domingo, novembro 24, 2013

MCLAREN TERMINA ANO SEM PÓDIOS PELA 1ª VEZ DESDE 80


Pérez à frente de Button (Foto: McLaren/Divulgação)Pérez à frente de Button (Foto: McLaren/Divulgação)
O quarto lugar de Jenson Button no GP do Brasil encerrou neste domingo um dos anos mais melancólicos na história da McLaren. Pela primeira vez desde 1980, a escuderia de Woking terminou uma temporada sem ter conquistado um pódio.
O peso da marca negativa é ainda maior quando se confrontam os números do atual campeonato com os de 1980. Naquela temporada, o norte-irlandês John Watson obteve ao menos dois quartos lugares nos GPs de Long Beach e do Canadá, enquanto Button terminou 2013 apenas com um quarto posto em Interlagos.
Somente em 1966, primeiro ano da McLaren na F1, a situação foi pior. À época, Bruce McLaren fechou o ano com um quinto posto no GP dos Estados Unidos como melhor resultado – com o time britânico só disputando quatro dos nove fins de semana no campeonato vencido por Jack Brabham.
No Mundial de Construtores, o desempenho de Woking em 2013 iguala a temporada realizada nove anos atrás, com David Coulthard e Kimi Raikkonen como titulares. Naquela ocasião, o time terminou o certame em quinto, acumulando um déficit de 193 pontos para a campeã Ferrari.
Em números absolutos, é impossível comparar os dois campeonatos porque o escore máximo de um construtor numa corrida dos anos 2000 era 58,1% inferior ao de hoje – 18 pontos em vez de 43.
Em compensação, o percentual de pontos em 2004 foi maior em relação ao líder. Com Coulthard e Raikkonen, a McLaren somou 69 dos 262 tentos fechados pela Ferrari – 26,3%. Na atual temporada, Jenson Button e Sergio Pérez juntos acumularam 122 dos 596 pontos da Red Bull – 20,5%.
O pior ano da McLaren no Mundial de Construtores foi 1967. Naquele campeonato, a equipe de Woking terminou o certame em décimo, 60 pontos atrás da campeã Brabham – 4,8% do montante conquistado pela equipe de Denny Hulme.
Ainda neste domingo, a McLaren se despediu da Vodafone, operadora de celulares que a patrocina desde 2007. A equipe deve anunciar seu novo patrocinador principal no mês que vem.
As temporadas da McLaren sem pódios:

AS ÚLTIMAS EMOÇÕES

A temporada 2013 da Fórmula 1 chegou ao fim. Terminou com o tetracampeonato de Sebastian Vettel, o Demolidor de Recordes – definição de Galvão Bueno, em nova tentativa de empolgar o telespectador após mais uma corrida com poucas emoções. Ainda que, pela largada, tenha dado a entender que seria a melhor do ano.
O problema foi não ter chovido. Jamais deixarei de repetir que aguaceiros são muito bem-vindos para qualquer grande prêmio. Como São Pedro não colaborou, as Red Bulls deram o baile de sempre. Ocorreu uma inédita confusão nos boxes – momento “Os Trapalhões” da equipe que também tem a marca histórica do pit stop mais rápido, estabelecido na prova de Austin, nos Estados Unidos.
O abandono de Romain Grosjean logo no princípio também não foi legal para a prova no Autódromo José Carlos Pace. A Lotus nas últimas corridas vinha desenvolvendo um sistema de estratégias de fato muito interessante, razão pela qual “intrometeu-se” no passeio da Red Bull no Texas. E era um dos pilotos candidatos ao pódio.
Coube novamente a Fernando Alonso protagonizar algumas das últimas emoções da Fórmula 1 este ano, lutando curva atrás de curva com Webber. Seu terceiro lugar foi mais do que merecido por tudo o que fez nas pistas ao longo de 2013, fazendo por merecer sua condição de primeiro piloto da Ferrari.
O que nos faz pensar em Felipe Massa. Um vacilo dele mesmo tirou-o do pódio. Sim, ficam na história e no coração as homenagens prestadas pela equipe que defendeu durante tantos anos. Por outro lado, o que aconteceu com ele ontem (o drive-through que o fez perder as estribeiras e a esportiva) mostrou como ele não se transfere para a Williams com a cotação dos seus dólares em alta. Espera-se que tenha um bom desempenho em 2014, como autoproclamado “líder” na escuderia de Frank e Claire. Vamos ver no que vai dar, certo?
Por fim, acho que a grande imagem da corrida de ontem foi a despedida de Mark Webber. Ao tirar o capacete na “volta dos vencedores”, o australiano respirou o ar frio de São Paulo, sentiu no rosto os respingos da garoa e – suponho – deve ter pensado da seguinte forma: “Saio de cabeça erguida”. Ou então o que lhe passou pela cabeça foi a sensação do dever cumprido, de ter trabalhado da melhor forma possível para não se encontrar numa situação de inferioridade. Não se conformou e foi à luta.

Não deixa a Fórmula 1 como campeão, mas sim como um profissional correto e respeitado. Título muito mais importante.

sábado, novembro 23, 2013

CHOVE, CHUVA!

Digo e repito: em matéria de Fórmula 1, chuvas são sempre bem-vindas. Porque tiram a monotonia da prova, induzem os fracos de personalidade ao erro e são invariavelmente recompensadas e permitem às figuras nas quais menos se aposta figurarem no pódio.
            Como aconteceu em Interlagos no ano da graça de 2003.
            Dez anos atrás, Michael Schumacher (o campeão da temporada) tinha como “fiel escudeiro” na Ferrari Rubinho Barrichello. Kimi Raikkonen, então na McLaren, ficou em segundo na classificação final. O brasileiro obteve a quarta posição, logo atrás de Juan Pablo Montoya, da Williams.
            Os demais pilotos brazucas eram Felipe Massa (piloto de testes da Ferrari), Antônio Pizzonia (reserva da Williams, ao lado de Marc Gené) e Cristiano da Matta e Ricardo Zonta (ambos da Toyota, o primeiro titular e o segundo, suplente).
            Na época, o Grande Prêmio do Brasil não era a última corrida do ano. Foi a terceira, depois da Malásia – vencida por Fernando Alonso, então na Renault. Rubens Barrichello obteve a pole position e a volta mais rápida. Você pode pensar: “Ah, com tantos feras no grid do José Carlos Pace, o troféu deve ter ficado com um deles. Certo?”.
            Errado, pequeno gafanhoto. Quem venceu a prova foi justamente quem menos se esperava: o italiano Giancarlo Fisichella, da Jordan. E chegou em primeiro depois de um sem-número de batidas e abandonos. Inclusive de Rubinho, que andou em primeiro depois da saída de David Coulthard. A galera vibrou muito, nas arquibancandas, mas a alegria durou pouco. A Ferrari caiu fora, e Rubens amargou o décimo abandono em 11 edições do GP Brasil.
            Mas Fisichella teve sua vitória ameaçada. A FIA quis ser mais realista do que o próprio rei, interpretou o regulamento de forma equivocada, ignorou o que aconteceu na pista e, por alguma razão que até hoje é difícil de se compreender, deram o caneco para Kimi Raikkonen. O vencedor de fato acabou em segundo e Alonso em terceiro. O Príncipe das Astúrias, aliás, sofreu um baita acidente. Mark Webber destroçara sua Jaguar na entrada da reta dos boxes, e um pneu desgarrado atingiu em cheio a Renault. Com isso, a direção da prova acionou a bandeira vermelha. Uma vez interrompida a corrida, valeram as posições da volta anterior à das colisões.
            O treino oficial acaba de começar. A pista de Interlagos piorou muito, por causa do mau tempo. Isso favorece RBR e Mercedes. Aposto nessas duas, para figurarem nas duas primeiras filas. Pneus estão sendo poupados ao máximo. Quem melhor conseguir resguardar equipamento vai se dar bem na corrida de amanhã.

            Acredito que não vai haver “zebras” no grande prêmio. Que pena. Mesmo assim: chove, chuva! Chove sem parar.

sexta-feira, novembro 22, 2013

PREVISÃO NEBULOSA

Pelo jeito, o Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1 não será aquele sucesso de audiência. Muito menos de público presente. Muita gente vai deixar de ir ao Autódromo José Carlos Pace, não apenas por causa do mau tempo.
            Todos os envolvidos com a organização do evento certamente ficaram preocupados com as imagens dos primeiros treinos em Interlagos. Quem fez valer o preço do ingresso para os três dias viu muita chuva e pouca movimentação na pista.
            Na primeira sessão, confirmando que neste ano foram os carros que mais se destacaram em velocidade final, as Mercedes formaram a primeira fila. Nico Rosberg em primeiro e Hamilton em segundo. Sebastian Vettel, por ser Sebastian Vettel, figurou em terceiro, rodando já com os pneus 2014 da Pirelli.
            Na segunda, Rosberg ficou novamente em primeiro. Seguido por Vettel e Mark Webber. Felipe Massa, que registrara o 11º tempo pela manhã, à tarde melhorou e foi o 7º. Stefano Domenicali, diretor da Ferrari, disse esperar muito uma vitória de Felipe. Não passa de média. Seu quase ex-piloto vai transitar por essa faixa intermediária, da terceira fila para baixo. Como aconteceu durante toda a temporada. É uma previsão tão nebulosa quanto verdadeira.
            O que remete a um comentário de Téo José: o torcedor que comparecia em massa a Interlagos gostava de ver um brasileiro no ponto mais alto do pódio. O jornalista fez esta afirmação a partir de depoimento dado a ele pelo próprio Emerson Fittipaldi, nesse sentido. Em Monza, por exemplo, ocorriam os maiores carnavais quando um piloto italiano vencia em Monza com uma Ferrari. “Fazia barba e cabelo”, como diriam os antigos.
            No nosso caso, nem precisa o brasileiro andar numa Copersucar da vida. Basta que vença. Como isso não tem acontecido já faz muito tempo, o interesse dos locais na Fórmula 1 tem decaído. Até onde sei, ainda somos o país que mais assiste aos grandes prêmios – mesmo com Vettel ganhando todas há oito provas – possivelmente encaminhando-se para a nona. Téo José ainda questiona se, nesta situação de franco desprezo do público pela corrida, valeria a pena investir quase R$ 200 milhões em reformas do circuito.
            Eu penso que sim. A Fórmula 1 precisa muito do Brasil. O Brasil ainda gosta muito dela. Esse relacionamento de décadas não poderia acabar de uma maneira tão insólita – apenas por uma (cada vez mais) possível ausência de pilotos locais no grid. Creio que seria um desastre, inclusive para a economia do país. Acho que só o carnaval atrai mais turistas. Mesmo em tempos de vacas esquálidas.        


Mundo pequeno

http://blogs.estadao.com.br/antero-greco/

Houve época no futebol em que havia apenas a Copa como competição para apurar o maior time do mundo – ou, mais especificamente, a seleção. Ainda assim, de quatro em quatro anos, o que torna a festa ainda hoje especial. E, com algum exagero de nossa parte, se disputava o “mundial de clubes”, que os europeus preferiam definir como desafio intercontinental entre os campeões de lá e da América. Fora isso, cada região do globo ficava com a apuração dos respectivos melhores e todo viviam felizes.

Agora, não. Em tempos de satélites, internet e a infinidade de filhotes tecnológicos que encurtam distâncias e bisbilhotam a vida de qualquer um, tornaram-se infindáveis as disputas e comparações universais. A transação mais cara do mundo, o jogador mais premiado do mundo, o time mais valioso do mundo, o maior patrocínio do mundo, a melhor equipe do mundo (quando não de todos os tempos), o gol mais rápido do mundo, o estádio mais moderno do mundo. A lista é extensa. O mundo encolheu e ninguém se contenta em ser só destaque no próprio país ou continente. É preciso parecer o máximo em toda parte.

Veja a discussão a respeito do melhor jogador do mundo. Messi faturou o prêmio nos últimos anos, mas agora há quem detecte decadência nele por causa de contusões recorrentes e porque, recentemente, passou uns sete ou oito jogos em branco! Cristiano Ronaldo, ao contrário, não tem um senão, brilhou com Portugal na repescagem para o Mundial, faz gols como nunca na Espanha e não pode ficar sem o troféu. Fãs de um e outro se desdobram em argumentos para provar a superioridade do astro preferido.

Até a Fifa deu uma colher de chá – a meu ver para o português -, ao estender o prazo para que treinadores e capitães de seleções mandem os votos. Uma forma de evitar injustiça? Pode ser. Mas acima de tudo uma maneira de fazer com que a cerimônia, importante do ponto de vista promocional e comercial, não se esvazie. Na prática, uma manobra boa de marketing.

Messi e Cristiano Ronaldo são excelentes e se destacariam mesmo em agremiações modestas. Porém, é preciso levar em conta a exposição que têm, por atuarem em clubes com visibilidade internacional e elencos poderosos. Vantagem extraordinária e que, por si só, desequilibra o pleito. O mundo pequeno tem olhos voltados para a Europa, e só. E vicia esse olhar, mesmo com toda a parafernália moderna para acompanhar o futebol pelo planeta.

Vai demorar, ainda, para que regiões periféricas – e aqui incluo a América do Sul – sejam seguidas de perto. Não é por acaso que argentinos ou brasileiros só receberam a honraria depois de se transferirem para o centro do mundo. Antes, podiam comer a bola, como já o haviam feito Edmundo (em 1997) ou Neymar, e mesmo assim não tiveram a chancela de credibilidade.

Em resumo: esse negócio de melhor do mundo é relativo, como tudo na vida. Mas o homem é um bicho que gosta de comparar, desde pequeno…

Bate bola.1 – A busca por dados curiosos e comparativos leva a exageros. Nestes dias, vi, li e ouvi que: Robinho tem mais gols que Pelé em jogos contra o Chile; Jucilei marcou gol que Pelé não conseguiu; Rogério Ceni igualou Pelé em número de jogos por um time. Engraçado, sempre Pelé….

2 – Espírito esportivo. Antes do jogo com a Romênia que valeria vaga para a Copa, dirigentes gregos perceberam que os adversários haviam inscrito dois goleiros em vez dos três obrigatórios. O erro levaria a Romênia a ser desclassificada, no tapetão, mesmo se vencesse em campo. A turma da Grécia preferiu o fair-play – e se garantiu na bola.

3 – E agora? O São Paulo bateu o pé para tirar de Campinas o segundo jogo com a Ponte, pela semifinal da Copa Sul-Americana, sob a alegação de que os rivais descumpriam o regulamento. A insistência serviu de excelente motivação para a Macaca. Missão difícil superar os 3 a 1.


quinta-feira, novembro 21, 2013

PELA ÚLTIMA VEZ

“Fazer tudo pela última vez” é uma sentença que soa totalmente melancólica.
            Imagino uma pessoa prestes a não realizar mais o trabalho de todos os dias, com o qual se ocupou durante uma boa quantidade de anos.
            Imagino esse mesmo indivíduo no derradeiro dia no escritório, numa redação. Como deve se comportar diante da certeza de que não precisará mais, no dia seguinte, redigir um documento, escrever uma reportagem, tirar sarro do colega ao lado porque o time dele perdeu de goleada.
            E imagino Mark Webber a poucos dias de não ser mais chamado de “piloto de Fórmula 1”. Ou então “piloto da Red Bull Racing”. Ele se diz tranquilo com isso. Na verdade, se há um cara no Circo desencanado é justamente Webber. É claro que já esquentou muito a cabeça, principalmente em razão da óbvia preferência por Vettel como primeiro piloto. Mas penso que essa tranquilidade é um tanto quanto aparente. Mais jogo de cena, atendendo de caso pensado ou não aos apelos da imprensa por manchetes mais ou menos relevantes.
            "Eu não sairia se não houvesse coisas que estou feliz de deixar para trás. Se houvesse mais pontos positivos do que negativos, então obviamente eu ficaria. Há mais pontos negativos do que positivos".
            Pesquei essa declaração de Webber do site grandepremio.com.br. Apesar de suas mais de duzentas largadas e de ter vencido duas vezes em Mônaco... Mark não deixa a Fórmula 1 com um sorriso de orelha a orelha. Não só pelo fato de ter sido relegado a contragosto pela equipe à condição de “escudeiro” de Vettel. Um papel que ele se recusou a desempenhar, afirme-se logo, diferentemente de um certo ferrarista. E quando você não está mais feliz com algo, o melhor mesmo é tirar seu time de campo e deixar o sangue novo brotar de onde antes havia apenas desilusão.
            Espero que Webber faça uma excelente corrida, em São Paulo. Como a RBR já descartou prontamente a possibilidade de haver um jogo de equipe para levá-lo ao ponto mais alto do pódio, o australiano terá de obter a vitória por seus próprios méritos. E é mesmo assim que deve ser a sua última corrida na F-1. Nos treinos, muito provavelmente acontecerá mais uma dobradinha da Red Bull, com as Mercedes na segunda fila e Lotus ou Ferraris mais atrás. Aliás, “o samba de uma nota só” que marcou a categoria neste ano.
            Será que ele vai largar mal? Talvez. Nos Estados Unidos, largou em segundo e, antes da primeira curva, já era o quarto. Mas registre-se que na estratégia da equipe, aliado ao seu esforço, recuperou-se e só não ultrapassou Grosjean nas voltas finais porque foi impedido pelo desgaste dos pneus.
            Mark Webber tentará buscar a felicidade em outras searas. Vai encarar o novo desafio com o espírito de quem está fazendo tudo pela primeira vez. Sem fatalismos. Sem melancolias ou nuvens negras no horizonte.

            Lição valiosa: vida significa renovação constante.

quarta-feira, novembro 20, 2013

ENQUANTO INTERLAGOS NÃO VEM

Enquanto Interlagos não aparece na telinha, disparo algumas notas aleatoriamente. Algumas balas automobilísticas quase perdidas, porque têm como endereço certo o entretenimento de quem ainda gosta de ver corrida de automóvel. Ou não, como bem já dizia o Caetano.
            1 – Durante almoço com a imprensa realizado na tarde desta quarta-feira, Felipe Massa não quis nem saber dessa história de ser piloto pagante no grid de 2014 da Fórmula 1. “Não quis ser prostituta”, ele disse. Uma declaração tola, porque imbecil. Arremessa uma carapuça injusta para cima de pilotos como Maldonado. Massa prefere esquecer as corridas nas quais cometeu atitudes antidesportivas para beneficiar Fernando Alonso. Conheço algumas “acompanhantes” que teriam ficado com a tal da vergonha alheia, se soubessem dessa baixeza.
            2 – Chuvas sempre foram a salvação da lavoura, em matéria de F-1. Impedem que uma corrida se transforme em uma procissão de automóveis e volta e meia permitem que o mais improvável dos pilotos seja o vencedor. Lembrem-se de Fisichella em São Paulo em 2003. Mas essa história de molhar trechos de uma pista beira o provincianismo. Chega a ser motivo de riso pensar que a alta cúpula da categoria já tenha pensado em uma atitude tão estapafúrdia. Para um GP se tornar emocionante, basta que todos ou pelo menos três ou quatro equipes estejam mais ou menos em igualdade de condições. Simples assim.
            3 – Em razão da falta de pilotos de “alto nível”, Lewis Hamilton torce pela volta de Rubinho ao Circo da Velocidade. Já expressei alhures minha opinião a respeito de um possível retorno de Barrichello ao grid. Acredito que seria um erro. Do tamanho ou ainda mais grave do que cometeu Schumacher. Caso pilote novamente na F-1, Rubens correrá por equipes intermediárias. Passaria uma temporada inteira sem ir além, nos treinos de sábado, do Q2. E olhem lá. Não acho que seria uma boa, logo para alguém que foi um piloto com uma história muito interessante. Sem títulos, mas com ótimos desempenhos em grande número de corridas.
            4 – Quanto a não aparecerem pilotos de “alto nível”, acredito que exista uma linha muito tênue entre os bestas e os bestiais. Hamilton teria sido campeão do mundo se estivesse numa Super Aguri (uma das piores em 2008)? Nessa mesma temporada, na Toro Rosso, Sebastian Vettel foi o oitavo no mundial, com 35 pontos. Coloquem Hamilton na Marussia e levem Jules Bianchi para a Mercedes. Sem bons exercícios de imaginação, a vida fica muito devagar, quase parando.

            5 – Os motores turbo comprimidos de baixa cilindrada serão reintroduzidos na Fórmula 1. É parte do processo de redução de custos que vai marcar a categoria de 2014 para a frente. Vai dar certo? Vai dar errado? Acompanhemos os próximos capítulos.

terça-feira, novembro 19, 2013

MASSA PRÉ-STOCK

Alguma dúvida de que Felipe Massa vai correr na Stock Car depois de uma ou duas temporadas pela Williams?
            Eu não tenho nenhuma. Até porque não o vejo disputando corridas nos Estados Unidos. Caso fosse para a Nascar, a Nationwide ou a Indy, teria de haver um necessário período de adaptação, principalmente para os circuitos ovais, como aconteceu com Rubens Barrichello. E, se os exemplos baterem em semelhanças, veremos Felipe se tornando vítima das barbeiragens de quem larga no pelotão intermediário da Stock.
            Cara, foram oito temporadas pela Ferrari. E nenhum título. Acho que é aí que a porca torce o rabo. Faço essa afirmação porque Massa foi apenas um bom piloto brasileiro na Fórmula 1. Por mais que a Rede Globo forçasse a barra em muitas ocasiões, nunca o vimos como um ídolo. Nunca torcemos por ele como pelo próprio Rubinho, por exemplo. Ficamos tristes e quisemos muito que se recuperasse do quase letal ferimento na cabeça... mas a grande verdade é que ele sai da Ferrari e vai sentar-se num outro cockpit sem que lhe desejemos mais do que a burocrática e protocolar “boa sorte”. E vejam só que é de sorte mesmo que vai precisar, porque a Williams tem andado ainda mais para trás nos últimos anos do que a própria Ferrari. A saída de Maldonado (e dos seus milhões de petrodólares) vai fazer falta em algum momento, quando a contenção de despesas vai ser regra na categoria a partir do ano que vem.
            Acho que o correspondente de Fórmula 1 Luis Fernando Ramos acertou em cheio na sua avaliação do que ocorreu com Massa: “A partir de 2010, Massa viu seu espaço ocupado por Fernando Alonso: um piloto forte na pista como eram os antecessores Michael Schumacher e Kimi Raikkonen, mas ainda mais forte na política interna. O brasileiro sucumbiu e se tornou um piloto inconstante. A falta de resultados fez com que, pela tradicional política ferrarista, ele tivesse de atuar para ajudar o espanhol a ganhar títulos. O torcedor não perdoou”.
            Pois é. Não estamos nem aí para o fato de que Massa é o segundo piloto que mais disputou provas pela Ferrari. Nem aí para as suas 15 poles. Nem aí para as suas 11 vitórias. Por falar nisso, não entendem que esses números são poucos para quem passou quase uma década trabalhando para a mais tradicional empresa de automobilismo do planeta. Só 11 vezes no topo do pódio nesse tempo todo?
            Tenho plena consciência de que estou sendo muito rigoroso com Felipe Massa. Devo reconhecer que, no fim das contas, ele acabou se tornando o piloto-padrão. Todas as ordens que recebeu no sentido de ajudar a Ferrari a se tornar campeã dos construtores em duas ocasiões foram plenamente cumpridas – e por essa lealdade pouco mais de 15 mil pessoas participaram da festa de despedida oferecida ao futuro ex-piloto do Cavalino Rampanti.

            E, mais lá para a frente, o próximo estreante da Stock Car.

As descoladas

Quem elabora as sinopses dos filmes pornôs que passam na tevê
por Renato Terra

Fernanda Pinheiro se ajeita na cadeira, coloca os fones de ouvido e aperta o play. “Ouvi dizer que é uma superprodução”, anuncia. No computador à sua frente, uma tela aberta no canto esquerdo mostra um navio sendo invadido por piratas. O protagonista, vestido como Jack Sparrow, anuncia o sequestro da embarcação.
Fernanda descreve tudo o que vê em uma planilha aberta no lado direito da mesma tela. Suas unhas pintadas de preto passeiam lépidas pelo teclado: “Cena em alto mar. Dentro de um navio, um casal conversa. Eles se pegam. Sexo oral nela.” Ela aperta o fast forward até o momento em que a moça retribui a carícia: “Nele também”, escreve. Fast forward. Pause. “De ladinho.”
Correm na tela as cenas quentes de Pirates, uma paródia pornô de Piratas do Caribe. Devido ao recurso do fast forward nas sequências mais, digamos, repetitivas, a avaliação demora cerca de quarenta minutos. “Eu acelero o filme nas cenas de sexo, mas vou parando para ver se a mulher não está sofrendo, se o áudio continua bom”, comenta Fernanda, uma carioca de 23 anos.
Ela estima ter visto mais de 74 mil horas de filmes eróticos em dois anos e dez meses de trabalho. “Quando conto para meus amigos que trabalho com filmes adultos, todo mundo fica supercurioso, quer saber se visitamos as filmagens, como é a nossa rotina. Quando eu explico que trabalho diante de uma planilha, eles ficam frustrados”, diz.
Fernanda, formada em jornalismo, e a colega Livia Ramos, que fez publicidade, ocupam baias abertas, sem divisórias. As duas e a chefe Marcela Leone cuidam dos filmes exibidos no Sexy Hot, o maior canal pago de conteúdo adulto – o jargão eufemístico para pornô – da televisão por assinatura brasileira. Na função há oito anos, Marcela, também jornalista de formação, é a veterana do trio. Ela explicaque o domínio feminino na bancada é caso pensado: “As mulheres lidam com mais naturalidade com conteúdo adulto. A gente não se choca tanto, não fica nervosa vendo os filmes.”
As produções estrangeiras chegam em pacotes definidos pela Playboy Latin America, sócia do Sexy Hot, e cabe ao trio feminino cuidar do título e da sinopse em português. Entre os conhecimentos específicos exigidos está o domínio de siglas em inglês: Double D para designar seios fartos, AZN para asiáticas e LEZ para cenas de lesbianismo. A expressão POV [point of view] é usada para cenas de sexo gravadas a partir do ponto de vista de um dos atores, e Milf [mothers I’d like to fuck] se refere a filmes com mulheres mais velhas.
Produtoras brasileiras também mandam filmes. Nesses casos, as moças fazem uma triagem para ver se não têm cenas de violência, escatologia, consumo de drogas, sexo coagido ou temas ligados à religião. Marcela garante que os filmes brasileiros são os que fazem mais sucesso: “Porque eles trazem fetiches mais possíveis: a mulher parece a vizinha do espectador.” Livia vê diferença entre as cinematografias: “O filme estrangeiro tem historinha, roteiro. O nacional tem mais sexo.”

uando os filmes decupados atingem um volume considerável, a trinca recebe o auxílio de Wilton Souza, responsável pela grade de programação. A equipe se reúne para criar os títulos e as sinopses dos estrangeiros. “Gostamos de fazer trocadilhos com filmes que já existem”, diz Fernanda, citando, com orgulho, De Quatro para o Futuro, de sua lavra. Na ponta da língua também está um filme, Toy Stories, cujo protagonista era um vibrador.
Nas reuniões, Fernanda lê os resumos que fez e informa o título da versão original. “Quando a gente traduz o fetiche que está exposto ali, conseguimos o êxito”, explica Marcela. “A gente tem a preocupação de colocar no título ou na sinopse quais são as práticas mostradas.” Como as chamadas ficam abertas para todos os clientes da operadora – e não apenas para os assinantes do canal – é preciso evitar palavrões.
Palavras como “latinas” e “bundas” costumam agradar ao público e servem como muletas quando ninguém está muito inspirado. O filme campeão de audiência do Sexy Hot, por exemplo, é brasileiro e atende pelo nome nada sutil de Show de Bundas. Casos como o de Pirates entram automaticamente numa gaveta menos criativa: a regra é dar o título Piratas do Caribe – A Paródia. A equipe tem a sensação de dever cumprido quando surgem grandes sacadas, como a de traduzir Fill her Young Holes como Metidinhas ou sugerir o título Quem Tem Medo do Escuro para batizar um filme de sexo inter-racial.
As sinopses, em seguida, também são feitas em conjunto. Para Aeromoças em Apuros, por exemplo, criou-se a descrição: “Próximo voo com destino ao prazer está pronto para o seu embarque. As aeromoças farão tudo o que pedirem.” Em seguida, enumeram-se as modalidades sexuais praticadas. O processo não impede o uso abundante de fórmulas requentadas: “Confira os Flintstones de um jeito que você nunca viu. Eles gostam de sacanagem e provam que são mestres do prazer.”
A pequena sala onde as programadoras trabalham fica na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, no conjunto de edifícios que abriga a Globosat, empresa com 60% de participação nos canais que funcionam sob a marca Playboy – isso inclui, além do Sexy Hot, Playboy TV, Private, Venus, Sextreme e For Man, este último para o público LGBT.
A decoração da sala é igual à de escritórios convencionais, com mesas e computadores individuais. A diferença é que as duas enormes tevês penduradas na parede estão ligadas em canais adultos (com o som desligado). “Quando chega um motoboy para entregar comida, ele costuma ficar sem graça”, conta Fernanda. Outro detalhe, mais discreto, jaz pendurado na parede de sua baia. É um singelo bilhetinho escrito a mão: “Fernanda, nunca desista dos seus sonhos. Um beijo da Bruna Surfistinha.”

segunda-feira, novembro 18, 2013

CORRIDAS MALAS À VISTA?

Que o Grande Prêmio dos Estados Unidos foi uma tremenda chatice todos os que assistiram à corrida certamente devem concordar em gênero, número, grau e conjugações. Agora, o problema é o seguinte: para o próximo ano, esse panorama não deve mudar.
            Essa previsão nefasta tem como base a recente ameaça da Pirelli de fazer pneus mais conservadores para 2014. Em outras palavras, ela quer se livrar das críticas que recebeu na temporada deste ano, quando alguns compostos simplesmente explodiram em retas de alta velocidade.
            Com pneus apresentando menos desgaste, as equipes optariam por estratégias com apenas uma parada nos boxes e poucas trocas de posições. Foi o que aconteceu em Austin. Ultrapassagens, mesmo, só na hora da largada e, ao longo das 56 voltas, restritas ao pelotão intermediário. E olhem lá. Na parte final, Mark Webber ainda tentou tirar a segunda posição de Romain Grosjean, mas os “pisantes” traseiros de sua RBR o deixaram na mão e ele teve de se contentar com o terceiro posto. Uma boa reação, diga-se logo. Por ter se mostrado péssimo de largada, caiu para o quarto posto assim que se apagaram as luzes vermelhas.
            Olha só: a emoção é a razão de ser de um esporte. De qualquer esporte. Os norte-americanos são ótimos nisso. Em promover espetáculos. Os autódromos em que ocorrem as provas de Nascar recebem lotação esgotada ou quase isso. O mesmo acontece com os jogos do futebol americano. Ou de beisebol. Pelo amor de Deus, a Seleção foi jogar em Miami no sábado e a presença da galera bateu o recorde de público do estado da Flórida. Isso porque os cérebros de lá sabem investir na promoção de espetáculos esportivos. Aqui no Brasil temos essa noção, mas ela acaba sendo tolhida pela ambição dos promotores, que querem enriquecer a todo custo. E os torcedores daqui que se lasquem, pagando mais de 100 contos num ingresso.
            A Fórmula 1 tem perdido muito nesse campo. Ainda mais aqui no país. Muita gente alega que a morte de Ayrton Senna foi o fator preponderante para que abandonassem os grandes prêmios. Pode ter acontecido, mas sem dúvida alguma não foi só por isso. Depois de Ayrton, os brasileiros que apareceram ou foram meros figurantes (Luciano Burti, por exemplo) ou não passaram de escudeiros vendidos (Rubens Barrichello). Felipe Massa foi o último a nos dar a esperança de que o Brasil voltaria a comemorar mais um título. Isso não aconteceu. Teve o lance do grave acidente sofrido por ele, mas até essa quase tragédia tem seus limites. Não se pode usar esse fato como muleta para justificar pelo resto da vida os passos para trás que ele e a Ferrari em todos esses anos até sua mudança de cockpit. Espero que venha a se dar bem na Williams, mas, se a ameaça da Pirelli se cumprir, tudo ficará como dantes no quartel de Abrantes.

             

domingo, novembro 17, 2013

FÓRMULA VETTEL

O problema dos campeonatos por pontos corridos é justamente o fato de premiar os melhores. Ou então quem se comportou com mais regularidade. A superioridade, clara e evidente, se traduz no fim de um certamente com algumas rodadas de antecedência. Isso no caso do futebol. O Cruzeiro, todos sabem, levou o caneco do Brasileirão no meio da semana passada. Na Fórmula 1, Sebastian Vettel deu uma de Walter e deitou e rolou nas pistas deste planeta de meu Deus.
         Fórmula 1, nada. Fórmula Vettel. Pontuada por vitórias indiscutíveis do ponto de vista puramente técnico. Mas em termos de emoção... Bem, creio que devemos aguardar a próxima temporada, quando haverá drásticas mudanças no regulamento da categoria com vistas a contenção de gastos.
         O Grande Prêmio dos Estados Unidos, ontem, foi de uma chatice exemplar. Incrível como pouco aconteceu em 56 voltas. Como tem sido costumeiro, a parte mais interessante da prova foi justamente a largada. A única preocupação de Sebastian: manter-se em primeiro e se desembestar na frente, com não sei quantos segundos de vantagem em relação ao segundo colocado, o ótimo Grosjean, com um desempenho brilhante ao deixar para trás e resistir com bravura e competência às investidas de Webber.
         E quem tentou ver mais uma boa corrida de Felipe Massa dentro de suas limitações gritantes também vai ter de aguardar, mas pela corrida em Interlagos. A última em que estará ao volante ultratecnológico e cheio de botões da Ferrari. O desempenho de qualquer atleta melhora dez vezes quando ele atua em seus domínios. Não que vá ganhar a prova de São Paulo, mas acredito que deva se manter entre os dez melhores. Uma tarefa e tanto, na nossa avaliação, porque seu carro tem uma grande tendência a correr para trás que é um negócio assombroso. Em todo caso, é ver para crer.
De ferrarista para ferrarista, é muito legal ver o trabalho de Fernando Alonso. Na maior parte do campeonato, o espanhol mostrou todo o brilhantismo de quem se consagrou bicampeão mundial. Mas não chegou em momento algum a se tornar um rival à altura do talento de Vettel.
         O jovem piloto alemão vai batendo recordes atrás de recordes. Merece fazer “zeros” com sua RBR toda vez que receber a bandeirada em primeiro lugar. No Texas, superou a sequência de vitórias obtidas por Schumacher em 2004.

         Qual será a próxima marca a ser batida? Acho que não deve chegar aos sete títulos de Schumi. Porque a Fórmula 1 mudou muito nesse tempo e, para os próximos anos, as alterações serão ainda mais acentuadas. Mas Sebastian vai tentar. Porque os campeões gostam muito de superação.

segunda-feira, novembro 11, 2013

Kubrick de olhos bem abertos

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizfelipeponde/2013/11/1369555-kubrick-de-olhos-bem-abertos.shtml

11/11/2013 - 03h00

Depois de ler sobre pré-história, minha percepção do mundo mudou. Para começo de conversa, o tema da violência na condição humana é melhor compreendido quando olhamos para nossos ancestrais do Paleolítico Superior do que quando tentamos compreendê-lo a partir de ideias como "o modelo social está ultrapassado", apesar de saber que frases como essa dão orgasmo em muita gente.

Somos seres do desejo, e não de razão. Com isso não quero dizer que não sejamos racionais, mas sim que o desejo se impõe à razão. Freud e Lacan bem sabem disso. Schopenhauer e Nietzsche também sabem isso. Devoramos tudo à nossa volta por conta dessa força irracional chamada desejo.

O cineasta Stanley Kubrick (que aliás está "nos visitando" no Museu da Imagem e do Som, o MIS) entendeu bem esse aspecto: é na pré-história e no desejo que melhor entendemos nossa desorganização interna, nossas contradições e a luta que temos cotidianamente contra elas. Refiro-me a dois dos seus filmes, "2001, Uma Odisseia no Espaço", de 1968, e "De Olhos Bem Fechados", de 1999.

O primeiro se abre com o momento descrito como "aurora". Nessa sequência, dois bandos de homens pré-históricos disputam a posse de um pequeno lago. O mais fraco perde. Depois, acuados, comem ervas embaixo de uma pedra, atormentados por predadores à noite.

Um deles, na manhã seguinte, descobre que, tendo um osso nas mãos, consegue ficar mais forte. Matam um animal grande e "se tornam" carnívoros (o vegetarianismo é um comportamento ultrapassado evolucionariamente).

Mais tarde, munidos de ossos nas mãos, atacam o bando que os haviam expulsado do lago. O "novo homem", com uma arma na mão, retoma o lago. Na cena seguinte, joga o osso para cima e este vira uma nave espacial. Chegamos ao futuro da pré-história.
Já na última parte do filme, vemos o primeiro computador com inteligência artificial se "revoltar" contra os dois astronautas da nave. O que o filme nos revela? Que o "avanço técnico" seguramente está associado à violência.

Isso não significa que seja "bonito". Hoje em dia, por causa do modo como se dá o debate público, baseado em caricaturas do outro, difamação e simplificação ridícula (tipo: quem não pensa como eu é racista, "sequicista" e a favor da TFP), torna-se necessário fazermos reparos como esse: reconhecer a relação de implicação entre melhoria material da vida, avanço cultural e uma dose de violência não significa achar isso bonito, mas sim reconhecer o grau de ambivalência que marca nossa condição. Mas, num mundo de mimados, como é o nosso, dizer isso parece ser "gostar" disso.

O que Kubrick está dizendo aqui é que provavelmente nossa história de ganhos técnicos implica um alto grau de risco. O problema é que queremos os ganhos, mas, no mundo da carochinha, no qual vivem os mimados, parece ser possível zerar a ambivalência. Nada disso quer dizer que devemos cultivar a violência, mas que não adianta pintar sua cara com cores de anjo porque só vai convencer gente boba.

No outro filme, "De Olhos Bem Fechados", Kubrick dialoga profundamente com Freud. O filme é baseado, em última instância, num sonho de Freud no qual ele entra num trem e um aviso diz que ali só permanecem pessoas de olhos bem fechados.

O sonho está dentro do processo de "autoanálise" de Freud, no qual ele descobre o complexo de Édipo e sua vergonha pelo fato de o pai não ter reagido a uma humilhação feita por um grupo de antissemitas testemunhada pelo menino Sigmund. O tema envolve a ambivalência dos sentimentos e desejos da criança para com os pais.

No filme, a mulher (a deusa Nicole Kidman) conta para o marido (Tom Cruise) que um dia desejou fazer sexo violento com um oficial da Marinha que ela tinha visto num hotel quando eles estavam num momento "família" (quis ser a "puta" dele). Com isso, ela joga o marido num total desespero, que só se encerra quando ela o chama para trepar ("let's fuck").
O desejo da bela e bem comportada mulher revela ao marido que nem ela escapa da desorganização do desejo sexual "ilegítimo". A vida ordenada está sempre por um triz.
ponde.folha@uol.com.br
Luiz Felipe Pondé
Luiz Felipe Pondé, pernambucano, filósofo, escritor e ensaísta, doutor pela USP, pós-doutorado em epistemologia pela Universidade de Tel Aviv, professor da PUC-SP e da Faap, discute temas como comportamento contemporâneo, religião, niilismo, ciência. Autor de vários títulos, entre eles, "Contra um mundo melhor" (Ed. LeYa). Escreve às segundas na versão impressa de "Ilustrada".

sábado, novembro 09, 2013

A rainha esquecida

http://esportefino.cartacapital.com.br/natacao-poliana-okimoto-falta-reconhecimento/

Postado pelo(a) colunista  em 08/11/2013

Cercada por jornalistas, um sorriso de ponta a ponta em seu rosto, Poliana Okimoto concede uma disputada entrevista depois de vencer mais uma maratona. O assédio é forte: a campeã mundial da prova dos 10 km em águas abertas, prova que faz parte do programa olímpico, tinha acabado de conquistar uma das etapas do Circuito Mundial, em Hong Kong.
A paulista é famosa, basta perguntar perguntar aos veículos que cobrem esportes por todo o mundo. Só não pergunte dentro de seu próprio país. “Deveríamos ter mais espaço”, uma reclamação que não é incomum entre atletas olímpicos que ainda sonham receber uma pequena parcela do espaço concedido ao futebol no Brasil, visando nada mais do que reconhecimento.
Poliana, 30 anos, tornou-se nesta semana a primeira nadadora de fora da Europa a ser eleita a melhor maratonista do ano pela mais conceituada revista do esporte, a Swimming World, que elege os destaques da temporada desde 1964 (a categoria águas abertas foi criada somente em 2005). Foram três medalhas no Mundial de Barcelona deste ano, uma de cada cor. Um feito inédito, com direito à melhor colocação da história do Brasil na categoria. A nadadora relembrou que pouco foi procurada após o incrível feito na Espanha. E sua reclamação não é pela eterna briga por patrocínio ou falta de apoio, mas por um pouco de atenção.
Em 2013, o melhor ano da carreira, Poliana levou o ouro no 10 km em Barcelona, prata nos 5 km e bronze na prova por equipes. Venceu duas etapas da Copa do Mundo de Águas Abertas, em Hong Kong e Xangai, na China. Em um raro pulo competitivo na piscina, que praticamente abandonou desde que resolveu se concentrar nas águas abertas, bateu neste ano o recorde sul-americano dos 1.500 m livre, que já durava 12 anos.
Tudo isso faz com que seja candidata fortíssima na eleição de melhor atleta de águas abertas do ano pela Federação Internacional de Natação (Fina). Concorre ainda ao prêmio de melhor do mundo pelo site Open Water Swimming (que também colocou brasileira Ana Marcela Cunha como uma das candidatas). Deve ser anunciada em breve como uma das finalistas do prêmio Brasil Olímpico, do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), para o qual já recebeu o voto de Cesar Cielo.
Em 2013 ainda encara duas provas: O Rei e Rainha do Mar, no Rio de Janeiro, e o Torneio Open, em Porto Alegre, ambas em dezembro. Piscinas? Esqueça. Hoje, na prática, o que o Brasil tem de melhor na natação são as maratonas aquáticas. E temos a melhor do mundo, uma campeã em uma categoria olímpica.
Fora do país, Poliana é estrela. Por aqui, bem, alguém sabe quem é Poliana Okimoto?

A imprensa cerca Poliana durante etapa da Copa do Mundo na China (Foto: Arquivo pessoal)
A imprensa cerca Poliana durante etapa da Copa do Mundo na China (Foto: Arquivo pessoal)

terça-feira, novembro 05, 2013

Rafael Zabaleta: El expresionismo español

http://trianarts.com/rafael-zabaleta-y-el-realismo-expresionista-espanol/


Click en la imagen para ver más obras

Rafael Zabaleta

Rafael Zabaleta Fuentes nació en Quesada, Jaén, el 6 de noviembre de 1907.
Su estilo varió desde el  sombrío de su primera época, al  rutilante que le condujo a un  con influencias claramente picassianas.
Esta evolución se observa partir de 1950, adquiriendo el estilo que le confiere su identidad.
La colección más importante de sus obras se encuentra en el Museo Zabaleta, de su ciudad natal.
Actualmente sus cuadros se exponen hoy en los más prestigiosos museos del mundo, entre otros en las ciudades de Buenos Aires, New York, Tokio y España.
Zabaleta declaró literalmente que “su apoyo en el arte más inmediato al suyo lo basó en Paul Cezanne, Vincent Van GoghHenri Matisse y Pablo Picasso o que sus intereses se vinculaban a la Escuela de París, “la mejor palestra del mundo”.
En 1951 su ciudad natal le nombra Hijo Predilecto.
En 1960 presenta en el pabellón español de la XXX Bienal de Venecia una serie de 16 óleos y diez dibujos, en la que sería su muestra más importante.
Murió el 24 de junio de 1960, en su localidad natal.
*Esta entrada fue publicada el 24 de julio de 2010. Ha sido actualizada y ampliada el 6 de noviembre de 2013.

Escritor angolano Ondjaki vence o Prêmio José Saramago por 'Os Transparentes'

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2013/11/1367365-escritor-angolano-ondjaki-vence-o-premio-jose-saramago-por-os-transparentes.shtml

DE SÃO PAULO

O escritor e poeta angolano Ondjaki, 36, venceu nesta terça-feira (5) a oitava edição do Prêmio José Saramago, pelo livro "Os Transparentes", de 2012. Além do prêmio, ele levou para casa € 25 mil (R$ 77,2 mil).
"Este prêmio não é meu, este prêmio é de Angola", disse Ondjaki em seu discurso de agradecimento, segundo informa o site português "Público".
"Eu não ando sozinho, faço-me acompanhar dos materiais que me passaram os mais velhos. Na palavra 'cantil' guardo a utopia, para que durante a vida eu possa não morrer de sede", acrescentou.
Nuno Elias
O escritor e poeta angolano Ondjaki
O escritor e poeta angolano Ondjaki
A honraria é distribuída pela Fundação Círculo de Leitores e, de dois em dois anos, premia uma obra literária de ficção lançada originalmente em língua portuguesa, escrita por autores que tenham até 35 anos quando da publicação.
Segundo a sinopse da obra de Ondjaki divulgada pela fundação, "'Os Transparentes' dá vida a uma vasta galeria de personagens onde encontramos todos os grupos sociais, intercalando magníficos diálogos com sugestivas descrições da cidade degradada e moderna."
As brasileiras Adriana Lisboa ("Sinfonia em Branco") e Andréa del Fuego ("Os Malaquias") já receberam o Prêmio José Saramago, respectivamente em 2003 e em 2011.

domingo, novembro 03, 2013

COMEMORAÇÃO E CASTIGO



Hoje em dia, quando o assunto é esporte, creio que devemos parafrasear Nelson Rodrigues: toda comemoração deve ser castigada. Porque um atleta está proibido de tomar um porre de felicidade quando marca um gol, uma cestaça de três pontos do meio da quadra ou, no caso de Sebastian Vettel ontem, “zerar” a pista na qual sagrou-se vitorioso após um desempenho incontestável e digno dos maiores louvores.
Lembro-me muito bem: era noite de Liga de Basquete Feminino, e o Castelinho, lotado, foi palco de uma das primeiras apresentações do Maranhão Basquete. A vibração da torcida era espetacular. O pessoal levou até charanga. Com essa batucada empolgante, a galera vibrava demais com as cestas de Iziane e suas companheiras. Até que um dia o mestre de cerimônias daquelas partidas, João Marcus, anunciou que, “segundo as regras”, essa festa espetacular conduzida por instrumentos musicais devia se restringir aos intervalos.
Você que tem 30 anos e acompanha o nosso futebol certamente se lembra – ou deve ter pelo menos ouvido falar – das maneiras como Paulo Nunes (pelo Palmeiras) e Viola (então no Corinthians) comemoravam seus gols. Todas muito criativas. Paulo Nunes uma vez homenageou a Feiticeira, personagem vivida por Joana Prado que povoou o imaginário sexual de muitos cuecas. Ele marcou o gol, tirou uma máscara de dentro do calção e fez um arremedo da dança com a qual a hoje esposa do Belfort transformava os marmanjos em perfeitos babões e babaquaras. Viola, por sua vez, num Corinthians x Palmeiras, imitou um porco após estufar as redes do Verdão.
Toda essa tiração de sarro e de onda – que faz parte da essência do esporte desde que circunscrita aos limites da civilidade – foi terminantemente proibida por aqueles que se consideram mais realistas que o próprio rei.
Os mesmos que vetaram outros pilotos de repetirem a atitude maravilhosa de Ayrton Senna, de comemorar suas vitórias segurando com a mão esquerda uma bandeira do Brasil. Ou que exigem de um árbitro o castigo da aplicação do cartão amarelo para quem tira a camisa ou se joga nas arquibancadas – como fizeram alguns jogadores da Seleção na Copa das Confederações.
Pois faça a sua festa, Sebastian Vettel. Faça sua RBR girar e cantar os pneus depois de receber a bandeirada em primeiro nos grandes prêmios que disputar. Divirta-se, meu jovem!