terça-feira, agosto 31, 2010

Saiba quem você pode acabar elegendo ao votar no palhaço Tiririca

DIÓGENES MUNIZ
DE SÃO PAULO

Com uma candidatura ao Legislativo que - entre as bizarras - conseguiu a maior repercussão até agora, é natural que Francisco Everaldo Oliveira Silva, 45, o Tiririca, esteja feliz da vida. Sua campanha atinge com frequência o topo dos "assuntos quentes" no Twitter e seus vídeos passeiam pela casa dos milhões de acessos no YouTube. Mas não é só ele que tem motivos para comemorar esse fenômeno dentro de seu partido.

A exemplo de Paulo Maluf (PP), Tiririca é o "puxador de votos" de sua agremiação, o PR. Ambos ganharam espaços de destaque na TV e números de fácil assimilação (1111, para o candidato considerado 'ficha suja' pelo STF, e 2222, para o palhaço). A ideia é que uma votação expressiva ajude seus respectivos partidos a levarem outros correligionários para Brasília.

Para o analista político Fernando de Barros e Silva, Tiririca funciona como um "biombo". "Atrás dele, vão os verdadeiros artistas do circo fisiológico", escreveu em sua coluna na Folha, na última semana.

Isso ocorre por conta do critério da proporcionalidade previsto pela legislação eleitoral. O número de vagas de cada partido é definido pelo quociente eleitoral - a soma de votos dos candidatos e da legenda dividida pelo número de vagas a que cada Estado tem direito. Desta forma, o sistema proporcional cria a possibilidade de parte das vagas no Legislativo serem preenchida por candidatos que receberam volume votos nominais pífio.

O exemplo mais famoso ocorreu em 2002, quando Enéas Carneiro (1938-2007), do extinto Prona, conseguiu levar consigo cinco candidatos. Entre eles figurava Vanderlei Assis (275 votos nominais), depois condenado pelo TRE por inscrição fraudulenta.

Dependendo do volume de votos de Tiririca no dia 3 de outubro, o pleiteante fantasiado pode ajudar a eleger os seguintes políticos que também disputam uma vaga pelo PR-SP.

Agnaldo Timóteo, 73, cantor. Como vereador por São Paulo, causou polêmica ao tentar emplacar um projeto de lei para mudar o nome do parque Ibirapuera para parque Michael Jackson. No horário eleitoral gratuito deste ano, posta-se como "herdeiro político" do estilista Clodovil Hernandez (1937-2009).

Valdemar Costa Neto, 61, ex-presidente do PL. Renunciou ao cargo de deputado federal em 2005 para escapar da cassação após ser acusado de envolvimento no caso do mensalão, relativo à suposta compra de apoio de partidos pelo PT. Também foi acusado pelo Ministério Público Eleitoral de compra de votos nas eleições de 2006 --e absolvido pelo TSE.

Luciana Costa, 39, deputada federal da última legislatura. Assumiu a vaga deixada por Enéas Carneiro, de quem era suplente e secretária parlamentar. No ano passado, levou à Câmara um projeto de lei para instituir o Dia do Peão de Rodeio, a ser comemorado anualmente em 25 de agosto. No horário eleitoral da TV, tenta colar sua imagem à figura de Enéas, inclusive emulando seu jeito de discursar.

Milton Monti, 49, deputado estadual duas vezes e deputado federal três vezes (inclusive no mandato 2007-2010). Em 2000, apresentou na Câmara projeto de lei para tornar obrigatório no currículo das escolas brasileiras ensino de latim e a OSPB (Organização Social e Política Brasileira), sem sucesso. Trabalha para instituir o Dia Nacional de Atenção à Dislexia. A proposta recebeu parecer favorável na Comissão de Educação e Cultura.

Jurandyr Czaczkes, ou Juca Chaves, 71, humorista, músico e compositor, autor das modinhas "Ana Maria", "Que Saudades" e "Pequena Marcha para um Grande Amor". "Não serei um deputado comum, serei também um Menestrel Na Corte [sic], cantarei como sempre fiz, fazendo minhas denúncias em forma de sátiras", promete, no Twitter. Em 2006, tentou se eleger senador pela Bahia com o PSDC --sem sucesso.

Pastor Paulo Freire, 55, presidente da Assembleia de Deus de Campinas e do Conselho de Doutrina da Igreja Evangélica Assembleia de Deus. É a primeira vez que se candidata a deputado federal. Neste ano, posicionou-se publicamente contra a adoção por casais gays, direito reconhecido pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça).

Além deles, candidatos de PT, PRB, PC do B e PT do B, todos da coligação "Juntos Por São Paulo", podem se beneficiar de uma eventual votação expressiva de Tiririca.

As propostas de Tiririca

Em entrevista à Folha publicada na semana passada, Tiririca foi questionado sobre os projetos que pretende levar à Câmara. "De cabeça, assim, não dá pra falar", justificou. Ele também negou que, caso eleito, vá andar fantasiado por Brasília.

Na TV, o candidato cearense evita fazer promessas complexas. A mais famosa até agora se resume a contar ao eleitorado o que, afinal, faz um deputado federal --mas, só depois de eleito. Para saber o que faz um deputado federal, clique aqui.

Embora diga no horário eleitoral gratuito que, se eleito, pretende ajudar "inclusive" sua família, Tiririca já foi destaque de páginas policiais em um caso violência doméstica. Em 1998, o palhaço foi levado de camburão à 6º Delegacia Seccional de Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, acusado de agredir a tapas Rogéria Mariano da Silva, sua mulher. Mais tarde, ela retirou a queixa.

Por um ensino melhor

É louvável a iniciativa de entidades sociais de propor que candidatos assumam compromissos públicos com a educação antes da eleição

Duas dezenas de organizações lançam hoje em Brasília a "Carta-Compromisso pela Garantia do Direito à Educação de Qualidade", que pretendem ver adotada por candidatos aos Poderes Executivo e Legislativo. Trata-se de um passo adiante na crescente tomada de consciência da esfera pública quanto ao papel estratégico do ensino. Ela já levou à formação do movimento Todos pela Educação, articulador da carta, que logrou conferir ao tema uma prioridade perto de consensual.

O documento repete a fórmula bem-sucedida de vincular prioridades gerais com metas concretas, passíveis de acompanhamento e verificação. Entre os objetivos específicos estão alfabetizar todas as crianças até oito anos de idade antes de 2014, incluir todos os jovens e crianças de 4 a 17 anos na escola até 2016 e cobrir toda a demanda por vagas em creches até 2020. São propostas factíveis, mas nem por isso triviais.
Além das metas relativas ao ensino, fixa-se o objetivo mais geral de elevar a fatia do PIB investida no setor a 10%, dos quais 8% para a educação básica e 2% para a superior. Já houve melhora: a educação básica recebe hoje cerca de 5% do PIB, contra 3,7% em 2006.

Embora desejável, o aumento de verbas precisa ser contextualizado. Parece improvável que candidatos se comprometam previamente com metas de elevação de investimentos no ensino sem levar em conta demandas de outras áreas, como a de saúde.

Além disso, o acréscimo de recursos precisa estar vinculado a objetivos determinados e ao aperfeiçoamento da gestão, sob pena de desperdício.

Outros objetivos da propostas também suscitam reserva, pois os meios de alcançá-los não se mostram tão consensuais quanto poderia parecer. Além da parcela do PIB, são eles: valorização dos profissionais da educação, gestão democrática das escolas e aperfeiçoamento das políticas de avaliação e regulação.

Ora, são bem conhecidas as divergências de fundo ideológico a respeito dos três pontos que separam gestões do PT e do PSDB em todos os níveis de governo. As políticas tucanas de premiação por mérito para educadores, por exemplo, são malvistas nos círculos sindicais petistas.

Tampouco parece corriqueiro, no campo dos conflitos reais, chegar a acordo sobre o que seja uma gestão democrática, que não resulte em aparelhamento da escola por grupos partidários. Ou, então, sobre que consequências dar para resultados de avaliação.

À parte essas discordâncias, não resta dúvida de que cabe pôr em prática de uma vez por todas o piso salarial nacional para docentes de R$ 1.024,67 (inferior até à renda média do país, R$ 1.117,95), ainda ignorado em alguns Estados. Para esses casos, uma Lei de Responsabilidade Educacional não seria má ideia.

Todos os candidatos deveriam subscrever o compromisso, ainda que fazendo as ressalvas cabíveis no que respeita à aplicabilidade e explicitando que interpretação dariam aos princípios sujeitos a controvérsia. Se a campanha eleitoral seguisse esse figurino, o público não estaria presenciando o festival de inanidades marqueteiras que assola o país.

segunda-feira, agosto 30, 2010

Quem está a fim de ideias afins?

O recente relançamento, pela editora Lexikon, do “Dicionário analógico da língua portuguesa”, de Francisco Ferreira dos Santos Azevedo, é uma excelente notícia que, ainda assim, me provocou secretamente alguns pensamentos graves, até sombrios. Clássico entre os dicionários brasileiros do gênero analógico – também chamado de thesaurus ou de ideias afins –, o livro, lançado em 1950, andava esgotado até em sebos, sem que nenhum outro título lhe tivesse tomado o lugar em nosso mercado editorial. A própria ideia de dicionário analógico parece ter entrado em declínio, vindo a morrer (ou hibernar?) sem que o público sequer se desse conta disso.

Para quem não sabe – e muita gente hoje não faz a menor ideia –, um dicionário analógico é uma espécie muito particular de livro, que propõe uma relação peculiar entre as palavras e delas com o leitor. Nele, em vez de serem apresentadas em ordem alfabética e sumariamente definidas, como num dicionário comum, as palavras são agrupadas por afinidades, por campo semântico, por vizinhança, por oposição: palavra puxa palavra. Cada um desses grupos – ao qual o leitor chega folheando o volume a esmo ou, se souber o que procura, por meio de um índice alfabético na parte final – lança pontes muitas vezes inesperadas e dialoga animadamente com outras colônias de palavras, concordando, discordando, ampliando sentidos, listando expressões consagradas, abrindo ângulos novos. Uma festança para logomaníacos, poetas e escritores que, como Gustave Flaubert, estejam em busca da mítica palavra justa. Certo?

Aí é que está. No prefácio da edição da Lexikon, Chico Buarque confessa que o livro de Francisco Ferreira dos Santos Azevedo, que ganhou do presente do pai, o ajudou “no acabamento de romances e letras de canções”. Mas será que Chico não é um dos últimos de uma linhagem, num momento histórico em que que a visão de linguagem – e de mundo – proposta pelos dicionários analógicos goza de prestígio cada vez mais diminuto, mesmo entre gente de letras? Isso explicaria o gênero ter sumido das livrarias por tanto tempo. É só um palpite, um chute leviano de cronista dominical, mas ando incomodado com a impressão de que, ao dar ao leitor instrumentos para navegar pelo oceano das palavras sem se preocupar com a terra firme das definições, da referência ao “mundo concreto”, os dicionários analógicos celebram e estimulam uma certa autonomia da linguagem que, como o verso metrificado, pode muito bem ser repulsiva à pragmática sensibilidade contemporânea, cada vez mais pautada naquele bordão de programa humorístico: “Entendeu? Então não complica”.

Tomara que eu esteja errado.

Da coluna "Sobre Palavras".

70% das faculdades públicas já adotam cotas ou bônus

Em 77% dos casos, decisão de adotar política partiu da própria instituição

Levantamento feito por pesquisadores do Rio mostra que estudantes de escolas públicas são os mais beneficiados

ANTÔNIO GOIS
DO RIO

Mesmo sem lei federal que as obrigue a isso, sete em cada dez universidades públicas no Brasil já adotam algum critério de ação afirmativa, seja ele cota ou bônus no vestibular para alunos de escolas públicas, negros, indígenas e outros grupos.

O levantamento foi feito pelo Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos, ligado à Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).

De 98 universidades federais e estaduais, 70 adotam ação afirmativa (71%). Em 77% dos casos, a decisão de adotar cotas ou bônus surgiu da própria universidade.
Em apenas 16 instituições, a ação foi motivada por uma lei estadual. Não há lei federal -um projeto tramita no Congresso- que obrigue estabelecimentos da União a adotar cotas ou bônus.

O trabalho mostra também que são alunos de escolas públicas os mais beneficiados e que as cotas são mais utilizadas do que os bônus.

No caso das universidades que trabalham com cotas raciais, o critério utilizado para definir quem é negro ou indígena é quase sempre (85% dos casos) a autodeclaração.

Nos demais, há exigência de fotografias ou comissões de verificação, métodos polêmicos por barrar candidatos que se consideram negros.

Para João Feres Júnior, um dos pesquisadores, em quase todas as 40 universidades que beneficiam negros, há preocupação de evitar que as vagas sejam ocupadas pelos de maior renda -o candidato deve comprovar carência ou estudo em escola pública.

DEBATE
Para ele, o crescimento de instituições que, sem a obrigação legal, adotam ações afirmativas reflete o amadurecimento do debate sobre a desigualdade racial no país.
Ele diz que, quando coordenou o Diretório Central de Estudantes da Unicamp, em 1986, o tema não era discutido nem nas ciências sociais. "Não passava pelas nossas mentes discutir a pauta."

Mesmo quem se beneficiou do avanço nas políticas de ação afirmativa aponta a falta de debate. É o caso de Wellington Oliveira dos Santos, 25, que se formou em psicologia em 2009 na Universidade Federal do PR, onde ingressou na cota para negros.

Santos reclama que, na época de sua graduação, não houve debates em seu curso sobre os motivos que estão levando as universidade públicas à adoção das cotas.

Colaborou DIMITRI DO VALLE, de Curitiba

domingo, agosto 29, 2010

Concurso de resenhas: agora, é com os especialistas

Foi uma semana de intensa participação popular. De 19 a 26 de agosto, dias em que VEJA Meus Livros teve recordes sucessivos de acesso, foram computados quase 62.000 votos. Agora, é a vez dos especialistas escolherem os quatro textos que receberão os prêmios do concurso cultural Resenhando no blog Meus Livros: uma caixa de filmes fornecida pela parceira Livraria Cultura; livros lançados na Flip deste ano, oferecidos pela também parceira Flip; uma coleção completa de clássicos da Abril Coleções e, para o primeiro colocado, um leitor digital Kindle.

A banca conta com Alcir Pécora, professor de teoria literária da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Também farão parte do time de especialistas o jornalista e escritor Jerônimo Teixeira, editor de VEJA, e Carlos Graieb, editor-executivo de VEJA.com. Os vencedores serão anunciados no início da próxima semana. Fique ligado.

Confira, abaixo, as dez resenhas mais votadas pelo público:
1. ‘Ensaio sobre a Cegueira’, por Daniela Hespanha (13.0%, 8,008 Votos)
2. ‘O Albatroz Azul’, por Giancarlo Reis (12.0%, 7,707 Votos)
3. ‘O Código Da Vinci’, por Eduardo Hernandes (12.0%, 7,342 Votos)
4. ‘Ensaio sobre a Cegueira’, por Rodrigo Ferrarezi (11.0%, 6,814 Votos)
5. ‘Cem Anos de Solidão’, por Naiara Costa (10.0%, 5,971 Votos)
6. ‘Cem Anos de Solidão’, por Hugo César (9.0%, 5,271 Votos)
7. ‘A Menina que Roubava Livros’, por Giovana Celinski (8.0%, 5,158 Votos)
8. ‘Amanhecer’, por Carolina Pavanelli (6.0%, 3,664 Votos)
9. ‘Ensaio sobre a Cegueira’, por Zanine Tomé (6.0%, 3,643 Votos)
10. ‘Amanhecer’, por Eduardo Mesquita Cabrini (5.0%, 3,017 Votos)

Consequências da guerra para as mulheres não são discutidas

INTERNATIONAL HERALD TRIBUNE

Nilanjana S. Roy
Nova Déli (Índia)

Os números são controversos, mas a história que contam continua a mesma há quatro décadas: 200 mil mulheres (ou 300 mil, ou 400 mil, dependendo da fonte) foram estupradas durante a guerra de 1971 em que o Paquistão do Leste rompeu como Paquistão do Oeste para se tornar Bangladesh.

A feminista norte-americana Susan Brownmiller, citando os três grupos de estatísticas em seu livro de 1975 intitulado “Contra Nossa Vontade: Homens, Mulheres e Estupro”, comparou os estupros de Bangladesh com os de mulheres chinesas pelos soldados japoneses em Janjing em 1937-1938.

Mesmo a menor estatística de Bangladesh leva a uma comparação horripilante – a guerra de 1992-1995 na Bósnia teve um décimo do número de estupros da guerra de Bangladesh. Os estupros de mulheres bósnias obrigaram o mundo a reconhecer o estupro como um “instrumento do terror”, como um crime contra a humanidade. Mas até agora ninguém foi preso por violência sexual contra as mulheres de Bangladesh em 1971.

Com a chegada do 40º aniversário da guerra de 1971, o governo de Bangladesh estabeleceu um Tribunal Penal Internacional para investigar as atrocidades daquela época. Mas os defensores dos direitos humanos e advogados temem que os estupros em massa e assassinatos de mulheres não sejam abordados de forma adequada. Eles esperam garantir que sejam.

“Há uma espécie de negação da história da guerra por parte de certos grupos políticos, e uma falha ao responder aos crimes de violência sexual contra as mulheres", diz Sara Hossain, advogada de direitos humanos em Dhaka.

Durante anos, as experiências das mulheres – guerrilheiras pela independência, vítimas de estupro, viúvas – durante a guerra receberam pouca atenção, suas histórias raramente eram contadas, e a violência que viveram raramente era reconhecida.

“Quando eu era adolescente em 1971, ouvi muitas histórias sobre alunas de universidades, jovens e mulheres dos vilarejos que eram estupradas e mantidas em cativeiro, efetivamente forçadas à escravidão sexual, na base militar. Mas depois da guerra, em pouco tempo, não se dizia mais nada”, diz Irene Khan, ex-secretária geral da Anistia Internacional.

“Sim, nós costumamos falar sobre as centenas de milhares de mulheres que foram estupradas, obrigadas à escravidão sexual, mas raramente há nomes ou rostos ou histórias individuais”, diz Khan, que nasceu em Dhaka, hoje capital de Bangladesh, e estudou na Inglaterra e nos Estados Unidos. “A sociedade muçulmana conservadora preferiu lançar um véu de negligência e negação sobre o assunto, permitindo que aqueles que cometeram a violência de gênero ou foram coniventes com ela saíssem impunes, deixando as vítimas no anonimato e na vergonha e sem muito apoio da comunidade ou do governo.”

Em Dhaka, Meghna Guhathakurta, diretora-executiva do grupo não-governamental Research Iniciatives em Bangladesh, insiste que a situação dessas mulheres não pode ser ignorada. “O tema do papel das mulheres durante a guerra de libertação tem emergido de tempos em tempos nos grupos de mulheres. Ele não pode mais ser ignorado.”

No final deste ano, a primeira tradução em língua inglesa de uma importante história oral, “Women's 1971” [algo como “O 1971 das Mulheres”], será publicada. Ela reúne os testemunhos de mulheres que não foram apenas vítimas, mas guerrilheiras como Taramon Bibi, uma das duas mulheres condecoradas por seu serviço no combate durante a guerra, ou que, como Ferdousi Priyobhashini, hoje escultora, usaram suas experiências na guerra como uma fonte para a autotransformação. Das 19 mulheres cujas histórias aparecem nessa coleção, 15 são muçulmanas, duas hindus e duas budistas.

Guhathakurta escreve em sua introdução: “das 19 entrevistadas, nove foram vítimas de estupro. O restante falou sobre suas dificuldades e tribulações depois que membros de suas famílias foram assassinados.”

O trauma das que sobreviveram ao estupro e outros tipos de violência não foi suficientemente abordado em Bangladesh, diz ela. “Sentimos que é necessário para as autoridades, a sociedade civil e a comunidade internacional revisitar o tema da violência sexual e dos crime de guerra.”
Alguns acreditam que é essencial acabar com décadas de negação.

“O maior desafio”, diz Mofidul Hoque, membro e secretária do Museu da Guerra de Libertação em Dhaka, “é como ler o silêncio. Tenho confiança de que iremos ouvir muitas vozes novas, presenciando a quebra do silêncio.”

Um dos principais eventos planejados para o 40º aniversário no ano que vem é um festival de documentários sobre a guerra de 1971 e os direitos humanos, com uma sessão especial sobre as mulheres. Outro projeto se concentra na pesquisa sobre as vidas de crianças nascidas depois de 1971, filhas de “birangonas”, ou “sem culpa”, como foram chamadas pelo novo governo de Bangladesh em 1972, numa tentativa não muito bem sucedida de persuadir as famílias a aceitarem novamente as mulheres que haviam sofrido violência sexual.

E esta guerra teve histórias assombrosas. O jovem cineasta Ananda documenta o trauma persistente do vilarejo de Shohagpur em seu filme “The Village of Widows” [“O Vilarejo das Viúvas”], que também será exibido no ano que vem. Em julho de 1971, soldados paquistaneses chegaram a este local tranquilo, que supostamente apoiava os guerrilheiros pela independência conhecidos como Mukti Bahini. Eles juntaram todos os homens e os mataram. Quatro décadas depois, conforme registra Ananda, Shohagpur não tem nenhum homem velho. As mulheres vivem ao lado dos túmulos de seus mortos.

Será que a justiça é possível depois de tantas décadas? Será que ela está sendo exigida? O Tribunal Internacional de Crimes em Bangladesh começou fazendo acusações.

Entretanto, diz a advogada Hossain: “Não está claro se os crimes de violência contra mulher serão abordados ou formarão a base dos processos. Não há nenhuma mulher entre os membros do tribunal ou promotores. Mas esperamos que os investigadores levantem esse tema – e que o governo garanta um ambiente seguro para as mulheres testemunharem.”

Khan, cuja carreira como defensora dos direitos humanos a levou até a Bósnia, Serra Leoa e outros cenários de guerra, é mais cética.

“Foi só depois da Bósnia que o Estatuto de Roma”, o tratado que estabeleceu o Tribunal Penal Internacional, “tornou o estupro um crime de guerra. Há 40 anos, a violência de gênero como arma de guerra não era compreendida, não só em Bangladesh mas no mundo inteiro”, diz ela.
“Bangladesh só agora está lidando com seus crimes de guerra – e com grande dificuldade, dada a forma como o assunto é visto na política dos partidos religiosos fundamentalistas”, diz ela. “A dimensão de gênero das atrocidades não é totalmente reconhecida, nem a enorme contribuição que as mulheres deram à luta pela libertação como guerrilheiras ou apoiadoras. Bangladesh continua sendo uma sociedade conservadora e patriarcal onde o papel da mulher continua sendo subvalorizado – no passado ou no presente.”

Tradução: Eloise De Vylder

sábado, agosto 28, 2010

Thundercats e os desenhos clássicos dos anos 80 que completam 25 anos


Depois dos filmes adolescentes oitentistas, agora chegou a hora de relembrar os desenhos animados lançados no ano de 1985 e que marcaram aquela década. Thundercats, She-Ra, Rambo e G.I. Joe estão completando um quarto de século. Acompanhe:

THUNDERCATS
Claro que a gente começa com eles, um dos maiores sucessos dos anos 80 e que terá uma animação novinha em folha em 2011. A série animada foi lançada em 1985 e é criação de Tobin Wolf. A história mostra um grupo de felinos com aspecto humano do planeta Thundera e que após a destruição de seu mundo vão viver num planeta chamado Terceiro Mundo. Panthro, Tygra, Cheetara, WilyKit e Wilykat são liderados por Lion, o mais poderoso da turma e responsável pela Espada Justiceira, que possui o Olho de Thundera.

quinta-feira, agosto 26, 2010

A língua dos títulos

PASQUALE CIPRO NETO

Pode ter ocorrido aí o que chamamos de
cruzamento (o redator usou "culpar" com a regência de "atribuir")


O LEITOR HABITUAL deste espaço sabe que volta e meia escrevo duas palavras sobre preciosidades perpetradas pelos meios de comunicação. Esse leitor sabe também que o que menos me importa quando faço esse tipo de análise é a questão do "erro" (um cochilo na concordância, por exemplo, é muito menos importante que uma combinação esdrúxula das palavras ou uma regência forçada, que faz valer a máxima do "título bom é título que cabe").

Posto isso, vamos a uma construção, desencavada do meu arquivo de pérolas. Aliás, há tempos quero comentar o caso -um título publicado neste ano, depois do terremoto no Haiti. Lá vai: "Cônsul do Haiti no Brasil diz que desgraça "é boa" e culpa terremoto à religião". Elaiá! Culpa terremoto à religião? Em que língua? Será que a intenção não era dizer "culpa a religião pelo terremoto" ou "atribui o terremoto à religião"?
Pode ter ocorrido aí o que chamamos de cruzamento (o redator empregou o verbo "culpar" com a regência de "atribuir"). O problema é que não sabemos se o redator fez mesmo esse cruzamento mental ou se, depois de redigir adequadamente (com o verbo "atribuir"), deu-se conta de que a frase não cabia e... E, como "culpa" é menor do que "atribui", "título bom é título que cabe".

Alguns redatores têm verdadeira fissura pela preposição "a". A fissura é tanta que parece que sempre dão um jeito de entortar a frase o mais que podem para que nela caiba um mágico "a", regido sabe Deus por que termo. Salvo engano, nenhum falante de português um belo dia disse algo como "Ele culpou o atraso ao trânsito" ou "O prefeito culpou o alagamento à sujeira nos bueiros". Ou será que disse?
O caro leitor notou também que, quanto ao artigo, os substantivos "terremoto" e "religião" receberam tratamento distinto? Releia o título: "...culpa terremoto à religião". Sabemos que títulos jornalísticos não começam com artigo. No meio da frase, a história muda -cada caso é um caso. Como exemplos, vejamos estes títulos da Folha (edição de terça): "EUA investigam a Universal por remessa ilegal de R$ 420 mi" (capa); "EUA investigam Universal por remessas de..." (página interna); "Justiça invalida provas obtidas pela PF contra filho de Sarney".

Como se vê, o artigo definido é figura "instável"; aparece de acordo com a conveniência etc. O fato é que, quando chega a hora de colocar (ou não) o bendito acento grave (acento indicador de crase)... Que fazer? Bem, o caso é um tanto complexo e merece um texto específico. Por enquanto, chamo a atenção para as minhas reescrituras do título: "...culpa a religião pelo terremoto"; "...atribui o terremoto à religião".

Como se vê, optei pelo artigo antes dos dois substantivos, o que se pode explicar mais ou menos pelo seguinte: o terremoto era mais do que conhecido (acabara de acontecer e tivera imensa repercussão), fato que justifica plenamente a presença do artigo; o termo "religião" é tomado em seu sentido amplo, como conceito único, universal.

Razões (ou não) à parte para o uso (ou não) do artigo definido, o fato é que não parece haver motivo forte o bastante para que o paralelismo tenha ficado de lado, ou seja, para o emprego do artigo apenas antes de um dos substantivos.

Cá entre nós, caro leitor, confesso que o emprego do artigo definido no "titulês" é mesmo um grande mistério. Depois de anos e anos de tratos diretos a essa bola, cheguei à conclusão de que... É tudo um grande mistério. Quer um conselho? Em se tratando do emprego da preposição "a" e dos artigos definidos, não leve os títulos muito a sério. É isso.

Para Juan Carlos Izpisúa, pesquisador de células-tronco, ninguém pode ser contra a cura

Entre os afetados pela decisão judicial contra a pesquisa com células-tronco está Juan Carlos Izpisúa, pesquisador de células-tronco no Instituto Salk da Califórnia e no Centro de Medicina Regenerativa de Barcelona. Seu grupo é um dos mais destacados no desenvolvimento das células iPS ("induced pluripotent stem cells", ou células-tronco de pluripotência induzida), as células-tronco da "terceira via", que não exigem o uso de embriões. Apesar disso, seus trabalhos mais avançados, como os de outros laboratórios, se baseiam em células-tronco embrionárias. É destas que virão as primeiras aplicações médicas. Izpisúa vê a decisão do juiz como um contratempo passageiro, mais relacionado com as próximas eleições do que com a ciência ou a ética.

El País: O que representa a decisão judicial para a pesquisa com células-tronco?

Juan Carlos Izpisúa: Na prática, uma interrupção tremenda para os cientistas americanos, sobretudo para os que só são financiados por verbas federais. E chega em um momento muito inoportuno, exatamente quando as células-tronco embrionárias começam a dar resultados muito importantes para a biomedicina, avanços significativos para a compreensão de algumas doenças hoje incuráveis e para desenvolver tratamentos contra elas.

El País: Que resultados?

Izpisúa: As linhas mais avançadas são a conversão de células embrionárias em cardiomiócitos, as células do coração; também há progressos notáveis com a diabetes; e sobretudo há resultados muito recentes que podem mudar o mundo das transfusões de sangue, e que abrem caminhos para o tratamento da leucemia e outras enfermidades do sangue. Todas essas linhas de pesquisa se baseiam em células embrionárias e serão afetadas pelo embargo judicial, naturalmente.

El País: Quanto tempo vai durar o embargo?

Izpisúa: Eu me sinto otimista e espero que seja coisa de alguns meses. O bloqueio judicial é muito condicionado pelas eleições deste outono, e portanto é possível que desapareça depois dele. O problema de fundo é a interpretação que o juiz fez de uma lei de 1996. Durante os próximos meses os Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos EUA vão analisar a fundo como contorná-la ou reformá-la. Mas pretender frear essas pesquisas com minúcias legais não passa de uma fantasia mental. Quando aparecerem as primeiras terapias acabará a discussão: ninguém pode ser contra a cura.

El País: O senhor trabalha com células-tronco nos EUA e na Espanha. O ambiente jurídico representa muita diferença?

Izpisúa: O contraste é muito grande, porque aqui, como em outros países europeus, esse tipo de dilema está totalmente superado. Na Espanha todos os partidos políticos estão de acordo em apoiar essas pesquisas. As comunidades autônomas de todo espectro político as apoiam e financiam. É o que pede a sociedade, e constitui um sinal de maturidade da opinião pública que, infelizmente, não ocorre nos EUA.


Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

quarta-feira, agosto 25, 2010

Rimbaud, biografia do poeta maldito

Jardel Dias Cavalcanti

Uma espécie de filho maldito de Baudelaire, o prenunciador do surrealismo, o mestre espiritual de Jim Morrison, o poeta do desregramento de todos os sentidos adorado pelos beatniks, o menino quase sobre-humano, segundo Proust. Rimbaud tornou-se uma lenda literária ainda vivo, embora tenha deixado de se interessar por poesia já aos 19 anos. Qualquer pessoa que queira mergulhar no que há de mais radical e imaginativo em poesia moderna deve passar por ele.

Uma forma bem interessante de se aproximar de Rimbaud é lendo a biografia Rimbaud ― A vida dupla de um rebelde (Companhia das Letras, 2010, 192 págs.), de Edmund White, lançado este ano pela Companhia das Letras. White já havia escrito as biografias de Jean Genet, outro escritor maldito, e também a do romancista Marcel Proust. Seu relato da vida de Rimbaud cruza dados do desenvolvimento de sua carreira como poeta, dos 15 aos 19 anos, com seus desvarios homoeróticos com Paul Verlaine, sua eterna postura rebelde e antiburguesa e, finalmente, relata o abandono da carreira literária e sua busca por riqueza e posterior destruição e morte no período em que viveu no continente que chamou em suas derradeiras cartas de "tediosa África".

Ainda bem jovem Rimbaud deixou cair em suas mãos As flores do mal, o livro de poesias de Charles Baudelaire. Jamais voltaria a ser o mesmo. Também inebriou-se com a leitura das poesias de Victor Hugo e suas obras Os miseráveis e Os trabalhadores do mar, tornando-se ainda companheiro literário e sexual do poeta Paul Verlaine. Baudelaire, Hugo e Verlaine: ingredientes perigosos transformados em um verdadeiro coquetel molotov pelo jovem poeta de Charleville.

Segundo White, Rimbaud transportou a novas alturas "a nostalgia do ignóbil" de Baudelaire. E a prova evidente disso é o poema "Soneto do buraco do cu" ("Sonnet du trou du cul"), escrito com seu parceiro de bebedeiras e cama, Verlaine (que escreveu os primeiro oito versos, enquanto Rimbaud escreveu os últimos seis). Há nesse poema a direta intenção de ofensa contra o soneto tradicional com seus temas elevados. É um poema que pode ser considerado uma espécie de irmão espiritual de alguns poemas de Baudelaire, principalmente o denominado "A carniça".

Eis o poema "Soneto do buraco do cu":

"Obscuro e enrugado como um cravo roxo,
Ele respira, humildemente escondido em meio ao musgo
Úmido ainda de amor que segue a doce fuga
Das nádegas brancas até o âmago de sua orla.

Filamentos parecidos a lágrimas de leite
Choraram, sob o vento cruel que os repele,
Através dos pequenos coágulos de marga raiva
Para irem se perder onde o declive os chamava.

Meu sonho frequentemente se colou à sua ventosa;
Minh´alma, com ciúmes do coito material,
Dele fez seu lacrimário fulvo e seu ninho e soluços.

É a oliva desfalecida, e a flauta carinhosa;
É o tubo por onde desce a celeste pralina:
Canaã feminino encerrado nas umidades!"

Rimbaud foi um rebelde não só do ponto de vista poético, mas também na forma existencial de se opor aos comportamentos sociais burgueses. Decidiu por uma vida desregrada, consumindo-se numa aventura homossexual pública com Verlaine, que viria a destruir seu casamento e terminaria causando inúmeros problemas aos dois poetas, como quando tomado de fúria Verlaine colocou fogo na cabeleira de sua mulher e quando atirou enlouquecidamente seu próprio filho ainda bebê na parede. E ainda, entre outras coisas, a prisão do desesperado Verlaine ao disparar um tiro contra Rimbaud, que o ameaçava deixar.

Entregando-se ao mau comportamento entre o meio literário parisiense, acabou sendo acusado de irresponsável, agressivo, intragável e boca-suja. Fazendo uso de haxixe e absinto praticou aquilo que exigia do verdadeiro poeta: "o longo, imenso e sistemático desregramento de todos os sentidos". Sua própria mãe não o via senão como um cabeludo, piolhento, arruaceiro, blasfemo, vagabundo, desrespeitoso de todas as formas de ordens. Seu comportamento antipático, obsceno e grosseiro talvez tenha sido aprendido com velhos anarquistas que conheceu, sugere White.

Em meio às turbulências do seu cotidiano desregrado, não deixava de escrever seus poemas, desafiando constantemente um ambiente literário francês ainda conservador, proclamando como ordem do dia "cuspir no sagrado" e "injuriar o belo".

A ideia de uma espécie de inspiração grotesca seria o componente vital de sua poesia. Seu professor ginasial Izambard relembrou anos mais tarde seu brilhante aluno recitando o seguinte trecho dos ensaios de Montaigne: "O poeta, sentado sobre o tripé das musas, cospe furiosamente tudo o que lhe entra pela boca, agindo como uma gárgula, e dele saem coisas de toda sorte diferente, substâncias contrárias num fluxo irregular".

O texto acima não poderia ser melhor para definir a imagem da poesia do autor de Uma temporada no inferno e "O barco bêbado". Sua "Carta aos videntes" propõe uma ruptura radical com o passado da poesia. Para Rimbaud, resume White, "o poeta é um vidente que conquista seus poderes visionários pelo desregramento de todos os sentidos através do álcool, das drogas, da loucura, da doença e do crime. Assim como Baudelaire havia falado das virtudes da embriaguez, que permite ao individuo fundir-se com o mundo a sua volta e com a humanidade universal, de igual modo Rimbaud atribui a lucidez sobrenatural do poeta a tudo o que desregula os hábitos embotados da percepção".

Rimbaud tornou a poesia uma espécie de parteira das sensações capaz de registrar tudo o que seus sentidos detectem, intensificando o brilho dos fatos através da linguagem ousada e entrecortada de sua poesia. Essa poesia objetiva de pura sensação, diz White, é um impulso que Rimbaud corporificou à perfeição em seu famoso soneto "Vogais".

No poema "O barco bêbado", com cem versos, Rimbaud libera a poesia de todas as regras clássicas, levando a linguagem especificamente a ser como o narrador do poema, que é o barco sem leme, errante, bêbado, partindo sem rumo em direção ao desconhecido. Estava colocado em prática o verso livre. Diz alguns versos do poema:

"E desde logo me banhei no Poema
do Mar, infuso de astros, e lactescente,
devorando os azuis verdes; onde, flutuação pálida
e arrebatadora, um afogado pensativo às vezes vaga."

O poema compreende rimas descontraídas, imagens surpreendentes e sintaxe intrincada. "Cada elemento do poema de Rimbaud ― semântico, rítmico, linguístico é calculado para desestabilizar o leitor (...) e falar diretamente a todos os seus sentidos", diz White.

Dando continuidade e renovando Baudelaire, Rimbaud praticamente inventa o poema em prosa. Segundo White, "Baudelaire já tinha feito experimentos com poemas em prosa, mas Rimbaud iria descartar o aspecto informal, descritivo, anedótico daquelas peças e substituí-lo por um tipo órfico de enunciado que era mais visionário e mais difícil, mais frio e sublime. Também seria lírica e condensada, visual ao extremo e intrincadamente tecida".

Após fazer 19 anos Rimbaud despediu-se para sempre da literatura. "Considerava seus anos de criatividade, dos quinze aos dezenove, um tempo de bebedeiras, um período de escândalo homossexual, de arrogância e rebeldia que não levaram a nada".

Desaparecido da Europa, Rimbaud tornou-se uma lenda, principalmente depois da publicação em 1883 de Les poètes maudits, livro de Verlaine sobre Rimbaud, Mallarmé e Tristan Corbière. Em 1887, chegou a Paris a falsa notícia da morte de Rimbaud. Verlaine prontamente escreve um belo poema:

"Não quero crer em nada disso. Morto, vós,
Tu, deus entre os semideuses!
Os que o dizem estão loucos!
Morto, meu grande pecado radioso (...)"

O resto de sua curta existência se passa entre viagens a lugares exóticos e distantes da Europa, em busca de dinheiro, através, principalmente, do tráfico de armas, do comércio internacional de especiarias e como intérprete comercial.

Segundo White, a lenda de que Rimbaud era traficante de escravos na África não é verdadeira, mesmo a escravidão e o comércio de escravos sendo fatos corriqueiros na África (prática especialmente feita por brancos árabes). Rimbaud viveu ali como comerciante bem-sucedido, mas ainda assim considerava a África o lugar mais atroz do mundo, chegando a confessar à sua mãe que viver um ano naquele inferno equivalia a viver cinco anos em qualquer outro lugar. Apesar de seu ódio à África, o poeta jamais voltou para a França, senão para se tratar e morrer.

Com a perna gangrenada e depois amputada voltou à sua cidade natal, mas não conseguiu retornar ao continente africano. Veio a morrer pouco depois, aos 37 anos, em 1891, no momento de sua segunda internação em Marselha, quando um enorme tumor entre a coxa e o estômago lhe foi fatal.

Há boas traduções de Rimbaud no Brasil, como as de Lêdo Ivo e Rodrigo Garcia Lopes e Mauricio Arruda Mendonça, sendo especialmente brilhantes as de Augusto de Campos, em Rimbaud Livre. E para quem quiser ver a trajetória de Rimbaud e Verlaine no cinema, pode assistir ao excelente filme Eclipse de uma paixão, com o belo Leonardo DiCaprio.

Mas não deixe de ler a instigante biografia escrita com grande sensibilidade por Edmund White, formidável encontro com o satânico e impertinente menino rebelde que mudou o rumo da poesia na Europa.

A guerra no Iraque: uma vitória segura termina em estancamento?

THE NEW YORK TIMES
Jorge Ramos

Fila de tanques das tropas norte-americanas atravessa fronteira entre o Iraque e o Kuwait. Esta é a última brigada militar de combate dos Estados Unidos a abandonar o país

As últimas tropas de combate dos EUA foram retiradas do Iraque e até o final deste mês 50 mil soldados americanos permanecerão - os encarregados de treinar as forças armadas iraquianas. Mas persiste na mente de muitos americanos a triste pergunta: esta guerra conseguiu algo, ou foi travada totalmente em vão?

Ninguém nos EUA - nem mesmo os que defenderam com veemência a guerra nos primeiros dias - fala mais em uma "vitória americana" no Iraque.

O objetivo original desse conflito armado de sete anos de duração era encontrar armas de destruição em massa (ADM) de cuja existência se suspeitava. Mas, apesar de o presidente George W. Bush e seus assessores mais próximos terem nos garantido confiantemente que o governo de Saddam Hussein tinha obtido e desenvolvido essas armas extremamente perigosas, agora parece claro que tudo o que foi dito sobre as ADM foi somente uma desculpa para invadir e ocupar o Iraque.

Como todos sabemos, nunca foram encontradas tais armas. O hoje tristemente famoso discurso do ex-secretário de Estado Colin Powell diante da ONU em fevereiro de 2003, no qual mostrou os supostos lugares exatos onde estavam escondidas essas armas, foi pura ficção.

Depois, os erros e meias verdades foram aumentando. Não quiseram dar aos inspetores da ONU o tempo adicional necessário para contradizer ou corroborar as suspeitas americanas de que o Iraque possuía armas tão letais. A decisão de invadir já estava tomada: o governo Bush havia posto sua mira em desmantelar o governo de Saddam Hussein.

A guerra irrompeu em 20 de março de 2003. Poucos dias depois, eu estava na fronteira entre Kuwait e Iraque e pude presenciar pessoalmente a fria recepção que a população iraquiana deu às tropas americanas. Foi um sinal muito ruim. Nossos homens e mulheres no exército não foram recebidos como libertadores; ao contrário das expectativas otimistas de Washington, ninguém atirou flores, nem houve música ou dança nas ruas.

Quando finalmente ficou claro que não iam encontrar armas de destruição em massa no Iraque, os objetivos gerais dos EUA no país mudaram. Agora o suposto propósito da guerra era derrubar Saddam Hussein.

Ninguém nega hoje que Hussein era um ditador déspota e sanguinário. Mas ele não teve absolutamente nada a ver com os ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001 que mataram quase 3.000 pessoas nos EUA. Nada. No entanto, o governo Bush defendeu sua ordem de invadir o Iraque em parte traçando uma linha inexistente entre Saddam e o 11 de Setembro.

Se uma das responsabilidades oficiais do governo americano era derrubar ditadores estrangeiros, então haveria uma longa lista de tiranos para escolher. A revista "Foreign Affairs" publicou recentemente os nomes de 23 líderes autoritários no mundo que estão no poder atualmente: Kim Jong-il governou a Coreia do Norte durante 16 anos; Robert Mugabe tem três décadas dirigindo o Zimbábue; Muamar Khadafi não deixa o controle da Líbia há 41 anos. E os irmãos Castro determinaram a rota de Cuba no último meio século. Mas por algum estranho motivo os EUA decidiram derrubar só Saddam.

Então, com Saddam preso e sem ter encontrado armas de destruição em massa, o objetivo principal da guerra no Iraque mudou de novo. A meta central, disseram, era levar a democracia ao Iraque - ensinar ao sunitas, xiitas e curdos a bela arte da negociação e da concessão.

Em março, em meio à inconcebível violência de uma guerra, o Iraque finalmente realizou eleições parlamentares. Mas os resultados não foram conclusivos e, cinco meses depois, o estancamento político impediu que se forme um novo governo. Seria tolice crer que só por realizar eleições o Iraque esteja demonstrando que é uma verdadeira democracia.

Entretanto, mais de 4.400 soldados americanos e no mínimo 90 mil civis iraquianos morreram devido à violência desde 2003, segundo o Departamento de Defesa e o Iraq Body Count, respectivamente. E calcula-se que até agora a guerra teve um preço de mais de US$ 700 bilhões. Depois de tudo isso, os americanos estão mais seguros?

Ninguém pode estar seguro sobre a resposta. Há quem diga que, em vez de reduzir o risco de um futuro ataque terrorista contra os EUA, a guerra do Iraque o multiplicou.

Assim, os EUA se retiram do Iraque sem ter encontrado armas de destruição em massa, sem introduzir a verdadeira democracia na população iraquiana e sem a certeza de que a guerra reduziu o risco de ataques terroristas em solo americano - em poucas palavras, sem poder proclamar vitória.

Depois de tanto esforço e sacrifício, quando saberemos se tudo isso valeu a pena?

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Sean Connery completa 80 anos

Sean Connery ou melhor, Sir Sean Connery, completa, nesta quarta-feira (25), 80 anos. O ator foi o primeiro a encarnar o agente secreto e boa vida mais famoso no cinema: Bond, James Bond, em papel que o levou ao estrelato. Considerado por muitos especialista o melhor 007 de todos os que o interpretaram na telona, Connery conseguiu finalmente desvincular-se - um pouco - do personagem, ao receber o Oscar de melhor ator coadjuvante por sua atuação em Os Intocáveis em 1987.

Mas não foram apenas estes trabalhos que obrigaram a rainha da Inglaterra a nomear um ator com conhecido histórico de engajamento pela independência escocesa com o título de Sir em 2000. Connery também atuou em outros títulos marcantes da história do cinema como O Assassinato no Expresso do Oriente, O Homem que Queria ser Rei, O Nome da Rosa, Os Intocáveis e Indiana Jones e a Última Cruzada.

Algumas curiosidades são que o ator, antes da fama, trabalhou como entregador de leite e lustrador de caixão. Sean ficou careca com pouco mais de 20 anos e teve de usar peruca em todos os filmes de Bond. O ator doou vários de seus cachês para a causa de independência da Escócia a qual espera estar vivo para vê-la acontecer. Porém, ao deixar a Escócia, muito devido aos pesados impostos praticados na nação, Sean passou a ser mal visto por alguns outros militantes da causa.

Nos anos 80, foi creditada a ele uma frase que pegou muito mal: "Tudo bem bater em uma mulher caso ela mereça ou para mantê-la na linha, mas não se bate em uma mulher do mesmo jeito que se bate em um homem". Sua ex-mulher, Diane Cilento, com quem foi casado por 10 anos nos anos 60, escreveu em 2006, em sua biografia que Sean foi um péssimo marido e que a agrediu em várias ocasiões. O ator negou veementemente as acusações. Connery casou-se novamente em 1975 com Micheline Roquebrune. A união dura até a data presente.

Recentemente o ator deixou passar dois papéis importantes por não entender muito bem seus scripts. Gandalf em Senhor dos Anéis (2001-2003) e o Arquiteto em Matrix (1999-2003). Por esse motivo, o ator topou realizar A Liga Extraordinária em 2004 baseada na grafic novel de Alan Moore. Em 2006, Sean Connery declarou aposentadoria. O ator, já relativamente longe de ser jovem, passou por dois procedimentos médicos mais sérios nas últimas décadas. A retirada de tumores benignos da garganta em 1993 - causa da morte de seu pai em 1973 - e remoção de catarata de seus dois olhos em 2003.

Com os 007 e com um dos clássicos de Alfred Hitchcock, Marnie, Confissões de uma Ladra (1964), o ator - a partir da década de 60 - soube trazer sua forca física, sua musculatura para dentro da narrativa cinematográfica de forma orgânica. Muito diferente de outra linha de atores que tem os músculos em primeiro plano (como Johnny Weissmuller, Sylvester Stallone ou Arnold Schwarzenegger), ele soube dosar sua virilidade com os papéis que interpretavam na medida certa inspirando astros como Brad Pitt, Javier Bardem, Benício del Toro, Clive Owen, entre outros.

Aparentemente livre de problemas de saúde, o homem, que aos 80 anos é uma lenda viva do cinema e ainda consegue segurar o título de um dos homens mais sexy do mundo, promete pelo menos mais algumas décadas de voz profunda e marcante.

Feliz 80 anos, Sean Connery!

terça-feira, agosto 24, 2010

THE DISQUIETING MUSES, de Sylvia Plath, tradução de Ana Maria Chaves

Partindo do quadro de Chirico com o mesmo título, depois da denúncia do papel da mulher-esposa, Sylvia Plath sufoca-nos com o seu retrato da mulher-filha, sobre a qual recai o peso insuportável de tudo o que a mãe (e a sociedade) dela espera e a que jamais ela poderá ou quererá corresponder.


THE DISQUIETING MUSES
Mother, mother, what ill-bred aunt

Or what disfigured and unsightly

Cousin did you so unwisely keep

Unasked to my christening, that she

Sent these ladies in her stead

With heads like darning-eggs to nod

And nod and nod at foot and head

And at the left side of my crib?


Mother, who made to order stories

Of Mixie Blackshort the heroic bear,

Mother, whose witches always, always

Got baked into gingerbread, I wonder

Whether you saw them, whether you said

Words to rid me of those three ladies

Nodding by night around my bed,

Mouthless, eyeless, with stitched bald head.


In the hurricane, when father's twelve

Study windows bellied in

Like bubbles about to break, you fed

My brother and me cookies and Ovaltine

And helped the two of us to choir:

'Thor is angry; boom boom boom!

Thor is angry: we don't care!'

But those ladies broke the panes.


When on tiptoe the schoolgirls danced,

Blinking flashlights like fireflies

And singing the glowworm song, I could

Not lift a foot in the twinkle-dress

But, heavy-footed, stood aside

In the shadow cast by my dismal-headed

Godmothers, and you cried and cried:

And the shadow stretched, the lights went out.


Mother, you sent me to piano lessons

And praised my arabesques and trills

Although each teacher found my touch

Oddly wooden in spite of scales

And the hours of practicing, my ear

Tone-deaf and yes, unteachable.

I learned, I learned, I learned elsewhere,

From muses unhired by you, dear mother.


I woke one day to see you, mother,

Floating above me in bluest air

On a green balloon bright with a million

Flowers and bluebirds that never were

Never, never, found anywhere.

But the little planet bobbed away

Like a soap-bubble as you called: Come here!

And I faced my traveling companions.


Day now, night now, at head, side, feet,

They stand their vigil in gowns of stone,

Faces blank as the day I was born.

Their shadows long in the setting sun

That never brightens or goes down.

And this is the kingdom you bore me to,

Mother, mother. But no frown of mine

Will betray the company I keep.



AS MUSAS INQUIETANTES


Mãe, mãe, que tia maldosa

Ou desfigurada e hedionda

Prima insensatamente tu não

Convidaste para o meu baptizado

E em seu lugar mandou estas damas

De cabeça a lembrar ovos de passajar,

Acenar à cabeça e aos pés da cama

E ao lado esquerdo da minha alcofinha?



Mãe, tu que a nosso pedido inventavas histórias

Do Mixie Blackshort, o ursinho valente,

Mãe, onde as bruxas acabavam sempre

No forno em biscoitos, já não sei agora

Se as vias ou se tu proferias

Palavras para me livrares daquelas três damas

A acenar à noite junto à minha cama,

Sem bocas nem olhos, cabeças peladas todas cosipadas.



No furacão, quando as doze janelas

Do estúdio do pai inflaram para dentro

Como bolhas quase a rebentar, tu deste

A mim e ao mano Ovaltine e biscoitos

E ajudaste-nos a cantarolar:

“Thor está zangado; bum bum bum!

Thor está zangado, mas não vamos ligar!

Mas aquelas damas partiram os vidros.



Quando as meninas bailavam em pontas

Agitando luzinhas como vaga-lumes

Cantando a cantiga do pirilampo, eu,

Escondida a um canto, não erguia os pés,

Pregados ao chão, de tutu a brilhar

Na sombra lançada pelas cabeças lúgubres

Das minhas madrinhas, e tu a chorar:

E a sombra alongou-se e a luz apagou-se.



Mãe, mandaste-me ter lições de piano

E elogiavas os meus arabescos

Mas os professores achavam-me os dedos

Hirtos como paus apesar das escalas

E das horas passadas a praticar,

E o ouvido embotado, um caso desesperado,

E eu aprendi, oh sim, aprendi, mas noutro lugar,

Com as musas, mãe querida, que não contrataste.



Um dia acordei e ali estavas, mãe,

A pairar no ar do mais puro azul

Num verde balão a luzir com um milhão

De flores e pássaros que nunca existiram

Nunca, nunca, nunca, em nenhum lugar.

Mas o planeta desfez-se no ar,

Bola de sabão, quando tu disseste: Vem cá!

E as companheiras de viagem então enfrentei.



E agora, dia e noite, à cabeceira, ao lado e aos pés,

Montam-me vigília com vestes de pedra,

Os rostos vazios de quando eu nasci.

Sombras alongadas no sol poente

Que nunca se apaga nem nunca se acende.

E é este o reino a que me trouxeste,

Mãe, mãe. Mas em meu semblante nada

Trairá as que me acompanham.

Sonda da Nasa tira foto da Terra e da Lua a 183 milhões de quilômetros de distância

A Messenger está em missão ao redor do planeta Mercúrio

A sonda Messenger, da Nasa, em missão ao redor do planeta Mercúrio, tirou uma foto da Terra e da Lua a 183 milhões de quilômetros - distância equivalente a dar uma volta na Terra, todos os dias, durante 12 anos. A foto foi tirada como parte da missão da sonda para procurar por vulcanoides, pequenos asteroides rochosos que os cientistas acreditam existir entre o Sol e Mercúrio.



A Terra pode ser vista de uma distância de 183 milhões de quilômetros em uma imagem tirada pela sonda Messenger, da Nasa (Nasa)

A sonda procura pelos objetos quando está mais próxima do Sol. Ela segue um caminho que percorre a parte interior do sistema solar, incluindo uma aproximação a Terra, duas a Vênus e três a Mercúrio. A sonda Messenger está usando a gravidade da Terra e de Vênus para alterar sua trajetória antes de entrar na órbita de Mercúrio, em março de 2011.




Uma imagem da agência espacial japonesa mostra a Terra surgindo atrás da Lua












O gráfico mostra a órbita elíptica da sonda Messenger em relação a Terra, Sol e Mercúrio. A sonda utiliza a gravidade dos planetas para chegar mais próximo de Mercúrio em 2011







Imagem da Terra como um ponto branco através dos anéis de Saturno, tirada pela sonda da Nasa chamada Cassini, em 2006

Sorriso de "Mona Lisa" deve-se a esmalte, dizem cientistas

DE SÃO PAULO

O segredo foi finalmente revelado. Cientistas franceses descobriram como Leonardo da Vinci criou o efeito de mistério do sorriso de "Mona Lisa", uma de suas obras mais famosas.

Segundo os pesquisadores do Centro de Pesquisa e Restauração de Museus da França e do European Synchrotron Radiation Facility, tudo se deve ao efeito esfumaçado (sfumato) desenvolvido por Da Vinci: ele chegava a aplicar até 40 camadas de esmalte ("glaze") sobre a tela.

Misturado com outros pigmentos, o esmalte cria leves borrões e sombras nos lábios de Mona Lisa, fazendo com que seu sorriso quase imperceptível pareça desaparecer ao ser encarado de frente.

Por conta da demora para secar, o efeito pode ter levado anos para ser alcançado.
Os cientistas também suspeitam que o artista aplicou o esmalte diretamente com as mãos, já que não há marcas de pincel na pintura.

Da Vinci é conhecido por aplicar o sfumato para borrar linhas e fundir sombras. No entanto, até então não se tinha noção de quais técnicas ele utilizava para obtê-lo, o que intrigava experts da arte.

"A delicadeza das camadas de esmalte deve ser relevada. Ela confirma a destreza do pintor. A velocidade calculada e a evolução progressiva do esmalte implica a necessidade de várias camadas para se obter a sombra mais escura", escreveu Philippe Walter, que liderou o estudo, na revista científica "Angewandte Chemie".

Cada camada tem apenas dois micrômetros, algo 50 vezes mais fino que um fio de cabelo. Os cientistas usaram uma técnica conhecida como espectrometria por raios x fluorescentes, que permitiu o estudo sem a retirada de amostras que poderiam estragar a obra.

COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

segunda-feira, agosto 23, 2010

São Paulo recebe exposição fotográfica com as enchentes do passado

Mostra com material de profissionais e amadores abre nesta quarta-feira; conteúdo contempla apenas parte da problemática na cidade, segundo curador

Ana Bizzotto, de O Estado de S.Paulo

SÃO PAULO - Inundações que hoje provocam estragos em São Paulo já faziam parte do cotidiano da cidade muito antes da canalização dos rios Tietê, Tamanduateí e Pinheiros. O histórico fotográfico dessas enchentes na capital paulista pode ser conferido na exposição Inundações em São Paulo, que abre nesta quarta-feira, 18, na Galeria Olido.

Com cerca de 45 fotografias em preto e branco do período entre 1862 a 1975, a mostra apresenta parte do acervo iconográfico do Museu da Cidade de São Paulo - Departamento do Patrimônio Histórico. São registros de autores desconhecidos e de profissionais como Benedito Junqueira Duarte e Militão Augusto de Azevedo, primeiro fotógrafo de paisagem urbana da cidade. É dele a imagem de uma enchente na região do Rio Tamanduateí em 1862, a mais antiga do acervo.

"É o primeiro registro fotográfico conhecido de uma inundação", explica o curador Henrique Siqueira. A imagem, junto com outras duas do século XIX, integra o primeiro dos quatro módulos da exposição.

No segundo módulo, dez imagens mostram as enchentes do Rio Tamanduateí quando já havia sido canalizado. "Antes ele serpenteava em volta do que é hoje a rua 25 de março. Isso provocava muitas inundações", conta Siqueira. "Com a canalização no fim do século XIX e a transformação da Várzea do Carmo em Parque Dom Pedro, a região acabou se tornou muito atraente."

No terceiro módulo, uma grande enchente ocorrida em 1929 é retratada em 14 imagens. Segundo Siqueira, é a inundação mais documentada no acervo. "Acho que como essa enchente provocou uma grande comoção social à época, fizeram uma boa documentação. O nível da água subiu 3,45 metros acima do Rio Tietê e inundou praticamente toda a parte baixa do Parque Dom Pedro e do entorno do Tietê e do Rio Pinheiros."

O quarto módulo apresenta fotografias do Rio Tietê. Entre elas, a construção da Ponte das Bandeiras no lugar da Ponte Grande, a enchente de 1943, que atingiu o Bom Retiro, as obras de retificação do rio e o transbordamento do Tietê em vários momentos.
As imagens da exposição, segundo o curador, mostram como a documentação iconográfica sobre as inundações se amplia à medida que a cidade cresce e se desenvolve. "A mostra não contempla toda a problemática das enchentes, mas pontua alguns desses momentos ao longo dos últimos 150 anos."

SERVIÇO

Inundações em São Paulo
Galeria OlidoEspaço expositivo - 1º andar - Avenida São João, 473
Abertura: Quarta-feira, 18, às 19hDe 19/8 a 3/10 - terça a domingo, das 13h às 20h.
Grátis.

A história das mulheres esquecidas

THE NEW YORK TIMES

UMBERTO ECO

Eu me deparei recentemente com uma enciclopédia online de mulheres, muitas das quais foram injustamente esquecidas pela maioria dos historiadores. Há uma exceção: em seu livro de 1690, “A História das Mulheres Filósofas”, o acadêmico francês Gilles Ménage escreveu sobre Diotima, a socrática; Arete de Cirene; Nicarete de Mégara; Hipárquia, a cínica; Teodora, a peripatética; Leontina, a epicurista, e Temistóclea, a pitagorista, sobre as quais sabemos muito pouco. E é justo que muitas dessas mulheres sejam retiradas do esquecimento.

Ainda assim, o que realmente falta é uma enciclopédia de esposas. Costuma-se dizer que por trás de cada grande homem há uma grande mulher, desde o imperador bizantino Justiniano 1º e sua esposa Teodora (a ex-atriz), até Barack e Michelle Obama. É curioso é que o oposto nunca é dito: nós não falamos sobre “o homem por trás” da grande Elizabeth 1ª da Inglaterra, por exemplo, ou seu par contemporâneo viúvo, que reinou por muito tempo. Mas geralmente as esposas raramente recebem sua devida atenção, se é que recebem.

Nas histórias da antiguidade clássica em diante, mais espaço é dedicado às amantes do que às esposas. Clara Schumann e Alma Mahler, que foram casadas com os compositores Robert Schumann e Gustav Mahler, são exceções, mas essas mulheres causaram agitação por seus casos extra e pós-conjugais. Basicamente, a única esposa que é sempre mencionada simplesmente por ser uma esposa é Xântipe, que foi casada com Sócrates –e mesmo assim, apenas para se dizer coisas ruins a respeito dela.

Eu li recentemente um texto do escritor italiano do século 20, Pitigrilli, que recheou suas histórias com citações eruditas – apesar de frequentemente citando os nomes errados – e com histórias que ele encontrava sabe Deus onde. A certa altura Pitigrilli invoca o alerta severo de São Paulo, “Melius nubere quam uri”, ou “Melhor casar do que arder de desejo” – um bom conselho, a propósito, para os padres católicos romanos. Pitigrilli também observa que a maioria dos grandes, incluindo Platão, Lucrécio, Virgílio e Horácio, era solteiro. Mas esse não é inteiramente o caso.

Pode ser verdadeiro para Platão, que, segundo Diógenes Laércio, escrevia epigramas para todo rapaz jovem de boa aparência. Por outro lado, Platão aceitou duas mulheres como pupilas, Lastênia e Axiotéia, e é dito que ele comentou que um homem virtuoso deve ter uma esposa.

Talvez ele fosse desconfiado devido ao casamento infeliz de Sócrates com Xântipe.O famoso pupilo de Platão, Aristóteles, se casou com Pítias e após a morte desta, ele se uniu a Hérpiles, que não era esposa e nem concubina. Mesmo assim, Aristóteles viveu com Hérpiles como marido e esposa, e lembrou-se dela com afeto em seu testamento. Ela lhe deu um filho, Nicômaco – que, segundo acreditam alguns historiadores, dá nome à “Ética a Nicômaco”.

Horácio não teve esposas e nem filhos, mas a julgar pelos seus textos, eu suspeito que ele se permitia algumas escapulidas românticas. Quanto a Virgílio, ele parece ter sido tímido demais para se declarar para uma mulher, apesar dos rumores de que teve um relacionamento com a esposa de Varius Rufus. Ovídio, por outro lado, se casou três vezes.

Em relação a Lucrécio, as fontes antigas nos dizem quase nada. Uma breve menção nos textos de São Jerônimo nos faz acreditar que Lucrécio cometeu suicídio por causa de uma poção de amor que o enlouqueceu – apesar do santo certamente ter um interesse em declarar como sendo louco um ateísta como Lucrécio. Com base nesse relato, outros adornaram a história, acrescentando a misteriosa Lucila, que pode ter sido esposa ou amante de Lucrécio. Nessa versão, ela era uma mulher apaixonada que pediu a uma bruxa para que preparasse para ela a poção, apesar de outros terem dito que Lucrécio preparou a poção pessoalmente; de qualquer forma, não é boa a imagem que ficou de Lucila. Isto é, a menos que Giulio Pomponio Leto, um humanista italiano do século 15, estivesse certo quando disse que Lucrécio se matou porque estava infelizmente apaixonado por outra pessoa diferente.

Séculos depois, Dante sonhava com Beatriz, mas se casou com Gemma Donati –apesar de nunca ter mencionado esta última em seus textos. Todo mundo pensa que Descartes era solteiro, já que morreu muito jovem após uma vida bastante agitada. Mas ele manteve uma companheira por alguns poucos anos –Helena Jans van der Strom, que ele conheceu na Holanda. Oficialmente, ele só a reconheceu como empregada doméstica. Mas diferente de certos rumores difamadores, ele reconheceu a filha que teve com ela, Francine, que morreu com 5 anos. Segundo outras fontes, Descartes também teve outros casos amorosos.

Resumindo, fora os homens da Igreja, que supostamente eram celibatários, e homens mais ou menos assumidamente homossexuais, como Cyrano de Bergerac e Ludwig Josef Johann Wittgenstein, Immanuel Kant é um dos únicos grandes pensadores da história que certamente eram solteiros –o registro histórico é bastante claro a respeito.

(Surpreendentemente, até mesmo Georg Wilhelm Friedrich Hegel foi casado; na verdade, ele também foi uma espécie de conquistador, chegando a ter um filho ilegítimo. E há Karl Marx, que era profundamente ligado à sua esposa, Jenny von Westphalen.)

Mas a dúvida permanece: que influência Gemma teve sobre Dante, ou Helena sobre Descartes, sem contar o número enorme de esposas sobre as quais a história diz ainda menos? E se todas as obras de Aristóteles tiverem sido realmente escritas por Hérpiles? Nós nunca saberemos. A história, escrita pelos maridos, condenou as esposas ao anonimato.

Tradução: George El Khouri Andolfato

sexta-feira, agosto 20, 2010

Super-heróis de hoje têm influência negativa em meninos, diz estudo

Um estudo apresentado em uma conferência de psicologia nos Estados Unidos afirma que os super-heróis de filmes da atualidade influenciam negativamente os meninos.

Segundo a pesquisa, apresentada em um encontro da Associação Americana de Psicologia, esses super-heróis promovem um estereótipo violento e de "machão".

Eles seriam diferentes dos de antigamente, pois não apresentariam um lado mais vulnerável e humano.

O estudo afirma que a única figura masculina alternativa de super-herói da atualidade é a do "preguiçoso", que evita assumir responsabilidades.

Super-homem e Homem de Ferro

A pesquisadora Sharon Lamb, da Universidade de Massachusetts, nos Estados Unidos, fez um estudo com 674 meninos de quatro a 18 anos de idade para descobrir o que eles veem na TV e no cinema.

Com sua equipe, ela analisou o impacto que os principais modelos de comportamento masculinos têm nos garotos.

"Há uma grande diferença entre os super-heróis de hoje e os heróis de gibis do passado", afirma Lamb.

A pesquisadora diz que, nos personagens do passado, os meninos podiam perceber que - sem roupa de super-herói - eles eram "pessoas normais com problemas normais e muitas fraquezas". Seria o caso do Super-Homem e o Lanterna Verde, que têm identidades secretas, com carreiras e que, segundo a pesquisadora, foram criados como reação ao fascismo e para lutar por justiça social.

"O super-herói de hoje é como um herói de ação que pratica violência sem parar. Ele é agressivo, sarcástico e raramente fala sobre as virtudes de se fazer o bem para a humanidade", disse Lamb, segundo artigo no jornal britânico The Guardian.

"Esses homens, como é o caso do Homem de Ferro, exploram as mulheres, exibem joias e demonstram sua masculinidade com armas poderosas", afirmou, se referindo a um herói que foi sucesso de bilheteria com um filme neste ano.

Apesar de ter surgido nos quadrinhos em 1963, o Homem de Ferro interpretado por Robert Downey Jr. no cinema corresponderia ao perfil descrito pela cientista.

Preguiçoso
A alternativa a esse super-herói agressivo da atualidade seria o preguiçoso.

"Preguiçosos são engraçados, mas preguiçosos não são o que os meninos deveriam querer ser. Eles não gostam da escola e evitam responsabilidades", afirma Lamb.

Um outro estudo, da Universidade do Arizona, também apresentado na conferência, afirma que a capacidade dos meninos de evitarem estereótipos masculinos diminui quando eles entram na adolescência.

Segundo o professor Carlos Santos, que fez a pesquisa com 426 meninos, "ajudar os meninos a resistir a esse tipo de comportamento o mais cedo possível parece ser um passo vital para se melhorar a saúde e qualidade das suas relações sociais".

quinta-feira, agosto 19, 2010

Uma incerteza realmente incomum rege a situação econômica dos EUA e Europa

THE NEW YORK TIMES

Thomas L. Friedman
Berlim (Alemanha)

No decorrer das últimas semanas eu tive a oportunidade de conversar com autoridades econômicas importantes nos Estados Unidos e na Alemanha, e creio que descobri em que situação nós nos encontramos. Nós nos encontramos mais ou menos no seguinte pé: as coisas estão melhorando, exceto onde elas não estão melhorando. Os bailouts (operações de resgate financeiro de empresas em dificuldades) estão funcionando, exceto onde eles não estão funcionando. Devagar, as coisas melhorarão, a menos que elas, devagar, piorem. E nós deveremos saber o que acontecerá em breve, a menos que não venhamos a saber.

Não é de se admirar que as empresas estejam exibindo tamanha relutância em contratar funcionários diante de tanta “incerteza incomum”, conforme o presidente do Fed (o banco central dos Estados Unidos) define a situação. Um dos motivos pelos quais isso é tão incomum é o fato de nós não estarmos apenas tentando nos recuperar de uma crise financeira provocada pelo empréstimo maluco de dinheiro para a aquisição de imóveis. Nós estamos tendo também que lidar com três enormes problemas estruturais que se acumularam durante várias décadas e que atingiram, ao mesmo tempo, um ponto crítico. E, conforme tem repetido Mohamed El-Erian, o diretor-executivo da Pimco, “Problemas estruturais necessitam de soluções estruturais”. Não existe nenhuma solução rápida. Nos Estados Unidos e na Europa, nós precisaremos de alguns grandes consertos estruturais para retornarmos à rota do crescimento sustentável – mudanças que exigirão um grau de consenso político e de sacrifícios que encontra-se terrivelmente ausente até este momento na maioria dos países.

O primeiro grande problema estrutural são os Estados Unidos. Nós acabamos de encerrar mais de uma década de crescimento alimentado por dívidas, durante a qual nós tomamos dinheiro emprestado da China para que pudéssemos nos presentear com uma redução de impostos e outras regalias, sem que tivéssemos, entretanto, reduzido os gastos ou feito investimentos de longo prazo em novos catalizadores de crescimento. Agora o nosso governo está mais endividado e tem mais obrigações futuras do que nunca – como a ampliação dos benefícios referentes à prescrição de medicamentos via Medicare, a ampliação do sistema de saúde, a ampliação da guerra no Afeganistão, ampliação dos pagamentos do Social Security (porque os baby boomers, os membros da geração nascida entre 1946 e 1964, estão prestes a se aposentar) e menos crescimento econômico real para cobrir todos esses custos.

Os Estados Unidos provavelmente irão precisar de alguns estímulos extras para estimular a criação de empregos, mas neste momento qualquer estímulo precisa ser dirigido para investimentos capacitadores de crescimento que gerarão um valor maior do que os seus custos. Caso contrário, tais estímulos só farão com que a dívida cresça. Isso significa investimentos em construção de capacitação profissional e de infraestrutura, bem como incentivos fiscais para a criação de novos negócios e a promoção das exportações.

Para que um estímulo econômico seja aprovado pelo congresso, ele terá que ser acompanhado de cortes de gastos e/ou aumentos de impostos implementados para quando a situação econômica melhorar. Segundo, o ponto de inflexão da solvência dos Estados Unidos está coincidindo com um ponto de inflexão tecnológico. Graças à difusão da Internet, ao crescimento da computação em nuvem e das redes sociais, e à transição dos desktops e laptops para iPads e iPhones, a tecnologia está destruindo em um ritmo mais acelerado empregos mais antigos e de menor qualificação que pagavam um salário decente, e ao mesmo tempo criando empregos que pagam um salário decente, mas que exigem um nível educacional mais elevado do que nunca.

Só existe uma maneira de enfrentar esse desafio: mais inovações para estimular novas indústrias e empregos capazes de pagar aos trabalhadores US$ 40 (R$ 70) por hora, juntamente com uma iniciativa substancial para treinar mais norte-americanos, com o objetivo de ganhar esses empregos dos nossos concorrentes mundiais. Não existe nenhuma outra maneira. Mas a economia global necessita também de uma Europa saudável, e o terceiro desafio estrutural com o qual nós nos deparamos é o fato de a União Europeia, um mercado enorme, estar enfrentando aquilo que o ex-embaixador dos Estados Unidos na Alemanha, John Kornblum, chama de a sua primeira “crise existencial”. Pela primeira vez, observou ele, a União Europeia “depara-se com a possibilidade de entrar em colapso”.

A Alemanha deixou claro que, para que a zona do euro continue existindo, ela terá que se nortear pela ética de trabalho alemã, e não pela grega. Mas será que os parceiros da Alemanha na zona do euro serão capazes de elevar os seus padrões? Isso é algo de incerto. Acompanhar o ritmo da Alemanha não será fácil. Uma década atrás, a Alemanha era “o problema da Europa”. Mas isso não ocorre mais. Os alemães superaram aquela situação. Os sindicatos trabalhistas abriram mão de aumentos de salário e permitiram que as empresas aumentassem a competitividade e a flexibilidade da mão-de-obra, enquanto o governo subsidiava firmas para manter trabalhadores qualificados empregados durante a crise econômica. Agora a Alemanha está em ascensão, mas o país também enfrenta problemas estruturais.

O seu crescimento depende de exportações para a China, e a Alemanha é a maior financiadora da Grécia. “Mesmo assim, a Alemanha não é mais aquele país com os estudantes mais velhos e os aposentados mais novos”, afirma Kornblum.

Contrastando com isso, os dois grandes partidos dos Estados Unidos ainda se agarram a crenças religiosas centrais como se nada tivesse mudado. Os republicanos tentam minar as iniciativas do presidente sempre que têm oportunidade e oferecem a sua receita do tipo reduções-de-impostos-resolverão-tudo – sem jamais especificarem de que serviços abrirão mão para que se possa arcar com os custos disso.

O presidente Barack Obama nos deu um sistema expandido de saúde antes de expandir os recursos econômicos para sustentar esse sistema. A gente ainda tem a impressão de que os nossos políticos estão dizendo: “Esperem um momento, parem tudo, nós temos que trabalhar juntos”. Será que essas pessoas não têm os seus próprios planos de aposentadoria 401(k) e filhos preocupados com o desemprego?

O presidente precisa levar as lideranças sindicalistas, empresariais e parlamentares a Camp David e não voltar de lá sem conseguir um grande acordo relativo a impostos, promoção do comércio, energia, estímulos econômicos e cortes orçamentários que deem ao mercado alguma certeza de que nós estamos nos movimentando juntos – não em relação a um bailout, mas sim no que se refere a um renascimento econômico para o século 21.

Vocês poderão dizer: “Não há chances de que isso aconteça”. Bom, neste caso o que eu posso dizer é que nós deveremos nos preparar para um longo período de desemprego persistente e de um crescimento econômico anêmico.

Tradução: UOL

Novas fotos polêmicas de biografia não autorizada de Angelina Jolie são divulgadas


Site FHM publica fotos da atriz nua


Do EGO, em São Paulo

O site FHM publicou as supostas fotos de Angelina Jolie nua, em situações de perversão sexual e consumo de heroína, que foram parar na biografia não autorizada da atriz, "An Unauthorized Biography". Andrew Morton, autor da obra, teria comprado as oito fotos de um amigo, fornecedor de drogas de Jolie.

A revista americana "Star" já havia publicado na capa algumas das polêmicas imagens que, segundo Monton, "são um lembrete assustador de um período em sua vida que ela quer esquecer". Dentre algumas revelações do escritor, está a de que Jolie teria uma tatuagem genital em homenagem ao ex-marido, Billy Bob Thorton, e que já chegou em pensar em contratar um matador para acabar com sua vida.















Fim da novela: presidente do Santos anuncia permanência de Neymar

João Henrique Marques
Em Santos (SP)

Após analisar as propostas de Chelsea-ING e Santos, Neymar deu seu veredicto. O atacante se antecipou ao possível pagamento de multa rescisória por parte do clube inglês e garantiu que vai permanecer no alvinegro.

A decisão foi anunciada pelo presidente santista, Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro, em entrevista coletiva, no início da noite desta quinta-feira, na Vila Belmiro."Falou mais alto a cabeça de homem, no corpo desse garoto, que foi capaz de tomar decisão corajosa. Fico muito feliz de ser personagem desse processo. Construímos uma possibilidade diferente. Não aceitamos mais ideia de um país subdesenvolvido sempre à mercê dos poderosos clubes europeus", disse Luis Alvaro.

"Foi complicada a decisão. Foi difícil, a cabeça estava um trevo. Mas Deus nos deu sabedoria e competência para tomar a melhor decisão. Agora é pensar só no Santos e ganhar mais títulos", comentou Neymar.Neymar firmou um novo contrato com o Santos na tarde desta quinta-feira. O vínculo tem validade por cinco temporadas: a multa rescisória terá uma acréscimo de 10 milhões de euros a partir de dezembro e passará a ser de 45 milhões de euros (aproximadamente cerca de R$ 101 milhões).

Depois de acompanhar a final da Copa Libertadores, na noite de quarta-feira, em Porto Alegre, o presidente do Chelsea, o americano Bruce Buck, oficializou uma proposta de 30 milhões de euros ao Santos nesta quinta. O valor ainda está 5 milhões abaixo da multa rescisória, que só seria paga caso o atleta aceitasse se transferir para o time londrino.

“Me preocupo com a verdade. Fatos são documentos. A última oferta ainda era inferior ao valor da multa. Só que a decisão de permanecer já foi tomada fundamentalmente pelo jogador”, destacou o presidente santista.O jogador se reuniu com o empresário Wagner Ribeiro, na tarde desta quinta, em São Paulo, e analisou o plano de carreira traçados pelos dois clubes. De lá, o jovem saiu decidido a permanecer.Segundo o presidente santista, um projeto revolucionário foi apresentado a Neymar. O plano de carreira tem como objetivo fazer o jovem se tornar o melhor jogador do mundo mesmo atuando no Brasil. Além disso, o Santos promete atingir o salário de cerca de R$ 500 mil mensais por meio de ações de marketing envolvendo o atleta. A tática já foi utilizada para pagar cerca de R$ 1 milhão a Robinho.

quarta-feira, agosto 18, 2010

O modelo "Serra Palin" emborcou

ELIO GASPARI

O tucano precisa lembrar de Guimarães Rosa:
"Mestre não é quem ensina, mestre é quem, de repente, aprende"

SEGUNDO O IBOPE, Dilma Rousseff botou 11 pontos de frente sobre José Serra. Pelo Datafolha são oito e pelo Vox Populi, 16. Em todos ela está em alta, e ele, em queda. Quem melhor explica essa circunstância é um simples apelido: "Serra Palin". A sacada veio do cientista social Celso Rocha de Barros, do blog "Na prática a teoria é outra".

Enquanto John McCain, candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos, tirou da cartola Sarah Palin, uma governadora do Alasca, desconhecida, feroz e simpática, o candidato tucano, que o país conhece há décadas, apresentou-se como algo que nunca foi. Pior: pelo que se suspeita, apresenta-se como algo de que o eleitorado não precisa. Há milhões de pessoas dispostas a votar num candidato que denuncia o fisiologismo do aparelho petista. Essas pessoas também não gostam do iraniano Ahmadinejad, do boliviano Evo Morales e das Farc colombianas.

A manobra da invenção de Sarah Palin deu errado porque ela encantou o eleitorado conservador americano, que já estava disposto a votar em McCain. (Voto feminino? O companheiro Obama prevaleceu entre as mulheres.) A manobra "Serra Palin", além de primitiva, revelou-se idêntico equívoco aritmético. Uma pessoa pode detestar Lula e Dilma Rousseff por 17 motivos, mas isso não faz com que ela possa votar 17 vezes.

Serra lançou-se candidato com um discurso de unidade nacional, por um Brasil que "pode mais", apimentado com um toque moralista ("meu governo nunca cultivou roubalheira"). Em poucos dias arquivou a proposta de unidade e serviu a pimenta. Tentando ser o que nunca foi, deixou de informar quem pretende ser como presidente da República. O coroamento desse galope em direção ao nada poderá se cristalizar numa tentativa de metamorfose num hipotético "Zé", eco aziago da transformação de Alckmin no "Geraldo" da campanha de 2006.

Enquanto o tucanato não soube para onde ir, a plataforma petista foi simples como uma lâmina: Dilma Rousseff é a candidata de Lula. É verdade que os 78% de popularidade de Nosso Guia lhe permitem esse luxo, mas esse dado está na equação política nacional desde o final do ano passado, quando ele atravessou a crise financeira com leves escoriações.

O modelo "Serra Palin" emborcou. Restam a José Serra os dois meses decisivos da campanha e a possibilidade de levar a disputa para o segundo turno. A seu favor, terá os ímpetos do "já ganhou" petista. Prova disso pode ser encontrada no desembaraço com que os companheiros já começaram a compor ministério, na ressurreição de comissários saídos do sarcófago de réus do processo do mensalão e até mesmo no reaparecimento das rivalidades das facções internas do PT. Afinal de contas, não se pode supor que, numa campanha eleitoral, só um dos lados cometa todos os erros durante todo o tempo. Nesse altura, vale lembrar, os desastres raramente derivam de estratégias ou astúcias da marquetagem. O fator decisivo, por incrível que possa parecer, sempre sai da essência da candidatura.

Quatro meses de campanha crispada renderam nada aos tucanos. Em março, ao deixar o governo de São Paulo, Serra lembrou-se de Guimarães Rosa: "Mestre não é quem ensina, mestre é quem, de repente, aprende".

Marcos recebe homenagem por jogo número 500

Marcos mostra o boneco em homenagem aos 500 jogos (Foto: Ari Ferreira)

LANCEPRESS!

O goleiro Marcos foi homenageado na véspera de sua partida de número 500 pelo Palmeiras. Ele recebeu uma camiseta simbolizando a marca das mãos do técnico Luiz Felipe Scolari.

- Em 1997, quando cheguei, tive a oportunidade de conhecer o Marcos. Ele começou um trabalho conosco. E aquele trabalho envolvia a Mercosul para que em 98 ele fosse titular. Felizmente, deu tudo certo. Tenho a alegria de dizer isso. E que ele foi meu companheiro, também, em 2002. Fico muito feliz em entregar essa camisa (Marcos 500).

Além da camisa comemorativa, ele também ganhou um troféu banhado a ouro com o formato de suas luvas.Outra homenagem que o Santo recebeu do clube pelos 500 jogos foi um boneco em sua pose característica: ajoelhado e com as mãos para o alto. Ele já está sendo vendido aos torcedores na loja oficial do Verdão, por R$ 299.

E a partida que representa a marca do Santo é decisiva. Em má campanha no Campeonato Brasileiro, a Cop Sul-Americana virou prioridade. O problema é que o Palmeiras perdeu o primeiro jogo por 2 a 0 para o Vitória e precisa repetir o placar para levar a decisão para os pênaltis. Para se classificar direto, precisa vencer por três ou mais gols.

E mais: Marcos se considera um 'milagre da medicina'

Por causa da importância do jogo, a homenagem quase ficou para sexta-feira.
- O pessoal relutou em fazer essa homenagem, porque amanhã (quinta) é um jogo importante. Mas tem de festejar. 500 jogos poucos na vida conseguiram jogar por um clube profissional. Parabéns! E feche o gol amanhã, hein? (risos) - finalizou Felipão.

terça-feira, agosto 17, 2010

TV nunca mudou eleição presidencial

Desde 89, candidato que estava na frente no início da propaganda eleitoral sempre ganhou a disputa no final

Em outras eleições, como na vitória de Kassab em 2008, TV foi crucial para alterar resultado da disputa

RANIER BRAGON
FERNANDA ODILLA
DE BRASÍLIA

A campanha na TV tem histórico de relevantes movimentações na intenção de voto dos candidatos à Presidência, mas até hoje não teve impacto suficiente para tirar a vitória daquele que iniciou o período na dianteira.

Nas cinco eleições presidenciais após a redemocratização -de 1989 a 2006-, saiu vitorioso o candidato que liderava as pesquisas imediatamente antes da entrada da campanha na TV.

A análise das planilhas do Datafolha mostra que se encontravam nessa situação Fernando Collor (PRN) em 1989, Fernando Henrique Cardoso (PSDB) em 1994 e 1998, e Lula (PT) em 2002 e 2006 -em 94, FHC dividia a ponta com Lula, em empate técnico, mas em ascensão.

Apesar disso, a propaganda televisiva coincidiu com períodos de movimentações que em dois casos levaram um cenário de vitória em primeiro turno para o segundo.

Em 1989, Collor abriu o período da propaganda com sete pontos de vantagem sobre todos os principais oponentes somados. No final, havia caído de 40% para 26% na pesquisa. Embolado na terceira posição, Lula praticamente dobrou seu índice e, por margem estreitíssima, derrotou Leonel Brizola (PDT) e foi ao segundo turno.

Nas vitórias de 1994 e 1998, ambas no primeiro turno, FHC tinha mais minutos na programação eleitoral e assistiu no período televisivo a uma ampliação da vantagem em relação a Lula.

Já em 2002, Lula iniciou a TV com Ciro Gomes (PPS) como seu principal oponente. Entretanto, Ciro derreteu de 27% para 11% das intenções de voto, desempenho em parte atribuído à exploração na TV de frases polêmicas e da discussão com um eleitor.

José Serra (PSDB), dono da maior fatia eletrônica, acabou indo ao segundo turno."O horário eleitoral sepultou as chances de Ciro por conta das bobagens que ele falou", disse o cientista político Marcus Figueiredo, professor da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro).

Autor de estudos sobre o tema, ele diz que a propaganda na TV constrói a imagem dos candidatos e pauta debates, mas que está longe de ser a única variável para que o eleitor defina seu voto.

Na disputa de Lula pela reeleição, em 2006, o petista vencia o conjunto dos principais oponentes por dez pontos no início da propaganda.Em meio à repercussão do episódio em que petistas foram presos tentando comprar um dossiê antitucano e após faltar ao último debate, na TV Globo, teve que disputar o segundo turno com Geraldo Alckmin (PSDB).

As planilhas do Datafolha mostram não haver padrão sobre o momento da campanha na TV em que as intenções de voto se estabilizam.

OUTRAS ELEIÇÕES
Houve mudanças, no entanto, no resultado final de outras eleições. Um dos exemplos mais claros é o da eleição de Gilberto Kassab (DEM) à Prefeitura de São Paulo, em 2008. Em 22 de agosto, na semana de início da propaganda na TV, ele tinha 14%, contra 41% de Marta Suplicy (PT) e 24% de Geraldo Alckmin (PSDB).

Uma colagem surrealista

Da Coluna do Augusto Nunes

Aprisionado pela legislação brasileira, algemado por marqueteiros e empobrecido pelo amadorismo, o horário eleitoral na TV lembra uma fusão amalucada de cenas subtraídas de filmes de época, documentários mambembes, comédias non-sense, gravações de concursos de poesias colegiais, chanchadas sem graça e bem acabados comerciais de margarina. Sem que o espectador entenda direito o que está acontecendo, aparecem em sequência, por exemplo, um comunista do começo do século 20, um candidato sem chances que há 20 anos repete a mesma frase, um humorista que se trata como piada, uma antiga garota da capa que apresenta o marido mudo e, no meio do cortejo de espantos, três produtos apresentados com requintes de Primeiro Mundo. Os três tão à vontade quanto estaria Osama Bin Laden declamando a Declaração dos Direitos Humanos.

José Serra, para aproximar-se da gente humilde, virou Zé. Marina Silva, para não parecer tão gente humilde, vestiu um figurino de grife. Dilma Rousseff, para aproximar-se da gente humilde, virou risonha desde criancinha. (E, para distanciar-se da verdade, também virou uma flor de simpatia desde a mocidade e democrata desde o útero). Pelo resumo biográfico do programa de estreia, são três provas irrefutáveis de que a vida vale a pena. Pelo que viram os telespectadores, o elenco inteiro do primeiro dia é uma prova definitiva de que está na hora de rejuvenescer a legislação, melhorar a cabeça do eleitorado, filtrar com mais apuro todos os candidatos e introduzir o Brasil no século 21.

VOCÊ É O QUE SEU CHEFE VÊ