Muito
comovente a edição de anteontem do programa “Troca de Passes”, do SporTV. O
narrador Jota Júnior ainda conseguiu suportar o nó na garganta para comentar
Internacional x Vitória, mas Raul Quadros não foi capaz de segurar as lágrimas,
ao vivo, enquanto homenageava alguém que, para ambos, representou uma sólida
amizade de muitos anos.
Luciano do Valle está morto. Para usar
um bordão comum hoje em dia, “a ficha ainda não caiu”, em razão das
circunstâncias nas quais se deu o falecimento. Uma hora a pessoa está numa boa,
na certa conversando com a equipe com a qual trabalharia ontem na transmissão
de uma partida do Campeonato Brasileiro, e na outra o país inteiro lamenta a
morte do melhor narrador do país.
Acredito que agora há um consenso em
considerá-lo entre os locutores esportivos que aí estão como A Voz. Quem como
eu tem mais de 30 anos e curte o esporte de uma maneira (quase) geral, sem
dúvida alguma cresceu ouvindo as narrações maravilhosas de Luciano. Lembro
agora – e a Internet ajuda a reproduzir aqui – o golaço de Zico pela Seleção
Brasileira contra a Iugoslávia em Recife, no dia 30 de abril de 1986. O Galinho
costura a defesa adversária, e Luciano o contou assim:
“Fintou, ganhou, invadiu... Olha o gol!
Olha o gol! GOOOLLLLLL!!! NÃO HÁ PALAVRAS PRA DESCREVER O GOL DE ZICO!!!!”.
Ou então a segunda conquista das 500
Milhas de Indianápolis, em 1989, por Emerson Fittipaldi: “Colocou por dentro!
Vai! Vai que cê passa! É o Brasil!!! É o Brasil!!! Vamo! Vamo lá! Mais um
pouquinho, só mais um pouquinho! Vamo ver! BATEU AL UNSER!!! BATEU AL UNSER!!!
EMERSON VAI GANHAR!!! EMERSON VAI GANHAR!!! Uma vitória pra ficar na história
de todos nós!!!”.
Por falar em automobilismo, Luciano
narrou também o momento em que Nelson Piquet sagrou-se bicampeão mundial de
Fórmula 1. Não satisfeito, o narrador simplesmente fez com que os apreciadores
de corridas de automóveis aqui no Brasil se apaixonassem pela Fórmula Indy. De
agora em diante, as 500 Milhas serão menos alegres porque ele não estará para
levar aos espectadores televisivos a emoção de, quem sabe, mais uma vitória
brasileira, como ocorreu ano passado com Tony Kannan.
A importância de Luciano do Valle para
a crônica esportiva é (e sempre será) tão grande que a transmissão do Grande
Prêmio da China ficou em segundo plano. Todos os profissionais envolvidos não
conseguiam disfarçar a tristeza pelo falecimento do locutor e por mais um
passeio da Mercedes, mais uma vez com Lewis Hamilton em primeiro.
Fernando Alonso foi o outro destaque da
prova, mais uma vez carregando a Ferrari nas costas. Mais uma vez ousado na
largada, Felipe Massa foi prejudicado pela incompetência da Williams em sua
primeira parada e voltou para a pista em último lugar. Terminou em 15°.
Lá do alto, na qualidade de alguém que
testemunhou grandes façanhas brasileiras no esporte, Luciano do Valle
certamente não gostou nem um pouco do que viu.
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