domingo, abril 20, 2014

LUCIANO DO VALLE: A VOZ

Muito comovente a edição de anteontem do programa “Troca de Passes”, do SporTV. O narrador Jota Júnior ainda conseguiu suportar o nó na garganta para comentar Internacional x Vitória, mas Raul Quadros não foi capaz de segurar as lágrimas, ao vivo, enquanto homenageava alguém que, para ambos, representou uma sólida amizade de muitos anos.
         Luciano do Valle está morto. Para usar um bordão comum hoje em dia, “a ficha ainda não caiu”, em razão das circunstâncias nas quais se deu o falecimento. Uma hora a pessoa está numa boa, na certa conversando com a equipe com a qual trabalharia ontem na transmissão de uma partida do Campeonato Brasileiro, e na outra o país inteiro lamenta a morte do melhor narrador do país.
         Acredito que agora há um consenso em considerá-lo entre os locutores esportivos que aí estão como A Voz. Quem como eu tem mais de 30 anos e curte o esporte de uma maneira (quase) geral, sem dúvida alguma cresceu ouvindo as narrações maravilhosas de Luciano. Lembro agora – e a Internet ajuda a reproduzir aqui – o golaço de Zico pela Seleção Brasileira contra a Iugoslávia em Recife, no dia 30 de abril de 1986. O Galinho costura a defesa adversária, e Luciano o contou assim:
         “Fintou, ganhou, invadiu... Olha o gol! Olha o gol! GOOOLLLLLL!!! NÃO HÁ PALAVRAS PRA DESCREVER O GOL DE ZICO!!!!”.
         Ou então a segunda conquista das 500 Milhas de Indianápolis, em 1989, por Emerson Fittipaldi: “Colocou por dentro! Vai! Vai que cê passa! É o Brasil!!! É o Brasil!!! Vamo! Vamo lá! Mais um pouquinho, só mais um pouquinho! Vamo ver! BATEU AL UNSER!!! BATEU AL UNSER!!! EMERSON VAI GANHAR!!! EMERSON VAI GANHAR!!! Uma vitória pra ficar na história de todos nós!!!”.
         Por falar em automobilismo, Luciano narrou também o momento em que Nelson Piquet sagrou-se bicampeão mundial de Fórmula 1. Não satisfeito, o narrador simplesmente fez com que os apreciadores de corridas de automóveis aqui no Brasil se apaixonassem pela Fórmula Indy. De agora em diante, as 500 Milhas serão menos alegres porque ele não estará para levar aos espectadores televisivos a emoção de, quem sabe, mais uma vitória brasileira, como ocorreu ano passado com Tony Kannan.
         A importância de Luciano do Valle para a crônica esportiva é (e sempre será) tão grande que a transmissão do Grande Prêmio da China ficou em segundo plano. Todos os profissionais envolvidos não conseguiam disfarçar a tristeza pelo falecimento do locutor e por mais um passeio da Mercedes, mais uma vez com Lewis Hamilton em primeiro.
         Fernando Alonso foi o outro destaque da prova, mais uma vez carregando a Ferrari nas costas. Mais uma vez ousado na largada, Felipe Massa foi prejudicado pela incompetência da Williams em sua primeira parada e voltou para a pista em último lugar. Terminou em 15°.
         Lá do alto, na qualidade de alguém que testemunhou grandes façanhas brasileiras no esporte, Luciano do Valle certamente não gostou nem um pouco do que viu.

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