quarta-feira, outubro 31, 2012

Scarlett Johansson atuará na sequência de "Capitão América"

31/10/2012 - 08h34

Do UOL, em São Paulo


  • Scarlett Johannson como a Viúva Negra de Os Vingadores
    Scarlett Johannson como a Viúva Negra de "Os Vingadores"
Scarlett Johansson estará na sequência de “Capitão América: O Primeiro Vingador”, revelou a revista “Variety”. Pela terceira vez, ela encarnará o papel de Viúva Negra, personagem que já aparece em “Homem de Ferro 2” e “Os Vingadores”.
“Captain America: Winter Soldier” terá ainda a atuação de Cobie Smulders, que interpreta a agente da S.H.I.E.L.D Maria Hill em “Os Vingadores”.
Também foi confirmado o ator Frank Grillo, que será o vilão da trama, Ossos Cruzados. O personagem, cujo nome real é Brock Rumlow, é pupilo do Caveira Vermelha, inimigo enfrentado pelo Capitão América no primeiro filme.
Completam o elenco Chris Evans, no papel-título, e Anthony Mackie, como o super-herói Falcão. As filmagens começarão em março, e o filme deve chegar às telas em abril de 2014.
A sequência é dirigida por Anthony Russo e Joe Russo, com um roteiro de autoria de Christopher Markus e Stephen McFeely.

segunda-feira, outubro 29, 2012

"Morte do Jornal da Tarde me entristece em dobro", diz Mino Carta, idealizador do jornal

http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2012/10/29/morte-do-jornal-da-tarde-me-entristece-em-dobro-diz-mino-carta-idealizador-do-jornal.htm

29/10/201219h37

Do UOL, em São Paulo


  • Apu Gomes - 24.ago.2011/Folhapress
    O jornalista Mino Carta, idealizador do JT: "A morte de um jornal sempre me entristece"
    O jornalista Mino Carta, idealizador do JT: "A morte de um jornal sempre me entristece"
O jornalista Mino Carta, 79, idealizador do "Jornal da Tarde", disse ao UOL Notícias que o fim da publicação, considerada por ele "revolucionária" na época de sua criação, é uma perda para seu coração e sua alma. "A morte de um jornal sempre me entristece, mas, neste caso específico, eu devo dizer que me entristece em dobro, talvez ao cubo, pois foi um jornal que nasceu por obra que uma equipe que eu comandei."
Mino Carta, diretor da revista "Carta Capital", concebeu o jornal com a ajuda do jornalista Murilo Felisberto. Os dois foram incumbidos em meados dos anos 60 pela família Mesquita (donos do jornal "O Estado de S.Paulo") de criar um novo modelo de jornal no país, mais ousado, diferente do tradicional e inspirado nas mudanças culturais e de comportamento da segunda metade daquela década. Nasceu em 4 de janeiro de 1966 o Jornal da Tarde. A publicação circulou como um vespertino até 1988, quando se tornou matutina.
"Eu tenho boas lembranças daquele tempo e tenho boas lembranças de quem trabalhou comigo. Nós revolucionamos, tanto na paginação quanto no texto. Acreditávamos que o jornalismo era uma forma de literatura, coisa que se perdeu no jornalismo brasileiro. Achávamos que a investigação era fundamental, que reportagens bem trabalhadas e profundas eram fundamentais para o êxito do jornal", declarou Mino Carta.
  • Reprodução
    Uma das capas históricas do JT, em 3 de outubro de 1974, um dia após a despedida de Pelé do Santos Futebol Clube

O jornalista recorda os "anos dourados" do JT com orgulho. "No meu período, nós tivemos várias edições que, como se diz agora, bombaram. Em primeiro lugar, a cassação de Ademar de Barros (em 1966), que era um inimigo tradicional do Estadão. Essa foi uma edição que bombou. Depois, a Guerra dos Seis Dias (1967), no Oriente Médio. As nossas edições foram muito bem-cuidadas e bombaram. Na morte do Che Guevara (outubro de 1967), fizemos uma edição épica, e também bombou. Depois, fizemos reportagens sobre os deslizamentos de terras monstruosos na região de Caraguatatuba (também em 67). Ganhamos vários prêmios nesse período. É uma perda, sem dúvida, para o meu coração e para a minha alma.”
O jornalismo em "forma de literatura" citado por Mino Carta é inspirado no chamado "New Journalism" (Novo Jornalismo), um gênero jornalístico surgido nos Estados Unidos na década de 60. Tom Wolfe, Gay Talese, Norman Mailer e Truman Capote figuram entre os principais expoentes do gênero.  

A MORTE NOS QUADRINHOS


Fiquei sabendo outro dia que, nos Estados Unidos, no fim de uma grandiosa saga que mostrou o conflito entre os X-Men e os Vingadores (mais uma Guerra Civil, mas agora envolvendo os principais mutantes do Universo Marvel), o professor Charles Xavier acabou morrendo. Não faço ideia de como foi que ele bateu as caçoletas. O que sei mesmo é que o recurso da “Morte de Fulano de Tal” é largamente empregado pela indústria quadrinística quando se quer alavancar as vendas de determinada revista.
            Os exemplos são muitos e variados.
            Tempos atrás, um grupo de heróis adolescentes da DC Comics foi reunido em uma empreitada bem-sucedida: a Turma Titã. Era formada basicamente por Robin (Dick Grayson), Aqualad, Kid Flash, Moça-Maravilha e Ricardito. Com o passar dos anos, a DC resolveu dar um enfoque mais adulto para esses personagens, e no fim das contas eles precisaram crescer para formar “Os Novos Titãs”. Para esse processo de amadurecimento, Dick Grayson já não podia mais ser o Robin. Passou a ser chamado de Asa Noturna. Logo, o Batman precisou encontrar um novo parceiro mirim que o ajudasse a combater o crime na sombria e perigosa Gotham City.
            Acabou encontrando Jason Todd. Um órfão (requisito comum entre aqueles que participam das peripécias do Homem-Morcego) que tentava roubar os pneus do Batmóvel. O guri naturalmente foi aceito. Vestiu naturalmente o manto de Robin. Fez naturalmente algum sucesso lá fora – aqui nem tanto -, até que os figurões da DC, talvez sentindo que as vendas das revistas do Batman não estavam mais indo de vento em popa, resolveram que o garoto fosse brutalmente morto pelo Coringa. Pelo que li a respeito, chegou-se a montar uma espécie de debate entre os leitores de quadrinhos norte-americanos. Afinal, eles acabaram decidindo pela morte de Jason. A estratégia deu certo. O arco de histórias no qual a morte é narrada arrebentou a boca do balão, nos States e aqui. Lembro que DC Especial em que o assassinato aconteceu vendeu feito pitomba de feira.
            E qual nerd não se lembra da morte do Super-Homem (“Superman” é imposição ridícula)? Essa jogada de marketing também funcionou de forma estupenda. Rendeu muita grana para a Editora Abril. Apesar dos muitos crimes editoriais que ela cometeu ao longo dos anos (basta pesquisar o que fez, por exemplo, com “Guerras Secretas”), a gente precisa dar a mão à palmatória. Foi um ótimo trabalho de tradução, adaptação e encadernação – concluído com a publicação das versões nacional e estadunidense da batalha em que Kal-El defendia até a morte sua amada Metrópolis da devastação promovida pelo monstro Apocalypse.
            A Marvel não fica atrás. Mas esta se destaca mais pelo outro lado da medalha: as ressurreições. Para ela, fazer um personagem voltar à vida parece render mais do que matá-lo. Foi o caso do Capitão América, cujo assassinato marcou o fim da Guerra Civil. O mais engraçado é que, numa determinada história do Thor, o Filho de Odin chega a conversar com o fantasma de Rogers. E daí? Esqueçamos esse lapso. Na verdade, Steve acabou se tornando um prisioneiro do tempo. Após o seu resgate, ele se tornou o comandante da Shield com a queda de Nick Fury e, em seguida, de Norman Osborn. E tem funcionado bem nesse papel, desde então.
            Os mutantes também tem sua cota de “mortos que voltam para perturbar”. Vejam só o caso de Jean Grey. Ela aparentemente morreu quando salvou os X-Men de virarem churrasquinho na reentrada da órbita da Terra (estou me expressando direito?). Ela acabou voltando tempos depois porque quem morreu mesmo foi um clone dela criado pela entidade Fênix – que também manteve a telepata-telecinética em um estado de animação suspensa no fundo do oceano, até ser providencialmente encontrada pelo Quarteto Fantástico. Ou foram os Vingadores? A memória anda uma droga.
            Como se vê, essa história de matar ou fazer voltar à vida personagens de destaque não passa de mero instrumento capaz de estimular e manter em rotatividade a indústria dos quadrinhos. Para quem acha que é só bobagem, trata-se de um mercado que movimenta milhões e milhões de dólares.
            Mas é preciso discernimento na hora de bater o martelo e determinar: “Tá na hora de Fulano de Tal bater as caçoletas”.
            Corre-se o risco da banalização.

NEY FARIAS CARDOSO
Revisor de O Estado

VIVA JORGE AMADO!


No sábado passado, à noite, chegou ao fim uma novela memorável.
            Tenho lá ressalvas quanto ao principal produto da mídia eletrônica brasileira voltado para o entretenimento. Tanto quanto o futebol, a novela é um instrumento das classes dominantes utilizado no sentido de manter a população num estado tal de abstração que a impede de discutir os muitos e variados problemas nacionais.
            Mas devo reconhecer que gostei de “Gabriela”.
            Em primeiro lugar, claro, por ter se baseado em uma das obras-primas de Jorge Amado. De todos os nossos escritores, acredito eu que tenha sido o único a declarar seu amor à sua terra natal – a Bahia. Como esquecer deste excelente começo de “Capitães da Areia”: “A grande noite de paz da Bahia veio do cais, envolveu os saveiros, o forte, o quebra-mar, se estendeu sobre as ladeiras e as torres das igrejas. Os sinos já não tocam as ave-marias que as seis horas há muito que passaram. E o céu está cheio de estrelas, se bem a lua não tenha surgido nesta noite clara”.
            Em segundo lugar, com os atores escolhidos para o elenco de “Gabriela”, a novela não tinha como dar errado. Só um terrível acesso de incompetência do diretor para atirar na lata do lixo atuações impecáveis de Laura Cardoso (o “Jesus, Maria, José” de Dona Doroteia virou hit), José Wilker (que também ganhou o país com o seu “Eu vou lhe usar”), Antônio Fagundes e Ary Fontoura.
            Quando o folhetim começou, como tudo que é novidade, foi visto com imensas desconfianças. Eu ouvia muito isto, proferido por um representante da velha guarda: “Ah, os artistas estão muito longe dos que fizeram a primeira versão”. Posso até concordar. A Zarolha de 1975 era ninguém menos que Dina Sfat. O papel de Gerusa – recém-encarnado pela belíssima Luiza Valdetaro – foi dado para Nívea Maria. A cara cínica e safada de Tonico Bastos ficou muito melhor em Fúlvio Stefanini.
            Como último exemplo, temos a personagem-título.
            Ainda há pouco, encontrei um site (umdiasereidiva.blogspot.com.br) que mostra os donos dos papéis de maior destaque da novela da década de setenta e a que terminou de acabar. Em primeiro lugar, lógico, aparecem as fotos de Juliana Paes e de Sônia Braga. Penso que, enquanto a atuação da primeira ainda reverberar na memória, a pergunta não calará: Juliana portou-se bem como Gabriela?
            Entendo que não. Desde os primeiros anúncios do remeique pensou-se que os responsáveis por ele iriam apostar em “sangue novo”. Alguma atriz morena, belíssima, cravo e canela da gema, totalmente inédita. Mas não. Escolheram Juliana. Que é linda por demais, sem dúvida... mas cujo corpo – depois de ter passado pelo processo do parto e da amamentação – não fazia jus à sensualidade inerente à Bié de Jorge Amado. E depois ela nem de longe se destacou. Leona Cavalli mandou muito melhor, com muito mais intensidade. E ainda abiscoitou a capa e o recheio da “Playboy”. Talvez a direção da Globo nessa área de telenovelas tenha preferido não arriscar, não apostar no ineditismo. Às vezes, time que está ganhando precisa de peças de reposição.
            Mas no cômputo geral a “Gabriela” versão 2012 deu certo. Teve vários momentos de brilhantismo, como o encontro dessas três bandeiras da televisão brasileira – Tarcísio Meira, José Wilker e Antônio Fagundes – em uma mesma cena. Mas também teve lá seus instantes de canastrice inverossímil, como os motivos que levaram Mundinho Falcão a se atrasar, enquanto os jagunços o esperavam do lado de fora de sua residência e o coronel Ramiro morria no centro da praça principal de Ilhéus.
            A Rede Globo trabalha bem com novelas. E quando produz algo em cima das obras de Jorge Amado, esse trabalho flui com impressionante facilidade. Por isso, o mestre de “Jubiabá” e “A morte e a morte de Quincas Berro d’Água” deve ser homenageado todo. E ficar vivo em nossas memórias o tempo que for preciso.

NEY FARIAS CARDOSO
Revisor de O Estado

sexta-feira, outubro 26, 2012

O autor ou autores


ruy castro

 


26/10/2012 - 03h30

RIO DE JANEIRO - Nos últimos meses, sempre que se mencionou "Avenida Brasil" na imprensa, sua autoria, popularidade e glória foram atribuídas ao roteirista João Emanuel Carneiro. Ele era o autor da novela. A qual teve importantes diretores, cujos nomes, embora saíssem diariamente nos créditos, só eram conhecidos dos profissionais do ramo. É como se dá a "teoria do autor" na TV brasileira.
Ao contrário do cinema, cujos críticos e historiadores atribuem a autoria dos filmes aos diretores, na TV isso é privilégio dos roteiristas. Assim, "Roque Santeiro" (1985) era uma novela de Dias Gomes; "Vale Tudo" (1988), de Gilberto Braga; "Mulheres de Areia" (1993), de Ivani Ribeiro; "O Clone" (2001), de Gloria Perez; e "Mulheres Apaixonadas" (2003), de Manoel Carlos. Quem se lembra do nome dos diretores?
Já no cinema, exceto os cinéfilos, quem sabe o nome dos roteiristas de John Ford, Hitchcock, Buñuel, Fellini ou Carlos Manga? O próprio João Emanuel Carneiro (com Marcos Bernstein) foi o roteirista do premiadíssimo "Central do Brasil" (1998). Mas, para a história, este será sempre um filme do diretor Walter Salles.
O que torna o roteirista de novela tão mais importante que o roteirista de cinema? Talvez o fato de, na TV, os capítulos serem escritos pouco antes de ir ao ar e, às vezes, o enredo ou o destino de um personagem ter de mudar segundo solicitações externas. Sem contar que, no tempo da ditadura, o roteirista precisava estar sempre à mão, para adequar a novela às exigências dos homens. Já o filme de cinema só começa a ser rodado depois do roteiro pronto e, a partir daí, apenas o produtor e o diretor apitam.
Falta algo nessa teoria do autor. Não há grande roteiro de novela que sobreviva a um diretor equivocado nem grande filme de cinema que não tenha começado por um grande roteiro.
Ruy Castro
Ruy Castro, escritor e jornalista, já trabalhou nos jornais e nas revistas mais importantes do Rio e de São Paulo. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda. Escreve às segundas, quartas, sextas e sábados na Página A2 da versão impressa.

A DESILUSÃO E O MEDO


Muita gente por aí gosta de bater no peito e bradar: “Sou brasileiro e não desisto nunca”. São otimistas até debaixo d’água, como diria um filósofo contemporâneo. Pois diante da situação política do país pós-resultados do julgamento do mensalão e da definição do segundo turno em algumas capitais, domingo que vem, esses indivíduos até que se mostram corretos quando afirmam que, no fim das contas, o medo não conseguiu vencer a esperança.
            Eu não sei. Quando penso no que a tal da “classe política” vive aprontando e no que sem dúvida ainda aprontará neste nosso Brasil varonil, chego à conclusão de que não estamos mais nem no caso de colocarmos em pauta o medo versus a esperança e sim o medo versus uma baita desilusão.
            E sabem por que me sinto desiludido? Porque neste domingo não ficarei diante da urna eletrônica na minha seção, no colégio Gonçalves Dias, para escolher entre os candidatos Castelo ou Edivaldo Holanda quem será o prefeito de São Luís.
            Lamento dizer que, no meu caso, os melhores “candidatos” atenderão pelas alcunhas de “branco” e “nulo”.
            O caso é o seguinte: no meu modesto entendimento, São Luís está em maus lençóis. De um lado do ringue eleitoral está João Castelo. Que definitivamente não foi o prefeito que os ludovicenses esperavam. Ele tem obras para mostrar? Tem. Depois de um longo e tenebroso inverno, o mercado da Cohab e a Avenida Santos Dumont se transformaram em algo digno de elogios. Mas no contexto ele receberá menos apalusos do que gostaria.
            Como festejar um prefeito que deixou uma renca de crianças fora da sala de aula? Olha só: vocês aí sabem da história do Uruguai, não é? Segundo a Revista Piauí deste mês, “é o segundo menor país da América do Sul, o menos corrupto (segundo a ONG Transparência Internacional) e o mais seguro para se viver”. Além disso, “os salários subiram 36,6% nos últimos sete anos (...). O desemprego bateu recorde mínimo neste ano: 5,3%. Agora 13,7% dos uruguaios vivem abaixo da linha da pobreza, uma redução de cinco pontos em um ano. Quase não há analfabetismo no Uruguai e todas as crianças estão na escola. Nenhum dos países do Mercosul tem indicadores sociais tão bons”. Além disso, segundo a mesma reportagem, todos os alunos da rede pública receberam notebooks doados pelo governo federal de lá.
            E aí? Por que esses indicadores não puderam ser aplicados a São Luís? Tudo bem: é possível que o prefeito alegue problemas de orçamento para não reforçar a qualificação dos estudantes da rede municipal. Ele mesmo disse que a cidade já se encontra “no limite” da Lei de Responsabilidade Fiscal. Vá lá. Mas por essa razão deixar uma quantidade enorme de alunos fora das salas de aula porque não havia recursos para reformar ou mesmo realizar meros serviços de pinturas em escolas é simplesmente inaceitável.
            Quanto ao adversário do alcaide tucano, os “senões” também são dignos de nota. O caso da “milícia 36” já foi comentado até não poder mais. Serviu como combustível para o contra-ataque da turma do PSDB, no sentido de recuperar terreno perdido para os petecistas nas pesquisas. Portanto, não cabe mais aqui perder tempo com esse assunto. O que durante toda essa campanha me causou perplexidade foram as decisões de Edivaldo Holanda Júnior de, sempre que possível, não participar de debates importantes – inclusive acionando a Justiça para tanto. E quando se fez presente não mostrou o que realmente pretende, se eleito prefeito.
            Portanto, minhas senhoras e meus senhores, a meu ver não importa o que aconteça no debate da TV Mirante: meu medo de ver a partir do ano que vem uma cidade conduzida mal e porcamente por um administrador equivocado e minha desilusão em relação aos tais dos nossos representantes estão em pé de igualdade.
            Daí minha sincera opção pelo voto em branco ou por anulá-lo de uma vez.
            E o pior é que nem se trata de uma questão de protesto.


NEY FARIAS CARDOSO
Revisor de O Estado

quarta-feira, outubro 24, 2012

MAR DE HISTÓRIAS


A garrafa de Teacher’s e o copo de vidro no qual foram colocadas três pedras de gelo estão à esquerda da máquina de escrever. Já o maço de cigarros, ainda não aberto, e o cinzeiro metálico ficaram no lado direito.
            Um breve momento de reflexão: o que significa essa disposição de objetos? Quer dizer que há no coração um lugar cativo para a bebida? A nicotina e as demais substâncias perniciosas não podem afetar a Grande Bomba de jeito nenhum?
            “Perguntas inúteis demais”, o ghost writer pensa. Melhor começar logo o trabalho: um romance de mais ou menos 500 páginas para outro zé-mané a fim de ser alguém na vida por meio da literatura.
            O relógio na parede lhe mostra que já são quase oito horas da manhã iluminada de quase setembro. Um de seus melhores amigos costuma bradar: “Hoje é sexta-feira, véi!”. Isso mesmo. Fim de uma semana em que tudo (quase) deu certo. É. Faltou acertar os ponteiros com Suzana.
            Ele sacode a cabeça. “Deixa pra lá”, suspira. O importante mesmo foi ter recebido a grana que o doutor Mário lhe devia por tê-lo transformado em uma celebridade nacional da noite para o dia com os oito contos produzidos em três dias. O escritor sorriu. Desafiava qualquer metido a sabidão a ter uma tempestade cerebral parecida com a que teve depois de ter brigado, gritado, xingado e ser xingado de volta pela mulher que ama.
            Tudo ao redor, na sala de janelas fechadas e lâmpada apagada, é silêncio. Também não dá a mínima para os tênues barulhos do estéril turbilhão da rua.
            Coloca o papel na máquina e o deixa pronto para a primeira linha da história que pescou em mais uma noite passada em claro – enquanto a “acompanhante” do Coroadinho cujo número de celular vira nos classificados ressonava ao seu lado, na cama. Sono pesado após mais ou menos hora e meia de sexo meia-boca. Reconhecia que seu desempenho não fora dos melhores. Agora, mesmo se fosse um garanhão de filme pornô muito provavelmente para a bela morena adormecida daria no mesmo.
            Destampou a garrafa e despejou uísque no copo. Não estava de estômago vazio. Como de costume, passou a madrugada assaltando a geladeira. Antes de desistir de uma vez por todas de cair nos braços de Morfeu, teve como derradeiro lanche um copo de leite e quase todo seu estoque de pãezinhos de queijo.
            Abriu o maço. O isqueiro estava em uma das gavetas da escrivaninha. Bem em cima da resma de chamex. Acendeu o cigarro, expeliu fumaça pelas narinas como se fosse dragão de desenho animado e depois lançou um olhar perdido para um ponto qualquer da sala. Contra sua vontade, acabou tentando imaginar em que parte desta São Luís quatrocentona e, principalmente, com quem Vanessa poderia estar acordando.
            Ele sacode a cabeça de novo. “Que se dane. Agora é muito tarde. Tarde demais”. Curva-se ligeiramente sobre a máquina. Adora a boa e velha Olivetti. Ela lhe permite perceber com riqueza de detalhes a evolução do processo demiúrgico. O computador, com seu “delete”, tira muito do sentido dessa lavoura arcaica.
            Engoliu metade do uísque, respirou fundo e mandou ver:
            “O veterano advogado César Astolfo era um vascaíno fanático. Quando viu Diego Souza não marcar o gol que muito teria ajudado seu Trem-Bala da Colina a se classificar para as semifinais da Libertadores, o especialista em defender os pobres e oprimidos de patrões salafrários esbravejou e xingou o atacante além do que seu frágil coração podia suportar”.
            O barulho da datilografia cessa. Ele relê o parágrafo. Mais uma vez a história do coração. Até parece que está preocupado com algum eventual problema cardíaco. Com a bebida, o cigarro e o sedentarismo – e já se vão uns bons cinco anos nessa toada quase diariamente -, o ghost se considera pronto para o seu primeiro enfarto. O primeiro e definitivo. Dá de ombros. Quem sabe, não é não?
            “Oi”.
            A voz da garota de programa – e “garota” é a palavra certa porque assim, no “olhômetro”, ela parece não ter mais de 20 anos – era suave e tranquilizadora. Aliás, alguém, em algum lugar do passado, ensinou a mocinha a não desperdiçar palavras e movimentos. Todos os gestos dela eram perfeitamente calculados. E sempre quando o escritor lhe fazia uma pergunta, por mais banal que fosse, a menina pensava duas ou até mesmo três vezes antes de responder. Essas respostar, é bom que se diga, nada tinham de patéticas ou sem relevância.
            “Oi”, ele devolveu. “Acordou cedo”.
            A garota sorriu. Um sorriso lindo. Vestia as roupas com que chegara ao apartamento – blusa vermelha e calça jeans. O ghost gostou do cabelo dela: bem escuro, vasto, derramando-se pelas costas feito a noite sem luar.
            “Eu sou assim”, ela declarou. Três sofás grandes e confortáveis por perto e mesmo assim permanecia de pé, na metade da distância entre onde ele se sentara e a porta. “Nunca fico na casa de um cliente mais do que o necessário”.
            “Pelo menos você beija na boca. Já é um avanço”.
            “Tenho muitas colegas que não beijam. Acho besteira. Eu beijo numa boa. Só não sinto nada”.
            Foi a vez dele sorrir.
            “Nadinha mesmo?”
            “Nada. Porque pra eu sentir eu tenho que gostar do cara”.
            “E você não gostou de mim”.
            “Bem...”.
            O escritor não conteve o riso.
            “Obrigado pela sinceridade”.
            “Você se ofendeu”.
            “Não, querida. De jeito nenhum. Gosto de pessoas autênticas. Na verdade, aqui e agora, o único de nós dois sem um pingo de autenticidade sou eu”. Volta a ficar sério. “Já quer ir embora?”.
            “Depende. Ainda vai precisar de mim?”
            Ele demora um pouco para responder.
            “Sim, eu vou precisar”.
            “Muito bem. O valor é o mesmo”.
            “Meio salgado”.
            “Não ouvi reclamação, ontem”.
            “Não mesmo, gata. É só zoação”.
            “Muito bem. O que quer que eu faça?”
            “Nada a ver com sacanagem, desta vez”.
            A menina fica meio séria, meio sorridente.
            “Como é que é?”
            “Venha cá. Sente aqui do meu lado”.
            O ghost fica de pé. Está sem camisa. É um desastre, em termos de preparo físico. A garota de programa teve essa mesma opinião, quando o viu tirar a camisa. Pensou em aconselhá-lo a procurar uma academia, e com urgência. Achou melhor calar a boca. Em geral, as pessoas não gostam de ouvir certas verdades.
            Ele foi até a cozinha e voltou com uma cadeira. Deixou-a do seu lado direito, quase encostada à escrivaninha. Em seguida, fez a menina sentar-se.
            “E agora?”, ela quis saber. “O que quer que eu faça?”
            “Me conta uma história”.
            “Como é que é?”
            O escritor sorriu.
            “Você só sabe dizer isso?”
            “Não, mas você concorda que isso é muito esquisito”.
            “Reconheça que está gostando”.
            “Um pouquinho. Nunca estive com um escritor antes”.
            “Pois este escritor aqui está pedindo que você lhe conte uma história”.
            “Mas para quê?”
            “Calma. Não precisa se exaltar. É o seguinte: não sou um escritor normal”.
            “Como assim?”
            “Meu nome não aparece na capa dos livros”.
            “Mas por quê?”
            “Porque sou um escritor-fantasma. Para todos os efeitos, eu não existo”.
            A menina coçou a cabeça, contrariada.
            “Não to entendendo nada...”
            “É simples. Você conhece alguém que já pediu ou pagou pra alguém pra fazer um trabalho escolar ou de universidade, não conhece?”
            “Eu mesma fiz isso, no ensino médio. Adivinha como foi que paguei?”
            O escritor ri mais uma vez.
            “Você devia ser bem popular, na sua escola. Agora, me responde: no trabalho aparece o nome de quem fez ou de quem mandou fazer?”
            “De quem mandou, é claro”.
            “Então, o mesmo acontece comigo”.
            “E por que não quer que seu nome apareça?”
            Ele olha para o copo. Quase não há mais gelo. Ele se levanta, ruma outra vez para a cozinha e retorna com um depósito de plástico. Senta-se, abre o depósito, coloca duas pedras no copo, reforça a quantidade de bebida e por fim inunda seu organismo com mais da bebida.
            “Eu poderia dizer que é por causa do dinheiro. Que não é pouco. Os caras que me contratam tem muita grana e, quando você tem essa condição, acaba gastando com futilidades. Porque isso o que eu faço no fim das contas é fútil. Inútil. Um trabalho de Sísifo”.
            “De quem?”
            O ghost ignora a ignorância da garota.
            “É como trabalhar com jornal. O cara se mata o dia inteiro, a noite inteira, para oferecer aos leitores as notícias do que aconteceu no dia anterior e um, dois dias depois o jornal que ele batalhou pra colocar nas ruas serve pra embrulhar peixe”.
            Mais uísque goela abaixo. Incentiva a loquacidade.
            “Com o livro acontece a mesma coisa. O cara escreve 40, 80, 100, um milhão de páginas, transforma em livro, lança em uma noite de autógrafos concorrida... e quando ele volta pra casa já está pensando no segundo. O primeiro vai encalhar numa biblioteca ou numa livraria e, se quem escreveu for um cara famoso e a história for boa, vai causar. Vai possibilitar comentários, artigos, resenhas a respeito”.
            “E se o cara não for famoso?”
            “O livro encalha na livraria e na biblioteca do mesmo jeito. A diferença é que ninguém vai ler. Ninguém”.
            “Tá falando isso com conhecimento de causa?”
            A pergunta foi disparada de forma tão direta que o desconcertou. Para se refazer dela, precisou da ajuda da bebida. Já nem mais pensava em recorrer aos cigarros.
            “Não. Eu nunca tive problemas com isso. Eu fazia parte de... de um clube de escritores. A gente se reunia uma vez por semana. A cada encontro um de nós mostrava alguma coisa que valesse a pena ser publicado”.
            Sorri.
            “Eu nunca mostrava nada. Tudo o que eu fazia era uma merda”.
            A garota de programa lê o parágrafo na folha de papel. Os dois estão muito próximos, agora. Quase pele com pele. Ele sente vontade de cobri-la de beijos, jogá-la no chão, rasgar-lhe a roupa toda.
            “Isso aqui não me parece merda”.
            “Ora, muito obrigado. Mas já melhorei muito. Você precisava ler o que eu fazia, naquela época. Quando estava mais preocupado em ouvir outras vozes, em vez de ouvir a voz interior, que é a mais importante”.
            “Mas se é assim... então, por que você precisa que eu te conte uma história”.
            “Porque eu não quero ficar sozinho, agora”.
            “Como é que é?
            “Jesus, você gosta dessa pergunta!”
            “E você gosta de complicar em vez de explicar. Por que tá sozinho? Cadê tua namorada?”
            “Eu não sei. A gente brigou”.
            “Por quê?”
            “Estilos de vida diferentes. Eu quero uma coisa tradicional: sustentar, com o que eu faço, mulher e uma renca de meninos. Ontem, antes de eu te ligar, ela me disse que o tradicional não tem nada a ver com ela. Quer ser independente até onde der. Por enquanto, consegue muito bem se virar sozinha”.
            “Gostei disso”.
            “Pois eu não. Na hora, eu reagi mal. Achei que ela não queria era ficar comigo de jeito nenhum. Fiz exigências. Ela não gostou. Gritamos. Brigamos. Falei o que não devia. Levei um tapa. Ela foi embora. O “adeus” ficou flutuando, como um balão que escapa da mão de uma criança. E agora eu estou aqui. E você também”.
            “Esse uísque faz de ti um tagarela”.
            O escritor ri. Mais alto do que gostaria. Bebe novamente.
            “É. Tem razão. Acho que agora é a sua vez de falar. Pode ser?”
            A menina se rende de uma vez. Pensa agora mais do que três vezes.
            “Olha... Certa vez, aconteceu comigo um negócio meio esquisito”.
            “O que foi?”
            “Sabe aquele filme dos Vingadores?”
            “Sim”.
            “Pois é. Fui assistir quando estreou. Fui sozinha. A sala tava lotada. Cheia de guri e de adulto se comportando como guri”.
            “Sei como é”.
            “Assim que entrei, um bando de gaiatinhos me chamou aos gritos de ‘gostosa’”.
            “Falaram a verdade a plenos pulmões”.
            “Não sei. O que sei é que não gosto de saliências pro meu lado. Por isso, me mandei para as cadeiras mais distantes da tela. Quis ficar longe dos olhos e mais ainda do coração”.
            “Você tem o dom da poesia. Acho que me apaixonei”.
            “Sou uma puta. Eu só faria você sofrer. Mas continuo: o filme começou e, uns cinco minutos depois, vi uma menina sentada do meu lado esquerdo. Uma menina loirinha. Acho que não tinha mais de 11 anos. E tava sozinha”.
            Ela consegue fisgar a atenção do escritor. O ghost não liga mais agora nem para o uísque. No depósito de plástico, começa o processo de degelo.
            “Mesmo com a sala iluminada apenas pelo brilho intenso da telona, reparei que ela se vestia como se tivesse em casa: uma camisetinha sem nada por baixo e um calçãozinho. As havaianas nos pés dela eram bem vagabundas”.
            “Não tinha ninguém com ela?”
            “Não mesmo. E como tenho às vezes a tendência besta de me preocupar com gente que nem conheço e que não tem nada a ver comigo, fiz justamente essa pergunta pra ela. E sabe que resposta ouvi?”
            “Sei lá”.
            “Nenhuma. A única coisa que ela me falou foi: ‘Esse filme não é muito bom, não’. Como se com a idade que tinha soubesse tudo e mais um pouco de cinema”. Sorriu. E no instante seguinte o sorriso sumiu. “Mas o pior foi depois”.
            “E o que aconteceu depois?”
            “O nariz dela começou a sangrar. E era muito sangue. As gotas que caíam na camisetinha eram grossas feito chocolate líquido. Fiquei muito assustada, mas não fiz alarde. Tremendo feito vara verde, saí da sala e fui procurar algum funcionário do cinema. Não achei nenhum. Isso mesmo. Imagina se estivesse pegando fogo ou alguém estivesse morrendo?”
            “Sacanagem”.
            “Pois é. Voltei pra sala. Pra ver se ajudava a menina de alguma forma. Mas quando volto pra minha cadeira a pequena simplesmente desapareceu”.
            “Fantasminha nada camarada, não é?”
            Ela ri.
            “Pode crer. Você precisava me ver, depois do sumiço dela: assustada, encolhidinha na cadeira, até o filme terminar. Meu coração batia a 120 por hora”.
            “Muito bem. Gostei dessa história. Obrigado”.
            “Vai usar no teu livro?”
            “Vou tentar encaixar em algum momento”.
            “Quando receber o dinheiro pelo trabalho, vou querer a minha parte. Fui a principal colaboradora”.
            “Prefiro te pagar de outra forma”.
            Ela sorri novamente e, cheia de malícia, pisca o olho esquerdo.
            “Essa forma eu também gosto”.
            Súbito, pancadas firmes e frenéticas na porta principal. Alguém querendo entrar de qualquer maneira.
            “Meu Deus”, a menina diz. “Quem será esse desesperado?”
            “Não sei. Vou ver”. O ghost se levanta.
            “Toma cuidado”.
            “Deixa comigo”.
            O escritor vai até a porta. Ao abri-la, deixa passar uma versão mais velha e muito mais fora de forma de si mesmo. E não se trata de péssima condição física. É como se algum câncer altamente maligno o estivesse levando rapidamente para a cova.
            A contraparte do escritor veste farrapos. Na comparação, os mendigos da Rua Grande, parecem executivos de alguma bolsa de valores. E parece ser contra um bom banho e os mais recomendáveis hábitos de higiene.
            O velho para no meio da sala. Respira como se tivesse três metros de altura. Quando fala, sua voz lembra a de folhas secas sendo pisadas e arrastadas:
            “Está tudo calmo? Ainda não começou a guerra contra os incas venusianos da oitava dimensão? Acho que escolhi a plataforma temporal errada...”
            O ghost olha para a garota de programa (que ficou de olhos arregalados por causa do que disse o estranho e inesperado visitante) e arremata:
            “Quer saber? Acho que não temos mais tempo pra isso”.


São Luís, 20-24 de outubro de 2012
           
           
           
            

terça-feira, outubro 23, 2012

RECORDAR É VIVER


Uma das lições que Ernest Hemingway passa a quem teve o prazer de ler “Paris é uma festa” é o escritor conhecer bem o assunto que vai comentar.
            No meu modesto entendimento, não se pode seguir essa instrução ao pé da letra. Tom Clancy não sabia pílulas do funcionamento ou das atividades praticadas em submarinos antes de escrever o ótimo “Caçada ao Outubro Vermelho” e, até onde sei, nunca foi um especialista em dispositivos termonucleares. Ainda assim, no volumoso “A soma de todos os medos”, um dos personagens, com muita precisão e paciência, consegue montar a bomba atômica que devasta o estádio que sedia a final do futebol americano. Nos dois casos, Clancy se valeu, sem dúvida de pesquisas sobre pesquisas na elaboração de seus dois best-sellers.
            Da mesma forma, posso não saber exatamente tudo a respeito de histórias em quadrinhos. Para compreendê-las melhor, talvez precisasse “devorar” uma porção de livros a respeito de arte sequencial e assim mesmo contando com a necessária formação intelectual que apenas a universidade pode propiciar.
            Portanto, pode-se dizer que eu seja um aficionado pelos quadrinhos. Desce a mais tenra infância, como diziam os antigos. O início de minha formação de leitor se deve basicamente a eles. Aquelas velhas e engraçadíssimas aventuras dos Trapalhões, do Tio Patinhas, do Zé Carioca fugindo a todo custo da Anacozeca – a associação nacional de cobradores do papagaio – abriram caminho para confrontos de maior porte, como a obra de José de Alencar, Eça, Machado, Jorge Amado, Josué Montello, García Márquez e Franz Kafka.
            E já que recordar é viver, na adolescência esse tesão pelos quadrinhos era uma fogueira cujas chama alimentávamos praticamente toda semana. Porque consumíamos às dezenas as peripécias dos chamados super-heróis. Melhor ainda quando eles se reuniam em grupos – ou em bandos, nos momentos em que os roteiros não nos agradavam de forma alguma.
Gostávamos por demais, por exemplo, da Liga da Justiça. Uma equipe que já teve uma pá de encarnações. Algumas fracassaram terrivelmente, outras fizeram um sucesso estrondoso. Pois recentemente voltei a ler algumas histórias de uma dessas “fases positivas”. Estou me referindo à “Saga da Aberração Cósmica” – publicada aqui no Brasil no já longínquo ano de 1988.
Nesse ano, como se sabe, a Assembleia Nacional Constituinte aprovou o texto definitivo da nova Constituição (que hoje em dia tem mais remendos que lona de circo pobre), Ayrton Senna conquistou seu primeiro título na Fórmula 1 e Aurélio Miguel sua medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Seul. Mas juro por Deus que me lembro muito mais do conflito entre os Macrolatts e Zarolatts, que escaparam de sua dimensão e transformaram o planeta Terra em um campo de batalha – conflito no qual acabaram se envolvendo um terráqueo mal-intencionado, o cadáver de um sujeito comum, recém-falecido, o Superman (na época chamado corretamente de “Super-Homem”) e a Liga da Justiça – ainda na fase de transição que em breve a levaria a ser Internacional e a ter “embaixadas” nos principais países do mundo, inclusive o Brasil. E inclusive a contar, como um de seus membros, uma super-heroína brasileira: Beatriz da Costa, a Fogo.
A DC Comics chamou Jim Starlin para roteirizar a saga da Aberração. Quem curte quadrinhos há tanto ou mais tempo que este escriba o conhece principalmente da “Trilogia do Infinito”, da qual foi o mestre e senhor. A narrativa visual (os desenhos) ficaram sob a batuta de Bernie Wrightson, espetacular em “Batman – O Messias”. Os dois souberam construir uma história digna da importância da Liga, cuja formação nesse período não era nada desprezível: Batman, Senhor Destino, Capitão Átomo, Besouro Azul, Canário Negro e Ajax, o Marciano.
Para encerrar, uma notícia rápida, mas não sem importância: Poliana Ribeiro disse que tentará fazer sua Maria Luísa entrar em contato o quanto antes com as histórias em quadrinhos. Decisão justa, muito justa, justíssima.

sábado, outubro 20, 2012

A FARSA DO “OI, OI, OI”


Eu não devia levar esse assunto tão a sério. Afinal de contas, novela é trabalho  de ficção, produto inteiramente voltado ao entretenimento. Termina uma e logo esta é esquecida pelo “grande sucesso” da temporada seguinte.
            Mas não posso deixar de comentar a grande enganação dos últimos tempos da televisão brasileira. Refiro-me ao derradeiro último capítulo de “Avenida Brasil”.
            Anticlímax foi pouco. O autor do folhetim, João Emanuel Carneiro, depois de brindar seus telespectadores (ou pelo menos os que foram capazes de percebê-los) com altas referências literárias, tais como  “O Assassinato no Expresso do Oriente” para basear o mistério em torno da morte de Max e “O Primo Basílio” para a chantagem que Nina/Rita exerceu sobre Carminha durante os capítulos mais memoráveis da trama, no meu entendimento fracassou por completo em surpreender ou mesmo chocar os milhões de brasileiros que pararam a vida ontem (a primeira versão deste opúsculo tem como destino primeiro as redes sociais) para acompanhar os momentos finais de um trabalho que poderíamos considerar “muito bom” e que mobilizou (ou “desmobilizou”, porque todo mundo ficou mesmerizado na frente da telinha por mais de uma hora) esta nação de uma forma que apenas “Vale Tudo” foi capaz.
            Contudo e no entanto, a farsa do “oi, oi, oi” foi se revelando à medida que avançavam os lances do capítulo final. Em primeiro lugar: que fim teve Gepeto/Albieri/Santiago? O bandidão levou um tiro no pé, ficou à mercê de Carminha... e depois? Foi preso? Teleportou-se de volta para os idílios paradisíacos de “O Clone”? Não se sabe. Pode ser que tenha sido preso. Talvez no “Vale a Pena a Ver de Novo” ou, daqui a algum tempo, no Canal Viva alguém dê um jeito de informar o que aconteceu com o vilão.
            Em segundo lugar, o ponto nevrálgico do engodo. Cármem Lúcia, por fim, se redimiu de seus muitos pecados. A grande vilã, a adúltera, a mentirosa manipuladora que não aguentava ficar perto da própria filha... terminou absolvida com a “redenção”. Ora, o sr. Carneiro já havia sinalizado para essa possibilidade em recente entrevista, na qual afirmara que colocaria sua Carminha “em um altar”. Por esse motivo, resolveu transformá-la na grande heroína da trama, detendo o “bandido verdadeiro” e salvando a vida de Nina/Rita em um par de ocasiões.
            Coerente com essa defesa apaixonada, ele não poderia ter feito outra personagem a assassina de Max. Eles foram amantes, parceiros em diversos atos ignominiosos contra o bovino Tufão e sua família, brigaram também violentamente quando as circunstâncias exigiram o brusco rompimento – mas depois retornaram um para o braço do outro porque dois corações vagabundos, de fato, se atraem. Até, é claro, a ruptura definitiva, com o cocoruto do Max sendo arrebentado por uma enxada pela representante do óbvio, que acabou ululando vitorioso.
            Um desassuntado, no Face, disse que o status quo cumpriu seu objetivo de vender o produto “Avenida Brasil” do Oiapoque ao Chuí e que não deveríamos esperar “nada de muito surpreendente”. Pois confesso que aguardava essa surpresa, senhoras e senhores. Queria que o Max tivesse sido morto pela Olenka, por exemplo, desde que tivesse uma baita justificativa para tanto. Qualquer um, menos a Carminha. Menos o que estava na cara que ia acontecer. Porque o autor mostrou durante os 2.627 capítulos da novela que tinha condições de deixar todos nós em polvorosa, discutindo e debatendo até agora (são quase 16h de sábado enquanto massacro o teclado do computador com estas indignações) como ele teria sido capaz de se transformar no escritor de folhetins eletrônicos mais importante de todos os tempos da televisão brasileira se tivesse decidido dar o salto de fé em nome da ousadia.
            Mas não. O sr. João Emanuel Carneiro seguiu o padrão global do “tudo bem está quando bem acaba”. Nina/Rita, Jorginho e o pimpolho que geraram no fim sentaram-se à mesa, no fim das contas, tomando café com a mesma criatura que, até recentemente, tanto odiaram. Ainda bem que Tufão não foi capaz de perdoar Carminha. Para ele, apenas dois gestos benignos jamais apagariam uma vida inteira de pusilanimidades. Porque é isso mesmo o que acontece na vida real. Uma pessoa passa quase toda a existência cometendo todos os males possíveis. Mais lá na frente, muda do vinagre para a água benta – se converte, aceita Jesus no coração e tenta praticar somente boas ações, se possível até o fim da vida. O problema é que com frequência ninguém está disposto a esquecer o crime de que foi vítima. E a vingança tarda, mas não falha.
            Não vou comentar o absurdo do “Adauto Chupetinha”. Trata-se de um episódio lamentável, que era para ter sido engraçado e acabou se tornando digno de pena.
            De resto, devo tirar o chapéu que nem mesmo uso: de farsa em farsa, a Rede Globo tem a população brasileira nas mãos. Para fazer com ela o que bem quiser.

sexta-feira, outubro 19, 2012

Novo Megaupload tornará impossível a identificação de arquivos armazenados


De acordo com Kim DotCom, novo algoritmo vai embaralhar arquivos antes de serem enviados aos servidores e acesso só será permitido por meio de uma chave de acesso

iG São Paulo  - Atualizada às 
O Megabox, novo serviço do mesmo fundador do Megaupload, encriptará os arquivos dos usuários antes de armazená-los nos servidores da empresa. Revelado por Kim DotCom, fundador do Megaupload, ao site da revista Wired , o recurso protegerá a privacidade dos usuários, já que apenas eles receberão um código para descodificar os arquivos.
Getty Images
DotCom, enfrenta processo por pirataria online e lavagem de dinheiro e pode ser extraditado

O novo serviço pode isentar DotCom de qualquer responsabilidade sobre o conteúdo armazenado no site, o que não foi possível com o Megaupload.
No início deste ano, DotCom e vários executivos responsáveis pela empresa foram presos e o site fechado sob acusações de pirataria online e lavagem de dinheiro - principalmente por conta do uso do site para armazenar e compartilhar cópias piratas de músicas e filmes.
Segundo DotCom, o Megabox resolverá os problemas dos serviços de armazenamentos em nuvem atuais. Ao fazer upload de um arquivo no site, um algoritmo chamado Padrão de Criptografia Avançada embaralhará o arquivo antes de enviá-lo para os servidor. O site oferecerá uma chave de acesso ao arquivo para o dono, única forma de desembaralhar o arquivo - que poderá ser compartilhada com outras pessoas.
A chave de acesso não será armazenada pelo Megabox, disse Mathias Ortmann, sócio de DotCom, ao site, o que impedirá que o site seja responsabilizado pelo conteúdo armazenado. "Se os servidores forem perdidos, se o governo chegar ao data center e roubá-los, se um hacker invadir o servidor, isso não permitirá acesso a nada", diz DotCom. "Qualquer arquivo que seja armazenado no site, continuará fechado e com acesso exclusivo a quem tiver a chave."
A resposabilidade pela chave de acesso aos arquivos será de responsabilidade do usuário. Para que um link para download de um arquivo saia do ar, um juiz precisará fazer um pedido formal especificando o arquivo que deve ser retirado. Caso o usuário faça upload de um mesmo arquivo várias vezes, o Megabox gerará vários arquivos criptografados diferentes que, para serem retirados do ar, deverão estar especificados em vários solicitações judiciais.
Para aumentar ainda mais a segurança dos arquivos, segundo DotCom, os arquivos serão armazenados em dois data centers, localizados em dois países distintos.