o Brasil avança muito lentamente. Os poucos recursos orçamentários que tem destinado aos programas de alfabetização, evidenciam que o governo não considera a solução do problema uma efetiva prioridade”. Com certeza houve avanços, mas nada que surtisse efeito a longo prazo ou tivesse sido destacado pelos meios de comunicação.
Outro aspecto destacado pela pesquisa Retratos da leitura no Brasil é que a criança e o adolescente raramente levam o hábito da leitura para a fase adulta justamente porque encontraram na escola alguém que os obrigasse a ler. Trata-se, como se pode logo perceber, da questão do livro paradidático. Confesso que os odiava. Precisava lê-los para responder às questões encartadas na obra – a fim de obter uma determinada nota. Além do quê, as histórias eram péssimas. Os piores eram os textos voltados para o público adolescente. Antecipavam as bisonhices hoje vistas em folhetins como Malhação e outros que-tais.
Hoje, estamos às voltas com o filão das séries literárias. O Fiat Lux desse lance foram os livros protagonizados pelo insofismável Harry Potter. Hoje, nós temos Percy Jackson, House of Night e, claro, Crepúsculo. Nada que agrade, enquanto gênero, este velho leitor de clássicos machadianos que vos escreve. Mas jamais seria a favor de que tais livros fossem queimados em praça pública apenas porque deles não gosto.
Pelo contrário. Dependesse de mim, eles seriam dados “de grátis” a escolas e a comunidades carentes ou que então não tivessem facilitado o acesso ao livro. Porque são voltados a um público jovem. E, diferente dos torcedores do Maranhão Atlético Clube, esse público-alvo deve ser constantemente renovado, para garantir que este nosso Brasil varonil seja realmente feito de homens e livros.

quarta-feira, maio 12, 2010

Sarney diz que Joaquim Nabuco adicionou o ideal humanitário na luta pela abolição

Em seu discurso em homenagem a Joaquim Nabuco, nesta quarta-feira (12), o presidente do Senado, José Sarney, ressaltou a importância fundamental do diplomata, político e historiador para a abolição da escravatura, afirmando que ele adicionou à luta "o ideal humanitário".

- Foi ele que transformou aquela causa, que existia como uma revolta de cada um, numa causa nacional a qual ele dedicou sua vida inteira e por que pregou, discursou e abriu jornais - disse Sarney, acrescentando que também como parlamentar Joaquim Nabuco aderiu à causa abolição e a ela de dedicou, chegando a enfrentar "tempos de desalentos".

Sarney lembrou que Joaquim Nabuco relata em seu livro, Minha Formação, que se tornou abolicionista ao visitar o cemitério dos escravos no engenho onde viveu a infância, em Pernambuco, após retornar de suas viagens pela Europa. Nesse momento teria decidido dedicar sua vida à luta contra a escravatura, bandeira já defendida por José Bonifácio desde a campanha pela Independência, mas a partir daí, disse o senador, "transformada por Nabuco".

- Ele foi um dos grandes homens deste país, porque reuniu, pela primeira vez, a consciência nacional em torno de uma grande causa, a causa extraordinária que foi a da libertação dos negros no Brasil, esses negros que deram ao Brasil a identidade nacional - afirmou o senador.

Ao procurar trazer informações diferentes do que o ideário popular já consagrou, e os oradores anteriores já haviam rememorado, Sarney buscou destacar outras facetas de Joaquim Nabuco, a sua "figura humana". Disse que era conhecido como "Quincas, o belo", e foi vanguardista ao influenciar a mudança da indumentária grave que existia no tempo do Império quando voltou da Inglaterra, ao adotar roupas de casimira inglesa e ternos de xadrez.

Sarney mencionou a adesão de Joaquim Nabuco ao movimento que pregava a manutenção da monarquia, e disse que "estaria contra Nabuco" se vivesse naquele século, pois acredita na república. Por esta bandeira, Joaquim Nabuco teria ficado "isolado dos grandes homens do seu tempo, vendo o esplendor de Rui Barbosa, vendo crescer Rio Branco" e teria dito na ocasião "cumpri dez anos de viuvez", relatou o parlamentar.

Sarney lembrou ainda que Joaquim Nabuco alternava momentos de euforia e depressão e teria até pensando em suicídio, como revela uma das cartas destinadas a seu pai. Ele também era romântico, disse Sarney, mas ao mesmo tempo "um homem da noite, mundano", que gostava de conversar com as mulheres e de "transmitir seu encanto" para elas.

Da Redação/Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

terça-feira, maio 11, 2010

Maradona convoca Argentina para Copa sem Zanetti, Gago e Cambiasso

Do UOL Esporte
Em São Paulo


Maradona seguiu Dunga e também deve criar polêmica com a sua convocação para a Copa do Mundo. Se no Brasil novatos como Paulo Henrique Ganso e Neymar ficaram fora, na Argentina as ausências mais sentidas são dos experientes Javier Zanetti, Fernando Gago e Javier Cambiasso, que sequer estão entre os 30 pré-selecionados.

A lista tem sete atacantes. Além dos titulares Messi e Higuaín, o maior ídolo argentino nos gramados ainda lembrou de Tevez, Diego Milito, Sergio Aguero, Palermo e Lavezzi, do Napoli.

O experiente Zanetti, capitão da Inter de Milão e dono de uma longa história defendendo o seu país, deu lugar a nomes como Heinze e Otamendi, que compõem a defesa convocada. Samuel, Coloccini, Demichelis e Clemente Rodríguez também foram lembrados.

No meio-campo, a maior surpresa foi a ausência de Esteban Cambiasso, titular e peça-chave da Inter de Milão. Gago, que ainda disputa uma vaga como titular no Real Madrid, já estava previsto como desfalque, por opção técnica de Maradona.

Riquelme, grande nome de uma geração anterior, também foi esquecido. O meia do Boca não tem bom relacionamento com Maradona, e não foi convocado durante a reta final das eliminatórias sul-americanas. Aimar, campeão português pelo Benfica, e D'Alessandro, do Inter, também foram preteridos.

A Argentina não previu exatamente quando divulgará a lista final dos 23. A tendência é que Maradona divulgue os sete cortados até o dia 22 de maio.

Confira a lista completa:
Goleiros: Sergio Romero, Mariano Andújar e Diego Pozo
Defensores: Nicolás Burdisso, Ariel Garcé, Fabricio Coloccini, Martín Demichelis, Gabriel Heinze, Juan Manuel Insaurralde, Nicolás Otamendi, Clemente Rodríguez e Walter Samuel
Meio-campistas: Sebastián Blanco, Mario Bolatti, Jesús Dátolo, Angel Di María, Jonas Gutiérrez, Javier Mascherano, Juan Mercier, Javier Pastore, Maxi Rodríguez, José Sosa e Juan Sebastian Verón
Atacantes: Gonzalo Higuaín, Ezequiel Lavezzi, Lionel Messi, Diego Milito, Martín Palermo, Carlos Tevez e Sergio Aguero

segunda-feira, maio 10, 2010

Ferrari como estilo de vida

INTERNATIONAL HERALD TRIBUNE



Para mim, a Ferrari é o elemento mais importante da minha vida", diz Luca Cordero di Montezemolo, 61, presidente da Ferrari (centro)

Luca Cordero di Montezemolo, 61, é presidente da Ferrari desde 1991, e supervisiona tanto a fabricação dos carros esportivos quanto a equipe de corrida. Sua primeira tarefa na equipe começou em 1973 quando foi contratado como assistente do fundador, Enzo Ferrari, antes de se transformar em gerente da equipe no ano seguinte. Ele também se envolveu com o futebol e o iatismo. Foi presidente da Fiat de 2004 até deixar o cargo há duas semanas. Ele também está à frente da associação da indústria italiana Cofindustria. Montezemolo conversou com Brad Spurgeon do International Herald Tribune em seu escritório na Ferrari, em Maranello, Itália.

IHT: O que a Ferraria significa para você pessoalmente?
Montezemolo: Para mim, a Ferrari é o elemento mais importante da minha vida, porque eu entrei para a companhia quando tinha 24 anos de idade. Saí direto da Universidade de Columbia em Nova York e fui para Maranello para ser o assistente de Enzo Ferrari em 1973.

Espero que aqui em Maranello você tenha percebido algo que para mim é muito importante nessa companhia: a qualidade de vida na fábrica, o processo tecnológico, tudo é muito voltado para um pensamento no futuro –isso é crucial– e ao mesmo tempo mantemos uma forte ligação com nossa tradição, com nossa herança, com nossa história. É crucial porque sempre que você vê um carro nos Champs-Elysees ou em Toronto, mesmo sem o emblema da marca, você reconhece que é uma Ferrari.

IHT: Como as coisas mudaram desde que você começou na Ferrari?
Montezemolo: Basicamente, o que aconteceu na Ferrari também aconteceu no mundo e com as fabricantes de carros em geral. Quando voltei para a Ferrari, tive duas reações. Primeiro me senti à vontade porque reencontrei muitas pessoas com que eu havia trabalhado nos anos 70, então me senti em casa. Por outro lado, houve um salto incrível na Fórmula 1 dos anos 70 até os 90 –também no carro de rua, mas principalmente na Fórmula 1– e minha primeira questão foi: por que nós não tínhamos ganhado nenhum título nos últimos 20 anos? E a resposta que dei a mim mesmo foi que os anos 80 giraram em torno da aerodinâmica e os engenheiros vieram da Aeronáutica, e não dos carros de rua. E nosso know-how estava baseado na engenharia mecânica. O começo dos anos 90 girou em torno da eletrônica. Então fomos os primeiros a introduzir na Fórmula 1 a transmissão automática com “paddle shift” e a transferi-la para os carros de rua.

A outra grande diferença foi que em 1996 eu decidi renovar completamente a disposição da fábrica, com dois objetivos: um era melhorar a qualidade de vida para nossos funcionários, que produzem mais de 6.000 carros por ano, e também para melhorar a qualidade do produto. E acabamos ganhando um prêmio como a melhor companhia para trabalhar na Europa, entre todas as melhores companhias europeias.

IHT: Aquela foi a época de Jean Todt como diretor da equipe mais bem sucedida da história, com o piloto Michael Schumacher e muitos grandes diretores que hoje não estão mais na Ferrari. Como está sendo essa transição?
Montezemolo: Em 1992, quando tentei entender por que não havíamos ganhado nada em 20 anos, o que eu fiz foi: eu disse que precisávamos de uma pessoa que pudesse ser número 1, sem ser um engenheiro. A mesma decisão que a Ferrari tomou comigo nos anos 70: eu não era um técnico, mas um organizador e administrador. Segundo, escolher três ou quatro pessoas com uma competência muito específica e conhecimento de aerodinâmica, eletrônica, etc. Terceiro, encontrar os melhores jovens e deixá-los crescer num programa de três ou quatro anos. Escolhi um que não era italiano, Jean Todt, e fui criticado. Eu disse a Todt: “Você tem seis meses para voltar aqui e me dizer quem são os melhores, e eu quero pelo menos três pessoas que venham de fora, trazendo experiência”. A ideia era para ser como no futebol: quando Maradona treina com outros jogadores, os jovens podem aprender bastante com ele. Então eu disse que se pudéssemos encontrar três ou quatro pessoas que eram as melhores em suas áreas, isso seria bom para os jovens. E foi crucial para hoje. Agora eu tenho uma equipe totalmente nova, mas 99% das pessoas de hoje eram número 2 ou 3 naquela época.

IHT: Qual é sua visão de longo termo para o programa do carro de rua?
Montezemolo: Muito positiva. No GT, lançamos esses novos carros chamados California. Então no GT nós temos uma visão muito clara em termos de produtos, tecnologia, mercados. Em meados dos anos 90, os EUA eram de longe o maior mercado para a Ferrari, junto com a Alemanha e a Itália. Isso respondia por 60%. Hoje, nós vendemos cerca de 300 carros na China, vendemos muitos no Oriente e no Oriente Médio. Os Estados Unidos continuam sendo nosso maior mercado, mas temos uma presença bem maior no resto do mundo. Abriremos na Índia dentro de alguns anos; este pode ser um bom mercado no futuro, mas decidimos não abrir ainda. Meu programa é manter a exclusividade, mas aumentar o volume por causa dos novos mercados. Aumentaremos o volume total graças à China, a Abu Dhabi, ao Brasil, à Índia. Em segundo, estamos aumentando drasticamente o que eu chamo de serviços, ou seja, as marcas, a internet –temos uma presença enorme na internet– e uma renda de 50 milhões de euros apenas usando a marca, com licenciamentos, merchandising, e-commerce e vendas, com 40 lojas em todo o mundo vendendo mercadorias. A mais bem-sucedida no momento fica em Macao.

IHT: E o futuro da Fórmula 1?
Montezemolo: O futuro da Fórmula 1 para nós significa três coisas: tecnologia avançada, sem ela não há motivo para correr; regras estáveis, ou então não mudar as regras a cada seis meses; e a possibilidade de manter a característica da Fórmula 1, em outras palavras, não ter o mesmo carro para todos, não ter o mesmo motor para todos. Os custos são cruciais, mas podemos fazer carros mais baratos enquanto mantemos ao extremo as características da Fórmula 1. E, além disso, os custos são muito importantes: você precisa cortar os custos. Mas você tem que aumentar o lucro. E acho que isso é muito importante. Para mim, a Fórmula 1 faz parte da vida da Ferrari, nós estamos nela desde 1950. Mas precisamos manter, e se for possível, aumentar o apelo e as características da Fórmula 1.

terça-feira, maio 04, 2010

Procura-se manchete desesperadamente

PARA JORNALISTAS, dias estressantes, tomados por acontecimentos inesperados -terremotos, blecautes, escândalos de corrupção -, são melhores do que aqueles em que parece que nada aconteceu. Policiais e bombeiros podem ir para casa mais descansados em dias assim. O editor da Primeira Página tem uma folha em branco, a vitrine do jornal, para preencher.

A parte mais dura é definir a manchete, promover um dos assuntos mornos para a posição de notícia mais importante. Alguns jornais não têm manchete diariamente (como o The New York Times), mas, na Folha, e nos seus concorrentes, ela é obrigatória.

Quando o jornal está no piloto-automático, pinça-se uma notícia de política ou de macroeconomia e o problema está resolvido. Um enunciado, de preferência com número (cresceu x%), faz as vezes de manchete sem chamar muita atenção.

Nos últimos tempos, é visível o esforço da Folha de fugir dessa fórmula. Cinco manchetes recentes giraram sobre assuntos que miravam o suposto interesse direto do leitor: poluição, conta telefônica, imposto de renda, violência e adoção por homossexuais.

A intenção de romper com a inércia é louvável, mas arriscada. No sábado, dia 24, a Folha alertou para o aumento da poluição por ozônio, mas esqueceu de mostrar as regiões da Grande São Paulo com os piores índices, como notou o leitor Sergio Moradei de Gouvêa, de Ubatuba.

Faltou o chamado "serviço". Bastaria remeter para o site da Cetesb, que traz medição feita de hora em hora (http://www.cetesb.sp.gov.br/ar/mapa-qualidade/mapa-qualidade-rmsp.asp).

Mas o erro maior, de avaliação, ocorreu na terça-feira, quando a violência no Guarujá foi alçada à manchete. A notícia era que o governo dos EUA soltou alerta para que turistas evitem algumas cidades da Baixada Santista por causa de assassinatos recentes.

Os fatos não justificam a escolha. Embora a situação no litoral seja preocupante, nada indica que essas cidades vivam caos semelhante ao de São Paulo em 2006, quando ocorreram os atentados do PCC.

A manchete mostra também incongruência da Folha: quando ocorreram as mortes, em 21 de abril, o jornal deu apenas uma chamada.

Quanto melhor o jornal, menos visceralmente dependente ele é do noticiário quente (aquilo que aconteceu no dia anterior). O ideal seria produzir diariamente uma reportagem exclusiva que pudesse ser manchete, mas não é isso o que acontece -na Folha nem em nenhum diário que eu conheça.

Enquanto não se atinge esse nirvana jornalístico, de noticiário comum a todos emoldurando uma manchete exclusiva, o melhor a fazer é não ceder ao óbvio. A Folha está certa no caminho que busca, só precisa acertar o passo.

Suzana Singer é a ombudsman da Folha desde 24 de abril de 2010. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.

sábado, maio 01, 2010

AS ARMADURAS DO HOMEM DE FERRO

ARMADURA SÉCULO 21
Em 2002 aparece a nova versão. Ela surgiu bem feiosa mas foi melhorando aos poucos. Mesmo assim era muito cheia de detalhes esquisitos como essas ombreiras bem exageradas.

AS ARMADURAS DO HOMEM DE FERRO

ARMADURA SKIN
Depois do fim da armadura inteligente, em 2001 aparece essa nova, a SKIN. Ela era feita de um tipo de metal líquido que se molda em torno do corpo de Tony e vira praticamente uma segunda pele, só que altamente resistente. Tem praticamente a mesma resistência do adamantium. É extremamente avançada.

O único problema da vestimenta é que ela é feia demais. Feia, não. Horrorosa.

AS ARMADURAS DO HOMEM DE FERRO

ARMADURA INTELIGENTE
Com o fim da desastrosa fase Heróis Renascem surge a série Heróir Retornam. Com esse novo momento, também aparece uma armadura novinha em folha. Com design de Alex Ross, o desenho é de Sean Chen e, mais uma vez, busca inspiração na vestimenta clássica. Repare no capacete e perceba que tem as pontas para cima como aquela de 1965.

Apesar de bonita, a armadura foi um perigo para Tony a partir do momento em que ela adquiriu inteligência própria. Ela quase matou seu dono mas se autodestruiu antes disso.

AS ARMADURAS DO HOMEM DE FERRO

HERÓIS RENASCEM
Difícil encontrar uma fase da Marvel pior do que essa. Aqui, todos os grandes personagens da editora passam por um reinício. O Homem de Ferro não escapou e, embora as histórias fossem muito ruins. A armadura era bem diferente, com detalhes nunca antes vistos. Felizmente esse momento na vida da Marvel durou muito pouco tempo e tudo voltou ao normal algum tempo depois.