domingo, setembro 30, 2012

Os anos ocultos de Jesus


O que ele fez antes dos 30 anos? A Bíblia não conta. Mas a história e a arqueologia têm muito a dizer


Por Eduardo Szklarz e Alexandre Versignassi

O Novo Testamento contém 27 livros, 7 956 versículos e 138 020 palavras. E uma única referência à juventude de Jesus. O Evangelho de Lucas nos conta que, aos 12 anos, ele viajou com os pais de Nazaré a Jerusalém para celebrar o Pessach, a Páscoa judaica. Quando José e Maria retornavam a Nazaré, perceberam que Jesus tinha ficado para trás. Procuraram o garoto durante 3 dias e decidiram voltar ao Templo, onde o encontraram discutindo religião com os sacerdotes. "E todos que o ouviam se admiravam com sua inteligência" (Lucas 2:42-49). 

Isso é tudo. Jesus só volta a aparecer no relato bíblico já adulto, por volta dos 30 anos, ao ser batizado no rio Jordão por João Batista. É quando o conhecemos realmente. Da infância, as Escrituras falam sobre o nascimento em Belém, a fuga com os pais para o Egito - para escapar de uma sentença de morte impetrada por Herodes, rei dos judeus - e a volta para Nazaré. Da vida adulta, o ajuntamento dos apóstolos e a pregação na Galileia, além do julgamento e da morte em Jerusalém. Mas o que aconteceu com Jesus entre os 12 e os 30 anos? Qual foi sua formação, o que moldou seu pensamento nesses 18 "anos ocultos"? Afinal, o que ele fez antes de profetizar na Galileia? 

A notícia para quem deseja reconstruir o Jesus histórico é que novas análises dos Evangelhos, documentos históricos e achados arqueológicos nos dão pistas sobre a sociedade da época. E dessa forma podemos chegar mais perto de conhecer o homem de Nazaré. E entender o que passava em sua cabeça. 


O pedreiro cheio de irmãos 
Uma coisa é certa. Aos 13 anos, Jesus celebrou o bar mitzvah, ritual que marca a maioridade religiosa do judeu. E é bem provável que ele tenha seguido a profissão de José, seu pai. Carpinteiro? Talvez não. "Em Marcos, o mais antigo dos Evangelhos, Jesus é chamado de tekton, que no grego do século 1 designava um trabalhador do tipo pedreiro, não necessariamente carpinteiro", diz John Dominique Crossan, um dos maiores especialistas sobre o tema. Para o historiador, os autores de Mateus e Lucas, que se basearam em Marcos, parecem ter ficado constrangidos com a baixa formação de Jesus. E deram um jeito de melhorar a coisa. Mateus (13:55) diz que o pai de Jesus é que era tekton. E Lucas omitiu todo o versículo. 

As mesmas passagens de Marcos e Mateus informam que Jesus tinha 4 irmãos (Tiago, José, Simão e Judas), além de irmãs (não nomeadas). Mas dá para ir mais longe a partir dessa informação. "Se os nomes dos Evangelhos estão corretos, a família de Jesus era muito orgulhosa da tradição judaica. Seus 4 irmãos tinham nomes de fundadores da nação de Israel", diz a historiadora Paula Fredriksen, da Universidade de Boston. "Seu próprio nome em aramaico, Yeshua, recordava o homem que teria sido o braço direito de Moisés e liderado os israelitas no êxodo do Egito, mais de mil anos antes." 

Assim, a família teria pelo menos 9 pessoas, mas nem por isso era pobre. Nazaré ficava a apenas 8 km de Séforis - um grande centro comercial onde o rei Herodes, o Grande, governava a serviço de Roma. Com a morte dele, em 4 a.C., militantes judeus se revoltaram contra a ordem política. Deu errado: o general romano Varus chegou da Síria para reprimir os rebeldes. E seu amigo Gaio completou o serviço, queimando a cidade. "Homens foram mortos, mulheres estupradas e crianças escravizadas", diz Crossan. Mas a destruição de Séforis teve um lado positivo: Herodes Antipas, filho do "o Grande", transformou o lugar num canteiro de obras. Isso trouxe uma certa abundância de empregos para a região. Um pequeno boom econômico. Então o ambiente ao redor da família de Jesus não era de privações. "A reconstrução da cidade deve ter gerado muito trabalho para José", diz Paula Fredriksen. 

Jesus nasceu no ano da destruição da cidade, 4 a.C. Ou perto disso. O Evangelho de Mateus diz que Jesus nasceu no tempo de Herodes, o Grande (4 a.C. ou antes). Lucas coloca o nascimento na época do primeiro censo que o Império Romano promoveu na Judeia. E isso aconteceu, segundo as fontes históricas romanas, em 6 a.C. A única certeza, enfim, é que "foi por aí" que Jesus nasceu. E que o ódio contra o que os romanos tinham feito em Séforis permeava o ambiente onde ele viveu. "Não é difícil imaginar que Jesus pensou muito sobre os romanos enquanto crescia", diz Crossan. 

Na década de 20 d.C., quando Jesus estava nos seus 20 e poucos anos, o sentimento antirromano cresceu mais ainda. Pôncio Pilatos assumiu o governo da Judéia cometendo o maior pecado que poderia: desdenhar da fé dos judeus no Deus único. 

Mas, em vez de se unir contra o romano, os judeus se dividiram em seitas. Os saduceus, por exemplo, eram os mais conservadores. Os fariseus eram abertos a ideias novas, como a ressurreição - quando os justos se ergueriam das tumbas para compartilhar o triunfo final de Deus. Os essênios viviam como se o fim dos tempos já tivesse começado: moravam em comunidades isoladas, que faziam refeições em conjunto seguindo estritas leis de pureza. Já os zelotes defendiam a luta armada contra os romanos. 

Em qual dessas seitas Jesus se engajou na juventude? Não há consenso entre os pesquisadores. Para alguns, porém, existem semelhanças entre a dos essênios e o movimento que Jesus fundaria - ambas as comunidades viviam sem bens privados, num regime de pobreza voluntária, e chamavam Deus de "pai". Essa hipótese ganhou força com a descoberta dos Manuscritos do Mar Morto, em 1947. Eles trouxeram detalhes sobre uma comunidade asceta de Qumran, que viveu no século 1 e estaria associada aos essênios. O achado ar-queológico não provou a ligação entre Jesus e essa seita. Até porque os essênios eram sujeitos reclusos, ao passo que Jesus foi pregar entre as massas da Galileia e Jerusalém. 

Jesus podia não ser essênio. Mas, para alguns estudiosos, seu mentor foi. 


João, o mestre 
Dois dos 4 Evangelhos começam a falar de João Batista antes de mencionar Jesus. É em Marcos e João. O homem que batizaria Cristo aparece descrito como um profeta que se vestia como um homem das cavernas ("em pelos de camelo") e que vivia abaixo de qualquer linha de pobreza traçável ("comia gafanhotos e mel silvestre"). 

Para a historiadora britânica Karen Armstrong, outra grande especialista no tema, isso indica que João pode ter sido um essênio. A vocação "de esquerda" que Jesus mostraria mais tarde, inclusive, pode vir da ligação do mestre João com a "sociedade alternativa" dos essênios. "É mais fácil passar um camelo pelo buraco de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus", ele diria mais tarde. 

Os Evangelhos não falam de João como mestre de Jesus. Nada disso. Ele apenas reconhece Jesus como o Messias na primeira vez que o vê. Os textos sagrados também informam que ele usava o batismo como expediente para purificar seus seguidores, que deviam confessar seus pecados e fazer votos de uma vida honesta. 

Então Jesus aparece pedindo para ser batizado. Na Bíblia, esse é o primeiro momento em que vemos o Messias após aqueles 18 anos de ausência. 

Depois de purificado nas águas do rio Jordão, Jesus parte para sua vida de pregação, curas e milagres. A vida que todos conhecem. 

Para quem entende esse relato à luz da fé, isso basta. Mas é pouco para quem tenta montar um panorama da vida de Jesus, um retrato puramente histórico de quem, afinal, foi o homem da Galileia que sairia da vida para entrar na Bíblia como o Deus encarnado. E uma possibilidade é que Jesus tenha sido um discípulo de João Batista. Discípulo e sucessor. 

As evidências: tal como João Batista, Jesus via o mundo dividido entre forças do bem e do mal. E anunciava que Deus logo interviria para acabar com o sofrimento e inaugurar uma era de bondade. Em suma: tanto um como o outro eram o que os pesquisadores chamam de "profetas apocalípticos". E se os Evangelhos jogam tanta luz sobre João Batista (Lucas fala inclusive sobre o nascimento do profeta, assim como faz com Jesus), a possibilidade de que a relação deles tenha sido mais profunda é real. 

O grande momento de oão Batista na Bíblia, porém, não é o batismo de Jesus. É a sua própria morte. Morte que abriria as portas para o nosso Yeshua, o Jesus da vida real, começar o que começou. 


E Yeshua vira Cristo 
João Batista podia se vestir com pele de animal e se alimentar de gafanhotos. Mas tinha a influência de um grande líder político. Prova disso é que morreu por ordem direta de Antipas. O Herodes júnior tinha violado o 10º mandamento da lei judaica: "Não cobiçarás a mulher do próximo". Não só estava cobiçando como estava de casamento marcado com a ex-mulher do irmão, Felipe. João condenou a atitude do rei publicamente. E acabou executado. 

Mateus deixa claro como Jesus, então já com seus 12 discípulos e em plena pregação, recebeu a notícia: "Ouvindo isto, retirou-se dali para um lugar deserto, apartado; e, sabendo-o o povo, seguiu-o a pé desde as cidades". Logo na sequência, o Cristo emenda o maior de seus milagres. Sentido com a fome da multidão que ia atrás dele, pegou 5 pães e dois peixes (tudo o que os apóstolos tinham) e foi dividindo. Passava os pedaços aos discípulos, e os discípulos à multidão. "E os que comeram foram quase 5 mil homens, além das mulheres e crianças" (Mateus 14:21). Horas depois, no meio da madrugada, outro milagre de primeiro escalão: Jesus apareceria para os apóstolos andando sobre as águas. 

Esses episódios, claro, são parte da vida conhecida de Jesus (ou da mitologia cristã, em termos técnicos). Mas deixam claro: a morte de João foi importante a ponto de ter sido seguida de dois dos grandes episódios da saga de Cristo. 

O filho do pedreiro assumiria o vácuo religioso deixado pelo profeta. Agora sim: Yeshua caminharia com as próprias pernas. E começaria a virar Jesus Cristo. "Ele não só assumiu o manto de João, mas alterou sua doutrina. A diferença interessante entre João Batista e Jesus Cristo é que Jesus ergueu o manto caído de Batista e continuou seu programa mudando radicalmente sua visão", diz Crossan. 

Ele continua: "João dizia que Deus estava chegando. Mas João foi executado e Deus não veio". Ou seja: para o pesquisador, Jesus teria ficado tão chocado ante a não-intervenção divina que mudou sua visão sobre o que o Reino de Deus significava. 

"João Batista havia imaginado uma intervenção unilateral de Deus. Jesus imaginou uma cooperação bilateral: as pessoas deveriam agir em combinação com Deus para que o novo reino chegasse", diz o pesquisador. Ou seja: não adiantaria esperar de braços cruzados. O negócio era fazer o Reino dos Céus aqui e agora. Como? Primeiro, extinguindo a violência. Mas e se alguém me der um soco, senhor? "Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra" (Lucas 6:29). Depois, amando ao próximo como a ti mesmo, ajudando ao pior inimigo se for necessário, como fez o bom samaritano da parábola famosa... Em suma, a essência da doutrina cristã. 


A natividade 
Agora, um aparte: chamar de "anos ocultos" apenas a juventude de Jesus é injustiça. O nascimento também é uma incógnita completa. A começar pela data de nascimento: 25 de dezembro era a data em que os romanos celebravam sua festa de solstício de inverno, a noite mais longa do ano. Não porque gostassem de noites sem fim, mas porque ela marcava o começo do fim do inverno. Praticamente todos os povos comemoram esse acontecimento desde o início da civilização - nossas festas de fim de ano, a semana entre o Natal e o Ano-Novo são um reflexo disso. O dia em que Jesus nasceu não consta na Bíblia - foi uma imposição da Igreja 5 séculos depois, para coincidir o nascimento do Messias com a festa que já acontecia mesmo - com troca de presentes e tudo. 

"Na verdade, não sabemos nada histórico sobre Jesus antes de sua vida pública, já que os dois primeiros capítulos de Mateus e Lucas [os que relatam o nascimento] são basicamente parábolas, não história", diz Crossan. De acordo com Mateus, José soube num sonho que Maria daria à luz um menino concebido pelo Espírito Santo. Quando Jesus nasce, magos surgem do Oriente e seguem uma estrela que os conduz a Jerusalém. Lá, eles ficam sabendo que o Cristo nasceu em Belém. Seguindo a estrela, os magos chegam à cidade para adorar o menino e lhe regalam com ouro, incenso e mirra. Mas Herodes fica perturbado com o nascimento e manda soldados matarem todos os bebês de até 2 anos em Belém. Assim, José foge com a família para o Egito e depois vai morar em Nazaré, na Galileia, onde Jesus é criado. 

"Não há nenhum relato, em qualquer fonte antiga, sobre o rei Herodes massacrar crianças em Belém, ou em seus arredores, ou em qualquer outro lugar. Nenhum outro autor, bíblico ou não, menciona isso", diz o teólogo americano Bart D. Ehrman no livro Quem Foi Jesus? Quem Jesus Não Foi? 

No relato de Lucas, o anjo Gabriel vai à casa de Maria, em Nazaré, e lhe avisa que daria à luz um futuro rei. E que o "Filho de Deus" se chamaria Jesus. Maria era uma virgem prometida a José, e o anjo lhe explicou que o filho seria gerado pelo Espírito Santo. Lucas diz que naquela época, "quando Quirino era governador da Síria", um decreto do imperador Augusto obrigou os súditos a se registrar no primeiro censo do Império. Todo mundo devia retornar à cidade de origem para se alistar. Como os ancestrais de José eram de Belém, ele foi com Maria grávida para lá. Jesus nasceu em Belém pouco depois, e foi envolvido em panos na manjedoura. Lá o menino recebeu a visita de pastores e foi circuncidado aos 8 dias, para depois passar a infância em Nazaré. 

"Os problemas históricos em Lucas são ainda maiores", diz Ehrman. "Temos registros do reinado de Augusto, e em nenhum deles há referência a um censo para o qual todos teriam de se registrar retornando ao lar dos ancestrais." 

Ok, mas afinal por que Mateus e Lucas fazem Jesus nascer em Belém? Bom, de acordo com uma profecia do livro de Miqueias, do Antigo Testamento, o salvador viria de lá. Por que de lá? Porque era a cidade do rei Davi, o mais lendário dos soberanos de Israel. 

Depois que o general Pompeu invadiu a Judeia, em 63 a.C., e fez dela província do Império Romano, os profetas passaram a dizer que um rei da linhagem de Davi inauguraria o "reino de Deus". Chamavam essa figura de "o ungido" - já que Davi e outros reis israelitas haviam sido ungidos com óleo. Os Evangelhos foram escritos em grego, o inglês da época. E em grego "ungido" é christos. O Cristo tinha que nascer em Belém. Yeshua provavelmente era de Nazaré mesmo. 

Os Evangelhos, por sinal, são obra de autores desconhecidos. É apenas uma convenção dizer que foram escritos por Marcos (secretário do apóstolo Pedro), Mateus (o coletor de impostos), João (o "discípulo amado") e Lucas (o companheiro de viagem de Paulo). Além disso, os escritores não foram testemunhas oculares. "O autor de Marcos escreveu por volta do ano 70. Mateus e Lucas, de 80. E João, no final dos 90", diz Karen Armstrong. E claro: "Eram cristãos. Eles não estavam imunes a distorcer as histórias à luz de suas crenças", diz Ehrman. Afinal, "evangelho" deriva da palavra grega euangélion, que significa "boas novas". O objetivo dos autores não era escrever a biografia de Jesus, e sim propagar a nova fé. Levando isso em conta, chegamos a outra polêmica: os anos considerados como os mais conhecidos da vida de Jesus também são cheios de episódios misteriosos. Vejamos. 


Yeshua sai da vida para entrar na Bíblia 
Talvez tenha sido em busca de audiência que Yeshua rumou com os discípulos da Galileia para Jerusalém, por volta do ano 30 d.C. Depois de 3 anos pregando na periferia, já seria hora de atuar no palco principal. 

Jerusalém era o pivô do fermento espiritual judaico, e milhares de judeus iam para lá na Páscoa. Os Evangelhos nos dizem que Jesus causou um tumulto no local, destruindo as banquinhas de câmbio (que trocavam moedas estrangeiras dos romeiros por dinheiro local cobrando uma comissão), já que seria uma ofensa praticar o comércio em pleno Templo de Jerusalém, o lugar mais sagrado da Terra para os judeus. Por perturbar a ordem pública, ele foi condenado à cruz. Parece historicamente sólido, mas o episódio central do Novo Testamento também é fonte de reinterpretações. 

No julgamento, por exemplo, a multidão teria pedido que Barrabás, um assassino, fosse solto em vez de Jesus - já que era "costume" da Páscoa. Esse costume, porém, não é mencionado em nenhum lugar, exceto nos Evangelhos. Além disso, Jesus pode não ter sido exatamente crucificado, mas "arvorificado". É a teoria (controversa, é verdade) do arqueólogo Joe Zias, da Universidade Hebraica de Jerusalém. Suas pesquisas indicam que as vítimas dos romanos eram mais comumente crucificadas em árvores, pregando uma tábua de madeira no tronco para prender os braços do condenado. Seja como for, não há por que duvidar de que ele tenha sido executado. Roma usava e abusava do expediente para tentar manter o controle das regiões que conquistava. Segundo Flávio Josefo, historiador judeu do século 1, numa só ocasião 2 mil judeus foram executados 

A história de Jesus não acaba aí, claro. "Alguns discípulos estavam convencidos de que ele ressuscitara. E que sua ressurreição anunciava os últimos dias, quando os justos se reergueriam das tumbas", diz Armstrong. Para esses judeus cristãos, Jesus logo retornaria para inaugurar o novo reino. O líder do grupo era Tiago, irmão de Jesus, que tinha boas relações com fariseus e essênios. E o movimento se expandiu. Quando Tiago morreu, em 62, Jerusalém vivia o auge da crise política. Em 66, romanos perseguiram os judeus com medo de uma insurgência. Os zelotes se rebelaram e conseguiram manter as tropas do Império afastadas por 4 anos. Com medo de que a rebelião judaica se espalhasse, Roma esmagou os revoltosos. Em 70, o imperador Vespasiano sitiou Jerusalém, arrasou o Templo e deixou milhares de mortos. 

"Não temos ideia de como seria o cristianismo se os romanos não tivessem destruído o Templo", diz Armstrong. "Sua perda reverbera ao longo dos livros que formam o Novo Testamento. Eles foram escritos em resposta à tragédia." 

Para os pesquisadores, então, os textos sagrados refletem a realidade da Judeia do final do século 1 - e não a do início, a que Jesus viveu de fato. Por exemplo: Barrabás personificaria os sicários, judeus que saíam armados de punhais para matar romanos na calada da noite, como uma forma de vingança pela destruição do Templo. E que por isso mesmo eram assassinos amados pela população. 

Quer dizer: Barrabás seria um personagem típico da década de 70 d.C., inserido no episódio da morte de Jesus, fato que aconteceu na década de 30 d.C, num momento em que o ódio aos romanos e o louvor a quem se dispusesse a matá-los não eram tão violentos. 

Até a época em que os Evangelhos foram escritos, o movimento de Jesus era apenas um entre as várias seitas judaicas. Os primeiros cristãos se diziam "o verdadeiro Israel" e não tinham intenção de romper com a corrente principal do judaísmo. Mas tudo mudou com a destruição do Templo. 

Ela intensificou a rivalidade entre as facções judaicas. "Em sua ânsia por alcançar o mundo gentio (o dos não-judeus), os autores dos Evangelhos estavam dispostos a absolver os romanos da execução de Jesus e declarar, com estridência crescente, que os judeus deviam carregar a culpa", diz Armstrong. João, o Evangelho mais virulento, declara que os judeus são "filhos do Diabo" (João 8:44). Até o autor de Lucas, que tinha uma visão mais positiva do judaísmo, deixou claro que havia um bom Israel (os seguidores de Jesus) e um Israel mau - os fariseus. 

A rixa com os fariseus tem lógica, já que eram competidores diretos dos judeus cristãos. "Num extremo do judaísmo estavam os saduceus, a ala mais conservadora. No outro, os essênios, a mais radical. Já os fariseus e os judeus cristãos estavam no meio. Eles lutavam pela mesma coisa: a liderança do povo, que estava entre as duas pontas", diz Crossan. 

Não é surpresa, aliás, que os livros do Novo Testamento contenham tantas contradições entre si. "Quando os editores finais do Novo Testamento juntaram esses textos, no início da Idade Média, não se incomodaram com as discrepâncias. Jesus havia se tornado um fenômeno grande demais nas mentes dos cristãos para ser atado a uma única definição", diz Armstrong. Os Evangelhos atribuídos a Marcos, Lucas, Mateus e João seriam finalmente selecionados para o cânon da Igreja. Dezenas de outros evangelhos ficaram de fora. 

Só no século 2, quase 100 anos após a morte de Jesus, começam a aparecer relatos sobre ele no centro do Império. Um deles é uma carta do político romano Plínio ao imperador Trajano. Plínio cita pessoas conhecidas como "cristãs" que veneravam "Cristo como Deus". Outra fonte é o historiador romano Tácito, que menciona os "cristãos (...), conhecidos assim por causa de Cristo (...), executado pelo procurador Pôncio Pilatos". Suetônio, que escreveu pouco depois de Tácito, informa sobre uma perseguição de cristãos, "gente que havia abraçado uma nova e perniciosa superstição". Uma "superstição" cuja mensagem convenceria cada vez mais gente, a ponto de, no século 4, o imperador romano em pessoa (Constantino, no caso) converter-se a ela. E o resto é história. Uma história que chega ao seu segundo milênio. Com 2 bilhões de seguidores. 

Lost Years 
Antes dos 30, Jesus provavelmente teve a mesma formação religiosa dos judeus de sua época. Ou seja: seguia outro Jesus. Outro profeta. 


16 anos 
O jovem Yeshua (Jesus, em aramaico) tinha 4 irmãos homens e pelo menos duas irmãs mulheres. E cresceu na cidade onde nasceu: Nazaré. 


20 anos 
Ele pode não ter sido carpinteiro, mas pedreiro. O engano de 2 mil anos seria culpa de um erro de tradução. 


28 anos 
Na Bíblia, o profeta João apenas batiza Cristo. O mais provável, porém, é que ele tenha sido o grande mentor do jovem Yeshua. 


33 anos 
Os romanos crucificavam em massa. E também usavam árvores como base. Esse pode ter sido o cenário da morte de Jesus. 

Para saber mais 

Quem Jesus Foi? Quem Jesus Não Foi? 
Bart D. Ehrman, Ediouro, 2009 


A Origem do Cristianismo 
Karl Kautsky, Civilização Brasileira, 2010

Edgard Allan Poe: La durmiente

Edgard Allan Poe: La durmiente


“HUBO aquí un valle antaño, callado y sonriente,
donde nadie habitaba:
partiéronse las gentes a la guerra,
dejando a los luceros, de ojos dulces..”

“La durmiente”

Era la medianoche, en junio, tibia, bruna.
Yo estaba bajo un rayo de la mística luna,
Que de su blanco disco como un encantamiento
Vertía sobre el valle un vapor soñoliento.
Dormitaba en las tumbas el romero fragante,
Y al lago se inclinaba el lirio agonizante,
Y envueltas en la niebla en el ropaje acuoso,
Las ruinas descansaban en vetusto reposo.
¡Mirad! También el lago semejante al Leteo,
Dormita entre las sombras con lento cabeceo,
Y del sopor consciente despertarse no quiere
Para el mundo que en torno lánguidamente muere
Duerme toda belleza y ved dónde reposa
Irene, dulcemente, en calma deleitosa.
Con la ventana abierta a los cielos serenos,
De claros luminares y de misterios llenos.
¡Oh, mi gentil señora, ¿no te asalta el espanto?
¿Por qué está tu ventana, así, en la noche abierta?
Los aires juguetones desde el bosque frondoso,
Risueños y lascivos en tropel rumoroso
Inundan tu aposento y agitan la cortina
Del lecho en que tu hermosa cabeza se reclina,
Sobre los bellos ojos de copiosas pestañas,
Tras los que el alma duerme en regiones extrañas,
Como fantasmas tétricos, por el sueño y los muros
Se deslizan las sombras de perfiles oscuros.
Oh, mi gentil señora, ¿no te asalta el espanto?
¿Cuál es, di, de tu ensueño el poderoso encanto?
Debes de haber venido de los lejanos mares
A este jardín hermoso de troncos seculares.
Extraños son, mujer, tu palidez, tu traje,
Y de tus largas trenzas el flotante homenaje;
Pero aún es más extraño el silencio solemne
En que envuelves tu sueño misterioso y perenne.
La dama gentil duerme. ¡Que duerman para el mundo!
Todo lo que es eterno tiene que ser profundo.
El cielo lo ha amparado bajo su dulce manto,
Trocando este aposento por otro que es más santo,
Y por otro más triste, el lecho en que reposa.
Yo le ruego al Señor, que con mano piadosa,
La deje descansar con sueño no turbado,
Mientras que los difuntos desfilan por su lado.
Ella duerme, amor mío. ¡Oh!, mi alma le desea
Que así como es eterno, profundo el sueño sea;
Que los viles gusanos se arrastren suavemente
En torno de sus manos y en torno de su frente;
Que en la lejana selva, sombría y centenaria,
Le alcen una alta tumba tranquila y solitaria
Donde flotan al viento, altivos y triunfales,
De su ilustre familia los paños funerales;
Una lejana tumba, a cuya puerta fuerte
Piedras tiró, de niña, sin temor a la muerte,
Y a cuyo duro bronce no arrancará más sones,
Ni los fúnebres ecos de tan tristes mansiones
¡Qué triste imaginarse pobre hija del pecado.
Que el sonido fatídico a la puerta arrancado,
Y que quizá con gozo resonara en tu oído,
de la muerte terrífica era el triste gemido!
Edgard Allan Poe
Nació en Boston, el 19 de enero de 1809.
Murió en Baltimore, el 7 de octubre de 1849.

Mauricio de Sousa faz desenho em homenagem a Hebe Camargo


Mauricio de Sousa faz desenho em homenagem a Hebe Camargo


sexta-feira, setembro 28, 2012

Martin Schongauer: Los inicios del Renacimiento en Alemania


Martin Schongauer

Nació hacia 1450 en Colmar, Alemania.
Pintor activo en la última fase del  y los inicios del , comenzó su formación  en el taller de su padre, en el qué aprendió dibujo y grabado. En 1465 se encuentra su primera mención al matricularse en la Universidad de Leipzig. Tiene como maestro al pintor Isenmann Caspar, que había sido fuertemente influido por la Escuela Flamenca.
Está considerado como el grabador más importante en Alemania hasta la llegada de Alberto Durero. Sus grabados circularían por varios paises europeos, en Italia fue conocido con apodos tales como “Bel Martino” y “Martino d’Anversa”.
En 1469 viaja a Borgoña y los Países Bajos. Realiza sus primeras planchas de cobre, en los que con toda claridad se aprecia la influencia de Roger van der WeydenDirck Bouts  y Jan van Eyck.
En 1471 vuelve a Colmar, en donde al parecer logró éxito y fama, pues ya figura a su nombre una casa en su ciudad natal en esa época.
En 1473 realiza su famosa “Madonna im Rosenhag” (La Virgen del Rosal), un óleo sobre tabla, en la iglesia de San Martín, en Colmar.
En 1489 inició un ciclo de pinturas murales en Breisach Minster, en los que estaba trabajando cuando murió, muy probablemente a causa de la peste, en 1491.
La importancia de su nombre en la historia de la pintura, reside en el legado que dejó de planchas de cobre, con más de cien grabados, grabados que pueden ser considerados como de entre los más grandes de su tipo en la historia del arte gráfico occidental.

Polêmica na Copa-14, jogos com sol a pino reduzem média de gols e têm europeus fregueses

Por Thiago Arantes, da redação do ESPN.com.br

Polêmica na Copa-14, jogos com sol a pino reduzem média de gols e têm europeus fregueses

O calendário da Copa do Mundo de 2014 prevê 22 partidas às 13 horas, parte do dia em que o sol tem incidência mais nociva sobre o corpo humano. A tabela, divulgada na quinta-feira pela Fifa, tem sido alvo de polêmica. Os horários foram lançados para agradar ao mercado europeu, embora a entidade garanta que levou em conta fatores como o deslocamento das equipes pelo país.

Os jogos com sol a pino não são novidade em Mundiais. Pelo contrário: eles estiveram presentes na primeira edição do torneio, em 1930, no Uruguai. Depois, voltaram a acontecer em 1970, 1978, 1986 e 1994 – nas Copas do México e nos Estados Unidos, a situação era ainda pior, porque as competições foram disputadas no verão local.


Em todas as Copas em que se jogaram partidas entre 11h30 e 13h30, os vencedores foram sul-americanos. O Uruguai foi campeão em casa, em 1930; a Argentina levou as Copas de 1978 e 1986, e o Brasil ficou com os títulos de 1970 e 1994. 

A história registra 90 jogos nestas condições, foram marcados 244 – uma média de 2,71 por jogo. Nos outros duelos realizados nas mesmas edições do Mundial, mas em outros horários, o número sobe para 2,90. A média geral de todas as Copas do Mundo é de 2,86.

Verão e inverno - Para avaliar os efeitos desses jogos, no entanto, é preciso separá-los em dois grupos. Um deles é o das Copas realizadas no inverno, como as de 1930 e 1978; o outro, das Copas de verão, que tem os Mundiais de 1970, 1986 e 1994. 

O Mundial do Brasil, em 2014, será realizado no inverno. Mas, se mantidas as médias deste ano, deve ser disputado com temperaturas de cerca de 30 graus às 13 horas, em sedes como Fortaleza, Salvador, Brasília, Recife e Natal. 

No Mundial dos Estados Unidos, em 1994, as temperaturas chegaram a 46 graus em cidades como Dallas. A decisão, entre Brasil e Itália, no Rose Bowl, começou às 12h30 locais, sob um calor de 38 graus. 

Bom retrospecto - A seleção brasileira só disputará uma partida das 13 horas nas oitavas de final. Se ficar em primeiro lugar do grupo, jogará em Belo Horizonte; se passar em segundo, terá de encarar o sol escaldante de Fortaleza.

Em toda sua história nas Copas, a seleção brasileira disputou 16 partidas entre 12h e 13h30. O retrospecto é muito bom: são 11 vitórias, 4 empates e apenas uma derrota – justamente no primeiro deles, um 2 a 1 contra a Iugoslávia na Copa de 1930.

Foi jogando com o sol a pino que o Brasil foi tri, com o 4 a 1 sobre a Itália na Copa de 1970 e tetra, vencendo a Itália nos pênaltis, em 1994, após empate sem gols no tempo regulamentar. 

Além da derrota para os iugoslavos em 1930, apenas uma outra partida do horário é lembrado com tristeza pela torcida: o 1 a 1 com a França, nas quartas de final da Copa do Mundo de 1986, no México. Nos pênaltis, a equipe comandada por Telê Santana acabou eliminada pelo time de Platini. 

Europeus sofrem – Se a seleção brasileira tem ótimo retrospecto nos jogos em período sob calor mais intenso, para os europeus as partidas do meio-dia são um tormento. Além de jamais terem conquistado um título em Copas que tenham jogos nessas condições, os países do continente têm dificuldades para vencer os rivais sul-americanos nas partidas do início da tarde. 

Nas cinco Copas disputadas com partidas entre 11h30 e 13h30, houve 36 confrontos entre seleções dos dois continentes. Foram 17 vitórias sul-americanas, 9 dos europeus e 10 empates. 

Se levados em conta apenas os confrontos entre equipes que têm, atualmente, pelo menos um título mundial, o número fica ainda mais impressionante: são 9 partidas, com 5 vitórias sul-americanas e nenhuma dos representantes europeus. 

A Alemanha, segunda colocada no Ranking da Fifa atualmente, é o maior exemplo desta dificuldade. Em dez partidas disputas entre 11h30 e 13h30, a seleção do país venceu quatro, empatou duas e perdeu outras quatro. O índice de vitórias, de 40%, é muito inferior aos 60% dos alemães na história das Copas. 



Governo cancela obra de mobilidade para Copa de 2014

28 de setembro de 2012 | 18h 58


Reuters
O governo federal anunciou nesta sexta-feira o cancelamento de uma obra de mobilidade urbana prevista para a realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil.
A construção do veículo leve sobre trilhos (VLT) de Brasília, que ligaria o aeroporto da capital a um terminal urbano, foi excluída da matriz de responsabilidades da Copa, uma série de ações que incluem obras em estádios, mobilidade urbana, portos, aeroportos e telecomunicações, com valor total de 27,3 bilhões de reais.
A retirada foi feita a pedido do governo do Distrito Federal, já que o VLT não ficaria pronto a tempo do Mundial, em junho de 2014. Brasília será também uma das sedes da Copa das Confederações, no ano que vem.
As obras de mobilidade urbana são consideradas pelo governo um legado da Copa, mas algumas delas não deverão ficar prontas para o evento.
Esta foi a segunda obra de mobilidade a ser retirada da matriz de responsabilidades para o torneio, segundo o Ministério do Esporte. A construção de corredores de ônibus BRT (Bus Rapid Transport) em Salvador já havia sido retirada da lista de obras.
O Brasil já recebeu duras críticas da Fifa pelo atraso nos preparativos para o Mundial. O secretário-geral da entidade, Jérôme Valcke, chegou a dizer em março que o país precisava de um "chute no traseiro" para acelerar as obras. Em suas últimas declarações, no entanto, ele elogiou os avanços, e disse que a preparação brasileira entrou numa velocidade "de cruzeiro".
(Por Hugo Bachega) 

IBGE não explica o motivo pelo qual jovens estudam menos | No Mundo e Nos Livros

IBGE não explica o motivo pelo qual jovens estudam menos | No Mundo e Nos Livros


A Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) realizada em 2011 pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revela um aumento na proporção de jovens que não estudam e não trabalham no País. Em 2009, 85,2% da população de 15 a 17 anos frequentava a escola. Dois anos depois, o porcentual caiu para 83,7%, interrompendo uma tendência de crescimento da taxa de escolarização nessa faixa etária verificada desde 2005.

O número absoluto de estudantes de 15 a 17 anos manteve-se estável em 8,8 milhões de 2009 para 2011, apesar do aumento da população nesse grupo no período. A explicação para a queda da taxa de escolarização entre os jovens não é a ida para o mercado de trabalho formal, diz a gerente da pesquisa, Maria Lucia Vieira. Segundo a Pnad, os jovens de 15 a 17 anos representavam 3,1% da população ocupada no País em 2009, participação que caiu para 2,8% em 2011, uma variação negativa de 11,1%. Em termos absolutos, houve uma diminuição no período de 319 mil pessoas dessa faixa etária trabalhando.

— Não conseguimos investigar exatamente a causa, mas a princípio eles não trabalham e não estudam.

Para o economista Cláudio Moura Castro, a queda da taxa de escolarização entre os jovens reflete uma "crise no ensino médio".

— A matrícula está caindo porque o médio é muito ruim, é chato. As pessoas desanimam. A explicação consensual é que se trata muito mais de uma expulsão do médio do que atração pelo mercado de trabalho.

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Segundo ele, estatísticas de censos educacionais já indicavam "estagnação e contração".

— A queda não é dramática, mas a gente esperaria uma expansão contínua.

Para Simon Schwartzman, ex-presidente do IBGE, o ensino médio é pouco estimulante e a perda de alunos é consistente. Ele lembra que o abandono é maior entre os homens. A atual presidente do IBGE, Wasmália Bivar, avalia que a população adolescente "ainda precisa de incentivos, de políticas mais específicas, para que a permanência na escola ocorra de fato". 

— Trata-se de um desafio, de uma mudança quase cultural, para que o adolescente troque a renda de hoje por uma renda melhor no futuro através da educação.

Entre as crianças de 6 a 14 anos, a taxa de escolarização teve um aumento de 0,6 ponto porcentual, passando de 97,6% para 98,2% no mesmo período analisado.

Analfabetos

No entanto, a Pnad mostra que o País ainda tem 12,9 milhões de analfabetos com 15 anos ou mais de idade. Para Moura Castro, ainda falta incentivos para combater este problema.

— Não há campanha que mude os números de analfabetismo. Quem resolve é Deus. A queda é mecanicamente previsível. Não vai haver surpresa. 

Informações do Portal R7


Presidente do Vilhena ganha suspensão de 45 dias e ainda é multado

28/09/2012 - 10h00

José Carlos Dalanhol foi punido no STJD após esbravejar com arbitragem no vestiário
José Geraldo Azevedo

O Vilhena ficou pelo caminho na Série D do Campeonato Brasileiro, tendo sido eliminado ainda nas oitavas de final da competição. Mas os problemas que o presidente do clube tem a resolver ficaram ainda maiores nesta última quinta-feira, dia 27 de setembro. José Carlos Dalanhol foi suspenso por 45 dias e ainda acabou multado em R$ 5 mil, após decisão por maioria de votos da Quinta Comissão Disciplinar, no Superior Tribunal de Justiça Desportiva.

No primeiro confronto pelas oitavas de final, o Vilhena recebeu o Sampaio Correa em duelo que terminou empatado com dois gols para cada lado. Ao término do primeiro tempo, o árbitro Edmar Campos da Encarnação relatou ameaças feitas pelo presidente da equipe mandante.

De acordo com a súmula, “o Sr. Dalanhol apareceu no portão do vestiário de sua equipe, que dá acesso ao campo de futebol e ficou falando as seguintes palavras: ‘Você já começou a dar cartão para o meu time, agora você vai ser pago com mais um cheque sem fundo e não vai ter policiamento suficiente para te tirar hoje aqui deste estádio. Vai ficar sem receber, seu safado’”.

Após acesso ao relatório da partida, o mandatário foi denunciado em dois artigos do CBJD: 243-C (ameaçar alguém, por palavra, escrito, gestos ou por qualquer outro meio) e no 243-F (ofender alguém em sua honra). Sem defesa, o dirigente acabou punido pelos auditores. A decisão ainda cabe recurso.



quarta-feira, setembro 26, 2012

'Pior carta de demissão do mundo' se espalha pelas redes sociais


26/09/2012 11h56 - Atualizado em 26/09/2012 11h56

Em e-mail, funcionário afirma que chefe 'destruiu sua vida profissional'. 
Colaborador acusa gestor de fazer sexo com colega dentro da empresa.


Do G1, em São Paulo

Antes de se demitir, um empregado de uma agência de mídia na Inglaterra enviou um e-mail furioso explicando para toda a empresa que seu chefe ‘destruiu sua vida profissional’, além de acusá-lo de manter relações sexuais com uma funcionária em uma das salas da própria companhia após levá-la para sair. As informações são do jornal “Daily Mail”.
A carta, escrita pelo então gerente de contas sênior, Kieran Allen, e direcionada aos colaboradores da MEC Global, vazou na internet e foi compartilhada nas redes sociais. Kieran teria sido persuadido a ficar na empresa por ofertas feitas por seu gestor como ‘aumento de salário’ e ‘rápido crescimento profissional’, porém ele teve sua saúde deteriorada devido ao estresse, ao ponto de ser forçado a se afastar da empresa por duas semanas.
Depois de retornar, Allen afirma que “ao invés de me receber e tentar melhorar as coisas, [o gestor] me atacou e me fez sentir como um forasteiro”. O funcionário ainda acusa o chefe de ser preconceituoso com judeus e de fazer piadas a respeito das Paralimpíadas. “Sou um bom ser humano que trata as pessoas com respeito”, apontou Kieran.
O jornal disse ainda que, após o polêmico e-mail, o chefe enviou uma mensagem aos colaboradores a respeito do ocorrido (e o texto, fatalmente, também vazou), no qual disse que “é triste que, após o apoio dado a Kieran, ele envie uma mensagem tão pessoal e não profissional a um grupo público” e que está “ainda mais triste pelos colegas afetados por seus comentários.
Tanto o gestor quanto a empresa ainda não se manifestaram a respeito se vão ou não tomar medidas legais a respeito do ocorrido.




Vargas Llosa celebra em NY os 50 anos do lançamento de seu primeiro livro




O escritor peruano Mario Vargas Llosa comemorou em Nova York o 50º aniversário de seu primeiro romance, "A cidade e os Cachorros", que ganhou uma edição comemorativa. Foi com ele que o prêmio Nobel começou na literatura, um "mistério" que ainda o "apaixona".

"Escrever é apaixonante. Sinto a mesma ilusão e dificuldades que tive quando escrevi meus primeiros contos. Não tenho facilidade para escrever, mas as dificuldades não tiram nada da fascinação, da exaltação e do entusiasmo", disse Vargas Llosa sobre seu ofício em um encontro no Instituto Cervantes de Nova York.

O escritor se referiu à sensação "extraordinária" que sente quando "a história começa a ter vida própria, algo que sempre é misterioso", e que experimentou diante de cada nova obra de sua carreira, que começou com a publicação de "A cidade e os Cachorros", em 1962.

"Aprendi muito com este romance, sobre a construção da história, os pontos de vista, a linguagem, adquiri certa técnica que depois repetiria e aperfeiçoaria em outros romances, e forjei uma forma de escrever que tinha a ver com minha personalidade, com minhas simpatias e diferenças no mundo literário", descreveu o autor.

O escritor peruano, que nasceu em Arequipa, em 1936, afirmou que "quase nenhum escritor começa sabendo que tipo de escritor vai ser, já que isso é algo que se descobre com a prática, e por isso as primeiras obras são decisivas".

Além disso, Vargas Llosa lembrou as dificuldades que enfrentou na estreia de seu primeiro romance devido à censura que imperava na Espanha. Segundo ele, a obra só foi publicada graças ao "esforço sobre-humano" de seu editor, Carlos Barral, que manteve um ano de árduas negociações para que o livro fosse lançado.

"Ele falou com o ministro da Informação, com intelectuais bem-vistos pelo regime (franquista), como José María Valverde, para que falassem bem da obra. E eu também tive que viajar para Madri para manter uma conversa com o chefe da censura", afirmou o escritor.

Vargas Llosa lembrou de momentos de sua entrevista com o censor, que tinha reservas ao uso de frases como a que dizia que um coronel "era gordo, com o ventre de uma baleia", já que a interpretou como uma ironia aos militares. No entanto, o censor concordou em conservar a frase mudando a palavra "baleia" por "cetáceo".

"No final, só tive que tirar oito frases, que eram absurdas e disparatadas, e mesmo assim Barral as restituiu na segunda edição", explicou.

O prêmio Nobel de Literatura de 2010, que brincou dizendo que a condecoração é "uma semana de conto de fadas e um ano de pesadelo", retornou do passado para tratar de temas atuais, como o futuro do livro, "um objeto emblemático da civilização" que enfrenta uma "grande incerteza".

"Minha esperança é que o livro digital coexista com o de papel, e meu temor é que o livro escrito expressamente para as telas, não o transferido, seja muito diferente do tradicional, e que as telas façam o que a televisão fez com seus conteúdos: tornaram eles rápidos, leves e inclusive frívolos", questionou.

terça-feira, setembro 25, 2012

Adeus às armas

Em sua batalha final, Kadafi recorreu até aos deputados Protógenes e Brizola Neto

Por Paula Scarpin


Eram seis da manhã e os termômetros já avançavam a casa dos 30 graus centígrados em Túnis. Os deputados federais Protógenes Queiroz e Brizola Neto terminavam um café com torradas, frutas e suco quando um funcionário do hotel avisou que o motorista chegara. Ansiosos, eles já tinham descido dos quartos com a bagagem pronta. O motorista árabe, que arriscava um francês básico, os aguardava sorridente em frente ao Kia Borrego SUV prata. Na tarde anterior, a quinta-feira, 18 de agosto, o próprio Protógenes telefonara para a locadora e pedira um carro com boa tração e espaço para sete ou oito pessoas. Àquela hora o deputado ainda não tinha a conta exata do número de integrantes da comitiva brasileira que faria o estirão de quase 700 quilômetros até a fronteira com a Líbia para tentar testemunhar os conflitos.
A visita dos brasileiros vinha sendo ensaiada desde março, e fora marcada e cancelada várias vezes. A ONG líbia Fact Finding Committee,financiada por Muammar Kadafi e organizada depois da insurreição rebelde, havia divulgado um convite mundial a entidades interessadas em verificar o que de fato ocorria no país árabe, independente da cobertura que seus ativistas julgavam tendenciosa, fruto da “imprensa golpista”. O comitê oferecia passagens, hospedagem e visitas guiadas a hospitais, escolas e locais bombardeados pela Organização do Tratado do Atlântico Norte, a Otan. Em contrapartida, os participantes deveriam redigir um relatório isento endereçado às Nações Unidas.
Pipocaram voluntários da Espanha, Itália e Estados Unidos para a missão proposta pelo comitê. Cynthia McKinney, uma ex-congressista americana, chegou a liderar uma delegação chamadaDignity,que redigiu um contundente relatório repudiando os bombardeios da Otan. A comitiva brasileira não tinha nome, mas seguia o exemplo da americana e era composta por nove integrantes.
Entre os convidados específicos da ONG de Kadafi estavam o veterano jornalista Mario Augusto Jakobskind, autor de Dossiê Tim Lopes, a militante feminista Alzimara Bacellar e Juliana Castro, jornalista freelancer que já fizera vários trabalhos de assessoria de imprensa para a Embaixada da Líbia em Brasília. Por ter organizado eventos nessa legação diplomática, Juliana conhecia alguns membros do Fact Finding Committee. Foi designada como a responsável pela interlocução entre a entidade e os integrantes brasileiros.
Ela conta que a ONG líbia teria convidado também os deputados Chico Alencar, Manuela D’Ávila e Luiza Erundina (fato que os gabinetes da ex-prefeita de São Paulo e da musa comunista negam; Chico Alencar confirma). Segundo a jornalista,  questões de agenda teriam impedido a ida dos três. Encarregada de engrossar o pelotão de brasileiros, Juliana incorporou primeiro o marido, o advogado Felipe Boni Castro. Em seguida convocou o fotógrafo Sérgio Alberto e o cinegrafista Miguel Mello, com quem já havia trabalhado num evento em memória dos quarenta anos da morte de Che Guevara.
Robinson Pereira, escritor, jornalista freelancer, blogueiro e assessor do senador Acir Gurgacz, do PDT de Rondônia, foi um dos últimos a ser chamado. Pereira conheceu Juliana no começo de julho, no evento “Ler está na moda”, em Brasília, onde participava de um debate com outros autores. Ao ouvir Pereira falar de seus dois romances de espionagem, Fronteira e Souvenir Iraquiano, nos quais o vilão é um espião americano, Juliana apostou que o autor se interessaria em integrar a comitiva – e não errou. Sob o pretexto de pedir um autógrafo, fez-lhe o convite. Ele topou na hora.
Antes de embarcar, Pereira contatou a revista Carta Capital, que já publicou textos de sua autoria e acertou o envio de alguns flashes da expedição. A revista chegou a anunciar a novidade no seu portal, mas a nota sumiu no ciberespaço sem deixar rastro. “Eles não tinham entendido que a viagem seria paga pelo Kadafi”, esclareceu o jornalista.
Completado o grupo, todos decolaram de São Paulo num mesmo voo da Air France. Para a surpresa da comitiva, os deputados Protógenes e Brizola Neto viajaram de primeira classe; os demais, de classe econômica.

e acordo como plano original, os brasileiros seriam recebidos por um membro da ONG em Túnis, e de lá seguiriam num avião fretado até Ben Gardane, na fronteira. Partiriam entãopor terra até o destino final, Trípoli, onde passariam uma semana. Animados, chegaram a posar para uma foto de grupo no saguão do aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, durante a escala. Ao desembarcarem em Túnis, porém, não havia ninguém à espera e Juliana foi informada por telefone de que a fronteira fora tomada pelos rebeldes. Seguindo novas instruções, o grupo hospedou-se no Hotel Diplomat, de quatro estrelas e diária moderada, à espera de novas instruções.
Aquartelados na capital da Tunísia, Protógenes e Brizola Neto tentaram marcar um encontro com diplomatas brasileiros lotados no país. Só então, segundo o Itamaraty, o Ministério das Relações Exteriores tomou ciência da participação dos dois deputados na eclética comitiva. “Foi uma situação excepcional. Há uma área do Itamaraty destinada a lidar com o Congresso, e existe uma interlocução fluida com o objetivo de tratar de questões logísticas. Mas nada impede que os parlamentares viajem sem prestar contas ao Itamaraty”, informou a assessora Amena Yassine. Como nenhum dos dois deputados faz parte da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Congresso, é possível que eles não soubessem deste canal de comunicação.
Desde o primeiro dia em terras tunisianas, Protógenes, Brizola Neto e parceiros de missão arregaçaram as mangas e se puseram a trabalhar. Das instalações do Hotel Diplomat passaram a divulgar em seus respectivos blogs informações que consideraram essenciais. A primeira foi uma “Nota de repúdio aos bombardeios da Otan”, na qual ambos descreviam, de Túnis, como eram os ataques aéreos na Líbia.
Robinson Pereira foi o mais prolixo da comitiva. Estreou com uma análise tão original quanto umroman à clé: “A intromissão das forças lideradas por Sarkô [Nicolas Sarkozy, presidente da França] e Obama é o mesmo que um exército internacional ajudar a torcida do Brasil de Pelotas a tomar o governo das mãos de Dilma Rousseff”. Um enigma. Também entrevistou uma jovem tunisiana, que foi taxativa sobre as revoltas na terra de Kadafi: “As manifestações são pacíficas.”
Passados três dias e frustrados pela impossibilidade de cumprir a missão, os integrantes da comitiva decidiram alugar um carro por conta própria e seguir até a fronteira. Além dos dois deputados, os mais empolgados eram Robinson Pereira e o fotógrafo Sérgio Alberto. Juliana Castro e o marido optaram por ficar no Diplomat, junto com Mario Jakobskind e Alzimara Bacellar. O cinegrafista Miguel Mello, que tentava adiantar a volta para o Brasil, acabou sendo convencido a mudar de planos e se integrar à expedição. “Eu não ia deixar o pessoal na mão, certo? Eles estavam tão empolgados, decididos, e eu só pensava: será que a gente é tão importante assim?”, contou por telefone.
Robinson Pereira, sem maiores explicações, acabou não embarcando.
A caravana brasileira levou nove horas para chegar à cidade de Ben Gardane, ainda em território tunisiano, ali ficou cerca de cinco horas e deu meia-volta, retornando à capital. Segundo Miguel Mello, o motorista árabe tinha se recusado a entrar na convulsionada Líbia. No dia seguinte, em seu blog, Protógenes informou que havia avistado “um avião do governo venezuelano esperando seis membros da família Kadafi para serem asilados”.
Cansados da viagem, os expedicionários aportaram na madrugada de sábado no Hotel Diplomat e embarcaram no mesmo dia de volta ao Brasil. Na escala em Paris, a comitiva teve algumas horas para almoçar e relaxou tirando fotos no Arco do Triunfo. Protógenes Queiroz preferiu não sair do aeroporto.
Apesar de se dizer frustrado por não ter conseguido cumprir seu objetivo, Brizola Neto deixou a Tunísia convicto. “A Otan está extrapolando o seu papel, interferindo no processo interno líbio”, disse durante a festa de comemoração dos 50 anos da Campanha da Legalidade, no Bar Mofo, na Lapa carioca, dois dias depois da volta ao Brasil.