quinta-feira, abril 26, 2012

Morre, aos 66 anos, o sambista "bem-humorado" Dicró


26/04/2012 - 09h13 - Atualizado em: 26/04/2012 - 11h32

Em São Paulo

Morreu, aos 66 anos, no final da noite de ontem, 25, em Magé, na Região Metropolitana do Rio, o sambista Carlos Roberto de Oliveira, o Dicró, que ganhou notoriedade com letras bem-humoradas e de duplo sentido.
Lutando contra os efeitos da diabetes, o cantor e compositor passou mal em casa, no bairro de Mauá, por volta das 22h, após retornar do hospital onde havia realizado uma sessão de hemodiálise. Segundo parentes, Dicró, antes de sofrer o enfarte, reclamou de dores na cabeça. Encaminhado para o Hospital Central de Magé, o sambista não resistiu e morreu.
O enterro de Carlos Roberto de Oliveira está marcado para as 17h de hoje no Cemitério Jardim da Saudade, na zona oeste do Rio. O velório deve iniciar nesta manhã no mesmo local.
Músicos, atores e humoristas comentaram a morte do sambista. "Ele era um cara muito espirituoso, bacana de estar junto. É uma grande perda para o mundo do samba", disse o sambista Dudu Nobre ao UOL. "Dicró, eterno sindico do piscinão de ramos", escreveu o rapper MV Bill em seu Twitter, complementando que gostaria que a notícia da morte do músico fosse somente um boato. Tom Cavalcanti lembrou a música "Bingo da Sogra", sucesso de Dicró. "Vou fazer um Bingo la na casa da Vovo.Vai com Deus meu amigo Dicro", publicou o humorista.
O rapper Emicida escreveu, também no Twitter, que ficou com os olhos cheios de lágrimas quando soube da morte de Dicró. "As duas gerações que vieram antes da minha, foram abençoados com a oportunidade única de ver surgir tantos artistas únicos, mágicos. Talvez a maior tristeza da minha geração, seja ver tantos desses ícones partirem. Não que não tenhamos bons artistas hoje. Mas um vazio, uma saudade, é sempre uma saudade. E Dicró é dos caras que vão deixar muita saudade. Que a terra lhe seja leve malandro", escreveu.

Famosos comentam pelo Twitter morte de Dicró

As lembranças que tenho do Dicró são as melhores. Acompanhei o Dicró durante um ano. Ele era um cara muito espirituoso, bacana de estar junto. É uma grande perda para o mundo do samba. Ele tinha um estilo cômico de fazer samba, levava tudo para o lado do humor. Gostava muito dele. Estou indo para São Paulo, então infelizmente não poderei ir ao enterro, mas meu coração vai estar lá com ele.
Dudu Nobre, sambista
Mas um vazio, uma saudade, é sempre uma saudade. E Dicró é dos caras que vão deixar muita saudade... Que a terra lhe seja leve malandro...
Emicida, rapper
Dicró eterno sindico do piscinão de ramos
MV Bill, rapper
Vou fazer um Bingo la na casa da Vovo.Vai com Deus meu amigo Dicro
Tom Cavalcanti, humorista
Gente, li aqui que Dicró foi pro andar de cima?! Descanse em Paz, guerreiro do samba!
Daniel Del Sarto, ator
Morre o mestre Dicró! Que Deus o tenha
Rodrigo Scarpa, o repórter Vesgo, do "Pânico"
Morreu um dos caras mais engraçados que eu já vi...Dicró...o malandro era uma lenda viva!
Fabio Rabin, humorista
Vida e obra de Dicró
Vascaíno, Dicró nasceu na cidade de Mesquita, também na Região Metropolitana do Rio, em 14 de fevereiro de 1946, e se especializou em sambas satíricos, cujas letras davam ênfase ao dia a dia do subúrbio e da Baixada Fluminense. O nome Dicró teria vindo das iniciais do seu nome, CRO, registrado nas letras de samba, e que, com a pronúncia e erros tipográficos, passou de "De CRO" para "Di CRO".
O sambista teve vários empregos, como pintor, vendedor de jornais e de pintinhos antes de começar a compor sambas com letras de humor escrachado na década de 70. Na década de 1990, formou parceria com os sambistas Moreira da Silva e Bezerra da Silva, encontro que resultou no álbum 'Os 3 malandros in concert'.

Frequentador da praia de Ramos, suas músicas retratam de forma satírica o cotidiano dos subúrbios, principalmente a Baixada Fluminense. É autor dos álbuns "Barra Pesada" (1978), "Funeral do Ricardão" (1984), "O Bingo da Sogra" (1984) e "Dicró no Piscinão" (2002).
Em 2010, o sambista participou do quadro "Verão Bacana", no Fantástico, em que atuou como uma espécie de "repórter por um dia" em eventos bacanas pelo Brasil. Dicró fez matéria com os ricaços de Santa Catarina, mostrou seus conhecimentos de moda na SPFW, passeou por Búzios e foi até a um cruzeiro na Bahia.
(Com informações da Agência Estado)

quarta-feira, abril 25, 2012

TERRA DE NINGUÉM


Trabalho com jornalistas há quase 10 anos. Na redação de O Estado, pais e mães de família se dedicam a passar ao leitor da manhã seguinte a sua versão da verdade, sem destoar da linha editorial do veículo ao qual pertencem.
            Hoje, esses pais e mães de família estão tristes, furiosos, perplexos. Porque de repente descobriram-se morando em uma terra de ninguém. Em uma São Luís muito diferente dos cartões-postais. Uma cidade quatrocentona, marcada pela poesia, pelas ladeiras e ruas coloniais, pela azulejaria maravilhosa – e agora pela pistolagem. Pelos crimes encomendados. E a partir de agora pelo receio que um profissional de imprensa antes destemido certamente terá de divulgar em seus respectivos blogs alguma notícia que porventura pisará no calo de algum descontente.
            Daqui a pouco, os bons repórteres não terão alternativa além de bater em retirada. Buscar outras praias, outras freguesias com origem no século XVII. Mas fugir daqui da Ilha – ou mesmo se esconder entre as palmeiras onde os sabiás não encontram motivos para o canto – é dar o braço a torcer. É reconhecer a vitória daqueles que desejam controlar o mundo pela violência, pelo terror. O certo seria enfrentar os tiranos valendo-se da estranha potência das palavras. O correto seria colocar a audácia no topo da lista de prioridades e bater de frente com os monstros, com os crápulas da vida real denunciando sua brutalidades, seus crimes indizíveis e inenarráveis. O problema é: há que se pensar em quem vai cuidar das crianças se por acaso a audácia for castigada com uma execução perpetrada por pistoleiros pagos pela versão atual do coronelismo.
            Leio no blog do Marco Aurélio D’Eça: o Brasil perdeu 41 posições no ranking de liberdade de imprensa 2011-2012. O país ocupa agora a 99ª colocação. Ano passado, cinco operários da informação foram brutal e covardemente assassinados – um em Pernambuco, outro no Rio Grande do Norte, um no Amazonas e dois no Rio de Janeiro.
            E no dia 23 de abril deste ano, o jornalista e blogueiro Décio Sá entrou para essa triste estatística. Morreu porque precisava calar a boca. Porque seu trabalho de expor as realidades inconvenientes alheias não podia prosseguir. Porque tinha o costume de, como seu ótimo trabalho investigativo, expor os podres dos “poderosos” deste estado. Como Tim Lopes, não recuou. Foi em frente. Com a cara e a coragem, uma postura nada interessante para quem se acostumou a proteger a ferro e fogo seus segredos sórdidos e interesses tenebrosos.
            Em outro ranking a que tive acesso ainda há pouco na internet, o Brasil já está em uma posição melhor. É o 11° país do mundo em que os assassinatos de jornalistas ficam impunes. Nos últimos 10 anos, cinco mortes simplesmente não tiveram solução. Ninguém foi preso ou julgado. Logo, nenhum mandante foi parar atrás das grades por ter financiado a morte de alguém que apenas trabalhava para manter a sociedade informada a respeito dos mandos e desmandos que, mesmo na aurora do segundo milênio, não param de acontecer.
            Ouço também afirmações segundo as quais Décio “tentou mudar a história do Maranhão batendo de frente com os coronéis”. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. O compromisso de Décio Sá era para com sua esposa, Silvana, sua filha de oito e mais a criança que ambos aguardavam. Pode soar como complexo de vira-lata, mas entendo que fazer história, para um jornalista maranhense, não tarefa das mais fáceis. Nem se pode dizer que Décio estivesse interessado em cumpri-la.
            O que ele queria mesmo era fazer a diferença, nesta terra de ninguém. E isso o “Detonador” conseguiu. Com distinção e louvor.

terça-feira, abril 24, 2012

"Playboy" diz que não quer panicat careca na capa

24/04/2012 - 17h43

KEILA JIMENEZCOLUNISTA DA FOLHA

A turma do "Pânico" (Band) bem que tentou, mas a revista "Playboy" não quer a panicat careca. Não agora.
Tatiane Moreno/Divulgação band.com.br

Apesar de toda a repercussão que a panicat Babi causou ao ter o seu lindo cabelo raspado no ar, no último domingo (22), no "Pânico", ela não ganhou um precioso contrato com a revista masculina.
Procurada, a direção da "Playboy" disse à Folha que não partiu deles o convite. Contou que foi o próprio "Pânico" que ofereceu a panicat de novo visual para estampar a capa da revista. O contato foi um dia depois do programa ir ao ar. Babi já posou para a publicação, com cabelo, no ano passado.
A campanha dos fãs na internet é grande para que ela apareça sem cabelo e sem roupa.
Apesar de achar a ideia interessante, a "Playboy" disse que não tem espaço para a moça nas próximas edições, pois já está com as capas de junho e julho fechadas com outras pessoas.

domingo, abril 22, 2012

Na falta de água potável, 150 países passam a usufruir dos mares

Martine Valo

DO LE MONDE

O governo iraniano anunciou no início desta semana a construção de uma usina de dessalinização destinada a abastecer a cidade de Semnan – 200 mil habitantes – situada à beira do deserto, no nordeste do país. A água será retirada do Mar Cáspio e transportada, depois de ser tratada, por uma tubulação de 150 quilômetros de comprimento que deverá atravessar a cordilheira de Alborz. O custo desse projeto está estimado em US$ 1 bilhão (R$ 1,88 bilhão).
Beber do mar: na falta de água doce, há cada vez mais países – 150, até o momento – recorrendo a essa solução. Não seria de fato a resposta do futuro, uma vez que há cada vez mais secas, que a população tem aumentado e que as tecnologias nesse domínio avançaram muito nos últimos vinte anos? "Não é a panaceia, mas é um procedimento útil em caso de escassez", diz com um sorriso Miguel Angel San, diretor de desenvolvimento e de inovação da Degrémont, filial da Suez Environnement.
No 6º Fórum Mundial da Água, realizado em Marselha no mês de março, todos os industriais do setor, fossem de Cingapura, de Israel ou do Japão, exibiam o mesmo ar de satisfação. Todos atestavam uma atividade em ascensão, ou até de um crescimento exponencial.
Atualmente, 66,5 milhões de metros cúbicos de água doce são produzidos em média no mundo a cada dia a partir de água do mar ou salobra, 8,8% a mais que em 2010. Os profissionais da Associação Internacional de Dessalinização (IDA) e da Global Water Intelligence registraram quase 16 mil usinas de dessalinização no mundo em 2011, 5% a mais que em 2010.
Diante das mudanças climáticas, do aumento do consumo por pessoa, do recrudescimento da poluição... tratar a água do mar torna-se uma opção plausível. Ainda mais pelo fato de que certos governos veem ali outra vantagem estratégica: garantir a independência de seus abastecimentos em relação a vizinhos com quem nem sempre eles se dão muito bem, protegendo-se assim de possíveis conflitos.
Então o que poderia conter a ascensão dessa atividade em plena ascensão? "A dessalinização tem dois problemas: o contexto econômico – a crise interrompeu diversos projetos em 2009-2010, que vêm sendo retomados desde então – e a aceitabilidade ambiental", responde Jean-Michel Herrewyn, diretor-geral da Véolia Eau. "É uma indústria que consome muita energia e que tem um impacto sobre a vida marinha. Até então o setor havia concentrado mais seus esforços no primeiro aspecto".
A Véolia é uma das gigantes do setor, com 800 usinas no mundo que produzem 9 milhões de metros cúbicos por dia. A Degrémont é outra; a filial da Suez construiu mais de 250 instalações dotadas de uma capacidade total de 2,7 milhões de metros cúbicos por dia, o suficiente para fornecer água a 10 milhões de habitantes.
"A energia representa mais da metade do custo da dessalinização", resume Miguel Angel San. "Mas os procedimentos mudam muito rapidamente. Incluindo o pré-tratamento e o bombeamento, nosso consumo é de 3,4 kWh por metro cúbico com a tecnologia da osmose inversa, ou seja, 10% a menos que três ou quatro anos atrás."
Os profissionais da IDA estabeleceram para si como meta reduzir 20% de suas necessidades energéticas, o que pode permitir diminuir as emissões de gases de efeito estufa, mas que atende, sobretudo, a uma exigência econômica.
Não é um acaso que a dessalinização industrial tenha se desenvolvido primeiramente nos países do Golfo, ricos em petróleo e em gás. São eles que, em sua maior parte, continuam a explorar as técnicas de destilação por evaporação e condensação: essas instalações consomem tanta energia que geralmente vêm acompanhadas de uma usina térmica.
O princípio, antigo, permite que se obtenha uma salinidade inferior a 10 miligramas por litro (uma água de superfície contém em média pelo menos o dobro disso). Além disso, a técnica da osmose inversa conquistou em alguns anos 66% da atividade da dessalinização, pois ela consome menos energia. Esse procedimento permite conter sob o efeito da pressão mais de 99,9% dos sais dissolvidos na água graças a um filtro membranoso. A água obtida dessa maneira deve então ser remineralizada antes de ser distribuída.
Para atender às exigências da Austrália, a quem ela já forneceu cinco usinas, a empresa Degrémont instalou um parque eólico ao lado da de Melbourne, a segunda maior instalação no mundo de osmose inversa segundo Miguel Angel San, com 450 mil metros cúbicos por dia.
Mas, por enquanto, não é possível do ponto de vista técnico fazer essas chaleiras gigantes funcionarem através de energias renováveis.
O custo da dessalinização, que é alto demais, torna-a inacessível aos países em desenvolvimento que mais precisariam dela. Seu impacto também é pesado no plano ambiental. Mesmo com um trabalho de resfriamento, a água permanece a uma temperatura vários graus acima da temperatura do mar no qual ela é lançada. Ela também é mais salgada e contém diversos resíduos químicos. Além disso, essa indústria não agrada aos defensores do meio ambiente que preferem recomendar o fim do desperdício, um uso racional e uma melhor distribuição de água.
"Sempre pensei que a minimização do impacto sobre o meio marinho condicionaria o desenvolvimento da dessalinização", garante Jean-Michel Herrewyn. "São os movimentos ambientalistas que hoje freiam diversos projetos na Califórnia e na Flórida. Nós continuamos trabalhando no tratamento de resíduos. Mas o descarte zero por enquanto é uma ilusão, ou então seria preciso dobrar o preço de custo ..."
Mas para ele o futuro está mais no avanço do tratamento das águas residuais do que na dessalinização: "Um setor duas ou três vezes mais dinâmico!"
Tradutor: Lana Lim


sábado, abril 21, 2012

Organizada evangélica prega contra a violência e tenta abençoar o Botafogo

21/04/2012 - 07h35

FOCO

ADRIANO WILKSON, DA FOLHA DE SÃO PAULO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Nas arquibancadas do Engenhão, uma torcida organizada se destaca das outras.
Suas bandeiras não trazem imagens de monstros ou animais ferozes e seus gritos não são de guerra. Seus membros não xingam o técnico, nem os jogadores. E se recusam a proferir um palavrão sequer.
Em suas bocas, nem a mãe do juiz é maltratada. Ao contrário, eles se dizem preocupados com o bem-estar e com a paz espiritual dos árbitros.
"Ei, juiz, vai se converter!", gritava no Engenhão um dos torcedores da Fogospel, a organizada evangélica do Botafogo. Era assim que ele demonstrava seu descontentamento com a arbitragem de Fabrício Neves Correa.
Era quarta-feira, e o Botafogo empatava com o Guarani pela Copa do Brasil. Quinze torcedores faziam ali uma extensão de suas igrejas.
Eles balançavam bandeiras e camisetas com imagens de cruzes e bíblias. Seu slogan é um versículo do evangelho de João: "Jesus te ama".
As canções que dirigem ao time têm o ritmo de hinos de louvores do pop gospel.
"Se eu pudesse reconstruir as músicas do Botafogo, faria tudo sem palavrão", afirma o pastor Hércules Martins, 41, fundador da torcida.
Em seguida, ele entoa uma versão light da canção que o Engenhão canta ao goleiro Jeferson, evangélico fervoroso.
A original traz um palavrão logo no primeiro verso.
Líder de uma pequena igreja em Olaria, o pastor reuniu seu rebanho botafoguense para apoiar o time e, de quebra, levar torcedores violentos ao caminho da paz.
Ele diz que financia a torcida por doações próprias e não com os dízimos à igreja.
Hércules, barba escanhoada, comanda antes de todos os jogos uma roda de oração sob a estátua de Mané Garrincha na entrada do Engenhão.
Com fervor típico das pregações evangélicas, ele pede proteção divina aos torcedores e ao time alvinegro. "Quero criar um ministério para amparar o Botafogo espiritualmente", diz o pastor. "Dar uma Bíblia para cada atleta"
Em tempos de violência entre as organizadas, a Fogospel transmite uma mensagem de paz a suas congêneres.
Nos intervalos dos jogos, distribui panfletos com testemunhos de fé e convida os torcedores a encontrar Jesus.
A organizada diz estar incentivando outros torcedores a criar facções evangélicas. O filho do pastor, por exemplo, se engajou na fundação da Gospel Fla, para o Flamengo.
A organizada do Botafogo se orgulha de apoiar o "Glorioso", apelido imortalizado pelo hino composto por Lamartine Babo. "Servimos ao Glorioso, Deus dos céus e da terra, e torcemos pelo Glorioso, time da Estrela Solitária."
A Fogospel prova que torcer pelo Botafogo é mesmo um ato de fé. O alvinegro levantou só dois títulos estaduais na última década. E, em breve, fará 15 anos seu último caneco de relevância nacional, o Rio-São Paulo de 1998.
"O Botafogo tem uns estigmas de azar, e os evangélicos acreditam muito nessas coisas", afirma o pastor. "Quem sabe não conseguimos quebrar isso, abençoar o time."
Quando o alvinegro pegar o Bangu hoje, às 18h30, pela semifinal da Taça Rio, a Fogospel promete estar em maior número. A direção diz ter 200 pessoas na torcida.
Mas se a equipe chegar à final, a torcida cristã quase não será vista no Engenhão.
Isso porque o jogo será no domingo, dia em que os fiéis se dedicam só ao Senhor.
Como estão no culto, eles não vão ao estádio. No máximo, nomeiam representantes que pedem autorização ao seu pastor para levar ao menos uma faixa ao Engenhão.
"Somos apaixonados pelo time, mas amamos a Deus", resume o pastor Hércules.

sexta-feira, abril 20, 2012

Em baixa em 2012, Vettel não decola após bicampeonato na F-1. Saiba por quê

20/04/2012 - 14h00
Do UOL, em São Paulo

Atual bicampeão mundial de Fórmula 1, Sebastian Vettel deixou o centro das atenções da categoria com um começo discreto na temporada 2012. Após bater uma série de marcas expressivas no ano passado – o alemão se tornou o mais jovem a levantar a taça duas vezes, além de ter conseguido 15 poles positions ao longo do campeonato, batendo o recorde anterior, que pertencia a Nigel Mansell – o piloto da Red Bull não tem conseguido exibir um bom desempenho neste ano.
Em 2012, a F-1, mais equilibrada, já teve três vencedores em três corridas – Jenson Button, Fernando Alonso e Nico Rosberg subiram ao lugar mais alto do pódio, enquanto Vettel, que conseguiu pontuar em somente duas provas, aparece apenas na quinta colocação no Mundial de Pilotos. Além do desempenho inferior ao dos últimos anos, confira abaixo os motivos que tiraram o alemão da Red Bull dos holofotes da Fórmula 1.

Trajetória de Sebastian Vettel

PERDA DA PACIÊNCIA - Sebastian Vettel foi apenas o 11º no GP da Malásia. Durante a prova, o alemão perdeu a cabeça com Narain Karthikeyan. Ao tentar ultrapassar o rival, então retardatário, os dois se tocaram e o piloto da Red Bull teve de ir para os boxes reparar os danos em seu bólido. Vettel mostrou o dedo do meio para o indiano durante a prova e, depois, ainda alfinetou o rival: “Como nas estradas normais, há idiotas dirigindo por aí”. Karthikeyan respondeu: “Não esperava que ele fosse um bebê chorão”.

RED BULL SEM DESEMPENHO - Em 2009, quando a Brawn GP surpreendeu a todos com o título, a Red Bull passou a andar entre as primeiras colocadas e colocou-se entre as grandes da F-1. O crescimento se consolidou nas temporadas seguintes, com o bicampeonato de Construtores e de Pilotos, com o próprio Sebastian Vettel. Neste ano, no entanto, com a proibição do difusor soprado no escapamento – ponto forte da escuderia no ano passado – a equipe ainda não venceu e está a 24 pontos da liderança.

RESSURGIMENTO DE MARK WEBBER - Desde 2009, quando virou companheiro de Mark Webber na Red Bull, Sebastian Vettel nunca terminou atrás do colega no Mundial. Nesta temporada, no entanto, o australiano é o quinto na classificação, com 36 pontos, oito a mais do que o alemão. Webber apresenta maior regularidade – foi o quarto colocado e pontuou em todas as provas, enquanto Vettel zerou na Malásia – e foi o último a vencer uma corrida com a escuderia – no GP do Brasil do ano passado. Por isso, a Red Bull deve optar pelo escapamento preferido pelo australiano.

LEWIS HAMILTON E MCLAREN NA LIDERANÇA - A McLaren é a única equipe com dois pilotos que já foram campeões: Lewis Hamilton, em 2008 pela equipe, e Jenson Button, em 2009 pela Brawn. No entanto, no Mundial de Construtores, a equipe vive um tabu: não levanta a taça desde 1998. Neste ano, porém, a escuderia dá mostras de que poderá reverter o quadro: já abriu 24 pontos de vantagem sobre a Red Bull, e Hamilton e Button ocupam as duas primeiras colocações no Mundial de Pilotos, atraindo o foco da mídia internacional.

OUTRO ALEMÃO EM DESTAQUE - Em 2011, Sebastian Vettel foi, por muito, o melhor alemão da F-1 – fez 392 pontos e ficou com o título, enquanto Nico Rosberg, o segundo piloto do país no ano, apareceu em sétimo, com 89. Nesta temporada, no entanto, o competidor da Mercedes tem 25 pontos, três a menos do que o compatriota, e está somente uma posição atrás do bicampeão. Além disso, Rosberg vem de vitória no GP da China, o que Vettel ainda não conseguiu esse ano. Por isso, as atenções da mídia alemã têm se dividido entre os dois.

quarta-feira, abril 18, 2012

Novo escândalo abala mais uma vez a imagem do Serviço Secreto norte-americano

The New York Times

Michael S. Schmidt e Eric LichtblauEm Washington

Para uma agência que há muito é conhecida como clube um "dos velhos amigos", o escândalo de prostituição envolvendo 11 membros do Serviço Secreto fez ressurgir uma imagem que a agência parecia ter superado.
O Serviço Secreto cultivava uma fama de austeridade e correção, de protetores do presidente -com agentes parecidos com Clint Eastwood, dispostos a morrerem por seu país- mas era arrastado por denúncias de comportamentos impróprios. Houve agentes advertidos ou processados por sexo com menores de idade, por direção embriagada, brigas de bar, uso de drogas e outros problemas fora do expediente que colocaram em questão sua aptidão profissional.
Na última década, porém, houve menos manchetes picantes sobre a agência, o que gerou uma sensação que sua cultura mudara, em parte por ter contratado mais funcionárias do sexo feminino. Hoje, o Serviço Secreto enfrenta um escândalo embaraçoso de acusação de delitos envolvendo prostituição em Cartagena, na Colômbia.
"Alguns dos agentes mais velhos diziam que, quando chegavam nos hotéis, logo perguntavam 'onde é o bar?' Hoje, eles dizem que os agentes chegam e perguntam 'onde é a sala de ginástica?'", disse Daniel Bongino, agente do Serviço Secreto de 1999 a 2011 e candidato republicano ao Senado pelo Estado de Maryland.
Ele acrescentou: "Esta é uma vergonha nacional para nosso governo e para o Serviço Secreto".
Na última segunda-feira (16), o deputado Darrell Issa, presidente republicano do comitê de fiscalização da Câmara deu prosseguimento às críticas à agência que começara no final de semana. Em entrevista ao programa "CBS This Morning", ele disse que era comum os agentes fazerem "festas de partida", ao final de uma viagem presidencial, mas que, neste caso, os agentes fizeram uma "festa de chegada".
Os 11 funcionários do Serviço Secreto envolvidos tiveram suas licenças revogadas até o final da investigação, segundo um porta-voz da agência.  "Ainda há uma investigação rigorosa em curso", disse Max Milien, porta-voz. "Isso os coloca, como declaramos, em licença administrativa, e eles não podem entrar nas instalações do Serviço Secreto".
Em um memorando aos funcionários do Serviço Secreto, o diretor, Mark J. Sullivan, disse que o episódio era "embaraçoso", mas que a agência tinha "agido de forma rápida e decisiva, imediatamente após o incidente ter vindo à tona", de acordo com uma cópia obtida pelo "New York Times".
"O Serviço Secreto dos Estados Unidos tem uma história longa e respeitada de observar níveis muitos altos de comportamento profissional ético", disse Sullivan. "A maioria esmagadora dos homens e mulheres do Serviço Secreto cumprem esses padrões a cada momento do dia. Tenho um orgulho extraordinário de vocês e por isso e fico honrado em servir em sua companhia. É por causa desse e de outros aspectos vitais de nossa agência que uma 'maioria esmagadora' não é suficiente".
Ronald Kessler, que escreveu um livro sobre o Serviço Secreto, disse que não pensava que o tipo de comportamento visto na Colômbia prevalecia na agência. Em vez disso, ele disse que refletia uma "atitude relaxada" em relação à disciplina que permitia que os agentes burlassem as regras sem sérias repercussões.
"Há uma atitude de aceno e aceitação" em relação a uma variedade de violações, disse ele, desde problemas na aptidão física dos agentes e capacidade de manuseio de armas de fogo até o fracasso do Serviço Secreto em impedir a entrada de penetras em um jantar de Estado em 2009 na Casa Branca.
Segundo Kessler, a chefia não apoiou os agentes que tentaram apontar os problemas de comportamento e disciplinares. "Que tipo de mensagem isso envia ao sujeito no portão da Casa Branca?", perguntou.
Parte do problema, segundo as autoridades, é que os membros do Serviço Secreto passam boa parte de seu tempo viajando em grupos grandes para lugares estrangeiros.
"Após a missão, as pessoas gostam de se divertir, e muitas vezes estão em lugares muito interessantes em torno do mundo, com muito tempo disponível", disse um ex-funcionário da Casa Branca que trabalhou em equipes avançadas do Serviço Secreto. A maior parte mantém a linha, disse ele, "mas há pessoas sem discernimento".
Por anos, membros do Serviço Secreto criaram problemas que a agência classificou como episódios isolados e rebateu as críticas como injustas e exageradas.
Funcionários da agência ficaram particularmente revoltados com um artigo investigativo de 2002, no "U.S. News and World Report". O artigo retratou uma agência em que as pessoas festejam muito, bebem pesado, têm laços sexuais pouco apropriados e onde outros problemas fora de Serviço eram comuns. Um agente teve relações sexuais e compartilhou metanfetamina com uma menina de 16 anos, enquanto outro agente do destacamento do presidente Bill Clinton teria tido um caso com uma prima do presidente.
Como no caso do jantar de Estado de 2009, os problemas algumas vezes respingaram para questões de proteção. Durante a estratégia de segurança da agência nas Olimpíadas de 2002 em Salt Lake City, um agente foi comprar lembranças em uma loja e esqueceu-se de um plano de segurança detalhado para o vice-presidente Dick Cheney e sua família, um episódio que envergonhou a agência quando se tornou público.
Na medida em que, nos últimos anos, as manchetes negativas se tornaram menos frequentes, o Serviço Secreto atacou a questão de diversidade e lutou para recrutar mais mulheres e membros de minorias.
O número de mulheres no Serviço Secreto "não era um número para se orgulhar, era algo que tínhamos que melhorar", disse W. Ralph Basham Jr., diretor do Serviço Secreto de 2003 a 2006.
Durante seu mandato como diretor da agência, disse Basham, as mulheres compunham entre 11 a 15% de seus funcionários. De acordo com a Comissão de Emprego e Oportunidade Igual, no ano fiscal de 2010 cerca de 25% dos funcionários do Serviço Secreto eram mulheres.
Basham, que hoje é diretor do Command Consulting Group, uma firma de consultoria, disse que a proporção de mulheres no Serviço Secreto não era muito diferente de outras agências policiais, mas que a quantidade de viagens no ramo pode ser vista como impedimento por certas mulheres.
"É muito difícil equilibrar a carga de trabalho e a vida familiar", disse ele. As consequências do episódio da Colômbia continuam a reverberar por Washington, enquanto os militares continuam a investigar o papel que vários membros do Serviço tiveram.
Em uma conferência com a imprensa do secretário de defesa Leon E. Panetta, o chefe do Estado Maior das Forças Armadas General Martin E. Dempsey, disse que estava envergonhado que membros do Serviço tivessem associados ao escândalo.
"Decepcionamos o chefe, porque ninguém está falando sobre o que aconteceu na Colômbia além desse incidente", disse ele.

Tradutor: Deborah Weinberg

Suave despertar

Postado por ROBERTO MANSTEIN em 18 abril 2012 às 12:23


Suave despertar

Ao despertar, olhou em detalhes a bela silhueta ao seu lado. No silêncio da manhã ensolarada examinou as formas suaves e arredondadas dos quadris, o belo contorno dos seios, o toque aveludado da pele, as nádegas consistentes e as coxas grossas e sensuais parcialmente encobertas por um alvo lençol.

Dedicou especial atenção aos lábios rosados, carnudos e entreabertos, como que sequiosos de um beijo arrebatador, denunciando sutilmente dentes brilhantes e alinhados, além de um hálito de leve frescor.

Às mãos aconchegantes, displicentemente escondidas sob o travesseiro, em conjunto com os demais detalhes do corpo, conferiam à cena uma visão terna e sensual do objeto do seu desejo carnal, a mercê que se encontrava do contido assédio que já premeditava sob forte emoção.

Eis que de repente, um brilhar incandescente iluminou ainda mais o rosto observado docemente, ao revelar em seu esplendor o fulgor de um olhar sonolento, que acompanhado de um irresistível sorriso, fez que em seu peito o coração batesse impulsivo ao receber nos lábios o gosto lascivo de um suave despertar

terça-feira, abril 17, 2012

Warren Buffett tem câncer de próstata

DA REUTERS

17 Abr (Reuters) - O bilionário Warren Buffett, dono da Berkshire Hathaway, revelou nesta terça-feira (17) que tem câncer de próstata em estágio 1, mas disse que sua condição "não representa uma ameaça à vida nem implica que ficará debilitado de maneira significativa".
Buffett disse que começará um tratamento de dois meses de radiação diária, com início em meados de julho. Durante esse período, ele terá pouca condição de fazer viagens, segundo afirmou em comunicado.
A Berkshire está a menos de três semanas de seu encontro anual em que mais de 40 mil acionistas vão à sua sede em Omaha, no Nebraska, Estados Unidos. Buffett costuma ocupar uma posição central no evento.
Já havia expectativa de que o encontro deste ano tratasse do tema sucessão, depois de que Buffett, de 81 anos, disse em carta aos acionistas que o Conselho da Berkshire tinha identificado um sucessor. O nome do executivo não foi revelado.

segunda-feira, abril 16, 2012

Repórter atilado, entrevistador temido

DO OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA

Segunda-feira, 16 de Abril de 2012   |   ISSN 1519-7670 - Ano 16 - nº 689

MIKE WALLACE (1918-2012)

Por Carlos Eduardo Lins da Silva em 10/04/2012 na edição 689

Mike Wallace, que morreu na noite de sábado (7/4) aos 93 anos, foi o símbolo máximo do programa 60 Minutes, da rede de TV americana CBS, o qual foi, por sua vez, o símbolo máximo do telejornalismo investigativo nos EUA.
Grande entrevistador, que sabia entremear perguntas suaves, como que para amaciar o entrevistado, com questões contundentes e desconcertantes, foi também um dos pioneiros da técnica da “entrevista surpresa”, sem preparo ou agendamento, e com ela costumava ser especialmente letal.
Um de seus maiores momentos foi em 1979, pouco depois de radicais islâmicos (com o apoio tácito do governo revolucionário que havia deposto o xá Reza Pahlevi) terem invadido a embaixada americana em Teerã e iniciado o longo tempo em que mantiveram reféns 52 cidadãos dos EUA.
Wallace conseguiu uma entrevista com o aiatolá Ruhollah Khomeini, o líder supremo do Irã, e teve a coragem de lhe perguntar como reagia à frase do presidente do Egito, Anuar Sadat, que classificava as ações de Khomeini como “uma desgraça para o Islã” e o próprio aiatolá como “um lunático”.
A tensão foi tão grande, que os intérpretes iranianos a princípio se recusaram a traduzir a pergunta a Khomeini, que, afinal, respondeu dizendo que Sadat devia ser deposto (dois anos depois o presidente egípcio foi morto em um atentado terrorista).
Concorrência pesada
Outra situação extraordinária em sua notável carreira ocorreu na década de 1990, quando ele resistiu às pressões de seus superiores hierárquicos na CBS que queriam interferir em famosa reportagem liderada por Wallace sobre a indústria de cigarro, a qual provava que executivos das maiores fábricas de tabaco haviam mentido em depoimentos oficiais quando diziam desconhecer que a nicotina causa dependência física.
Wallace pôs a reportagem no ar e alertou o público de que a CBS havia imposto restrições ao que os telespectadores iriam assistir. A história virou um filme importante, The Insider (“O Informante”, 1999, de Michael Mann), em que o ator Christopher Plummer faz o seu papel.
O incidente desgastou a posição de Wallace na CBS, mas ele seguiu no ar com 60 Minutes, apesar da idade já avançada e do declínio gradativo de prestígio do programa, no contexto da crise geral do telejornalismo da TV aberta devido à concorrência progressiva das redes de TV paga e da internet.
Fora da lista
Wallace nasceu em 9 de maio de 1918 num subúrbio de Boston, filho de judeus russos imigrantes. Seu sobrenome de família era Wallik. Começou no jornalismo ainda como estudante universitário, na Universidade de Michigan, como locutor da rádio universitária.
Foi correspondente de rádio na Segunda Guerra Mundial e começou a trabalhar em TV numa emissora de Nova York em 1956, com um programa de entrevistas em que começou a burilar seu estilo. Entre os primeiros convidados de seu show estavam futuras celebridades nacionais, como o escritor Norman Mailer.
Em 1963, ingressou na CBS, conhecida como a “rede Tiffany”, graças ao prestígio acumulado por Ed Murrow, o grande patriarca do telejornalismo nos EUA, e sua equipe. Wallace foi ao Vietnã como repórter e fez entradas no famoso Face the Nation, até que surgiu 60 Minutes, em 1968, com apenas dois apresentadores: Wallace e Harry Reasoner.
O formato passou por várias alterações ao longo do tempo, e contou com a participação de outros jornalistas importantes, como Dan Rather, Diane Sawyer, Christiane Amampour, Ed Bradley, Walter Cronkite, Bob Schieffer, Eric Sevareid, Charles Osgood, Meredith Vieira e muitos outros. Mas ninguém ficou mais tempo do que Wallace, que completou 40 anos no programa e o personificou mais do que ninguém.
Os melhores períodos de 60 Minutes foram no fim da década de 1970 até meados dos anos 1980, e entre 1990 e 1994, quando foi número 1 de audiência em várias temporadas e tinha taxas de audiência que chegaram a 28%, o que significava cerca de 40 milhões de domicílios.
Atualmente, os índices de 60 Minutes mal passam de 8% e ele nunca voltou à lista dos dez programas mais vistos neste século (a última vez em que esteve nela foi em 1999).
***
[Carlos Eduardo Lins da Silva é jornalista]

Revolta árabe também foi motivada por insatisfações ambientais e não apenas por estresses políticos

Coluna do Thomas L. Friedman

quarta-feira, abril 11, 2012

TRÊS LIVROS TRISTES

Um livro é muito importante. O livro deve ser levado muito a sério. Quando alguém senta-se diante do computador (como em tempos idos debruçava-se sobre a máquina de escrever), está pronto para colocar em, sei lá, 100, 200, 300 páginas o melhor que seu esforço de imaginação pode produzir.
            O problema é que nem sempre esse esforço resulta em um material de qualidade. Muitas vezes o livro, como tantas pessoas que por aí existem, não nasce direito e por isso acaba não agradando a quem corre para livrarias e sebos para se dar de presente ou oferecer a um ente querido preciosidades que distrairão momentaneamente das atribulações cotidianas.
            Por que um livro não nasce direito? A culpa é de seus pais. Para que não haja conotações e denotações machistas e chauvinistas neste opúsculo, devemos afirmar que homens e mulheres escribas são capazes tanto de obras-primas quanto de infelicidades na proporção de 50% para cada.
Um exemplo feminino? Stephenie Meyer – a inacreditável autora da saga “Crepúsculo”. Inacreditável, no caso, em razão de seus livros de maior sucesso. Que são francamente ruins. E a pobreza desses trabalhos se reflete nos filmes – fracos e nada convincentes. Tampouco são divertidos, o que poderia ajudar a salvá-los do naufrágio que foi levar para as telonas uma história de amor nada interessante.
Agora, um modelo masculino de como às vezes um trabalho que tinha tudo para dar certo acaba se afogando tranquilamente no oceano da mediocridade.
Quem lê livros há pelo menos 20 anos conhece Sidney Sheldon. Pois este ótimo escritor norte-americano é o responsável por preciosidades como “O outro lado da meia-noite” e “Um estranho no espelho”. Nas minhas férias, degustei literariamente “A ira dos anjos” – um romance muito bacana, em que uma advogada se mete em trocentas peripécias e, no fim das contas, acaba se dando inteiramente mal.
Mas como nem tudo são flores, o senhor Sheldon derrapou com uma trilogia “infanto-juvenil” – “O estrangulador”, “Os doze mandamentos” e “A perseguição”. O que podemos classificar como três livros tristes.
Comecemos pelo último. Em “A perseguição”, jovem de descendência japonesa herda uma fortuna. Quando precisa viajar para os Estados Unidos, descobre que alguém quer ficar com a grana e matá-lo no meio do processo. Aí, precisa fugir feito louco do pretenso assassino. Em “O estrangulador”, um serial killer que mata mulheres em dias de chuva por causa de um trauma de infância aterroriza a cidade de Londres e um detetive da Scotland Yard quer pegá-lo de qualquer maneira. Já em “Os doze mandamentos” (isso mesmo, ele acrescentou mais dois por conta própria) pessoas que não cumpriram as regras sagradas ficaram ricas e famosas.
Não são exatamente obras-primas, certo?
            Mas podia ser pior. Há meia dúzia de três ou quatro fins de semana, li de fio a pavio uma outra grande bobagem, cujo título era “O menino do pijama listrado”. Do que se trata: um menino chamado Bruno não conhece nada do Holocausto e da Solução Final contra os judeus. Também não faz ideia dos desdobramentos e horrores perpetrados durante a Segunda Guerra. Mas em determinado momento conhece um garoto chamado Shmuel, preso em um campo de concentração, que veste um pijama listrado que apavora Bruno. Pois esses dois meninos acabam se tornando amigos. E o resto da história é a famosa conversa flácida para acalentar bovino.
            A bobagem do sr. John Boyne mereceria uma boa paródia. Algo referente a zumbis, vampiros ou lobisomens – assuntos que estão “na moda”, por assim dizer. O título, vejamos, podia ser “O pijama do menino listrado”. Só para chatear.

segunda-feira, abril 09, 2012

Brasil: um lugar de preços esquisitos, mas com grande potencial econômico

Roger Cohen
No Rio de Janeiro
DO HERALD TRIBUNE

Eu vim para o Brasil na década de oitenta, em uma época de dinheiro esquisito. A inflação atingiu um pico de 6.821% em abril de 1990. Atualmente o Brasil é um lugar de preços esquisitos. Uma garrafa de vinho tinto chileno comum pode custar US$ 100 e um par de tênis de marca US$ 350. Comparativamente, Paris e Nova York parecem ser lugares muito baratos.
O dinheiro esquisito recebeu vários nomes – cruzeiro, cruzado, cruzado novo, cruzeiro real – em busca de uma credibilidade elusiva. Mas o Brasil tinha um único nome: instabilidade. A seguir veio a criação do real em 1994, sólidas instituições democráticas, reforma monetária, privatizações, aumento da produção de commodities, comércio com a China, grandes descobertas de petróleo – e a pizza margarita a US$ 45.
Essa pizza da era do boom econômico brasileiro me deixa irritado. É necessária certa arrogância para amassar e assar massa de pão arredondada por tal preço – exatamente aquela arrogância que acabou no Ocidente. Nós estamos vivendo a grande inversão global. As etiquetas de preço gritam: Você virou história, baby!
Eu sem dúvida consigo ver as coisas dessa forma. Antigamente os diretores do Citibank consideravam o Brasil um país fracassado. O que vemos agora é uma história de virada. O capitalismo brasileiro tem se saído melhor do que o capitalismo norte-americano recente e muito melhor do que os bancos dos Estados Unidos. A desigualdade, que ainda é acentuada, sofreu uma redução aqui no Brasil nos últimos anos. Dentre todas as commodities brasileiras de rápido crescimento, a confiança é a mais presente.
Mas desconstruamos essa Gucci de pizzas. Afinal de contas, ela vende. Por detrás da massa fabulosamente cara, do tomate e da mozarela está à espreita uma moeda brasileira supervalorizada. E por detrás disso há taxas de juros suficientemente elevadas e uma nação suficientemente estável para atrair corporações globais e fazer com que os super-ricos do mundo invistam o seu dinheiro aqui. Por detrás dessa opção de investimento estão as crises norte-americana e europeia que desvalorizaram as principais moedas, em parte por meio de injeções monetárias do Banco Central conhecidas como flexibilizações quantitativas.
Em suma, essa é uma pizza prenunciadora. Existe mais confiança no Brasil do que na Europa do euro comprometido ou do que nos Estados Unidos da indústria financeira comprometida. O arrogante Brasil, com o seu petróleo das plataformas marítimas e a sua Olimpíada que está por vir, proporciona uma imagem especular de um Ocidente frágil. Você está em busca da promessa da América? Venha para cá.
A agenda global em 2012 não tem nenhum foco que seja mais importante do que encontrar um equilíbrio entre os extremos do otimismo do terceiro mundo e a morosidade do mundo desenvolvido. As guerras iniciada após 11 de setembro de 2011 acabaram ou estão acabando. Elas não foram inteiramente perdidas, mas também não foram vencidas.
O recente surto assassino do sargento Robert Bales – um militar dos Estados Unidos estacionado no Afeganistão na sua quarta missão nessas guerras, acossado por problemas financeiros e correndo o risco de perder a sua casa – resumiu as frustrações com esses conflitos. Bales perdeu a cabeça. Muitos perderam tudo. Após as guerras e os trilhões de dólares por elas consumidos veio a tarefa árdua de lidar com a dívida e os déficits, o índice elevado de desemprego, o crescimento anêmico e a autoestima abalada.
Sair dessa situação é algo que só poderá ser feito por meio de um esforço conjunto. Economias em desenvolvimento como a China e o Brasil terão que experimentar uma queda de superávit para que os déficits debilitantes do Ocidente sejam corrigidos.
O real supervalorizado, que pune as empresas que tentam exportar, não é melhor para o Brasil no longo prazo do que um euro que passa por operações de resgate seguidas é para a Europa. O Brasil, a China e todas as economias emergentes não são beneficiados por um Estados Unidos e uma Europa imersos em dúvidas e flagelados pelo desemprego da sua juventude. O mundo está buscando uma rota sustentável para sair da crise econômica de 2008. Subterfúgios, que tiveram um custo moral, impediram o pior. Mas eles não criaram novas bases econômicas convincentes.
Quando Greg Smith, um executivo do Goldman Sachs que estava deixando a instituição, disse recentemente em uma coluna publicada no "New York Times", "Fico nauseado ao ver a maneira como as pessoas na firma falam impiedosamente em arrancar o dinheiro dos clientes", o nojo que ele sente pela sua companhia refletiu um mal-estar generalizado em relação à forma como as grandes instituições financeiras norte-americanas, que foram salvas com o dinheiro do contribuinte, saíram da crise de 2008 sem terem feito nenhuma autocrítica séria.
A cultura que produziu aquele desastre não foi desmantelada; em alguns casos ela não foi sequer questionada. Enquanto isso, indivíduos como o sargento Bales seguiam para a guerra e milhões de norte-americanos eram despejados das suas residências. Um resultado disso foi o movimento "Occupy Wall Street". Outro foi a sensação de que um capitalismo distorcido, caracterizado por uma redução da mobilidade social, não está funcionando.
Nos próximos meses, em reuniões em Camp David (G-8), na Cidade do México (G-20) e aqui no Rio de Janeiro (Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável), os líderes mundiais buscarão novamente algo que possa ser feito. Não há soluções rápidas. Mas o foco precisa concentrar-se no estímulo ao crescimento: conforme indica a agonia da Grécia e da Espanha, gerenciar problemas financeiros sem crescimento é algo que não funcionará.
Mas o crescimento apenas não é suficiente. O mundo está aprendendo que o crescimento precisa ser mais igualitário e sustentável. E para que se consiga isso será necessário que haja reforma fiscal, regulamentação financeira global e melhor uso dos recursos. Um código tributário norte-americano que permite que indivíduos muito ricos como Mitt Romney paguem 13,9% de impostos sobre uma renda que foi de US$ 21,6 milhões em 2010 alimentou a frustração da classe média, que paga muito mais.
Justiça e igualdade de oportunidades são valores norte-americanos essenciais; mas eles foram solapados. O resultado disso é um estado de espírito nacional que fará com que a luta de Barack Obama pela reeleição em novembro seja árdua, apesar de toda a palhaçada que temos presenciado nas primárias republicanas.
Obama precisa modificar a forma como os norte-americanos encaram o futuro. Obama é o Mister Competência, mas ele precisa transformar-se no Mister Confiança. Isso exige crescimento. O Brasil, o único pais de tamanho e diversidade similares na América, poderia ser um parceiro importante nesse processo caso certas rivalidades petulantes e antigas fossem deixadas de lado.
Talvez não se tenha prestado atenção suficiente à América Latina e à sua transformação nos últimos 25 anos. Nós estamos presenciando, afinal de contas, o início de outra mudança regional histórica conhecida como Primavera Árabe. Existem alguns paralelos interessantes. Vale a pena chamar atenção para eles porque a vitória no Egito – a criação no decorrer da próxima geração de uma sociedade como a do Brasil, mais aberta e responsável e que desfrute de um forte crescimento econômico – é atualmente mais importante para o Ocidente do que o resultado preciso da campanha militar no Afeganistão. A democracia árabe pode acabar com o extremismo exatamente da mesma forma que a democracia latino-americana o fez.
A junta militar argentina cedeu o poder em 1983. O governo militar brasileiro caiu em 1985. O regime militar chileno perdeu um referendo em 1988 que resultou no seu fim. Todos esses regimes brutais foram apoiados pelos Estados Unidos. Eles seriam supostamente bastiões de resistência ao comunismo revolucionário – da mesma forma que os ditadores da Tunísia ao Egito foram apoiados pelo Ocidente como sendo a única suposta defesa contra o islamismo radical.
Dilma Rousseff, a presidente do Brasil, foi uma dessas esquerdistas. Ela foi torturada pelas forças armadas e ficou presa de 1970 a 1973. Agora, após estar há pouco mais de um ano na presidência, ela governa o Brasil com um pragmatismo que tem combinado políticas que tranquilizam as lideranças empresariais com programas que fizeram com que milhões de brasileiros ingressassem na classe média. Eu gosto de pensar que Rousseff, uma ex-guerrilheira, seja um exemplo daquilo que um ex-radical da Irmandade Muçulmana poderá ser daqui a 20 anos.
O islamismo político está sendo redefinido para levar em consideração a modernidade e as exigências dos muçulmanos por responsabilidade governamental. Movimentos como a Irmandade Muçulmana no Egito ou o Ennahda na Tunísia, adaptando-se às responsabilidades do poder, estão no centro dessa mudança. A mudança poderá ser irregular, às vezes até violenta, mas ela conduzirá à direção de uma maior abertura.
Formas de governo, sejam elas seculares ou religiosas, que reduzem nações a feudos particulares, como é o caso da Síria de Bashar al-Assad, estão condenadas. Assad poderá se manter no poder por algum tempo, mas não há saída para ele, da mesma forma que não houve saída para as forças armadas da América Latina depois que a cultura democrática se enraizou na região. Acabar com essa tirania após o assassinato de mais de 7.000 sírios deveria ser uma tarefa prioritária na agenda global.
E igualmente prioritário é evitar uma guerra com o Irã. Eu não acredito que Israel atacará o Irã, contanto que Obama continue demonstrando a sua firme oposição a isso. A análise de custos e benefícios não tem como justificar tal atitude; os israelenses não são loucos.
A esta altura o Ocidente conhece os custos das guerras – não apenas em termos de vidas e riquezas, mas também no que diz respeito à deturpação do debate nacional de forma a descartar decisões essenciais nas áreas de educação, energia e infraestrutura. De acordo com as melhores estimativas da inteligência ocidental o Irã ainda não dirigiu o seu programa nuclear, que já dura décadas, para a fabricação da bomba atômica, de forma que há tempo. As negociações estão sendo reiniciadas entre as grandes potências e o Irã. A menos que sejam criativas, essas negociações fracassarão.
O Irã deseja o reconhecimento do seu direito a enriquecer urânio. Esse desejo só pode ser concedido caso o processo seja verificável e produza urânio enriquecido a um teor de 5%, que é necessário para a geração de eletricidade, sem superar esse nível. Portanto, voltando ao Brasil: é preciso ressuscitar algo como a ideia apresentada pelo Brasil e pela Turquia (mas originalmente concebida pelos Estados Unidos) de fornecer urânio enriquecido a 20%, do qual o reator de isótopos medicinais de Teerã necessita, em troca do compromisso do Irã de enviar parte do seu urânio enriquecido para fora do país. Ao mesmo tempo, é necessário ampliar qualquer diálogo com o Irã. Caso seja mantida em isolamento, a questão nuclear iraniana será insolúvel. E ela também será insolúvel sem as potências emergentes, como o Brasil e a Turquia, que são capazes de atenuar a desconfiança psicótica existente entre o Irã e os Estados Unidos.
E aquilo que se aplica à economia também se aplica ao Irã: um mundo interconectado precisa trabalhar em conjunto de maneiras ainda não imaginadas para encontrar soluções efetivas. Em 27 de julho, os Jogos Olímpicos terão início em Londres. A capital britânica está nos últimos estágios dos preparativos para essa festa global. Talvez o fato socialmente mais significativo até o momento tenha ocorrido em uma ampla avenida que vai do Hyde Park até o Museu Victoria and Albert.
A um custo de quase US$ 40 milhões, a Exhibition Road foi transformada na principal mostra do embelezamento de Londres. Um desenho entrecruzado em granito preto e branco vai de um lado a outro da avenida, ao lado de uma fileira de postes altos e delgados de iluminação que parecem-se mais com elevados refletores do que com postes de luz tradicional. O efeito é onírico, especialmente quando percebe-se que não há calçadas.
Carros, bicicletas e pedestres passam por uma única superfície sem barreiras. Somente canais de drenagem cobertos por ferro fundido negro e uma faixa de pavimento áspero (para a orientação dos deficientes visuais) separam a área de pedestres daquela destinada aos veículos. Essa é uma nova forma de cenário conhecido no setor de design urbano como "espaço compartilhado".
A ideia de "espaço compartilhado", criada Hans Monderman, um engenheiro de trânsito holandês, revoluciona o pensamento tradicional sobre a segurança de tráfego. Durante grande parte do século 20, achou-se que o fluxo eficiente do trânsito dependia de uma separação total entre carros e pedestres, complementada por sinais de trânsito, placas, barreiras e pinturas no pavimento para manter as pessoas em segurança.
Monderman, que morreu em 2008, teve outras ideias. Ele desejava aumentar a consciência e a responsabilidade coletivas acabando com todos os sinais e separações no trânsito, e acreditava que a segurança poderia ser de fato aumentada ao se fazer com que as pessoas que trafegassem pelas ruas tivessem uma consciência intensa da presença dos outros indivíduos. Às vezes ele testava as suas ideias – implementadas em várias cidades holandesas, bem como em algumas cidades alemãs e escandinavas – andando de costas em direção ao tráfego em uma área de espaço compartilhado. A conclusão foi que as teorias dele funcionavam.
O espaço compartilhado não é uma má metáfora para o mundo atual, um lugar no qual as velhas placas de trânsito têm pouca utilidade, onde a separação não passa de ilusão, e a navegação bem sucedida depende da intensa consciência de cada ator, desde Ipanema até Teerã e South Kensington.
Eu estou tirando uma folga deste espaço durante alguns meses para concluir um livro, uma memória de família que tem início na Lituânia, vai à África do Sul e ao Reino Unido, e termina nos Estados Unidos e em Israel. Eu mal posso esperar para reiniciar a conversa no próximo verão do hemisfério norte.
Tradutor: UOL

domingo, abril 08, 2012

AQUILO QUE TEM QUE SER DITO

DE GÜNTER GRASS


TRADUÇÃO DE RALF RICKLI





Por que tenho me calado, me calado por tempo demais
sobre o que é patente e já vem sendo ensaiado
em simulações ao fim das quais nós, como sobreviventes,
somos no máximo umas notas de rodapé?
É o alegado direito de ataque preventivo
que poderia extinguir aquele povo
subjugado por um fanfarrão
e empurrado ao júbilo organizado (o iraniano),
porque se suspeita da construção
de uma bomba atômica em seus domínios.
Por que, no entanto, eu me proíbo
de chamar pelo nome aquele outro país
no qual se dispõe há anos - ainda que em segredo -
de um potencial nuclear crescente
e sem controle, pois não se dá acesso
a nenhuma inspeção?
A generalizada omissão desse fato,
à qual se subordina o meu calar,
eu a sinto como incriminadora mentira
e coerção com promessa de punição:
assim que desobedecida,
o veredito “antissemitismo” está em toda parte.
Agora, porém, porque o meu país,
- que por seus crimes próprios,
que estão além de comparação,
é volta e meia chamando às falas ­-
deve entregar a Israel
(por razões puramente comerciais,
embora declarado com lábios ligeiros
que se trata de reparação)
mais um submarino, cuja especialidade
é ser capaz de direcionar ogivas
de destruição total a um lugar
onde não foi comprovada a existência
de uma bomba atômica sequer, e no entanto
com o fim de atemorizar se pretende
que existam provas conclusivas -
por isso agora eu vou dizer
o que precisa ser dito.
Por que, no entanto, até agora eu me calei?
Porque eu pensava que a minha origem,
marcada com mácula nunca extinguível,
proibia declarar tais fatos como verdadeiros
em relação ao país Israel, com o qual tenho laços
e quero continuar a ter.
Por que é que eu digo somente agora,
envelhecido e com o fim da minha tinta,
que o poder atômico de Israel põe em risco
a paz mundial, já frágil sem isso?
Porque precisa ser dito
o que amanhã pode ser muito tarde;
e também porque nós
- como alemães já o suficiente incriminados -
podemos vir a ser fornecedores para um crime previsível,
com o que nenhuma das usuais desculpas
teria o poder de redimir
nossa participação na culpa.
E admito: não mais me calo
porque estou farto da hipocrisia do Ocidente,
e tenho esperança que com isso
possam se libertar muitos desse calar-se
e conclamar o causador do reconhecível perigo
a abrir mão de violência, e igualmente
a que seja permitido pelos governos dos dois países
um controle permanente e desimpedido
do potencial atômico israelense
e das instalações atômicas iranianas
por uma instância internacional.
Somente assim será possível ajudar
a todos, israelenses e palestinos,
e mais: a todos os seres humanos
que nessa região ocupada pelo delírio
vivem apertados em inimizade, e afinal
a nós mesmos também.